O
tempo quaresmal é muito oportuno para pensar a realidade da conversão. Esta é muito
refletida no interior das Igrejas cristãs, porém pouco vivenciada pelas
pessoas. O clima de silêncio e de escuta atenta da palavra de Deus no interior
da Igreja, que marca o período que antecede a celebração da Páscoa do Senhor é
ocasião para aprofundar o sentido da conversão na vida eclesial.
O silêncio é oportunidade para a
compreensão e para a escuta. O mundo pós-moderno é marcado pelo barulho que
gera pessoas dispersas e desorientadas. Para se converter, a pessoa precisa
pensar na própria vida, rever sua caminhada. Para isto, é necessário o
silêncio. Através do silêncio acontece o encontro consigo mesmo e Deus fala ao
coração da pessoa que o procura com sinceridade e verdade. É na tranquilidade
que a pessoa se reconhece pecadora e necessitada da graça divina.
A escuta da palavra conduz à
obediência. Como obedecer a Deus desconhecendo sua palavra? A conversão se
inicia no encontro com a palavra de Deus. É um encontro feliz, de avivamento da
fé e de conhecimento da vontade divina. Na Escritura Deus fala para orientar,
mostrar o caminho, fortalecer as forças e conduzir o crente à vida que dura
para sempre. Na vida da Igreja, a meditação da palavra deveria ser mais forte
do que outras práticas que não são essenciais para a vida dos que buscam a
Deus.
No texto evangélico deste III
Domingo da Quaresma (cf. Lc 13, 1 – 9) Jesus convida à conversão. Afirma que
sem a conversão a morte é a consequência lógica e inevitável. Esta morte não é
a do corpo, mas a não participação no Reino de Deus. Com a parábola da figueira
que não dá frutos há três anos Jesus indica que a conversão deve ser buscada
pelos que desejam segui-lo. É uma necessidade que não pode ser adiada, mas
vivenciada; é uma exigência do caminho que conduz à vida.
Sem conversão não há seguimento a
Jesus de Nazaré. Colocar-se no caminho de Jesus já é viver a conversão. Colocar-se
no caminho pressupõe um encontro com Jesus e este encontro muda radicalmente a
vida da pessoa. Esta se encontra diante de um projeto de vida e de liberdade
que é capaz de transformar o mundo naquilo que Deus quer. Não há conversão sem
adesão ao projeto de Jesus. Este projeto é libertador, visa à vida do ser
humano e acontece no anúncio da Boa Notícia e a na denúncia das injustiças.
A Igreja e o mundo carecem de
pessoas que se decidam pelo caminho de Jesus. O mundo está tomado pelo espírito
capitalista, que tem tirado a vida e a liberdade de muitas pessoas. As diversas
formas de exclusão e de sofrimento assolam a humanidade. O egoísmo e tantos
outros males tomam conta das pessoas tornando-as cada vez mais insensíveis
diante do sofrimento do próximo. Tudo se torna superficial, passageiro,
descartável. O amor, a justiça, a solidariedade e tantos outros valores
importantes para a convivência sadia e feliz são deixados de lado. Este mundo
necessita de autênticos cristãos.
A Igreja se encontra em um momento
difícil. A situação da Cúria Romana se agravou, o Papa perdeu as forças e
renunciou. Todos os olhos estão voltados para Roma. Todos almejam que seja
eleito um Papa mais aberto e humano. As pessoas pensam que o Espírito Santo é quem
vai inspirar o Colégio Cardinalício. Particularmente, não duvido da ação do Espírito
do Senhor; mas também não duvido que a luta pelo poder tira a liberdade de ação
do mesmo Espírito. A Escritura ensina que o Espírito age na liberdade e para a
liberdade, e em Roma e na Igreja o tema da liberdade sempre gerou e continua
gerando desconforto e desconfiança.
A Igreja necessita de mulheres e
homens convictos da vocação cristã recebida no batismo, de pessoas despojadas,
simples e verdadeiras; de pessoas cada vez mais livres para o anúncio do
evangelho de Cristo. Sem liberdade não há autêntico anúncio do evangelho, pois
este é liberdade. As mudanças que a Igreja precisa realizar no seu aparato institucional
dependem da liberdade. Não há mudanças na vida de quem não ousa ser livre. A liberdade
é sempre um risco e ela tem sempre dado lugar à mesmice e à letargia na vida da
Igreja. Resta esperar que as pessoas se abram à ação do Espírito e, assim,
coloquem-se no caminho de Jesus, transformando a Igreja e o mundo em lugares
fraternos, em Casas de irmãos e irmãs que se querem bem.
Tiago de França
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