sábado, 17 de maio de 2014

A manifestação de Deus em Jesus de Nazaré

“E sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).

            Antes de voltar para o Pai, Jesus se reúne com aquelas pessoas que o seguiam mais de perto para uma refeição e para continuar lhes revelando o mistério divino. Aquelas pessoas não compreendiam com clareza o que Jesus dizia, e não tinham culpa disso. As coisas de Deus são assim mesmo, nunca podem ser plenamente compreendidas. Elas vão se revelando na medida em que cada pessoa vai se deixando conduzir pela atração que o mistério realiza todos os dias, mas quanto mais se aproxima do mistério, mais ele se torna misterioso.

Assim, o ser humano passa a vida especulando, e maravilhado com o que já descobriu se convence de que há muito a se conhecer. Deus é infinitamente insondável, mas ao mesmo tempo humildemente próximo e acessível, não se deixando apreender-se por nada nem por ninguém. Tudo acontece na liberdade que se desdobra numa reciprocidade belíssima de ver e de viver. Somente as crianças e os místicos conseguem compreender e nunca descrever esta experiência maravilhosamente misteriosa e encantadora.  

“Não se perturbe o vosso coração”

            Os que tiveram a graça de conviver com Jesus estavam apreensivos porque ele nunca deixava de lhes recordar aquilo que iria acontecer, inevitavelmente: a paixão e a morte de cruz, assim como a ressurreição. Como é angustiante estarmos com uma pessoa extraordinária, que nos concede paz e harmonia, e termos que aceitar a iminente situação de sua ausência.

Durou tão pouco tempo, aproximadamente três anos de atividade missionária. De repente, o grande profeta, poderoso em palavras e obras, se encontra brutalmente assassinado na cruz. Um escândalo para todos, uma vergonha, uma maldição!... É de cortar o coração ver a cena de um homem ensanguentado na cruz, que passou toda a sua vida fazendo o bem.

Como a covardia faz mal! Como pode um justo ser assassinado como se fosse um bandido da pior espécie?!... Como Deus é bom e misericordioso! Como conseguiu ver seu amado Filho sendo covardemente assassinado por homens frios e indiferentes e permitir tal atrocidade?!... Oh, divina sabedoria! Oh, graça inefável! Oh, amor sem condições e limites!...  

“Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?”

            O pobre Tomé não sabe para onde vai Jesus. Seus companheiros e companheiras também não sabiam. Estavam perplexos e desorientados. O desconcerto era total. E agora, o que vamos fazer? Para onde vamos? Eles se perguntavam, angustiadamente, sobre isso.  

Sabendo que estavam perturbados, Jesus lhes revela algo extraordinário de sua pessoa e de sua missão. Não poderia abandoná-los na perturbação do coração. Como haveriam de assumir a missão do anúncio e da denúncia sem a devida paz do coração e do espírito? Nenhum discípulo profundamente confuso é capaz de fazer outros discípulos. É preciso saber com clareza o caminho necessário para o seguimento.

Em meio às águas agitadas do oceano da vida é preciso estar com Jesus no barco, mesmo que nele o mestre esteja dormindo, tranquilamente. Caminhar para onde sem que haja o caminho? Este aponta para o lugar de destino, para onde se deve caminhar e chegar. Então, qual é o caminho indicado por Jesus a seus seguidores e seguidoras? Em meio a tantos caminhos, qual deve ser a estrada oportuna e necessária? Jesus responde a pergunta de Tomé com clareza e objetividade. O texto não fala se eles compreenderam. Hoje, o número dos que continuam sem compreender é grande.

“Eu sou o caminho...”

            É Jesus o caminho que conduz ao Pai, que conduz ao conhecimento do mistério divino revelado. Quando afirma que ele é o caminho, Jesus está querendo dizer: Meus queridos, se vocês querem participar da vida do Pai, do mistério trinitário, vocês precisam fazer a mesma coisa que eu fiz: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.  

O amor é o critério que assegura a permanência no caminho. Permanece com Jesus aquele que ama, incondicionalmente. Amar como Jesus amou: eis o sentido do caminho. Amar é estar no caminho. Parece simples, mas por que as pessoas dificultam tanto? Por que não conseguem permanecer no amor e, assim, permanecer no caminho que conduz ao Pai?

