Neste
dia 27 de setembro não poderia me esquecer de São Vicente de Paulo (1581 –
1660), um dos maiores santos da história da Igreja. Sacerdote francês, homem
dos pobres. Quando ordenado padre, aos 19 anos, não tinha boas intenções com o
sacerdócio. Queria ser rico para socorrer a família. Vicente pensava como a
maioria dos candidatos ao sacerdócio de sua época. O sacerdócio era uma
carreira promissora. Em quase toda família tinha um padre. Com o passar do
tempo e no encontro com os pobres, Vicente foi percebendo que suas pretensões
não eram justas e experimentou vários fracassos. Abraçou a conversão.
Vicente se encontrou com os pobres
do campo e viu que eles eram famintos de pão, de palavra e de amor. Viu neles a
face sofrida de Jesus. Percebeu que sua missão era socorrer aquele povo
esquecido e explorado. Procurou outras pessoas para ajudá-lo na nova
empreitada. Inicialmente, mulheres eram convidadas para socorrer,
materialmente, os pobres. Posteriormente, estas mulheres se multiplicaram e
Vicente propôs que se chamassem de Filhas da Caridade. Alguns padres seculares
quiseram trilhar o caminho da caridade, vendo o interesse deles, Vicente fundou
a Congregação da Missão.
Os documentos históricos revelam que
Vicente fundou apenas um movimento de leigos, leigas e de padres para o serviço
da missão. Não passava pela sua cabeça entrar para a história como um grande
fundador de uma famosa ordem, congregação ou instituto. Sua preocupação era o
socorro dos pobres: socorro espiritual e material. Naquela época, a Igreja
contava com muitos padres e religiosos, mas todos na clausura, no isolamento do
mundo, servindo a Deus na boa vida dos conventos e mosteiros. Os religiosos
pensavam que estavam próximos de Deus preservando-se dos perigos do mundo.
Vicente morreu feliz, em 1660,
rodeado de mulheres e homens, piedosos e atentos às necessidades dos pobres. O reconhecimento
de sua missão junto aos pobres foi imediato. Todos o consideravam um santo, mas
um santo diferente. Vicente não conversava com Maria, com os anjos, com os
santos; não tinha visões, êxtases nem coisas do tipo. O segredo de Vicente é o
segredo da Trindade Santa: era dócil e compassivo para com os pobres. Não podemos
duvidar que era um amigo dos pobres, que amava-os de verdade.
Com o passar do tempo, as Filhas da
Caridade abraçaram a clausura. Vicente não as criou para a vida monástica, mas
para experimentarem contemplação e ação no meio dos pobres. Deveriam ser as
missionárias da caridade por excelência na Igreja. Continuam numerosas, mas
dificilmente são vistas nas ruas, onde viviam com seu fundador nas origens. Os Padres
da Missão ou Lazaristas, como são conhecidos, se interessaram pela formação do
clero. Na Igreja pré-Vaticano II foram, no Brasil, os responsáveis pela
aplicação do método tridentino de formação clerical. Ficaram famosos pela
disciplina, erudição e fidelidade à ortodoxia, além das famosas missões
populares.
Atualmente, assim como as demais
ordens, congregações e institutos, os lazaristas e filhas da caridade procuram
redefinir sua identidade e programas de missão. Voltar ao primeiro amor, reler
o fundador, reencontrar-se com os pobres e tornar o ofício divino de Jesus a
sua prática cotidiana de missão. São desafios inadiáveis. A vida e a obra de
Vicente de Paulo são testemunhas do amor misericordioso de Deus.
Recordar Vicente é recordar que Jesus
foi ungido para evangelizar os pobres. Os pobres: os prediletos de Jesus. Este grande
e humilde santo francês nos ensina a nos identificarmos com a vontade de Deus,
a nos unirmos a Jesus Cristo que se revela nos pobres e a vivermos afetiva e
efetivamente o amor. Estes três aspectos constituem a essência de sua
espiritualidade, que jamais pode ser esquecida. A Igreja e cada cristão em
particular tem muito a aprender com o testemunho missionário e profético de São
Vicente de Paulo. Nele, o Espírito nos chama a atenção para a profecia que se
manifesta na prática afetiva e efetiva da caridade.
Tiago de França
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