“Tu
és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).
Neste domingo, a Igreja celebra, solenemente,
dois grandes homens: Pedro e Paulo, apóstolos. Falar destes homens de Deus é
olhar para a Igreja dos primeiros séculos, é enxergar neles a ação de Deus, que
reúne e santifica seu povo. Não podemos deixar passar a oportunidade para falar
sobre a Igreja de nossos dias, peregrina neste mundo marcado pelos sinais de morte
e de vida.
Pedro, a pedra.
No texto evangélico deste Domingo
(cf. Mt 16, 13 – 19) encontramos Pedro respondendo em nome da comunidade dos
seguidores de Jesus: “Tu és o Messias, o
Filho de Deus”. Esta foi sua resposta à pergunta de Jesus: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?”
Conhecido pelo seu temperamento ousado, Pedro é o homem escolhido para ser
aquele que vai conduzir, organizar, coordenar, confirmar e zelar pelo rebanho
do Senhor. Homem pobre e pecador, respondeu positivamente ao chamado de Jesus para
ser seu seguidor, o responsável pelas chaves, o guardião da Casa do Senhor.
A figura de Pedro evoca a imagem da
autoridade e o consequente exercício do poder. A partir do evangelho de Jesus
resume-se autoridade e poder na seguinte sentença: tem o poder e a autoridade
aquele que procura servir os irmãos. O serviço é a exigência fundamental que
legitima o exercício evangélico da autoridade na vida eclesial.
Ser padre, bispo e papa não são funções
de mando, de manipulação, que implica obediência e ordem. O evangelho ensina o
oposto disso. Na Igreja, a hierarquia ainda está longe de aprender o que Jesus
ensinou: o poder se traduz no serviço aos irmãos. O apóstolo Pedro se colocou a
serviço dos irmãos até o derramamento de sangue, até o martírio. Venceu a morte
com Cristo, tornou-se membro do seu corpo e do seu sangue.
Paulo, o
missionário.
A figura petrina evoca o peso da
responsabilidade, a paulina evoca a liberdade da missão. Paulo era oficial
romano, encontrou-se com Jesus e converteu-se em seguidor. Reivindicou para si
o título de apóstolo, mesmo sem ter feito parte do grupo dos Doze e o fez com
razão. Jesus o enviou para lugares distantes, com a missão de anunciar a Boa
Notícia do Reino de Deus. Guiado pelo Espírito do Senhor, Paulo foi um servo
obediente, proclamou corajosamente a Palavra da vida e da liberdade a todos,
principalmente aos gentios. Missionário da Palavra de Deus, combateu o bom
combate, guardou a fé.
Paulo chama a atenção para a vocação
missionária da Igreja. Em seus documentos oficiais, principalmente os do
Vaticano II, a Igreja fala de sua natureza missionária. Ela nasceu para
evangelizar. Não há Igreja fora da missão. Esta é sua característica fundamental,
é sua essência. A Igreja não é estática, mas está no mundo e sua missão está em
função dele. A proclamação do evangelho de Jesus deve ser sua atividade por excelência,
porque é este mesmo evangelho que a anima, orienta, conduz à fidelidade, aponta
para o próximo.
Francisco e a
Igreja
A celebração desta importante
Solenidade chama-nos a atenção para o essencial da vida cristã: o seguimento a
Jesus de Nazaré. Pedro e Paulo se colocaram no caminho de Jesus e nele
perseveraram até as últimas consequências. É preciso que na Igreja haja plena consciência
da missão que a mesma precisa desempenhar no mundo de hoje: conduzir as pessoas
a Cristo por meio do anúncio corajoso e profético de seu evangelho.
Combater a pecaminosa e vergonhosa
tendência da busca dos aplausos, do prestígio, da riqueza e do poder. Neste sentido,
o Papa Francisco tem trilhado um audacioso caminho. Acompanhando seus gestos e
palavras percebe-se a insistência nos temas fundamentais para a construção de
uma Igreja verdadeiramente missionária e servidora da humanidade: a pobreza evangélica,
a tentação do prestígio, da riqueza e do poder, o lugar do evangelho na vida
eclesial etc. Estes e tantos outros importantes temas não deixam de ser lembrados
por Francisco, que a partir de Roma fala à Igreja com docilidade, humildade e
mansidão.
Ao mesmo tempo em que Francisco
profetiza incansavelmente em Roma, as bases da Igreja encontram-se bastante
fragilizadas. Boa parte da hierarquia, muitos padres e bispos insistem no
caminho oposto: continuam com medo, permanecem levando uma vida medíocre,
alicerçada no comodismo e no apego ao poder. Isto acontece porque o evangelho
de Jesus continua sendo somente lido, sem ser proclamado e vivido.
No Brasil, a presença da Igreja no espaço
público parece muito tímida, sem muita expressividade. Recentemente, o povo
está saindo às ruas, mas os pastores da Igreja não tem coragem de ir junto com
o povo. A única coisa que fez, oficialmente, foi reconhecer a importância das
manifestações através de uma nota redigida pela presidência da Conferência de
Bispos. Aqui e acolá aparecia um seminarista, uma freira ou um padre, mas algo
bem pontual, sem muita expressividade. O povo clamando por justiça e a Igreja
preocupada com a Jornada Mundial da Juventude, evento de massa que ocorrerá no próximo
mês. O essencial continua sendo marginalizado. Que Pedro e Paulo intercedam a
Deus por nós e que o Espírito inspire mulheres e homens para que o anúncio do
evangelho seja, de fato, a missão fundamental da Igreja no mundo.
Tiago de França