domingo, 5 de maio de 2013

Guardar a palavra de Jesus


“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23).

            A beleza das palavras de Jesus ao se despedir de seus discípulos é emocionante e reconfortante. No texto evangélico deste VI Domingo da Páscoa (cf. Jo 14, 23 – 29), Jesus está com seus discípulos, orientando-os a respeito de como será a vida após a sua morte e ressurreição. Certamente, os discípulos não entendiam nada, só escutavam com a máxima atenção cada palavra que saía da boca de seu Mestre. As palavras que saíam da boca de Jesus eram palavras de vida eterna. Meditemos, pois, as palavras de Jesus e a guardemos no coração. Elas são geradoras de vida quando conseguem chegar ao coração humano.

            “Se alguém me ama, guardará a minha palavra”. Há uma íntima ligação entre o amor a Jesus e suas palavras. Somente quem ama Jesus consegue guardar suas palavras e somente quem as guarda pode afirmar que ama Jesus. O que significa amar Jesus? Como é perceptível, não se pode amar Jesus somente com a boca, mas com o coração e com a vida, crendo e praticando a sua palavra. O que significa guardar a palavra de Jesus? É preciso escutá-la com os ouvidos do coração, meditá-la com a devida atenção, sem se deixar levar pela dispersão. Por fim, preencher a vida com a palavra alegre, forte, que orienta e é capaz de nos salvar.

            Na vida eclesial, onde está a palavra de Jesus? Muitas vezes, está escrita somente nos lecionários. Em muitas homilias fala-se de tudo, menos da palavra de Jesus. Reproduzem-se fielmente doutrinas, marginaliza-se a palavra de Jesus. Assim, como esperar que as pessoas se convertam? Como a Igreja irá se converter se a palavra de Jesus não estiver no centro da vida eclesial? São questões pertinentes. A vida da comunidade cristã se encontra na escuta, na meditação e na prática da palavra de Jesus. O cristão é chamado a se colocar no caminho e no movimento da caminhada deve se colocar na escuta e na prática da palavra de Jesus. Aí está o sentido do seguimento a Jesus, assim é que acontece a missão da Igreja.

            “... e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Quem guarda a palavra de Jesus é amado por Deus. Aí está a grande e, portanto, feliz e generosa recompensa. O discípulo não precisa esperar mais nada, pois é amado por Deus. Além disso, guardando a palavra de Jesus, que é a palavra do Pai, o discípulo torna-se morada da Trindade Santa. O Pai, o Filho e o Espírito habitam no coração da pessoa que guarda a palavra de Deus. Que beleza! Que mistério insondável de amor! Só Deus é capaz disso! O que pode mais esperar o discípulo que é habitado por Deus?!...

            Na vida eclesial, a presença amorosa de Deus é perceptível na vida dos mais humildes e despojados. Os humildes de coração são inundados por Deus, que se aproxima e faz morada em seus corações. Por que os humildes? Porque eles confiam e esperam em Deus, são desejosos de Deus, entregam-se a Ele, deixam-se iluminar e guiar por Ele. Tanto os pastores quanto os leigos são chamados a serem participantes desta relação amorosa e misteriosa. Na oração e na ação, a Trindade se manifesta pela boca e pelas mãos generosas dos humildes, que de modo incansável trabalham na vinha do Senhor. A Trindade age em função do Reino, pois este está no centro da palavra de Jesus, palavra recriadora do Pai.

            “Mas o defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”. O Espírito Santo é a presença atuante de Deus no mundo, presença silenciosa e misteriosa, força dos fracos e garantia da memória de Jesus. Ele ensina a palavra de Jesus e a infunde no coração daquele que crê. Ele a torna manifesta na sua força de realizar sua missão e a missão da palavra de Jesus é de criar e recriar o ser humano no amor. Não há neste mundo outra força superior a da palavra de Jesus. Quem a guarda vence o mundo, quem a despreza perde-se eternamente.

            O Espírito Santo foi enviado com a missão de ensinar e de fazer com que a memória de Jesus permaneça viva no coração da humanidade. Este Espírito gera os discípulos de Jesus, tornando-os capazes de realizar a missão a que são chamados. Sem o Espírito de Deus não há discípulo nem missão. Ele é o guia, que ilumina e orienta, que concede força e disposição, que mostra o caminho e faz com que o discípulo permaneça firme até o fim. Com as próprias forças o ser humano não consegue corresponder ao amor e à palavra de Jesus, mas somente com o auxílio da graça divina, e esta graça é o Espírito.

            Sabendo do estado emocional em que se encontravam seus discípulos, Jesus deseja-lhes a paz. Jesus concede a paz aos seus. Esta paz o mundo não é capaz de dar porque não a possui. A paz de Jesus não induz à paralisia, mas confere encorajamento, é libertação do medo da morte que aterroriza o ser humano. O medo da morte é um dos piores que existe e é capaz de paralisar a pessoa, impedindo-a de seguir Jesus.

A paz de Jesus transmite uma certeza, a de que somos amados por Deus e que a Ele podemos nos entregar, guardando sua palavra e assumindo com coragem as consequências que naturalmente aparecem. Portanto, quem vive tranquila e descompromissadamente, pensando que goza da paz de Jesus está profundamente enganado; antes, está tomado pelo espírito da tibieza, que conduz à morte do corpo e da alma. O Espírito de Jesus é o da alegria que conduz à missão e para que esta se realize é preciso guardar a palavra de Deus, pois guardando a palavra da vida e da liberdade o Reino acontece todos os dias, até que Jesus volte definitivamente para consumá-lo no tempo devido.

Tiago de França

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