“Deus
não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem pra ele”
(Lc 20, 38).
O tema da ressurreição ocupa o centro da mensagem cristã.
Não há Cristianismo sem fé na ressurreição. O que significa ressuscitar? Ressurreição
não é reanimação de cadáver, como pensavam os saduceus que foram falar com
Jesus (cf. Lc 20, 27 – 38) e como até hoje pensam muitos cristãos. A realidade
da ressurreição é indescritível, ninguém sabe ao certo como acontece. Metaforicamente,
arriscamos imagens e ideias, mas continua sendo um mistério. Portanto, todas as
afirmações a respeito da ressurreição são aproximativas, pois não conseguem
falar plenamente do mistério.
Para entendermos a ressurreição precisamos olhar para
Jesus, o Filho de Deus, primeiro a ressuscitar dentre os mortos. Ele mostrou
que a ressurreição não é mera realidade pós-morte. Quando o discípulo se coloca
no caminho de Jesus já começa a experimentar a realidade da ressurreição. Portanto,
ressuscitar é estar em comunhão com Deus. Comunhão que ressuscita a pessoa para
uma vida nova, transformada pela força do Espírito. A ressurreição é um
mistério impulsionado pela ação amorosa do Espírito do Senhor.
A ação do Espírito é silenciosa e gradativa, sem pressa
alguma. A pessoa sente no seu cotidiano que há uma força que a conduz,
encoraja, ilumina, torna a vida possível. A vida dessa pessoa é alegre e cheia
de paz. Mesmo em meio às dificuldades e desafios, não há abatimento nem
desespero, mas passo firme na direção de Deus. É algo tão misterioso que a
pessoa já se sente naquela comunhão plena de que fala a escatologia. Há certa
antecipação das alegrias celestiais. Essas pessoas que assim vivem são
inabaláveis porque são movidas pela força divina. Elas já se desapegaram de
tudo, inclusive de si mesmas. Deus, misteriosamente, as habita.
Neste sentido, a ressurreição é uma experiência que
antecede a morte e chega após esta à sua plenitude. Com a morte somos
transformados em algo que no momento é indizível, algo que transcende a
realidade humana. A este algo chamamos de ressurreição. Os que nesta vida estão
unidos a Deus e esperam confiantemente nele são resgatados na morte para uma
realidade nova. Em Jesus e na força do Espírito, a pessoa entra definitivamente
na comunhão trinitária. É algo sublime, racionalmente inalcançável.
Ter fé na ressurreição é colocar-se no caminho de Jesus. O
caminho do calvário e a realidade da cruz antecedem à glória da ressurreição. Jesus
entregou-se confiantemente a Deus, cumprindo sua vontade. As Escrituras atestam
que sua fidelidade ao Pai o fez ressurgir da morte para a vida. Por meio de
Jesus, Deus ressuscita a humanidade, concedendo-lhe vida plena. Não basta crer
com a boca, mas é necessário fazer a experiência cotidiana da ressurreição.
Quem acredita na ressurreição sabe que a vida não tem
fim, que a morte é como que uma metamorfose, certa transubstanciação da
realidade. Por isso, o discípulo de Jesus vai ao encontro da morte como seu
Mestre: com a confiança que não será abandonado no túmulo. Quem acredita na
ressurreição só conhecerá a morte do corpo, sabendo que este será transfigurado,
transformado em algo eterno, assim como aconteceu com Jesus. É isso que Deus
quer e é isto que Ele fará, pois é o que diz as Escrituras, palavra de Deus que
não passa.
A Igreja e o mundo de nossos dias carecem de mulheres e
homens ressuscitados no Cristo Jesus: pessoas alegres, firmes, esperançosas,
trabalhadoras, corajosas, audaciosas, simples, livres e de fé enraizada no
testemunho da palavra de Deus. Há muito sofrimento no mundo, causado pelas
diversas formas de violência e exploração. Os discípulos missionários de Jesus,
iluminados pelo evangelho da vida e da liberdade, devem testemunhar a
ressurreição de Jesus. Isto significa abraçar as grandes causas do Reino de
Deus até as últimas consequências.
Nenhuma
força deste mundo é superior à força da ressurreição e esta acontece por meio
do suor e do sangue dos discípulos de Jesus, que são chamados a ser fermento,
sal e luz em meio à desumanização que está acontecendo no mundo. E na parusia
do Senhor, o grande dia da vitória sobre a morte, o Deus e Pai de Jesus fará
justiça aos oprimidos e todos se sentarão à mesa de seu Reino. A festa vai ser
bonita e sem fim, pois a vida, definitivamente, vai ser a realidade única. E Deus,
Pai infinitamente amoroso e misericordioso, será tudo em todos. Enquanto este
dia não chega, o Espírito consolador vai mantendo viva a nossa esperança e o
caminho vai se tornando possível.
Tiago
de França
Um comentário:
Mais um belíssimo artigo, meu amigo! Porque a ressurreição é exatamente isso; ela só acontece pela prática da fé. Como diz um meu outro grande amigo, "se a fé não faz diferença, que diferença faz ter fé?"
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