“Ai
dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas
de Samaria!”
(Amós 6, 1).
A parábola do rico e do pobre
Lazário, própria do evangelho de Lucas (cf. Lc 16, 19 – 31), não foi escrita
com a intenção de proclamar ao mundo uma divindade que premia alguns e castiga
a outros. Deus não é assim. Essa divindade é criação da imaginação fértil dos
seres humanos, que usando da religião criou o que se pode chamar de teologia da
retribuição. O Pai de Jesus é bom e misericordioso e nossa relação com Ele
acontece na gratuidade.
Na parábola o pobre tem nome e se
chama Lázaro. Este nome significa Deus
ajuda. Aqui me recordo da esperança dos pobres. Estes acreditam que Deus
ajuda. Vivem com o nome de Deus na boca, diurnamente. “Se Deus quiser!”, dizem
com firmeza e convicção. De fato, Deus ajuda os pobres na luta cotidiana pela
sobrevivência. Ajuda o doente na falta de médico, o encarcerado no cumprimento
da pena, o desempregado no sustento dos filhos e em tantas outras situações. A esperança
evita o desespero e alimenta a perseverança. A esperança dos pobres vive!
Lázaro se encontra à porta do rico,
padecendo de diversos males. A sociedade tende a ignorá-lo, procurando abafar
seu grito. Os marginalizados clamam por justiça e esta demora acontecer. Os ricos
continuam vestindo-se de roupas finas e elegantes, residindo em casas luxuosas,
banqueteando-se com fartura, gozando a vida. A miséria e o sofrimento dos
pobres não lhes chamam a atenção. Alguns até comentam, chegando até a defender
os pobres em reuniões e encontros, mas não passam disso. Os ricos, apegados às
suas riquezas, continuam achando que o sentido da vida depende delas. O maior
medo é perdê-las. Isto significaria o fim de suas vidas, hipocritamente
vividas.
O capitalismo selvagem, impulsionado
por pessoas ambiciosas, preocupadas mais com o ter do que com o ser, mata milhões
de pessoas em todo o mundo. Atualmente, milhões de pessoas morrem de fome e
aquelas que não morrem de fome encontram-se desesperadas. O abismo entre o rico
e o pobre Lázaro continua cada vez maior. Países e pessoas ricas ficam cada vez
mais ricos. Recentemente, alguns ricos caíram de seus tronos, mas não chegaram
a ser pobres; apenas perderam parte de suas riquezas. A crise econômica
diminuiu um pouco e os pobres foram e continuam sendo as maiores vítimas.
Com esta parábola, o que Jesus está
nos ensinando? Jesus está apontando na direção dos pobres. Está dizendo que o
abismo entre ricos e pobres não é do agrado de Deus. Está apontando para a
solidariedade, não uma solidariedade que se traduz na mera doação de dinheiro
ou donativos, mas a solidariedade que revisa as estruturas da sociedade e as
humaniza. Há um gravíssimo pecado estrutural sendo cometido por pessoas que
constroem e reforçam estruturas opressoras, desumanizadoras e cruéis. A sede de
dinheiro, a procura desenfreada pela riqueza e a concentração absurda da renda
excluem e matam inúmeras pessoas.
Finalizando esta reflexão, reforço a
advertência do profeta Amós (cf. Amós 6, 1.4 – 7), assim como a de Jesus. Você que
está concluindo a leitura desta breve reflexão, pare e pense nas seguintes
considerações: se você é rico, possui mais do que o necessário para viver,
saiba que o supérfluo é o que falta na vida dos pobres. Não importa se sua
riqueza é lícita ou não, do ponto de vista da aquisição da mesma. Aos olhos de
Deus o que não nos é necessário e que se encontra concentrado em nossas mãos, não
nos pertence e, portanto, gera o pecado do egoísmo em nós.
Aliás, concentração de renda e enriquecimento
lícito ou ilícito são coisas de pessoas egoístas. E você que não é rico, que só
tem o necessário para viver, não pense que somente somando fé e despojamento a
salvação está assegurada. É verdade que precisamos ser despojados, mas, além
disso, precisamos ser solidários. Em outras palavras, precisamos ir ao encontro
dos que precisam de nós e por meio de palavras e gestos devolvermos a dignidade
às pessoas.
Todo aquele que acredita em Jesus, que
deseja ser seu seguidor, não pode ser omisso diante das injustiças que geram a
exclusão e a miséria. Precisamos ser solidários e comprometidos; do contrário,
nossa fé é superficial e incompleta, e nossa religião mentirosa e sem futuro. Se
quisermos participar da alegria da salvação no Cristo Jesus, a exigência
evangélica é clara: amar como Jesus amou, sem hipocrisia e sem apegos, na
verdade e na liberdade.
Isto só pode acontecer quando nos
propomos a fazer a experiência do samaritano, que diante do pobre caído e
ferido não pensou duas vezes: viu, teve compaixão, se aproximou e agiu,
curando-lhe as feridas, aliviando seu sofrimento. Segundo o Lucas, o caído não
era nenhum conhecido ou amigo, mas um estranho. Na sociedade atual muitas faces
estranhas estão com feridas abertas, esperando aqueles que professam a fé em
Jesus para a unção com o óleo da solidariedade. Quem afirma ter fé em Jesus não
pode ser indiferente às faces estranhas do próximo.
Tiago de França
Um comentário:
Boa tarde, a foto desse post pode ser reproduzida ou é protegida pro direitos autorais?
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