sábado, 21 de dezembro de 2013

Deus conosco

         
            Vivemos em um mundo marcado pelo sofrimento, que é causado por inúmeras injustiças. Há muitas pessoas padecendo em situações desesperadoras. Diante do sofrimento, mesmo as pessoas de fé se encontram abaladas, tentadas a abandonar a fé em Deus, pois se perguntam: “Se Deus existe, por que estou sofrendo tanto?” A pergunta em torno da origem e do significado do sofrimento humano é complexa.

O que a experiência de Jesus nos assegura é que Deus não é a origem nem a causa do sofrimento que assola a humanidade. O fato de Jesus ter abraçado o caminho da cruz não justifica a ideia de um Deus oferece o sofrimento como caminho da perfeição. Assim se pensava na Idade Média, mas de uns tempos para cá estamos redescobrindo que Deus é amor, Pai amoroso que não se compraz com o sofrimento humano.

            Jesus não fez uma opção pelo sofrimento, pois não era masoquista. O sofrimento fez parte de sua vida por causa de sua opção pelo Reino de Deus. Jesus foi vítima das incompreensões, perseguições e da malícia daqueles que se opuseram à mensagem central do evangelho: a realidade do Reino de Deus. Não se trata do mero conflito entre a força de Deus e a de Satanás, como muitos pensam e pregam, mas da inauguração conflituosa do Reino de Deus. O anúncio desta Boa Notícia gera conflitos entre os que acolhem e os que rejeitam Jesus e sua mensagem. O conflito é inevitável. Mais do que isto, o mesmo é necessário.

            Antes de Jesus, Deus era concebido como o Altíssimo, o Todo-poderoso que estava nas alturas dos céus. Seu nome era impronunciável e sua ira era terrível e demolidora. Geralmente, as pessoas tinham medo do Altíssimo, o Senhor dos Exércitos. Chegada a plenitude dos tempos, o tempo escolhido e marcado por Deus desde a criação do mundo, o Altíssimo desce, vem ao encontro, encarna-se, torna-se homem, plenamente humano, pequeno, pobre, indefeso e pobre. Deus se tornou perfeitamente humano. Encarnado na história humana, Deus assume, plena e definitivamente, a condição humana.

            Depois de Jesus, Deus é com a gente, presente, consolador de seu povo. Os pobres, os injustiçados, os esquecidos e marginalizados, as vítimas do sistema capitalista selvagem, os condenados pela religião, os pecadores públicos, enfim, todos os sofredores deste mundo, independentemente de sua cultura, crença, sexo e condição social são abraçados pela bondade, pela ternura e pela misericórdia do Deus que quis salvar a humanidade inteira, sem se esquecer nem excluir ninguém.

Na relação conflituosa e dolorosa entre opressor e oprimido, em Cristo Jesus, Deus escolhe libertar o oprimido e, assim, também liberta o opressor. Os oprimidos de todo tempo e lugar encontram em Deus o seu refúgio e sua segurança, a liberdade, a felicidade e a vida plena. Enraizados nesta esperança, os pobres e oprimidos não caem no desespero e caminham com firmeza rumo à liberdade e à vida. E a força divina, misteriosa e amorosa, jamais abandona seu povo, tornando-o forte e vitorioso.  

A celebração do Natal de Jesus na liturgia da Igreja é a celebração do memorial da encarnação do Deus fiel, que jamais abandona seus filhos e filhas, de um Deus que é Pai e Mãe de bondade, que consola, acalenta, anima e concede a sua graça a seu povo, a fim de que este continue firme em meio às adversidades da vida presente, rumo à plenitude de seu Reino. Esta é a alegria do Natal. Este é seu significado. Caminhamos com Deus e Deus caminha conosco. Nada poderá nos tirar esta alegria e salvação. Estamos mais que seguros no abraço acolhedor de Deus, estamos revigorados, mergulhados Nele e salvos.

Tiago de França

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