sábado, 2 de março de 2013

A urgência da conversão


           O tempo quaresmal é muito oportuno para pensar a realidade da conversão. Esta é muito refletida no interior das Igrejas cristãs, porém pouco vivenciada pelas pessoas. O clima de silêncio e de escuta atenta da palavra de Deus no interior da Igreja, que marca o período que antecede a celebração da Páscoa do Senhor é ocasião para aprofundar o sentido da conversão na vida eclesial.

            O silêncio é oportunidade para a compreensão e para a escuta. O mundo pós-moderno é marcado pelo barulho que gera pessoas dispersas e desorientadas. Para se converter, a pessoa precisa pensar na própria vida, rever sua caminhada. Para isto, é necessário o silêncio. Através do silêncio acontece o encontro consigo mesmo e Deus fala ao coração da pessoa que o procura com sinceridade e verdade. É na tranquilidade que a pessoa se reconhece pecadora e necessitada da graça divina.

            A escuta da palavra conduz à obediência. Como obedecer a Deus desconhecendo sua palavra? A conversão se inicia no encontro com a palavra de Deus. É um encontro feliz, de avivamento da fé e de conhecimento da vontade divina. Na Escritura Deus fala para orientar, mostrar o caminho, fortalecer as forças e conduzir o crente à vida que dura para sempre. Na vida da Igreja, a meditação da palavra deveria ser mais forte do que outras práticas que não são essenciais para a vida dos que buscam a Deus.

            No texto evangélico deste III Domingo da Quaresma (cf. Lc 13, 1 – 9) Jesus convida à conversão. Afirma que sem a conversão a morte é a consequência lógica e inevitável. Esta morte não é a do corpo, mas a não participação no Reino de Deus. Com a parábola da figueira que não dá frutos há três anos Jesus indica que a conversão deve ser buscada pelos que desejam segui-lo. É uma necessidade que não pode ser adiada, mas vivenciada; é uma exigência do caminho que conduz à vida.

            Sem conversão não há seguimento a Jesus de Nazaré. Colocar-se no caminho de Jesus já é viver a conversão. Colocar-se no caminho pressupõe um encontro com Jesus e este encontro muda radicalmente a vida da pessoa. Esta se encontra diante de um projeto de vida e de liberdade que é capaz de transformar o mundo naquilo que Deus quer. Não há conversão sem adesão ao projeto de Jesus. Este projeto é libertador, visa à vida do ser humano e acontece no anúncio da Boa Notícia e a na denúncia das injustiças.

            A Igreja e o mundo carecem de pessoas que se decidam pelo caminho de Jesus. O mundo está tomado pelo espírito capitalista, que tem tirado a vida e a liberdade de muitas pessoas. As diversas formas de exclusão e de sofrimento assolam a humanidade. O egoísmo e tantos outros males tomam conta das pessoas tornando-as cada vez mais insensíveis diante do sofrimento do próximo. Tudo se torna superficial, passageiro, descartável. O amor, a justiça, a solidariedade e tantos outros valores importantes para a convivência sadia e feliz são deixados de lado. Este mundo necessita de autênticos cristãos.

            A Igreja se encontra em um momento difícil. A situação da Cúria Romana se agravou, o Papa perdeu as forças e renunciou. Todos os olhos estão voltados para Roma. Todos almejam que seja eleito um Papa mais aberto e humano. As pessoas pensam que o Espírito Santo é quem vai inspirar o Colégio Cardinalício. Particularmente, não duvido da ação do Espírito do Senhor; mas também não duvido que a luta pelo poder tira a liberdade de ação do mesmo Espírito. A Escritura ensina que o Espírito age na liberdade e para a liberdade, e em Roma e na Igreja o tema da liberdade sempre gerou e continua gerando desconforto e desconfiança.

            A Igreja necessita de mulheres e homens convictos da vocação cristã recebida no batismo, de pessoas despojadas, simples e verdadeiras; de pessoas cada vez mais livres para o anúncio do evangelho de Cristo. Sem liberdade não há autêntico anúncio do evangelho, pois este é liberdade. As mudanças que a Igreja precisa realizar no seu aparato institucional dependem da liberdade. Não há mudanças na vida de quem não ousa ser livre. A liberdade é sempre um risco e ela tem sempre dado lugar à mesmice e à letargia na vida da Igreja. Resta esperar que as pessoas se abram à ação do Espírito e, assim, coloquem-se no caminho de Jesus, transformando a Igreja e o mundo em lugares fraternos, em Casas de irmãos e irmãs que se querem bem.

Tiago de França

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