“Vós
não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13).
Esta advertência de Jesus se
encontra no seu evangelho. Após ter contado uma parábola aos seus discípulos, a
do administrador esperto, que para não ser demitido procura uma forma de se
manter no ofício mesmo tendo sido acusado de ter esbanjado os bens de seu
patrão (cf. Lc 16, 1 – 13). No versículo 14 do mesmo capítulo aparece a reação
dos fariseus, que eram apegados ao dinheiro: zombaram de Jesus. Os fariseus de
hoje, quando escutam a mesma advertência, reagem da mesma forma: não levam a
sério, pois praticam uma religião de conveniência, pouco se importando com o
que diz o evangelho. Vamos pensar sobre o que significa servir a Deus e,
posteriormente, falaremos sobre o serviço ao dinheiro.
Servir a Deus
Deus precisa do nosso serviço? O que
significa servi-lo? Servir a Deus não é sinônimo de mera prestação de serviço a
um patrão. Deus não é patrão de ninguém. Assim, servir a Deus é, antes de qualquer
coisa, amá-lo de todo o coração, com toda a inteligência e com toda a força, e
amar o próximo como Jesus amou. Dedicar-se a Deus é dedicar-se ao próximo. Trata-se
de uma atitude de liberdade, doação, solidariedade, partilha, generosidade,
justiça, mansidão. Serve-se a Deus quando se procura viver livremente em sintonia com o
evangelho de Jesus. Toda pessoa que procura servir a Deus coloca no
centro da vida os valores evangélicos, valores que se encerram no amor. Este
amor liberta integralmente as pessoas e as colocam no caminho de Jesus.
No mundo atual torna-se cada vez
mais difícil servir a Deus, porque se busca sempre e cada vez mais os próprios
interesses. A indiferença que se traduz na frieza das relações, tornando-as
descartáveis não permite que as pessoas sejam altruístas. Aliás, o
evangelho nos pede que sejamos mais que altruístas, pede-nos que sejamos irmãos.
O mundo não nos oportuniza a fraternidade, mas esta é necessária. O rosto do
outro só é visível quando as pessoas procuram viver como irmãos e irmãs que se
querem bem. Quando isto não ocorre, o esquecimento do outro e a consequente
marginalização é inevitável.
Na Igreja de nossos dias temos,
certamente, muitas pessoas que se doam ao próximo, sem reservas, plenamente;
mas é verdade também que há aquelas que pensam estar servindo a Deus, o que
infelizmente não ocorre, pois buscam servir-se a si mesmas. A comunidade
cristã é o lugar do serviço a Deus, que se traduz no serviço ao próximo.
Há inúmeras pessoas que precisam de ajuda. As notícias dos jornais não nos
animam: o sofrimento assola a humanidade, consequência das más escolhas dos
seres humanos e de suas ambições desmedidas. Procurando satisfazer os próprios
interesses, gravemente enfermo, o ser humano egoísta põe em risco a si mesmo e
a toda humanidade. A Igreja precisa ser testemunha da justiça do Reino, que impede o
esquecimento e a marginalização dos pobres.
Servir ao
dinheiro
Segundo a advertência de Jesus,
não é possível servir a Deus e ao dinheiro. O dinheiro quando é transformado em
um deus torna-se muito perigoso e leva à perdição. O mundo capitalista no qual
vivemos é marcado pela busca da riqueza. Inúmeras pessoas se dedicam a ganhar
muito dinheiro. Gastam inteligência e força na busca desenfreada do dinheiro. Este
se torna o centro da vida destas pessoas. A concentração da riqueza gera
pobreza e miséria no mundo. Enquanto sobra na vida de alguns, falta na vida da
maioria. Esta desigualdade é gravemente pecaminosa porque Deus não se alegra com a situação
de miséria de muitos de seus filhos e filhas.
Os que servem ao dinheiro são espertos
e, de modo geral, corruptos. Os valores éticos e cristãos são relativizados em
prol da obtenção da riqueza. Esta torna as pessoas insensíveis, frias e
indiferentes ao sofrimento do próximo. Para não sentir peso na consciência,
alguns ricos procuram a religião para fazer doação daquilo que sobra, sem
desapego algum da riqueza que possui.
As empresas, principalmente as de grande
porte, para enganar as pessoas fazem propaganda de si mesmas, distribuindo
pequenas sobras em obras de projetos sociais. As organizações Globo é um bom
exemplo disso: induz as pessoas a pensarem que se trata de uma organização
preocupada com o sofrimento das pessoas, em projetos como o Criança Esperança e
tantos outros. Na verdade, o que ocorre é muito simples de entender: ganham
milhões de reais à custa do sofrimento dos pobres e ainda os mantêm na
cegueira, tirando-lhes a liberdade de pensar por si mesmos.
O mesmo acontece no Cristianismo. As
Igrejas, de modo geral, caem na tentação da procura pela riqueza. Há inúmeras
denominações religiosas que visam o enriquecimento ilícito em nome de Deus. Estas
denominações buscam legitimar suas práticas corruptas na famosa teologia da prosperidade,
que prega um deus falso, mentiroso, falacioso, milagreiro, instrumento de
opressão dos pobres. Este deus é inimigo da liberdade e da verdadeira vida dos
seres humanos. Facilmente, percebemos a intenção de muitos pregadores: fazem
uso da palavra de Deus, deturpando-a em função da procura pelo dinheiro.
Pastores desta ordem, contaminados pela
ambição e sede de dinheiro, deveriam abandonar tal caminho e recolocar o
evangelho de Jesus no centro de suas vidas e de sua missão. Na Igreja Católica
tive a infelicidade de conhecer alguns clérigos ambiciosos, que abraçaram o
sacerdócio ministerial pensando no dinheiro. Alguns deles são empresários,
homens ricos, juntamente com suas famílias. Para ilustrar, basta o leitor
imaginar o patrimônio financeiro do Pe. Fábio de Melo. Ou o leitor pensa que
ele doa tudo aos pobres?...
Para participarmos do Reino de Deus
precisamos aprender a partilhar o que somos e temos com o próximo. A pessoa
que possui riqueza e é indiferente às necessidades do próximo não pode seguir
Jesus. O caminho de Jesus é estreito, nele não há espaço para quem quer
viver comodamente, em detrimento do sofrimento do outro. A cultura da indiferença é
contrária ao evangelho e o cristão não pode reforçá-la. Há uma grave
contradição na fé de quem se torna indiferente ao sofrimento do próximo.
Saibam os poderosos e exploradores do povo de Deus, que o Deus e Pai de Jesus
não se esquece de seus filhos e não tardará em fazer justiça aos pobres. Parte desta
justiça já está, aos poucos, acontecendo. A prova disso é que muitos poderosos
estão caindo de seus tronos. Uns caem, outros desaparecem da face da terra,
deixando aos outros a riqueza que julgava possuir.
Tiago de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário