“Pelo
contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos,
os cegos. Então tu serás feliz, porque eles não te podem retribuir. Tu receberás
a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14, 13 – 14).
O episódio se encontra em Lc 14, 1.7
– 14. Jesus é convidado para comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Sabia
muito bem quem eram eles: religiosos, considerados importantes, pois observavam
a letra da lei, mas viviam jogando pesados fardos sobre os pobres. Sinteticamente:
viviam farisaicamente, ou seja, separados e mergulhados na hipocrisia
religiosa. Mesmo assim, Jesus ousa ir ao encontro deles para uma refeição. Isso
mostra que Jesus não era um medroso, mas homem ousadamente livre.
“E
eles o observavam”. Com este detalhe, o evangelista chama a atenção para um
dos costumes dos hipócritas: observar o próximo com o intuito de pegá-lo em
alguma falta. Até hoje esses fariseus continuam agindo do mesmo modo: são os espiões,
aqueles que sigilosa e discretamente, procuram observar o próximo com o intuito
de prejudicá-lo. Este triste costume parece está enraizado na vida religiosa
cristã. Os fariseus são como as cobras venenosas, que procuram a ocasião certa
para dar o bote!
“Jesus
notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares”. Jesus percebe que
as pessoas sempre procuram o primeiro lugar, devido à importância do mesmo. Todos
querem ser importantes, bem vistos, cumprimentados. Até hoje é assim: nas
comunidades e nas liturgias, há muitos que sempre procuram os primeiros
lugares, os que dão destaque, visibilidade. Alguns, por causa da carência de
atenção; outros, porque não aceitam o último lugar, querem ser bem vistos. A situação
lembra as liturgias nas quais se encontram os ricos e as autoridades: todos
sentam à frente, para serem vistos, cumprimentados, fotografados e mencionados
na homilia do presidente da celebração. Pura hipocrisia!
Para chamar a atenção destes, Jesus
conta-lhes uma parábola. Eles não devem ter gostado nenhum pouco, pois nela aparecem
duas recomendações: 1. Aos convidados, ensina a não procurarem os primeiros
lugares; 2. Ao dono da casa, ensina a convidar aqueles que não podem retribuir
ao convite (pobres, aleijados, coxos e cegos). A ideia de recompensa, mencionada
na parábola, nos faz pensar nos interesses pessoais de quem faz o convite. É muito
comum tais convites serem motivados por interesses, quase nunca pela
gratuidade. Convida-se porque se espera ser recompensado. Sendo assim, os
pobres, aleijados, coxos e cegos não podem ser convidados para a festa, pois
são uns coitados, incapazes de oferecer algum tipo de recompensa.
Os fariseus não eram chegados a
pobres, aleijados, coxos e cegos. Para eles, estes eram considerados impuros,
pois eram defeituosos e não obedeciam à lei. Eram os excluídos da sociedade da
época, viviam fora do convívio social. Eram encontrados fora da cidade, à beira
dos caminhos, jogados no anonimato. Hoje, tudo continua do mesmo jeito: eles
continuam excluídos da festa. Além de serem excluídos pela sociedade, também as
comunidades cristã os excluem. Eles não estão presentes na comunidade paroquial
nem frequentam as demais denominações religiosas, mas se encontram em suas
casas, esquecidos. A maioria das igrejas neopentecostais os procura para
realizar os espetáculos das curas prodigiosas!
Jesus diz que é feliz quem convida
os excluídos para a festa da vida. Com isto, aprendemos onde se encontra a
verdadeira felicidade: junto dos humildes. “Muitos
são os altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios”,
ensina o livro do Eclesiástico (3,21). Em outra ocasião, disse Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos
pequeninos” (Mt 11,25). O Pai, por meio do Filho e no Espírito, escolheu os
pequeninos para lhes revelar a sua sabedoria e seus mistérios.
Os poderosos deste mundo não sabem
nem podem conhecer a sabedoria divina, pois estão atrelados à sabedoria do
mundo, tendo em vista a garantia e a conquista do poder, do prestígio e da
riqueza. Quem procura pautar a sua vida na sabedoria divina não procura outra
coisa senão o cumprimento da vontade divina. Para ter acesso à sabedoria divina
e para participar da mesa no Reino de Deus é necessário fazer-se pequeno,
tornar-se pequeno, abraçar a mansidão e a humildade; do contrário, não é
possível.
A Igreja precisa aprender de uma vez por
todas que o Reino acontece a partir dos pequenos. Isto significa
claramente o seguinte: abandonar de vez as alianças com os
poderosos deste mundo e se colocar, definitivamente, a serviço dos pequenos,
sendo uma Igreja dos pequenos, despojada de poder humano, entregue à solicitude
divina, contando somente com a força da palavra de Jesus contida no evangelho
da vida e da liberdade. Somente assim, a Igreja será, de fato, “advogada
da justiça e defensora dos pobres” (cf. Documento de Aparecida, n.
395).
Tiago de França
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