sábado, 7 de dezembro de 2013

Maria: serva do Senhor

“Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

            Neste domingo a Igreja celebra, dentro do tempo do advento, a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Trata-se de um dogma proclamado pelo papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854. Muito antes desta data, muitos católicos já veneravam a mãe de Jesus como a imaculada conceição, ou seja, concebida sem a mancha do pecado original.

A partir de uma mariologia pós-conciliar, a reflexão em torno deste dogma passa pela imagem de Maria contida no evangelho, pois tal dogma não tem nenhuma fundamentação bíblica. Portanto, o mais interessante não é querer saber se Maria foi ou não concebida sem a mancha do pecado original, mas em aprendermos com ela a sermos discípulos missionários de Jesus.

Movimento inverso

            O dogma da imaculada conceição não leva em consideração a serva do Senhor, mas cria no imaginário popular a ideia de que Maria foi escolhida e, por isto, é maior do que as demais mulheres, possuindo, assim, um privilégio especial. A partir das Escrituras, podemos assegurar que não há privilégio algum. Afirmar isso não diminui em nada a figura de Maria e sua participação no projeto de Deus.

Qualquer excesso na devoção precisa ser corrigido, a fim de que Maria não deixe de ser a serva do Senhor. Ela não é uma deusa nem mediadora entre Deus e as pessoas, mas, tendo aceitado a missão de ser a mãe de Jesus, participou ativamente da ação misericordiosa de Deus que veio salvar o seu povo. Ela se tornou missionária da Palavra de Deus, pois acreditou nesta Palavra e por meio dela foi salva, juntamente com o povo de Deus.

Crer e colocar-se a serviço

            A partir do evangelho constatamos que em Maria há uma íntima ligação entre crer e servir. Para crer é preciso encontrar-se com a Boa Notícia. Esta desperta para o amor. Convivendo com Jesus e educando-o na fé de seu povo, Maria aprendeu a ser a humilde serva do Senhor. A salvação acontece por meio da humildade e do serviço. Transformada pela Palavra de Deus, Maria se abriu à ação amorosa da graça de Deus e se tornou portadora da Boa Notícia do Reino.

            Seu exemplo é o de mulher servidora, que tendo compreendido o sentido e o alcance da ação de Deus em sua vida e na vida de seu povo, tornou-se modelo de doação ao próximo. Ela quis fazer a vontade de Deus, que foi aos poucos sendo compreendida, na medida de sua fidelidade à missão recebida. Crer é fazer a vontade daquele que chama e envia.

Crer é mais do que ouvir e proclamar com a boca a bondade e a misericórdia de Deus; além disso, é preciso fazer a experiência da escuta e da proclamação da Palavra. Experiência é vida, é sentir no cotidiano Deus agindo segundo seus desígnios. Maria era “cheia de graça” e “bem-aventurada” porque experimentou a bondade e a misericórdia de Deus no encontro feliz e generoso com o próximo.

Celebrar a imaculada conceição não é recordar a nefasta herança do pecado original. Não podemos perder mais tempo pensando neste evento inicial, mas é preciso, urgentemente, tendo Maria como modelo, procurarmos servir às vítimas dos gravíssimos pecados estruturais que assolam a humanidade, ajudando-as em seu processo de libertação. Recordando outro grande exemplo, o de Nelson Mandela (1918 – 2013), que não passou seus 95 anos pensando em si mesmo, mas sendo protagonista da libertação de seu povo, a Igreja precisa, definitivamente, ser como Maria, como Nelson Mandela e tantas outras testemunhas da libertação integral do ser humano, serva dos servos de Deus.


Tiago de França

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