Esta é uma pergunta
fundamental na vida do cristão. A resposta anima alguns e desanima outros. Na
verdade, não há uma resposta exata. Os textos evangélicos falam das palavras e
gestos de Jesus, mas ninguém sabe realmente quem ele é. No evangelho, é o
Messias prometido, o Filho de Deus, o Verbo que se fez carne e habitou entre
nós. É o profeta por excelência, homem de Nazaré.
Para
os cristãos, Jesus é a encarnação do próprio Deus. Tudo isto, de fato, é
verdadeiro e constitui a profissão de fé cristã. Nossa reflexão quer levantar
outras três perguntas fundamentais: Por
que precisamos conhecer Jesus? O que significa conhecer Jesus? Como conhecer
Jesus? Cremos que todo cristão, em algum momento de sua vida, precisa fazer
e responder, com sinceridade e verdade, estas perguntas.
Por que precisamos
conhecer Jesus?
Muito tempo depois de sua morte e ressurreição, os
evangelistas tentaram escrever sobre Jesus, o Nazareno. Portanto, os evangelhos
constituem a fonte segura para o conhecimento de Jesus, mas não uma biografia.
O texto do evangelista Marcos parece ser o mais fidedigno, por ser o mais
antigo, o primeiro a ser escrito com a intenção de responder a pergunta “Quem é
Jesus?” A resposta é simples e desconcertante: Jesus de Nazaré é o Messias. Esta
parece ser a razão maior que nos faz conhecê-lo.
Jesus não era simplesmente um homem justo, amável e
atento às necessidades de seus irmãos mais pobres. Era, escandalosamente, o
Messias anunciado pelos profetas. É fácil afirmar que ele é o Messias. Não é
difícil de compreender tal verdade histórica. O desafio está na assimilação existencial do conteúdo da
afirmação. A mera declaração de que ele é o Messias é possível a qualquer
pessoa, inclusive ao diabo que também reconheceu isso (partindo da letra do texto
evangélico!). Assimilar, existencialmente, significa aderir com a própria vida
o testemunho salvífico de Jesus, ou seja, crer
com a vida.
O cristão precisa conhecer Jesus para saber como ele
realmente agiu no mundo, inaugurando o Reino do Pai. Não estamos falando da
imitação de Cristo. Quem poderia imitá-lo? Na verdade, Jesus nunca pediu para
ser imitado, mas para ser seguido. Cada cristão é chamado a segui-lo a seu
modo, a partir da realidade da própria vida.
Também
não estamos falando de adoração de Cristo. Para quê adorá-lo? Jesus nunca pediu
para ser adorado. A adoração a Jesus se transformou, com o passar do tempo, numa
forma eficaz de se afastar dele. Em nenhum momento Jesus permitiu que seus
discípulos o adorassem. A adoração veio depois, é coisa da religião. Estamos
falando do evangelho, não de doutrina religiosa. O evangelho não é uma doutrina
religiosa.
Agir como Jesus agiu é difícil, mas não é impossível. Não
é mera repetição de seus gestos e palavras. Isto é falsa imitação. A vocação cristã
consiste na atualização da mensagem de Jesus. E qual foi a mensagem de Jesus? O
amor. Esta é a mensagem que nos salva. E como isto ocorre? Na relação com o
próximo. Sem este não há amor. Fora da relação com o próximo há egoísmo, não
amor.
Considerando
as palavras e gestos de Jesus na sua relação com as pessoas de seu tempo,
descobrimos, facilmente, como seus seguidores devem proceder. Deve-se proceder
ao modo de Jesus. Precisamos conhecê-lo porque há um chamado, um apelo ao amor.
O que significa conhecer
Jesus?
O conhecimento de Jesus passa pela aproximação e pela
intimidade. A mera relação cultual com Jesus não leva a lugar nenhum.
Geralmente, as pessoas prestam um culto a Jesus e nada mais. Alguns se prostram
diante dele nas espécies eucarísticas do pão consagrado no culto e ficam
olhando aquele pão, desejando-o, parecendo-se com os discípulos presentes na
transfiguração, com aquela vontade de morrer olhando para Jesus.
Trata-se
de um olhar desprovido da misericórdia. Essas pessoas são especialistas em
adoração eucarística, mas padecem de um grande mal: são indiferentes ao que
ocorre no mundo. Para elas, o mundo é Jesus eucarístico. Diante dele, acabou o
mundo. Isto não significa conhecer Jesus.
