“Se
alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e
faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23).
A beleza das palavras de Jesus ao se
despedir de seus discípulos é emocionante e reconfortante. No texto evangélico
deste VI Domingo da Páscoa (cf. Jo 14, 23 – 29), Jesus está com seus
discípulos, orientando-os a respeito de como será a vida após a sua morte e
ressurreição. Certamente, os discípulos não entendiam nada, só escutavam com a
máxima atenção cada palavra que saía da boca de seu Mestre. As palavras que
saíam da boca de Jesus eram palavras de vida eterna. Meditemos, pois, as
palavras de Jesus e a guardemos no coração. Elas são geradoras de vida quando
conseguem chegar ao coração humano.
“Se
alguém me ama, guardará a minha palavra”. Há uma íntima ligação entre o
amor a Jesus e suas palavras. Somente quem ama Jesus consegue guardar suas
palavras e somente quem as guarda pode afirmar que ama Jesus. O que significa
amar Jesus? Como é perceptível, não se pode amar Jesus somente com a boca, mas com
o coração e com a vida, crendo e praticando a sua palavra. O que significa
guardar a palavra de Jesus? É preciso escutá-la com os ouvidos do coração,
meditá-la com a devida atenção, sem se deixar levar pela dispersão. Por fim,
preencher a vida com a palavra alegre, forte, que orienta e é capaz de nos
salvar.
Na vida eclesial, onde está a
palavra de Jesus? Muitas vezes, está escrita somente nos lecionários. Em muitas
homilias fala-se de tudo, menos da palavra de Jesus. Reproduzem-se fielmente
doutrinas, marginaliza-se a palavra de Jesus. Assim, como esperar que as
pessoas se convertam? Como a Igreja irá se converter se a palavra de Jesus não
estiver no centro da vida eclesial? São questões pertinentes. A vida da
comunidade cristã se encontra na escuta, na meditação e na prática da palavra
de Jesus. O cristão é chamado a se colocar no caminho e no movimento da
caminhada deve se colocar na escuta e na prática da palavra de Jesus. Aí está o
sentido do seguimento a Jesus, assim é que acontece a missão da Igreja.
“...
e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Quem guarda
a palavra de Jesus é amado por Deus. Aí está a grande e, portanto, feliz e
generosa recompensa. O discípulo não precisa esperar mais nada, pois é amado
por Deus. Além disso, guardando a palavra de Jesus, que é a palavra do Pai, o
discípulo torna-se morada da Trindade Santa. O Pai, o Filho e o Espírito
habitam no coração da pessoa que guarda a palavra de Deus. Que beleza! Que mistério
insondável de amor! Só Deus é capaz disso! O que pode mais esperar o discípulo
que é habitado por Deus?!...
Na vida eclesial, a presença amorosa
de Deus é perceptível na vida dos mais humildes e despojados. Os humildes de
coração são inundados por Deus, que se aproxima e faz morada em seus corações. Por
que os humildes? Porque eles confiam e esperam em Deus, são desejosos de Deus,
entregam-se a Ele, deixam-se iluminar e guiar por Ele. Tanto os pastores quanto
os leigos são chamados a serem participantes desta relação amorosa e
misteriosa. Na oração e na ação, a Trindade se manifesta pela boca e pelas mãos
generosas dos humildes, que de modo incansável trabalham na vinha do Senhor. A Trindade
age em função do Reino, pois este está no centro da palavra de Jesus, palavra
recriadora do Pai.
“Mas
o defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará
tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”. O Espírito Santo é a
presença atuante de Deus no mundo, presença silenciosa e misteriosa, força dos
fracos e garantia da memória de Jesus. Ele ensina a palavra de Jesus e a
infunde no coração daquele que crê. Ele a torna manifesta na sua força de
realizar sua missão e a missão da palavra de Jesus é de criar e recriar o ser
humano no amor. Não há neste mundo outra força superior a da palavra de Jesus. Quem
a guarda vence o mundo, quem a despreza perde-se eternamente.
O Espírito Santo foi enviado com a
missão de ensinar e de fazer com que a memória de Jesus permaneça viva no
coração da humanidade. Este Espírito gera os discípulos de Jesus, tornando-os
capazes de realizar a missão a que são chamados. Sem o Espírito de Deus não há discípulo
nem missão. Ele é o guia, que ilumina e orienta, que concede força e
disposição, que mostra o caminho e faz com que o discípulo permaneça firme até
o fim. Com as próprias forças o ser humano não consegue corresponder ao amor e
à palavra de Jesus, mas somente com o auxílio da graça divina, e esta graça é o
Espírito.
Sabendo do estado emocional em que
se encontravam seus discípulos, Jesus deseja-lhes a paz. Jesus concede a paz
aos seus. Esta paz o mundo não é capaz de dar porque não a possui. A paz de
Jesus não induz à paralisia, mas confere encorajamento, é libertação do medo da
morte que aterroriza o ser humano. O medo da morte é um dos piores que existe e
é capaz de paralisar a pessoa, impedindo-a de seguir Jesus.
A paz de Jesus transmite uma certeza, a
de que somos amados por Deus e que a Ele podemos nos entregar, guardando sua
palavra e assumindo com coragem as consequências que naturalmente aparecem. Portanto,
quem vive tranquila e descompromissadamente, pensando que goza da paz de Jesus
está profundamente enganado; antes, está tomado pelo espírito da tibieza, que
conduz à morte do corpo e da alma. O Espírito de Jesus é o da alegria que
conduz à missão e para que esta se realize é preciso guardar a palavra de Deus,
pois guardando a palavra da vida e da liberdade o Reino acontece todos os dias,
até que Jesus volte definitivamente para consumá-lo no tempo devido.
Tiago de França
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