sábado, 16 de novembro de 2013

Fidelidade em meio às adversidades

“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21, 19).

            A fidelidade é dom de Deus. Confiando nas próprias forças, o ser humano não consegue ir muito longe.  A fraqueza lhe é condição natural. Chamado a viver na intimidade com Deus, o cristão procura se entregar à sua bondade e misericórdia. Jesus, na sua peregrinação terrestre viveu plenamente unido ao Pai, na certeza de que este jamais o abandonaria. Esta confiança o levou à entrega de sua própria vida. O seguidor de Jesus conhece como é o caminho e sabe também dos riscos do mesmo. Inspirados pelas palavras de Jesus (cf. Lc 21, 5 – 19), vamos meditar algumas questões importantes para o seguimento de Jesus em nossos dias.

O tempo está próximo

            Livres dos apocaliptismos e das profecias que anunciam somente a desgraça, precisamos suscitar a esperança na vida das pessoas; mas a esperança cristã não é ingênua nem fadada ao fracasso. Ela brota da vida sofrida do povo e não poderia ser diferente. Os sofredores deste mundo, renunciando ao desespero, vislumbram um novo amanhecer. Ricos e poderosos não sabem o que isto significa, e quando tomam conhecimento de tal esperança, geralmente não a entendem. O motivo é simples: não a entendem porque estão fora do caminho de Jesus. Somente os que estão no caminho entendem a dinâmica contagiante da esperança cristã.

            Para aqueles que estavam admirados com a beleza das belas pedras preciosas que embelezavam o Templo de Jerusalém, Jesus fala da transitoriedade de todas as coisas. Mais do que isto, Jesus aponta para o fim de todo sistema que explora as pessoas. Infelizmente, o Templo de Jerusalém foi transformado em casa de exploração do povo. A religião se transformou em pedra de tropeço, em instrumento de alienação e exploração dos pobres. O tempo da destruição do mal é certo. É tardio, mas certo. Os homens criam o mal, o aperfeiçoam, tornando-o cada vez mais destruidor; porém, com o passar do tempo tudo se acaba, se evapora, não sobrando pedra sobre pedra.

            Todos os dias assistimos às denúncias que destronam muitos poderosos. Eles riem e usufruem os bens roubados do próximo, mas, de repente, tudo é descoberto e a ruína lhes surpreende. O mal contém em si o germe de sua própria destruição. Todas as pessoas que se enveredam pelo caminho da maldade, cedo ou tarde, serão eliminadas da face da terra. Isto é inevitável. O mal não contém a verdade, mas é alicerçado na mentira, na ilusão e no falso progresso. É igual a um castelo construído sobre a areia, quando vem a tempestade tudo se desmorona. Soberbos e ímpios, segundo a profecia de Malaquias, são iguais à palha, que não suporta o fogo devorador (cf. Malaquias 3, 19).

Falsos mestres e falsas profecias

            Jesus alerta para o perigo dos falsos mestres: pessoas que afirmam ser o Messias, o Salvador. Aqui e acolá aparece gente dessa espécie, mas só fazem barulho, nada mais. Não são portadoras da verdade que liberta o ser humano. São inimigas da verdade e da liberdade. No Cristianismo de nossos dias elas estão nos púlpitos e nos templos, mas seus discursos estão desvinculados da palavra de Deus. São mentira e ilusão, não falam em nome de Deus, mas a partir de si mesmas e em função de si mesmas. Quando cansam, desistem e morrem com suas falsas profecias.

            Além de pessoas, o dinheiro continua sendo o deus de muita gente. As pessoas o procuram e se entregam, procurando ser felizes. O deus dinheiro parece ser a mola propulsora da humanidade atual. Suas espécies asseguram riqueza e prestígio. Consequência: vazio existencial, que leva inevitavelmente à morte. As pessoas que adoram ao dinheiro, colocando-o no centro de suas vidas, cedo ou tarde perdem o sentido da vida e morrem desesperadas, tragicamente. É vergonhoso e triste assistir a morte de quem passou toda a sua vida a serviço do deus dinheiro.

O testemunho das profetisas e profetas do Senhor

            Finalmente, Jesus fala da provação. Para os seguidores de Jesus este mundo é inadequado, pois sua mentalidade é outra. Quem se encontra no caminho de Jesus não se amolda às estruturas deste mundo, mas isso não quer dizer que se encontra em outro mundo. Afirmar que o cristão vive em outro mundo seria enganoso. Nos meios eclesiásticos, onde se encontram os estudiosos da lei de Deus, falar em transformação do mundo é falar de coisa ultrapassada. A Igreja atual está retomando esta mentalidade de transformação porque o Papa Francisco ousou retomá-la, mas os doutores da lei e fariseus da Igreja não param de dar boas risadas do Bispo de Roma.

            O mundo está profundamente marcado pela mentalidade capitalista, que ensina o ter e o poder. Muitos cristãos abandonaram Jesus e aderiram a esta mentalidade doentia e desumanizadora. Portanto, amoldaram-se às estruturas injustas deste mundo, que somente geram sofrimento e morte. Segundo a mentalidade capitalista, importante é a pessoa que tem dinheiro. O pobre e o desvalido são tratados como lixo e/ou como clientes da infinidade de mercadorias descartáveis que são produzidas. Em pouco tempo, pessoas e mercadorias se tornam a mesma coisa. A pessoa se torna coisa, podendo ser descartada.

            Para quem está contaminado pela mentalidade capitalista estas palavras soam como subversivas e dignas de desprezo. Os capitalistas são inimigos da liberdade, pois são demasiadamente apegados às coisas e às pessoas coisificadas. Suas vidas são superficiais e neutras, sua alegria é falsa e passageira. Os discípulos de Jesus fazem uso das coisas necessárias à vida. Certamente usam computador, telefone, carro, internet, roupas, sapatos. Seria hipocrisia afirmar o contrário.

É até comum encontrarmos cristãos fazendo uso dos modismos da atualidade. Os modistas estão contaminados. Os cristãos estão no mundo, mas fora da moda. São considerados ultrapassados porque não aderem à descartabilidade de todas as coisas e das pessoas. Usam das coisas necessárias e se relacionam com as pessoas, tendo Jesus diante dos olhos.  

            Jesus convida à firmeza e à fidelidade até o fim. O Reino de Deus está acontecendo, silenciosamente, na história. As testemunhas da ressurreição de Jesus, aqui e acolá fazem o Reino acontecer. Claro que a edificação do Reino não depende da força delas, mas o Espírito do Senhor, presente e atuante no mundo, é quem faz o Reino acontecer. Este mesmo Espírito está presente nas lutas dos sofredores, no cotidiano de suas vidas. A fidelidade a Jesus é graça deste Espírito. Alcançar, enfim, a vida plena é graça do Espírito.

O cristão permanece de pé, caminhando firme, porque é impulsionado pela esperança, que é graça do Espírito de Deus. Somente o Espírito é capaz de conceder a verdadeira liberdade, que o mundo jamais oferece nem se interessa em oferecer. O que os homens de hoje pensam ser a liberdade para as suas vidas, na verdade não passa de ilusão. Em pouco tempo descobrem que continuam desorientados e perdidos.

Não há outra liberdade senão a liberdade dos filhos e filhas de Deus. Nela se encontra a felicidade de que todos procuram. Fora desta liberdade somente existe ilusão, frustração, desorientação, dispersão e vazio existencial. Quer ser feliz? Arrisque-se encontrar a liberdade caminhando com Jesus. Este é o caminho.


Tiago de França

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