“E
sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
Antes de voltar para o Pai, Jesus se reúne com aquelas
pessoas que o seguiam mais de perto para uma refeição e para continuar lhes revelando
o mistério divino. Aquelas pessoas não compreendiam com clareza o que Jesus
dizia, e não tinham culpa disso. As coisas de Deus são assim mesmo, nunca podem
ser plenamente compreendidas. Elas vão se revelando na medida em que cada
pessoa vai se deixando conduzir pela atração que o mistério realiza todos os
dias, mas quanto mais se aproxima do mistério, mais ele se torna misterioso.
Assim,
o ser humano passa a vida especulando, e maravilhado com o que já descobriu se
convence de que há muito a se conhecer. Deus é infinitamente insondável, mas ao
mesmo tempo humildemente próximo e acessível, não se deixando apreender-se por
nada nem por ninguém. Tudo acontece na liberdade que se desdobra numa
reciprocidade belíssima de ver e de viver. Somente as crianças e os místicos
conseguem compreender e nunca descrever esta experiência maravilhosamente
misteriosa e encantadora.
“Não se perturbe o
vosso coração”
Os que tiveram a graça de conviver com Jesus estavam
apreensivos porque ele nunca deixava de lhes recordar aquilo que iria
acontecer, inevitavelmente: a paixão e a morte de cruz, assim como a
ressurreição. Como é angustiante estarmos com uma pessoa extraordinária, que
nos concede paz e harmonia, e termos que aceitar a iminente situação de sua
ausência.
Durou
tão pouco tempo, aproximadamente três anos de atividade missionária. De repente,
o grande profeta, poderoso em palavras e obras, se encontra brutalmente
assassinado na cruz. Um escândalo para todos, uma vergonha, uma maldição!... É
de cortar o coração ver a cena de um homem ensanguentado na cruz, que passou
toda a sua vida fazendo o bem.
Como
a covardia faz mal! Como pode um justo ser assassinado como se fosse um bandido
da pior espécie?!... Como Deus é bom e misericordioso! Como conseguiu ver seu
amado Filho sendo covardemente assassinado por homens frios e indiferentes e
permitir tal atrocidade?!... Oh, divina sabedoria! Oh, graça inefável! Oh, amor
sem condições e limites!...
“Senhor, nós não
sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?”
O pobre Tomé não sabe para onde vai Jesus. Seus companheiros
e companheiras também não sabiam. Estavam perplexos e desorientados. O desconcerto
era total. E agora, o que vamos fazer? Para onde vamos? Eles se perguntavam,
angustiadamente, sobre isso.
Sabendo
que estavam perturbados, Jesus lhes revela algo extraordinário de sua pessoa e
de sua missão. Não poderia abandoná-los na perturbação do coração. Como haveriam
de assumir a missão do anúncio e da denúncia sem a devida paz do coração e do
espírito? Nenhum discípulo profundamente confuso é capaz de fazer outros discípulos.
É preciso saber com clareza o caminho necessário para o seguimento.
Em
meio às águas agitadas do oceano da vida é preciso estar com Jesus no barco,
mesmo que nele o mestre esteja dormindo, tranquilamente. Caminhar para onde sem
que haja o caminho? Este aponta para o lugar de destino, para onde se deve
caminhar e chegar. Então, qual é o caminho indicado por Jesus a seus seguidores
e seguidoras? Em meio a tantos caminhos, qual deve ser a estrada oportuna e
necessária? Jesus responde a pergunta de Tomé com clareza e objetividade. O texto
não fala se eles compreenderam. Hoje, o número dos que continuam sem
compreender é grande.
“Eu sou o caminho...”
É Jesus o caminho que conduz ao Pai, que conduz ao
conhecimento do mistério divino revelado. Quando afirma que ele é o caminho,
Jesus está querendo dizer: Meus queridos, se vocês querem participar da vida do
Pai, do mistério trinitário, vocês precisam fazer a mesma coisa que eu fiz:
amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
O
amor é o critério que assegura a permanência no caminho. Permanece com Jesus
aquele que ama, incondicionalmente. Amar como Jesus amou: eis o sentido do
caminho. Amar é estar no caminho. Parece simples, mas por que as pessoas
dificultam tanto? Por que não conseguem permanecer no amor e, assim, permanecer
no caminho que conduz ao Pai?
