segunda-feira, 31 de março de 2014

50 anos após o golpe militar

       
             No dia 31 de março de 1964, os militares tomaram o poder no Brasil. Depuseram João Goulart e permaneceram no poder durante 21 anos. Após a proclamação da República, foi o período mais cruel e sangrento da história do país. Esta data jamais pode ser esquecida pelos brasileiros e aqui queremos recordá-la sem maiores pormenores. Queremos, apenas, falar da importância da memória e da legítima democracia para a vida de todos os brasileiros.

Poder sem participação popular

            A ideologia da segurança nacional, que sustentava o regime militar e que enganou, até certo ponto, a maioria dos brasileiros, pautava-se no controle que os norte-americanos exerciam sobre os governos dos países latino-americanos. Os EUA apoiaram todas as ditaduras ocorridas na América Latina. Os militares golpistas receberam total apoio e com eles aprenderam a controlar a liberdade das pessoas e a matá-las com eficientes meios de tortura.

            A meta era afastar o povo das decisões de poder. As pessoas não podiam opinar sobre absolutamente nada. Podia-se somente se expressar os que apoiavam o regime, e os que se colocavam contra a ditadura eram ameaçados, perseguidos, torturados e mortos. O sistema não tolerava críticas nem questionamentos de qualquer ordem. Estava atento a tudo e a todos, não deixando escapar qualquer pessoa que ousasse pensar e agir segundo os princípios da autêntica democracia. Somente os militares sabiam o melhor para o país. Essa era a ideia, e muita gente afirmava: “os militares estão no poder. Agora, sim, estamos seguros!” O combate aos comunistas convenceu até a maioria da hierarquia da Igreja Católica, que, ingênua e covardemente, apoiou o golpe.

Poder uniforme e autoritário

            Toda espécie de pluralidade era combatida durante o regime militar, mas mesmo assim ouviam-se vozes clamando por justiça, tanto na sociedade civil organizada quanto na Igreja militante. Artistas e escritores, cineastas e poetas, políticos e estudantes, gente anônima e religiosos gritavam com coragem e ousadia, clamavam por liberdade e cidadania.

O número dos que faziam parte destes grupos de gente corajosa e profética é bastante conhecido entre nós. Basta acessar documentários sobre este vergonhoso período da história do país para ver nomes como Caetano Veloso e Maria Bethânia, Gilberto Gil, o ex-presidente Lula, a atual presidenta da República, José Genoíno, José Dirceu, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Vladimir Herzog, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga e tantos outros que deram sua contribuição para que ocorresse, posteriormente, a redemocratização do país.

Estas pessoas eram inimigas da opressão ditada pela uniformidade de ideias e de iniciativas. Criaram canções, ideias e iniciativas a favor da democracia. Muitos outros foram assassinatos porque não se calaram diante do esquadrão da morte. Exerceram sua cidadania, e os que eram crentes colocaram em prática a fé que tinham no seu Deus. Muitos possuem até hoje, no corpo e na mente, as marcas deste triste período de negação dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros.

            Infelizmente, a mídia oficial, sempre atrelada ao poder opressor, era a que veiculava a ideologia da segurança nacional. A própria Rede Globo, que sempre gozou da hegemonia em matéria de cobertura jornalística e produção artística, já confessou seu erro em agosto de 2013. Esta emissora sempre se identificou com aqueles que se aproveitam do poder para explorar o povo. Todo movimento popular é ridicularizado e exposto pela mesma como sinônimo de desordem social. O ideal democrático que pregam consiste na dominação dos poderosos atrelados às multinacionais e aos bancos estrangeiros, especialmente, aos norte-americanos, que sempre sugaram as riquezas brasileiras.

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora e não espera acontecer”.

            Este trecho da canção de Geraldo Vandré revela o anseio do autêntico cidadão por liberdade. Ser livre significa ter seus direitos respeitados. Ter os direitos respeitados significa ter as necessidades básicas devidamente asseguradas: saúde, educação, moradia, esporte, lazer, cultura etc. A coragem de um povo consciente venceu o medo que paralisa e a covardia de golpistas inimigos do povo brasileiro.

            Neste dia histórico no qual fazemos a memória dos 50 anos deste infeliz golpe militar, que gerou atraso e sofrimento para a vida do povo, é necessário recordar aos nossos governantes seu compromisso, inscrito na Constituição da República, de 1988: “...instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias...”

            Estas são as características do ideal democrático traçado pelos constituintes, em 1989. A realidade mostra que estamos caminhando lentamente rumo à consolidação democrática. Cremos que os brasileiros precisam aproveitar todas as oportunidades possíveis de participação. E a grande oportunidade se aproxima, quando em outubro do corrente ano elegeremos governadores, deputados, senadores e o presidente da República. Além das urnas, a cobrança e a fiscalização dos poderes públicos é dever do cidadão. Para isso servem as ouvidorias, as audiências, os remédios constitucionais e tantos outros meios de participação popular. Participação é cidadania. No regime democrático de direito o poder emana do povo (cf. parágrafo único do art. 1º da CF/88).

            Fazer a memória do golpe militar significa acreditar no desenvolvimento integral do país que passa, necessariamente, pela participação consciente de cada cidadão. Negar-se à participação é colocar a corda no próprio pescoço. Somos sujeitos políticos e esta é nossa vocação cidadã. Dependemos das decisões políticas e ninguém escapa das mesmas, pois repercutem na vida cotidiana do país. Portanto, preservemos a memória histórica dos acontecimentos com a visão direcionada para o futuro. Na qualidade de cidadãos que almejam sempre mais a liberdade, sejamos construtores e protagonistas de uma sociedade melhor, pautada na justiça e nos demais valores necessários à consolidação democrática do país.

LUTEMOS PARA QUE PREVALEÇA A DEMOCRACIA. DITADURA, NUNCA MAIS!


Tiago de França

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