“Eu
sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá”
(Jo 11, 25).
O evangelho segundo João apresenta sete sinais realizados
por Jesus, e o sétimo é a ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11, 1 – 45). Estes sinais
conduzem à fé em Jesus e mostram que ele é o Messias, o Filho de Deus. Neste último
sinal, Jesus é a ressurreição e a vida. O que isto significa? Vamos meditar a
partir de alguns detalhes do texto.
As
lágrimas de Jesus e nossas lágrimas
Lázaro era muito
amigo de Jesus. Juntamente com suas irmãs, Marta e Maria, em Betânia sempre o
acolhiam. A casa deles era como que um ponto de apoio para Jesus descansar e
seguir viagem. Nela, viviam a belíssima experiência da amizade, forma sublime
do amor fraterno. Conviver com as pessoas, permanecendo fraternalmente com elas
era a marca de Jesus. Elas sentiam sua presença fraterna. De fato, era um irmão
que caminhava junto, que revelava o amor de Deus pelo seu povo. Lázaro e suas
irmãs faziam parte do número dos que tiveram a graça de permanecer mais perto
de Jesus. Eram seus amigos e seguidores.
O fato é que Lázaro esteve doente, morreu e foi sepultado.
Jesus foi informado e antes de se dirigir à casa do falecido, disse aos
discípulos: “Lázaro está morto. Mas, por
causa de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para
junto dele”. As palavras de Jesus são claras e objetivas e revelam que estava
convicto do que iria fazer: manifestar a força de Deus para que todos pudessem
crer. Ele vai ao encontro do desespero e da angústia geradas pela triste
realidade da morte. Chegando a Betânia, Marta é a primeira que vai ao seu
encontro e suas palavras se resumem no seguinte: ela acredita que Deus escuta
Jesus, o Filho amado, e que seu irmão reviverá.
Sabendo de sua fé na ressurreição no último dia, crença
comum entre os judeus, Jesus proclama a boa notícia: ele é a ressurreição e a
vida, e a pessoa que acredita nele, mesmo que morra viverá! E acrescenta,
afirmando que toda pessoa que vive e crê nele, não morrerá jamais. “Crês isto?”, pergunta para Marta, que
responde convictamente: “Sim, Senhor, eu
creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.
Maria, a irmã de Marta, também vai ao encontro de Jesus e chora diante dele,
inconsolavelmente. Diante das lágrimas de Maria e das pessoas que estavam com
ela, Jesus “estremeceu interiormente,
ficou profundamente comovido”. Após ter perguntado pelo corpo de Lázaro,
não resiste e chora.
As lágrimas de Jesus revelam o seu amor. Os judeus reconheceram
isto quando o viram chorar: “Vede como
ele o amava!” Jesus se compadece das pessoas e chora com elas. Ele conheceu
de perto a realidade da perda e do sofrimento que esta gera no ser humano. Isto
mostra que Jesus era um ser humano comum, capaz de sentir a falta do outro e
chorar sua morte. Não poderia ficar indiferente, mas permanecendo junto às
pessoas, ele participa de suas dores, angústias e alegrias. Jesus é Deus
consolando seu povo e restituindo-lhe a vida e a liberdade. Deus sente
a dor que aflige seu povo e chora com ele.
Lázaro, morto e sepultado, está preso e submetido às
forças da morte. Está aprisionado e sem vida, sem poder vir para fora e sem
caminhar. Depois da breve oração de gratidão ao Pai, Jesus devolve a vida ao
morto, que “saiu, atado de mãos e pés”.
Ao vê-lo, disse Jesus: “Desatai-o e
deixai-o caminhar!” Este fato fez muitos judeus acreditar em Jesus. De fato,
os sinais despertaram a fé nas pessoas e estas se tornaram missionárias da
Palavra encarnada de Deus, Jesus de Nazaré, o Messias.
Atualmente,
onde está Lázaro, que precisa reviver?
Muitos cristãos
fogem desta pergunta e o motivo é simples: querem acreditar em Jesus sem
assumir compromisso algum com a ressurreição do próximo. Querem ressuscitar
sozinhos! A ressurreição de Jesus é uma experiência a ser vivida na comunidade.
Nesta devem existir pessoas que se querem bem, vivendo amigavelmente. Assim como
Deus é amigo do seu povo, os membros deste povo devem sentir a presença de Deus
através do amor fraterno, experimentado na amizade.
A amizade torna as pessoas próximas, atentas e sensíveis,
oportunizando o encontro e a comunicação fraterna. Irmãos e irmãs que se
comunicam com o único interesse do serviço mútuo, da solidariedade,
essencialmente livre e gratuita. Quando assim acontece, os Lázaros são
encontrados: pessoas aflitas e desesperadas, que necessitam ser assistidas e
socorridas pelo amor fraterno. Somente este é capaz de ressuscitar os Lázaros
que se encontram doentes e em vias de serem sepultados. São muitas as pessoas
que precisam ser libertadas, pois estão com as mãos e pés atados, com o rosto
coberto, aprisionadas pelas forças geradoras de morte.
Cristãos atentos às necessidades do outro, dispostos a ir
às casas dos Lázaros, capazes de chorar com o outro e de manifestar a
misericórdia de Deus: eis os cristãos de que a Igreja e o mundo precisam. O que
ocorre hoje? Ocorre que as pessoas se isolam e procuram ganhar a própria vida. Em
outras palavras, o outro e seus problemas não interessam. O que interessa é a
satisfação dos próprios desejos. Impera a mentalidade egoísta, que domina o
comportamento de muita gente.
Certo
dia, escutei um homem aparentemente rico falar, enquanto esperava sua vez no
cabelereiro: “Tudo o que tenho hoje se
deve a muito trabalho. Não sou muito de estender a mão a ninguém, pois ninguém
estendeu para mim. Sou a favor de que cada um cuide de sua vida e deixe a do
outro. Quem não está bem é porque procurou ficar assim. Não tenho culpa no
sofrimento de ninguém e, por isso mesmo, não quero ninguém me perturbando”.
Esta é a expressão do homem dominado pelo ter e vazio em seu ser. É a fala
típica da pessoa egoísta, que não está nem aí para o resto do mundo. O outro é
pedra de tropeço, inimigo a ser vencido ou objeto para satisfação dos desejos.
Infelizmente,
muita gente que recebe a Eucaristia dominicalmente pensa dessa forma. Comunga Jesus
nas espécies sagradas, mas não o aceita em seu coração. Neste sentido, a Igreja
precisa converter-se para manifestar os sinais de ressurreição no mundo. A conversão
eclesial consiste em desatar e desamarrar aquelas pessoas aprisionadas pelas
forças geradoras da morte. Ir ao encontro destas pessoas e libertá-las em nome
de Jesus, através da palavra confortadora e do gesto concreto transformador. Isto
significa fazer a experiência cotidiana da ressurreição no Deus que se revela
em Jesus e na força do Espírito.
Tiago de França
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