“Felizes
os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade vos
digo, ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os
servirá”
(Lc 12, 37).
O tempo atual é marcado pelo
imediatismo e pela pressa. De modo geral, as pessoas estão apressadas, não esperam
umas pelas outras. A excessiva preocupação pelo cuidado consigo mesmas leva ao
esquecimento do próximo. A pressa nos faz esquecer as pessoas. Amigos são
esquecidos, crianças esquecidas, idosos postos de lado e todos aqueles
indefesos que não entram na dinâmica da pressa são deixados para trás. Muitas
vezes, as tragédias nos fazem recordar que os esquecidos estão vivos, precisam
ser considerados.
Como falar de vigilância com pessoas
contaminadas pelo vírus da pressa? Antes de refletirmos esta questão,
precisamos pensar sobre a falta de atenção como consequência principal
da pressa. Por que as pessoas se apressam? O que procuram? O que as aflige? O capitalismo
selvagem criou um estilo apressado de vida. Nele, as pessoas precisam produzir,
progredir, consumir, lucrar. Para fazer tudo isto, a pressa é companheira de
todas as horas. O segredo do sucesso está ligado à agilidade. Esperar
se tornou uma postura insuportável, coisa de outra época.
Quando apressadas, as pessoas focam
sua atenção naquilo que procuram, deixando de lado, muitas vezes, o essencial da vida. As procuras do homem
pós-moderno são superficiais, relativas, líquidas, passageiras. Apega-se facilmente
a tudo aquilo que é desgastante e gravemente descartável. Encontramos poucas pessoas
realmente conferindo sentido e qualidade à própria vida. A maioria está
perdendo tempo, está dormindo, esperando serem despertadas para os valores
sublimes e para a Realidade definitiva.
À luz de Lc 12, 32 – 48, texto lido
na liturgia da Igreja deste Domingo, vamos pensar o sentido da vigilância que
está ligado ao serviço aos irmãos, tendo em vista o que acima já consideramos. O
que Jesus quis dizer quando recomendou a vigilância aos seus discípulos? Algumas
expressões que aparecem em suas palavras são cheias de significado. Vamos olhar
algumas delas.
Jesus fala de um pequenino rebanho, que não deve ter
medo, pois foi do agrado do Pai dar a vós
o reino. O Reino de Deus é dos pequeninos. Isto é profundamente importante
e é um alerta para todas as pessoas que procuram grandezas. Quem quiser fazer
parte do Reino de Deus precisa participar do pequenino rebanho do Senhor,
tornando-se pequeno, humilde, simples. Deus se agrada do pequeno. Aqui se
encontra a felicidade dos pequenos: pertencem a Deus, são do seu agrado.
Onde
está o vosso tesouro aí está o vosso coração. Esta afirmação de Jesus
sugere uma pergunta: Qual o tesouro da nossa vida? Na Celebração, quando o
ministro diz: “Corações ao alto!” A assembleia responde: “O nosso coração está
em Deus!” O que significa dizer que o nosso coração está em Deus? Deus é
realmente o tesouro de nossa vida? Onde estão os nossos afetos? O que estamos
procurando na vida? Convido o leitor a pensar para si mesmo estas questões.
Sede
como homens que estão esperando o senhor voltar. Esperar pelo Senhor é
esperar no Senhor; do contrário, tal espera não se realiza, torna-se
impossível. O mesmo Senhor que nos chama à vigilância também nos concede a
graça para nos mantermos firmes na espera. Não se trata de qualquer espera, não
se trata de uma espera passiva, alienada, de pessoas que cruzam os braços e
esperam o tempo passar. Estas pessoas não se encontrarão com o Senhor. Somente quem
vive a espera ativa, que se traduz numa vida pautada no amor a
Deus e ao próximo é que vai se encontrar com o Senhor da vida.
Quem vive a vida pautada no amor a
vive em pleno movimento. O amor é aquela força capaz de colocar as pessoas no
caminho de Jesus, transformando radicalmente suas vidas, orientando-as e
conferindo-lhes sentido. O amor nos faz conhecer o caminho que conduz ao
encontro definitivo com Deus, nos faz imersos na santidade de Deus, nos faz
viver com e em Deus. Portanto, a vigilância é uma espera no amor e para o amor,
é o encontro com a beleza que dura para sempre.
O amor nos mantém acordados diante
dos homens e de Deus. Estar acordado significa permanecer unido ao Deus
presente na vida das pessoas, em um esforço constante de nos manter despojados
de tudo aquilo que impede a comunhão com Deus e com o próximo. Livres da
indiferença e do desamor, o cristão se encontra mergulhado no amor de Deus que
o sustenta na caminhada; amor que é como que o combustível das lâmpadas que
precisam permanecer acesas para iluminar o caminho.
Todo o texto gira em torno da
necessidade do estar acordado, de rins cingidos e lâmpadas acesas. Na parábola
contada por Jesus, que fala do empregado fiel que espera o retorno do seu
patrão e daquele infiel que não soube esperar, Jesus exalta a virtude da fidelidade.
Assim, o amor de Deus é a força que possibilita a fidelidade no caminho. É impossível
ser fiel sem o amor, pois sozinho, com as próprias forças, o homem não consegue
chegar a lugar nenhum. Se não quisermos participar do destino dos infiéis precisamos
participar da aventura do amor, que de modo ousado e diverso, nos conduz
seguramente ao encontro com Aquele que é a origem e o fim último do ser humano.
A Igreja de nossos dias carece de
pessoas acordadas, dispostas a correrem o risco de se aventurar no caminho de
Jesus, alicerçado na justiça e no amor; de pessoas que renunciem ao conforto de
uma vida medíocre para fazerem resplandecer neste mundo a luz de Jesus, para
que o mundo veja e creia Naquele que nos foi dado como o Libertador, capaz de
conferir o verdadeiro sentido de nossa existência. Escatologicamente falando,
por mais bela e prazerosa que seja a nossa breve passagem nesta terra marcada
pelo sofrimento, nossa verdadeira vida se encontra escondida com Cristo em Deus
(cf. Cl 3, 3).
Tiago de França
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