terça-feira, 11 de junho de 2013

O profeta Francisco

           
              O Papa Francisco surpreende cada vez mais a Igreja e o mundo com seus gestos e palavras. Escutando-o, em suas homilias, catequeses e discursos, recordo-me dos profetas bíblicos. Antes de morrer, o teólogo belga José Comblin escreveu um excelente livro intitulado A profecia na Igreja no qual fala da escassez de profecia na Igreja. Desde que este livro foi escrito tenho pensado a respeito da profecia na Igreja e me perguntava antes da eleição de Francisco: Será que o Espírito do Senhor abandonou de vez a Igreja? Não é possível!

            Quando acompanhei a primeira aparição de Francisco ao mundo e ouvi que o mesmo veio da América Latina e é jesuíta, fiquei emocionado e disse a mim mesmo: Não! O Espírito está presente na Igreja! Vibrei de alegria e agradeci a Deus por tão grande feito! De fato, desde então, a Igreja ganhou novo alento. Tem algo novo acontecendo. A humildade e a simplicidade voltaram a aparecer em Roma. O ambiente onde Francisco habita é tomado pela sua presença de espírito forte e cativante.

            Os gestos e as palavras do atual bispo de Roma são simples e provocantes. Certamente, seus opositores na Cúria Romana andam preocupados, desconcertados, com medo do que vai acontecer. Em todo tempo e lugar, as pessoas que alicerçam sua vida na falsidade e no apego ao dinheiro e ao poder se sentem profundamente ameaçadas pelos profetas e profetisas de Deus. A profecia é a palavra de Deus: forte, simples, penetrante, que denuncia insistentemente o mal e anuncia a Boa Nova do Reino de Deus.

            A historiografia bíblica e a história da Igreja mostram a sorte dos profetas: incompreendidos, odiados, injuriados, perseguidos e mortos. São poucos os profetas que tem vida longa e, portanto, alcançam a velhice. Os inimigos do Reino de Deus, que são demônios encarnados, portanto, mulheres e homens que constituem a força do anti-Reino não dormem nem cochilam, mas vivem espionando a vida dos profetas, semelhantemente aos doutores da lei e fariseus, que espreitavam Jesus para surpreendê-lo em alguma falha. Esses demônios são astutos, são filhos das trevas, inimigos da verdade e da liberdade, gente perigosa que não perde uma ocasião para fazer o mal e eliminar os operários da vinha do Senhor.

             Quem desconhece a história e a estrutura burocrática e corrupta do Vaticano não entende a existência e extensão dos problemas nele contidos. Optando pelo evangelho de Jesus, que é oposto ao poder que oprime, o Papa Francisco já conta com muitos adversários, e estes não se encontram no meio do povo pobre, mas na hierarquia da Igreja, principalmente dentro do Vaticano. Por isso, é preciso ter muito cuidado e jogo de cintura porque não se trata de uma estrutura jovem, mas milenar, constituída de vícios, luxo, desvios, desordem, desumanidades, hipocrisia, entre tantos outros males. Francisco sabe que em Roma há homens que celebram Missa sem acreditar em Jesus Cristo.

            Não bastam soluções paliativas para resolver os problemas gritantes da Igreja. As mudanças só são possíveis se as estruturas forem mudadas. Não adianta falar de pobreza se não se renuncia à riqueza. Não adianta falar de evangelho se o direito canônico é o que domina. Não adianta falar de carreirismo se as estruturas o proporcionam. Não adianta falar de vida humilde em meio à ostentação. Não adianta falar do poder opressor se as estruturas de poder são mantidas. Se não houver mudanças estruturais, por mais santas que sejam as pessoas, tudo continuará do mesmo jeito.

Quando um enfermo não é tratado, por mais que queira viver, certamente morrerá. Sem mudanças estruturais nenhuma instituição sobrevive. Tanto as pessoas quanto as instituições, por uma exigência da evolução do tempo, precisam passar por mudanças. Não vivemos na eternidade, mas estamos sujeitos ao espaço e ao tempo, consequentemente, à evolução cultural e cósmica. Que o Espírito continue guiando e fortalecendo Francisco, para que permaneça firme no caminho que abraçou, e que o evangelho de Jesus prevaleça.


Tiago de França

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