A resposta também é muito simples: porque se deixam dominar pelos apegos, que geram sofrimento e morte. Apegam-se às coisas, às pessoas, aos sentimentos ruins, às circunstâncias desestimulantes e a tantas coisas supérfluas, deixando-se escravizar.

Somente os simplesmente desapegados conhecem o caminho que é Jesus e, consequentemente, experimentam o mistério divino. Os apegos cegam as pessoas e não permitem que sejam livres, que gozem da liberdade dos filhos e filhas de Deus. Os apegos desviam a pessoa do caminho que é Jesus, caminho que conduz à vida em plenitude.  

“Eu sou a verdade...”

            Quem conhece a verdade conhece a liberdade. Jesus é a verdade mais profunda do ser humano. Por meio dele podemos chegar ao conhecimento de nós mesmos, pois ele foi perfeita e escandalosamente humano. É o modelo de ser humano por excelência. Suas palavras e gestos são o testemunho da verdade divina no mundo para a libertação integral de toda a humanidade.  

Nenhuma verdade meramente humana e científica consegue abarcar e superar o evento revelador que é Jesus, Deus encarnado no mundo. A ciência tem seu lugar e sua importância, mas jamais conseguirá assegurar a plena verdade de todas as coisas. Esta é uma pretensão que jamais se realizará porque o homem é limitado em sua capacidade de conhecer.  

Há realidades que ultrapassam, que estão além, que não se deixam apreender. A ciência teológica não consegue conhecer plenamente a manifestação de Deus em Jesus de Nazaré. Todas as assertivas teológicas são aproximações da verdade revelada e, portanto, limitadas pela ambiguidade e pela pluralidade, que caracterizam o linguajar científico.

Para quem professa a fé cristã, Jesus é a verdade. Sua pessoa, encarnação do próprio de Deus, é a verdade que liberta da ilusão, da mentira, da manipulação ideológica, da confusão e de tudo aquilo que tende a aprisionar a mente, cegando-a. O seguidor e a seguidora de Jesus, quando o aceitam com alegria e convicção, passam a enxergar a vida ao modo de Jesus: com liberdade e ousadia.

O olhar do discípulo é transformado pelo olhar do mestre e aquele passa a enxergar a realidade, vendo Deus agindo nela, amorosa, discreta e misericordiosamente. Trata-se de um olhar de ternura e de compaixão, profundamente marcado pelo espírito de solidariedade.

“Eu sou a vida...”

            Quando se encontra no caminho e na verdade, a pessoa já experimenta a vida. Em Jesus, é possível, verdadeiramente, sentir o gosto da vida. Neste mundo, há pessoas que nascem, crescem e morrem e não conhecem a vida. A existência delas se resume à mera satisfação das vontades, geradora de prazer. Este faz parte da vida, sem dúvida alguma. Aqui estamos nos referindo à existência escrava dos prazeres, quando estes são procurados a qualquer custo e considerados um fim em si mesmo.

Trata-se de uma existência enjoativa, cheio de tédio, insuportável, que desemboca, inevitavelmente, no vazio. Para ilustrar, basta que nos recordemos das biografias de cantores famosos como Michael Jackson. É um caso típico de uma vida desorientada, frustrante, sem rumo, alienada, absorvida e dominada pela fama e pelo dinheiro. Infelizmente, perdeu a chance de viver verdadeiramente a vida, morrendo sufocado pelos prazeres causadores de doenças incuráveis. Seus fãs, principalmente os fanáticos, o consideram um exemplo de ser humano a ser seguido. Inegavelmente, tal ideia tem lógica, só não tem futuro.

Por fim, é preciso considerar que Jesus é o sentido da vida do cristão. Mais do que isto, nele todo crente encontra a vida. Ele é a fonte da vida. Portanto, se aquele que crê em Jesus não encontra sentido em sua vida, então é sinal de que há algo errado na fé que professa.

Crer em Jesus é fazer o que ele fez e até obras maiores do que as dele: ser no mundo sinal de vida abundante, testemunho profético do amor, manifestação de Deus para a vida da humanidade. No Amor e somente Nele, verdadeiramente, estamos no caminho, acreditamos na verdade, somos e vivemos. Que esta força misteriosa e maravilhosa nos impulsione desde o mais profundo de cada um de nós e nos salve nesta vida, eternizando-a!


Tiago de França

Nenhum comentário: