sexta-feira, 27 de setembro de 2013

São Vicente de Paulo e os pobres

         
                Neste dia 27 de setembro não poderia me esquecer de São Vicente de Paulo (1581 – 1660), um dos maiores santos da história da Igreja. Sacerdote francês, homem dos pobres. Quando ordenado padre, aos 19 anos, não tinha boas intenções com o sacerdócio. Queria ser rico para socorrer a família. Vicente pensava como a maioria dos candidatos ao sacerdócio de sua época. O sacerdócio era uma carreira promissora. Em quase toda família tinha um padre. Com o passar do tempo e no encontro com os pobres, Vicente foi percebendo que suas pretensões não eram justas e experimentou vários fracassos. Abraçou a conversão.

            Vicente se encontrou com os pobres do campo e viu que eles eram famintos de pão, de palavra e de amor. Viu neles a face sofrida de Jesus. Percebeu que sua missão era socorrer aquele povo esquecido e explorado. Procurou outras pessoas para ajudá-lo na nova empreitada. Inicialmente, mulheres eram convidadas para socorrer, materialmente, os pobres. Posteriormente, estas mulheres se multiplicaram e Vicente propôs que se chamassem de Filhas da Caridade. Alguns padres seculares quiseram trilhar o caminho da caridade, vendo o interesse deles, Vicente fundou a Congregação da Missão.

            Os documentos históricos revelam que Vicente fundou apenas um movimento de leigos, leigas e de padres para o serviço da missão. Não passava pela sua cabeça entrar para a história como um grande fundador de uma famosa ordem, congregação ou instituto. Sua preocupação era o socorro dos pobres: socorro espiritual e material. Naquela época, a Igreja contava com muitos padres e religiosos, mas todos na clausura, no isolamento do mundo, servindo a Deus na boa vida dos conventos e mosteiros. Os religiosos pensavam que estavam próximos de Deus preservando-se dos perigos do mundo.

            Vicente morreu feliz, em 1660, rodeado de mulheres e homens, piedosos e atentos às necessidades dos pobres. O reconhecimento de sua missão junto aos pobres foi imediato. Todos o consideravam um santo, mas um santo diferente. Vicente não conversava com Maria, com os anjos, com os santos; não tinha visões, êxtases nem coisas do tipo. O segredo de Vicente é o segredo da Trindade Santa: era dócil e compassivo para com os pobres. Não podemos duvidar que era um amigo dos pobres, que amava-os de verdade.

            Com o passar do tempo, as Filhas da Caridade abraçaram a clausura. Vicente não as criou para a vida monástica, mas para experimentarem contemplação e ação no meio dos pobres. Deveriam ser as missionárias da caridade por excelência na Igreja. Continuam numerosas, mas dificilmente são vistas nas ruas, onde viviam com seu fundador nas origens. Os Padres da Missão ou Lazaristas, como são conhecidos, se interessaram pela formação do clero. Na Igreja pré-Vaticano II foram, no Brasil, os responsáveis pela aplicação do método tridentino de formação clerical. Ficaram famosos pela disciplina, erudição e fidelidade à ortodoxia, além das famosas missões populares.

            Atualmente, assim como as demais ordens, congregações e institutos, os lazaristas e filhas da caridade procuram redefinir sua identidade e programas de missão. Voltar ao primeiro amor, reler o fundador, reencontrar-se com os pobres e tornar o ofício divino de Jesus a sua prática cotidiana de missão. São desafios inadiáveis. A vida e a obra de Vicente de Paulo são testemunhas do amor misericordioso de Deus.

Recordar Vicente é recordar que Jesus foi ungido para evangelizar os pobres. Os pobres: os prediletos de Jesus. Este grande e humilde santo francês nos ensina a nos identificarmos com a vontade de Deus, a nos unirmos a Jesus Cristo que se revela nos pobres e a vivermos afetiva e efetivamente o amor. Estes três aspectos constituem a essência de sua espiritualidade, que jamais pode ser esquecida. A Igreja e cada cristão em particular tem muito a aprender com o testemunho missionário e profético de São Vicente de Paulo. Nele, o Espírito nos chama a atenção para a profecia que se manifesta na prática afetiva e efetiva da caridade.


Tiago de França

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