sábado, 17 de agosto de 2013

Maria, modelo dos servidores do Evangelho de Jesus

“Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia” (Lc 1, 39).

            Para onde vai esta mulher de passos apressados, sozinha por uma região montanhosa? O texto de Lc 1, 39 – 56 fala que Maria vai à casa de sua prima, Isabel. Durante três meses, estas duas mulheres grávidas permanecem juntas. Maria, grávida de Jesus, o Messias prometido. Isabel, grávida de João, o profeta do deserto que foi batizar no rio Jordão. São duas mulheres importantes, humildes servas do Senhor. O Deus e Pai de Jesus parece ter certa predileção pelas mulheres humildes e disponíveis, sensíveis ao chamado e dispostas ao serviço.

Maria partiu

            Partir é sinônimo de deslocar-se. Maria é a mulher do movimento, do caminho, da região montanhosa. Para partir é preciso ter coragem. É um movimento existencial que obriga a sair de si mesmo para estar disponível para o outro. Quem parte tem a plena consciência de que há o outro à espera. A recepção de Isabel fala de uma espera ansiosa, de um encontro alegre, de uma convivência fraterna e feliz. Maria saiu para servir, guiada pelo Espírito daquele que carregava em seu seio. Tornou-se conhecedora do belíssimo mistério do serviço fraterno. Aquela pobrezinha de Nazaré, criada na observância da Lei passa a conhecer a dinâmica do Espírito que a faz transcender o rigor da Lei. Sozinha, vai ao encontro para servir, cuidar, para permanecer.

Partiu, apressadamente

            A espera é atitude de quem precisa. Quem está necessitado não apresenta condições para tanta espera. Sabendo disso, Maria tem pressa. Parte, apressadamente. Sendo mulher, sabe que estando grávida, o cuidado é essencial. Sua sensibilidade é aguçadíssima. A pressa, neste caso, é o gesto de quem não somente conhece a necessidade do outro, como também de quem se coloca no lugar do outro. No caso de Maria, acompanhada da sua prima, ambas vivem a experiência feliz do cuidado recíproco. Cuidar da vida do outro é cuidar da própria vida, é atitude humana e espiritual de quem compreende e se dispõe a viver a experiência humanizadora do amor de Deus, que se expressa na comunhão fraterna. Maria e Isabel são primas, mas também são, em Cristo Jesus, irmãs que aceitaram a missão de serem testemunhas da justiça divina.

Maria permaneceu

            Ela não fez uma visitinha, mas permaneceu durante três meses com Isabel. A experiência da permanência no serviço é bela e profunda. A fidelidade exige tempo para amadurecer. Colocar-se a serviço do outro exige a disposição de querer ir e permanecer. Com o passar do tempo e no bom uso deste tempo oferecido pelo Senhor, as pessoas se conhecem, partilham a vida, vivem em comunhão. A pressa é de se chegar. Quando se chega, a atitude muda, passa-se a conviver. Convivência generosa exige tempo, o tempo de Deus. Não se trata de ir somente ver, mas de servir o tempo que for necessário, a fim de que a vida surja, seja possível. Para o conforto de Isabel e o bem do profeta do Senhor, Maria quis permanecer.

O Cântico

            O evangelista põe na boca de Maria um belíssimo cântico. Trata-se de um hino de louvor e reconhecimento a Deus, que não se esqueceu de seu povo, enviando Jesus, o Messias. Deus é o Pai providente e amoroso, que quer bem e socorre seus filhos, preferencialmente os mais fracos e indefesos, os que não tem vez nem voz. Agindo com misericórdia, em Cristo vem ao encontro de seu povo, não para uma visita rápida, mas como o Servo que deseja permanecer, cuidar, alimentar, oferecer o amor, amando. É isto que diz o cântico: fala da presença amorosa deste Deus revelado no amor, que jamais abandona seu povo. Em Cristo, seu amado Filho, o Pai está com seu povo e com este permanece para sempre.

A glória de Maria

            O Pai não concede privilégios a ninguém. Em Cristo, sabemos que Deus escolhe os humildes e com eles transforma a história. Maria não é melhor nem pior do que as demais mulheres, portanto, não é nenhuma privilegiada. Não é nenhuma deusa, mas humilde servidora do Senhor. Sua glória está na sua humildade e na sua capacidade de servir. A celebração de sua assunção ao céu serve para indicar a glória dos filhos de Deus, daqueles que ousam fazer como ela fez, no hoje da história humana. É prefiguração daquilo que há de vir, daquilo que Deus quer para toda pessoa: a participação no Reino. A assunção de Maria, neste sentido, difere de toda pretensão meramente devocional, que tende à divinização de sua pessoa. Por isso, sem excessos, afirmamos: a participação de Maria no plano de Deus lhe confere um lugar imprescindível, o lugar de discípula missionária da Palavra de Deus. Ela foi bem-aventurada por isto e por isto mesmo participa da glória de Deus, glória que não lhe é exclusiva.

Uma Igreja usando avental

            Venerar Maria é abraçar seu gesto por excelência: servir ao próximo no amor. A Igreja precisa partir, sair de si mesma. Desburocratizar e tentar extinguir a corrupção na Cúria Romana são atitudes necessárias, mas a Igreja necessita de ir mais além. A Igreja não é a Cúria Romana, mas Povo de Deus na história. A missão que o evangelho confere aos crentes não está em função da salvação de instituições, mas da salvação de seres humanos. Aceitando ou não, as instituições não são eternas, mas passíveis de mudanças e podem se extinguir.

A corrupção tem força de colocar um fim nas instituições e isto é inevitável. O máximo que se pode fazer é adiar o fim das instituições que resistem às devidas rupturas. Reformas não mudam estruturas, apenas as adéqua ou não a novas situações. O problema permanece. O desafio maior da Igreja é colocar o evangelho de Jesus no centro de sua vida e missão. Isto significa o seguinte: converter-se aos pequenos e pobres e, definitivamente, renunciar a tudo o que não condiz com o evangelho de Jesus de Nazaré. Na Solenidade da Assunção, Maria aparece como aquela que ensina o verdadeiro significado do Evangelho de Jesus: serviço aos irmãos e irmãs, preferencialmente, os pobres.


Tiago de França

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