A
resposta também é muito simples: porque se deixam dominar pelos apegos, que
geram sofrimento e morte. Apegam-se às coisas, às pessoas, aos sentimentos
ruins, às circunstâncias desestimulantes e a tantas coisas supérfluas, deixando-se
escravizar.
Somente
os simplesmente desapegados conhecem o caminho que é Jesus e, consequentemente,
experimentam o mistério divino. Os apegos cegam as pessoas e não permitem que
sejam livres, que gozem da liberdade dos filhos e filhas de Deus. Os apegos
desviam a pessoa do caminho que é Jesus, caminho que conduz à vida em
plenitude.
“Eu sou a verdade...”
Quem conhece a verdade conhece a liberdade. Jesus é a
verdade mais profunda do ser humano. Por meio dele podemos chegar ao
conhecimento de nós mesmos, pois ele foi perfeita e escandalosamente humano. É o
modelo de ser humano por excelência. Suas palavras e gestos são o testemunho da
verdade divina no mundo para a libertação integral de toda a humanidade.
Nenhuma
verdade meramente humana e científica consegue abarcar e superar o evento
revelador que é Jesus, Deus encarnado no mundo. A ciência tem seu lugar e sua importância,
mas jamais conseguirá assegurar a plena verdade de todas as coisas. Esta é uma
pretensão que jamais se realizará porque o homem é limitado em sua capacidade
de conhecer.
Há
realidades que ultrapassam, que estão além, que não se deixam apreender. A ciência
teológica não consegue conhecer plenamente a manifestação de Deus em Jesus de
Nazaré. Todas as assertivas teológicas são aproximações da verdade revelada e,
portanto, limitadas pela ambiguidade e pela pluralidade, que caracterizam o
linguajar científico.
Para
quem professa a fé cristã, Jesus é a verdade. Sua pessoa, encarnação do próprio
de Deus, é a verdade que liberta da ilusão, da mentira, da manipulação ideológica,
da confusão e de tudo aquilo que tende a aprisionar a mente, cegando-a. O
seguidor e a seguidora de Jesus, quando o aceitam com alegria e convicção,
passam a enxergar a vida ao modo de Jesus: com liberdade e ousadia.
O
olhar do discípulo é transformado pelo olhar do mestre e aquele passa a enxergar
a realidade, vendo Deus agindo nela, amorosa, discreta e misericordiosamente. Trata-se
de um olhar de ternura e de compaixão, profundamente marcado pelo espírito de
solidariedade.
“Eu sou a vida...”
Quando se encontra no caminho e na verdade, a pessoa já
experimenta a vida. Em Jesus, é possível, verdadeiramente, sentir o gosto da
vida. Neste mundo, há pessoas que nascem, crescem e morrem e não conhecem a
vida. A existência delas se resume à mera satisfação das vontades, geradora de
prazer. Este faz parte da vida, sem dúvida alguma. Aqui estamos nos referindo à
existência escrava dos prazeres, quando estes são procurados a qualquer custo e
considerados um fim em si mesmo.
Trata-se
de uma existência enjoativa, cheio de tédio, insuportável, que desemboca,
inevitavelmente, no vazio. Para ilustrar, basta que nos recordemos das
biografias de cantores famosos como Michael Jackson. É um caso típico de uma
vida desorientada, frustrante, sem rumo, alienada, absorvida e dominada pela
fama e pelo dinheiro. Infelizmente, perdeu a chance de viver verdadeiramente a
vida, morrendo sufocado pelos prazeres causadores de doenças incuráveis. Seus fãs,
principalmente os fanáticos, o consideram um exemplo de ser humano a ser
seguido. Inegavelmente, tal ideia tem lógica, só não tem futuro.
Por
fim, é preciso considerar que Jesus é o sentido da vida do cristão. Mais do que
isto, nele todo crente encontra a vida. Ele é a fonte da vida. Portanto, se
aquele que crê em Jesus não encontra sentido em sua vida, então é sinal de que
há algo errado na fé que professa.
Crer
em Jesus é fazer o que ele fez e até obras maiores do que as dele: ser no mundo
sinal de vida abundante, testemunho profético do amor, manifestação de Deus
para a vida da humanidade. No Amor e somente Nele, verdadeiramente, estamos no
caminho, acreditamos na verdade, somos e vivemos. Que esta força misteriosa e
maravilhosa nos impulsione desde o mais profundo de cada um de nós e nos salve
nesta vida, eternizando-a!
Tiago de França
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