“Sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos
a vós mesmos. Com efeito, aquele que ouve a Palavra e não a põe em prática é
semelhante a alguém que observa o seu rosto no espelho: apenas se observou, sai
e logo esquece como era a sua aparência. Aquele, porém, que se debruça sobre a
Lei perfeita, que é a da liberdade e nela persevera, não como um ouvinte
distraído, mas praticando o que ela ordena, esse há de ser feliz naquilo que
faz” (Tiago 1, 22 – 25).
Amigos e amigas, irmãos e irmãs no Cristo Jesus,
Graça e paz!
Mais uma vez me dirijo a vocês para lhes transmitir uma palavra
por ocasião do “Mês da Bíblia”. Exortar as pessoas, em nome de Deus, para
ajudá-las no seguimento de Jesus, é um ofício que me ocupa desde a minha
infância. Pelo batismo somos chamados a isto: sermos evangelizadores,
missionários do evangelho de Jesus. Este é o ofício que Jesus partilha conosco.
Portanto, somos partícipes da missão de Jesus. Isto é sublime e maravilhoso. A
vida da humanidade depende da nossa disposição de anunciadores do mandamento
por excelência: o amor, que é capaz de salvar, indistintamente, a todos.
Para esta mensagem, escolhi os
versículos da Carta do apóstolo Tiago, transcritos acima. São palavras de Deus
que nos convidam a pensar na maneira como lidamos com a Sua palavra. Os
cristãos são acusados pelos que se dizem ateus e por alguns outros de outras
religiões, de sermos pessoas relaxadas, que somente louvamos e bendizemos a
Deus, mas que não nos preocupamos com a prática da palavra de Deus. Em parte
esta acusação é verdadeira. Na mensagem que escrevi por ocasião do “Mês das
vocações”, me perguntava: Por que será que o Brasil tem tanta corrupção, apesar
de ser o maior país cristão do mundo?... A maioria da população de nosso país afirma
ser cristã. Tanto na política quanto no cotidiano da vida do povo encontramos,
com certa facilidade, uma forte tendência cultural à corrupção. O famoso
“jeitinho brasileiro” resolve praticamente tudo na vida de muitos. Parece que
nos acostumamos com a corrupção e passamos a nos surpreender quando nos
encontramos com pessoas honestas, transparentes e íntegras.
É verdade que cada pessoa não é em
si mesma totalmente boa, nem totalmente má. O joio e o trigo estão misturados
em nós. Somos seres tendenciosos. Temos nossas más inclinações. A realidade, no
entanto, tem demonstrado que estamos perdendo cada vez mais o controle sobre
nossas tendências e/ou inclinações. A relativização de valores fundamentais
como o amor, a solidariedade e o perdão está transformando o mundo em um caos.
Assistimos a uma generalizada crise de humanidade. As inúmeras formas de
violência não são contidas. O ser humano se transformou em mercadoria: é
comprado, usado e descartado. Assiste-se a tudo isto com perplexidade e, às
vezes, com naturalidade. Clama-se por justiça, mas as injustiças se proliferam.
Vejam a guerra entre Israel e Palestina: mais de duas mil pessoas mortas! No
Brasil, anualmente, cinquenta e seis mil pessoas são assassinadas por ano! Não
estamos falando de coisas, mas de pessoas. Qual é o valor da vida humana?...
O que nós temos que ver com isso?
Esperando minha vez de ser atendido por um cabelereiro, escutei um senhor
aparentemente instruído, dizer: “Aquele
povo do Oriente Médio é um bando de doidos! Tem mesmo é que morrer! Bandido tem
que morrer!” No seu pescoço, um crucifixo de ouro e em um dos pulsos, um
escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Vejam o tipo de cristão que temos:
pessoas que frequentam o culto e desejam a morte de seu semelhante. Aquele
senhor representa milhões de cristãos. Aliás, de pseudocristãos. Quem deseja a
morte de seu semelhante, por “pior” que este seja, não merece o nome de
cristão, pois Jesus doou a sua vida para a salvação de todos, indistintamente. Este
mau exemplo é para ilustrar a frieza oriunda da indiferença de muitos que se
dizem cristãos. Se nos afirmamos cristãos e os problemas das pessoas e do mundo
não nos interessam, nosso cristianismo é mentiroso e nocivo.
