terça-feira, 16 de julho de 2013

Algumas considerações sobre a Jornada Mundial da Juventude 2013

           
             Neste ano, o Brasil vai sediar a Jornada Mundial da Juventude – JMJ, evento da Igreja Católica que reúne jovens vindos de diversas partes do mundo. Nesta reflexão queremos abordar algumas questões referentes à JMJ, dada a importância deste evento para a vida da Igreja. Vamos dar ênfase aos aspectos positivos e negativos que traduzem a realidade da Jornada. Refletir sobre o que acontece é necessário para evitarmos o fanatismo religioso, que cega as pessoas e as impede de enxergar os fatos com clareza.

 Alguns aspectos positivos

O Papa Francisco

            Diferentemente das outras vezes, será o Papa Francisco uma das figuras centrais da JMJ. Nos anos anteriores, desde a criação da JMJ, os Papas João Paulo II e Bento XVI compareceram à JMJ, mas a expectativa em torno de Francisco é bem maior, considerando a simpatia e a simplicidade com as quais vem lidando com as pessoas. Certamente, Francisco falará de consolo, de esperança, de futuro, de encorajamento, de alegria, de fé, amor e justiça. Tudo isto está em falta na vida de muitos jovens.

            Espera-se também que Francisco se posicione radicalmente contra a tudo aquilo que oprime e mata a juventude. Consciente de que não falará somente para jovens, o Papa chamará a atenção da sociedade brasileira, dos governantes e da Igreja para a causa da juventude, que no Brasil é praticamente esquecida, marginalizada. Nenhuma instância social, tanto civil quanto religiosa priorizou a juventude até hoje no Brasil. Quando se fala da juventude, a maioria das notícias está associada ao crime, à prostituição, ao abandono e à morte. Quase não há projetos.

            Francisco chamará a atenção da juventude para o seguimento de Jesus, origem e fonte de toda felicidade humana. Com palavras e gestos mostrará que vale a pena se apaixonar por Jesus e segui-lo na intimidade do coração. Certamente, vai despertar a esperança nos corações de muitas pessoas desoladas e desesperadas. Será uma bênção de Deus o encontro com um Papa que tem se esforçado em responder o chamado de Deus na verdade, na caridade e na simplicidade.

O anúncio do Evangelho

            A JMJ é um dos momentos propícios para lembrar aos jovens e à Igreja a verdade fundamental de que Jesus deve ocupar o centro da vida cristã. Por isso, com todas as letras, Francisco deve deixar bem claro que o autêntico Cristianismo é aquele no qual a Palavra e a vida se misturam e, intimamente, se comunicam e se entrelaçam. Apontar para Jesus, o Cristo que tem um projeto de vida claro e aberto a todos: eis a missão daquele que é chamado a confirmar os irmãos na fé.

O louvor, o encontro das culturas e a reconciliação

            A JMJ deve ser momento de alegria contagiante, de troca de experiências, de encontro entre pessoas de diferentes culturas; portanto, é um momento plural, feliz, fecundo, que é capaz de conferir ânimo aos desanimados. Os jovens de outras nações terão a oportunidade de conhecer uma das maiores cidades do país, Rio de Janeiro, palco da violência urbana, dos recentes protestos, da beleza exuberante das praias, do Cristo Redentor, do samba carioca, do chão batido por onde passam, diariamente, milhares de pessoas que lutam pela sobrevivência.

            Chamados à penitência através do sacramento da reconciliação, os jovens serão despertados para o real sentido da comunhão com Deus e com os irmãos. Sentirão o coração vibrar de alegria pela graça recebida e verão, na liturgia, na música, no encontro e nos demais momentos que ali se organizarão o quanto é belo e saudável viver na alegria dos irmãos. Saberão que Deus é verdadeiramente bom e que sua misericórdia é infinita, capaz de chegar a todos, indistintamente.

Alguns aspectos negativos

Os custos da JMJ

            Pelo que se sabe, os governos municipal, estadual e federal entrarão com uma pesada parcela de contribuição para a JMJ. Trata-se de um evento que custará alguns milhões de reais aos cofres públicos. Os cofres públicos brasileiros andam sendo saqueados indevidamente nos últimos anos. Direcionam-se milhões de reais para projetos e eventos que não são essenciais à vida da população. O maior saque indevido aos cofres públicos refere-se ao que se gastou com os estádios de futebol, em vista das copas das confederações e do mundo, sem contar os gastos com as olimpíadas de 2016. Não somos uma superpotência econômica com condições para arcar com tantos eventos sem que a nossa população fique no prejuízo.