No extremo oposto, encontramos outras pessoas. Estas se
concentram na criação e propagação das ideologias de classe. Há um ativismo
exacerbado. Desejam transformar o mundo por meio da revolução, que muitas vezes
chega a ser sangrenta. Essas pessoas se transformam em representantes oficiais
do conflito ideológico destruidor. São capazes de tudo. Não conseguem ser
pacíficas.
Creem
que a transformação do mundo passa pela destruição de grupos e de pessoas. No
Oriente Médio, os radicais islâmicos matam em nome de Deus. No Ocidente, os
cristãos se odeiam, reciprocamente. Há um forte espírito de competição e
desrespeito camuflado pelas ideologias religiosas, constituídas tão somente de
boas intenções. Isto não significa conhecer Jesus.
No cristianismo, as pessoas se empenham na perfeição
cultual. Estudam e incrementam as liturgias, aperfeiçoam as leis religiosas,
perseguem e punem os dissidentes, fortalecem as estruturas legitimadoras da
religião, comportam-se e se apresentam como íntegras e fieis aos princípios
religiosos; carregam este fardo pesado durante toda a vida.
As
de virtudes heroicas morrem e são canonizadas, transformando-se em modelos de
fidelidade à religião, a serem cultuadas e imitadas por outros. Em meio a todas
estas coisas, o evangelho foi esquecido porque não cria religiosos, mas fazer
crescer o seguimento de Jesus. Se o cristianismo cresce, não nos iludamos. Que
tipo de cristianismo está crescendo? Sem o evangelho há um cristianismo sem
Jesus, há uma forte e perigosa idolatria, capaz de destruir o mundo inteiro. Isto
não significa conhecer Jesus.
Como conhecer Jesus?
Alguns podem, a esta altura de
nossa reflexão, perguntar: Então, tudo está perdido na religião? Não há nada que
possa ser aproveitado? Estando na religião não conseguimos seguir Jesus?
Precisamos eliminar a religião? Os estudiosos em antropologia afirmam que o
homem é essencialmente religioso e parece ser verdade. Desde sempre a religião
esteve presente na humanidade. Religar o homem a Deus é a sua missão. De fato,
é uma necessidade humana. Opor-se a esta necessidade é como querer esvaziar o
oceano.
As
religiões precisam ser repensadas. As pessoas diretamente envolvidas com a
religião, principalmente seus líderes precisam aprender a atualizar os
ensinamentos que foram e são as razões da existência religiosa. Como praticar o
que Jesus, o Buda, Maomé e tantos outros ensinaram? Como praticar sem cair no
fundamentalismo. Se um crente, praticando a religião, faz mal a seu próximo,
então algo está errado. Se o cristão crê em Jesus, mas não ama seu próximo,
então há uma gravíssima contradição. Sua fé não é verdadeira.
A partir do evangelho podemos afirmar, categoricamente: O amor é o meio fundamental pelo qual o
cristão é chamado a conhecer Jesus. Na verdade, o amor está no início, no
meio e no fim. Ama-se para se chegar, para acreditar e para conhecer o amor. Sem
o amor a vida cristã perde seu sentido. Não há prática religiosa que possa
substituir o amor. Aquela precisa estar em função deste.
O
amor é o princípio e o fim da vida cristã, mas como amar o próximo? Somos
chamados a amar como Jesus amou. São características do amor de Jesus:
gratuidade (não esperava nada em troca), liberdade (não prendia nem se deixava
prender a ninguém), doação (no encontro com o outro, ao ponto de entregar a
própria vida), compaixão (colocava-se no lugar do outro, compartilhando de seus
sofrimentos), esperança (despertava ânimo e disposição na vida das pessoas) e
fé (tudo fazia na perspectiva da missão confiada pelo Pai, na direção do
Reino).
O mundo atual exige que surjam cristãos renovados no amor
de Deus, mas esta renovação passa pela doação, pela solidariedade. Não
precisamos da edição de mais leis religiosas, de mais perfeição litúrgica, de
mais complexidade doutrinal. A vida não padece pela falta ou abundância dessas
coisas, mas padece quando o amor desaparece, dando lugar ao egoísmo e à
indiferença. Assim, a pergunta “Quem é Jesus?” aponta para outra que nos
desafia a responder na escuta sincera de nossa consciência diante de Deus: Que tipo de cristão eu sou?... Aos que
ousarem responder, podem contar com o auxílio do Espírito do Senhor, que nos
socorre em nossas fraquezas com gemidos inefáveis (cf. Rm 8, 26).
Tiago de França
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