O que nos ensina o apóstolo Tiago
nos versículos acima transcritos? Ensina-nos, em primeiro lugar, a sermos
praticantes da palavra de Deus, e não meros ouvintes. É verdade que não existe
no mundo um cristão sequer que seja capaz de praticar com perfeição a palavra
de Deus. Ninguém é perfeito e Deus não nos exige a plena observância. Deus sabe
de que somos feitos, mas isto não justifica a forma como muitos cristãos
procedem no mundo. O Espírito do Senhor, que trabalha diuturnamente em nossos corações,
é nossa força e nos auxilia na prática da palavra de Deus. A escuta, a meditação
e a prática da palavra de Deus só nos são possíveis graças à ação do Espírito
do Senhor. Somente com seu auxílio é que podemos compreender a vontade de Deus
explicitada nas Escrituras. Este mesmo Espírito nos motiva ao encontro da
palavra do Pai, nos ajuda a compreendê-la e a praticá-la no cotidiano da vida.
Isto significa um caminho, um itinerário capaz de nos transformar
interiormente, concedendo-nos a graça de sermos continuadores da missão de
Jesus.
Em segundo lugar, o apóstolo Tiago
nos ensina que a palavra de Deus é a Lei da liberdade, que, se a observarmos,
seremos, de fato, felizes naquilo que buscarmos fazer. Quem não deseja ser
livre não deve se debruçar sobre a palavra de Deus. A liberdade é a
consequência inevitável do encontro com a palavra do Pai. Nenhuma lei criada
pelo ser humano é capaz de libertar as pessoas. As leis humanas são
instrumentos de opressão, pois, na maioria dos casos, somente condenam os mais
fracos. A lei de Deus é a Lei da liberdade, pois a esta somos chamados. Quem a
observa consegue se libertar de qualquer espécie de mal.
O que é esta Lei da liberdade? É o amor. Este é a via única pela
qual podemos ser livres. Quando amamos o próximo como a nós mesmos estamos
praticando a Lei da liberdade. Amar o próximo com atos, e não com meras
declarações de amor. Nenhuma declaração transforma interiormente as pessoas:
nem quem a emite, nem quem a recebe. O amor que não passa é o amor de atos, que
acontece no encontro com o rosto do outro. Quem se recusa a amar o próximo pode
apresentar qualquer forma de justificativa, mas nenhuma é válida diante de
Deus. Na Lei da liberdade não há meio termo: ou amamos, ou não amamos. Quem
optou por não amar, fica preso ao seu egoísmo e nele perecerá. Em Cristo Jesus
não há salvação para quem não ama. Isto significa a Lei da liberdade: o amor ao
próximo como a si mesmo até as últimas consequências. Isto é seguimento de
Jesus, caminho de liberdade aberto a todos. O amor é a condição para ingressar,
permanecer e perseverar neste caminho. Quem não está disposto a amar o próximo
não pode seguir Jesus.
Por fim, amigos e amigas, quero me despedir fazendo-lhes uma breve
recomendação quanto às eleições deste ano: primeiro, vejam o passado do candidato;
segundo, escolham livremente, visando o bem comum; terceiro, cuidado com o que
fala a mídia deturpadora dos fatos, principalmente a Rede Globo; quarto,
observem se as propostas do candidato são reais ou ilusórias, e quinto, votem
naquele que já fez, de fato, o que foi possível fazer para o bem de todos, com
verdade e dignidade. Para maiores esclarecimentos, entrem em meu blogue na
Internet (cf. Com Jesus na contramão: http://tiagodefranca.blogspot.com).
Neste, disponibilizo alguns artigos sobre as três principais candidaturas à
presidência da República (Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves), assim
como outras orientações a respeito da importância do voto e das eleições para a
consolidação democrática do país. Participem das eleições, pois participar da
política faz parte da missão cristã. Recusar-se à política é um grave pecado! Recomendo-me
às suas preces, na certeza de que as faço por vocês. Que o Pai no Espírito nos
confirme no caminho de seu amado Filho.
Fraternalmente, no Cristo ressuscitado,
Tiago de França