Jesus, onde fica?

            Quando estão diante do Papa, geralmente, as pessoas se esquecem de Jesus. Ao longo da história, a figura do Papa foi se transformando em algo quase sobrenatural. Em certas épocas pensou-se até que o Papa seria o Santo de Deus, o único caminho que leva o homem a Deus. A figura papal foi ganhando títulos, honras, glória, poder, majestade até chegar o ponto de as pessoas pensarem que se trata de um semideus. Continua sendo chamado de Santo Pai o simples homem oriundo da Argentina.

          Eventos como a JMJ e outros, direta e indiretamente, terminam reforçando essa imagem antievangélica da figura do Bispo de Roma. Neste sentido e de modo geral, as pessoas caem no pecado da papolatria. Claro que Francisco não deseja isso para si nem para a Igreja, mas somente pelo fato de aparecer como vai aparecer, levará a tantos a cometer tal pecado. É preciso lembrar que foi o papa polonês, amigo da grande mídia sensacionalista e possuidor de extrema vaidade, o criador da JMJ. Esta para ele era uma excelente oportunidade de preparar a sua aclamação pública de santo súbito. Assim, Jesus vai sendo marginalizado e por mais que apontem para ele, as pessoas não tiram os olhos dos dedos de quem o aponta.

Os jovens pobres e marginalizados, onde ficam?

            O número de jovens pobres que vão à JMJ é relativamente pequeno, uma vez que os pobres de outros países não tem condições financeiras para virem ao Brasil. Os poucos jovens pobres que irão participar são aqueles que foram auxiliados pelas paróquias e dioceses de origem. A maioria dos jovens é de classe média e desconhece a triste realidade dos que vivem à margem da sociedade. Portanto, Francisco vai falar para uma juventude que está um pouco distante dos grandes dilemas que afetam a maioria dos jovens no mundo de hoje.

            Os jovens pobres, sem escola, sem casa, sem salário, os que estão envolvidos com as drogas, com a prostituição, com o crime organizado, os ameaçados de morte e os depressivos, os desorientados e sem rumo na vida, enfim, todos estes e tantos outros não irão participar da JMJ. Francisco vai falar para a juventude “convertida”, porque os jovens “transviados” não se interessam pela Igreja.

Ausência de projetos para a salvação da juventude

            De modo geral, os jovens que irão participar da JMJ são jovens que tem certa prática religiosa. No caso dos brasileiros, boa parte pertence à renovação carismática católica (RCC), outra à Pastoral da Juventude, outra parcela pertence a grupos de oração e uma minoria participa somente das celebrações eucarísticas. Estes grupos revelam a existência de uma geração de mentes um pouco fechadas para os reais problemas. A maioria está alheia aos problemas do mundo. Na RCC fala-se que se converteram a Jesus e abandonaram o mundo. Cultivam a perigosa espiritualidade (se é que podemos chamar de espiritualidade tal coisa!) da fuga mundi.

            Por isso, a mensagem de Francisco talvez chegue à mente, mas não descerá aos corações dos jovens. Estes amarão as palavras do Papa e irão aplaudi-lo, mas, no fundo, querem somente se alegrar e louvar o Senhor. Se isto, de fato, ocorrer, infelizmente se repetirá o que ocorreu com a Campanha da Fraternidade deste ano, que teve como Tema Fraternidade e Juventude, porém, pouco se fez em prol da juventude. A Campanha parece ser coisa do passado. O que ficou das Jornadas anteriores? Qual o efeito delas além de ter chamado a atenção da grande mídia para o fato de que ainda há jovens que se identificam com a Igreja? O que ficará da JMJ 2013?...

            Conclui-se que há esperanças de que o Papa Francisco possa colaborar para que a JMJ ganhe um novo sentido e uma nova orientação, mais concreta. A realidade da juventude em todo o mundo clama por justiça. De fato, a sociedade, os governos e a Igreja precisam trabalhar pela salvação da juventude. A Igreja precisa renunciar a seu velho e ultrapassado discurso moralista para levar a juventude a abraçar as grandes causas do Reino de Deus. A juventude precisa conhecer o que é este Reino e colocar-se a serviço dele, pois somente assim os jovens serão Igreja e a esta ganhará sangue novo em suas veias; do contrário, continuaremos assistindo ao progressivo e inevitável definhamento eclesial.

Tiago de França

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