“Eis
o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”
(Jo 1, 29).
Em Cristo Jesus o discípulo missionário é santificado
(cf. 1 Cor 1, 2). Como se procede esta santificação? É preciso considerá-la,
antes de tudo, como ação misteriosa de Deus por meio de seu Espírito. É o
próprio Deus que deseja a santificação do gênero humano. Marcado pelo pecado, o
ser humano é incapaz, por si mesmo, de chegar à santificação; mas uma vez
alcançado pela graça santificadora de Deus se torna capaz de entrar em comunhão
com Deus. Ser santificado, portanto, é isto: abrir-se à ação amorosa do Espírito
do Senhor, deixando-se moldar por Ele para a salvação do mundo. Isto é ser
outro Cristo.
Não se trata de mera compreensão, mas de vida concreta no
mundo. Observemos a saudação do profeta João, quando viu Jesus se aproximar: “Eis o cordeiro de Deus”. Na linguagem
bíblica, a imagem do cordeiro estava ligada aos sacrifícios de expiação dos
pecados. Ao saudá-lo dessa forma, João está nos dizendo que Jesus, unido ao Pai
na força do Espírito, é capaz de nos libertar do pecado. Assim, o pecado não
deve ser mais motivo de preocupação. No Cristo estamos livres, não seremos
condenados. Fomos abraçados pela graça. Este é o desejo de Deus. Ninguém pode invalidar
isso. Somos mais que vencedores.
Unidos ao Cordeiro de Deus, Jesus de Nazaré, o Filho
amado do Pai, recebemos o convite de sermos cordeiros. Isto significa que a
nossa vida deve ser como a de Jesus: vida doada ao próximo, nosso irmão. Pelo batismo
somos incorporados ao ser de Jesus, ou seja, participamos de sua vida doada aos
irmãos e aprendemos com ele a fazer a mesma experiência de cruz e ressurreição.
Aqui está o núcleo de nossa santificação. Unidos e somente se unidos ao
Cordeiro de Deus é que somos santificados. Quais as consequências práticas
deste ser santificado para a vida do mundo atual?
Deixar-se santificar por Deus é uma maravilha, uma
alegria inexplicável, mas também um risco, algo perigoso. No mundo encontramos
quem escolhe viver nas trevas da ilusão, da mentira e do erro. Há quem resista
à proposta de Jesus, a santificação cotidiana. Consciente e inconscientemente,
estas pessoas acabam contribuindo para aumentar cada vez mais o joio no meio do
trigo. Os santificados em Cristo Jesus precisam da virtude da paciência e da
perseverança: a primeira ajuda a compreender os limites da realidade, a segunda
não permite que o desânimo tome conta da vida.
A alegria oriunda da ação amorosa de Deus é filha da
liberdade. Apesar dos condicionamentos da vida, o discípulo missionário está
alicerçado na rocha firme, que é o próprio Cristo Jesus. Escolhendo segui-lo e
tendo os olhos fixos nele, segue a diante, sem medo de ser feliz. Aí se percebe
claramente uma entrega sem limites porque há um forte vínculo de confiança no
Deus que chama e envia para a missão. Estas pessoas ungidas pelo Espírito,
batizadas por Jesus, o Cordeiro divino, fazem brilhar no mundo a Luz da vida. Esta
Luz é o próprio Jesus, Palavra de Deus para a vida do mundo.
A missão dos santificados em Cristo, dos que são
batizados na força do Espírito, está repleta de alegrias e de perseguições. São
muitas as lágrimas e os sorrisos dos discípulos de Jesus. Há um refrão cantado
nas comunidades cristãs que diz: “Indo e
vindo, trevas e luz, tudo é graça, Deus nos conduz!” A missão é movimento
de ida e vinda, de pecado e graça, e Deus é o condutor da vida dos que se
permitem santificar. Não há medo paralisante, não há ideologia alienadora, mas
há caminho a seguir. Os discípulos missionários de Jesus não se deixam dominar
pelo medo nem pela covardia, mas, iluminados e sustentados pelo Espírito
Santificador se entregam à missão, apesar do risco constante do derramamento de
sangue.
É visível que os santificados em Cristo Jesus são pessoas
do mundo para o trabalho santificador do mundo. Por isso, não vivem fugindo do
mundo nem o demonizam. Na Igreja, há quem pensa que está agindo no Espírito do
Senhor somente porque procura evitar o pecado. Jesus nunca pediu a nenhum dos
seus discípulos para evitar o pecado. Essa mania de evitar o pecado é coisa de
gente medrosa, que não confia na força de Deus, mas em suas próprias
capacidades e forças. Estas pessoas são as que mais pecam.
Combater
o pecado é coisa de gente fraca, que não entendeu o Evangelho. Jesus não nos
chama a combater o pecado, mas a confiar em Deus e na força do Espírito. Quando
aceitamos o convite de Jesus para o trabalho da edificação do Reino de Deus, o
fato de não vivermos “atolados” no lamaçal do pecado é uma consequência natural
e não um fardo a ser carregado, como ocorre na vida de muitos ascéticos da
Igreja atual. Jesus nos chama a vencer o mundo e isto só é possível quando nos
deixamos batizar com o Espírito Santo.
Após
este batismo estamos preparados para sermos sal e luz do mundo, presença de
Deus na vida das pessoas. É para a periferia do mundo que Jesus nos
envia quando nos batiza com o Espírito Santo. Na vida eclesial, quem
deseja ficar no centro e no conforto das práticas religiosas que oferecem
segurança espiritual deve cuidar em redescobrir o sentido do batismo que
recebeu. E deve fazê-lo logo, se quiser participar da mesa do Reino. Sem esta
redescoberta não há caminho possível, mas somente aquela ilusão que nos leva a
pensar que estamos com Jesus, mas na verdade estamos contra ele.
Tiago
de França
Obs: A imagem que acompanha este artigo é a Ir. Dorothy Mae Stang, assassinada em Anapu - PA, aos 73 anos de idade, em 12/02/2005. Mártir de Jesus.