Por parte de algumas
pessoas, foram violentas as reações aos nossos dois primeiros textos
publicados, sobre as candidaturas de Aécio Neves do PSDB e Marina Silva do PSB.
Infelizmente, boa parcela do povo brasileiro não foi habituada a discutir
questões políticas com maturidade, liberdade, respeito e espírito crítico. Nas
escolas, a política somente é mencionada em tempos eleitorais. Qual o resultado
disso? Daí surge a violência nas discussões, provocada por pessoas apaixonadas
que, ferrenhamente, defendem seus pontos de vista atacando quem pensa
diferente.
É
verdade que não podemos falar em neutralidade na política, pois esta exige que
tomemos posição com clareza e convicção. Os que almejam ocupar os postos da
vida pública, quer no executivo, quer no legislativo, são pessoas que, como as
demais, possuem suas virtudes e seus limites. Não nos interessa o que ocorre na
vida privada dos candidatos e que não afeta a ordem constitucional. Nosso olhar
se volta para o projeto que cada candidatura representa para o país. Isto, sim,
não é somente de nosso interesse, como também deveria ser do interesse de
todos. Portanto, não estamos nos remetendo à mera análise da personalidade, com
o intuito de tecer elogios, mas nos detemos naqueles pontos críticos dos
projetos que cada um apresenta.
Quando o ex-presidente Lula concluiu seus dois mandatos,
teve que escolher uma pessoa de sua confiança para uma possível candidatura
pelo PT. A escolhida foi Dilma Rousseff. Esta representou uma grande novidade na
vida política, e um dos motivos era visível: uma mulher candidatando-se, pelo
PT, à presidência da República. Considerando a formação cultural e política do
povo brasileiro, o ex-presidente Lula foi ousado ao escolher uma mulher para
concorrer à presidência. Ele acreditou na ideia porque ele mesmo foi uma
novidade chegando ao mesmo posto. Tratava-se de um nordestino de origem
humilde, sem diploma universitário, filho do movimento sindical. Isto foi
inédito na história do Brasil.
A esperança do povo pobre, principalmente dos
nordestinos, era a de que o presidente Lula iria resolver os problemas do
Brasil. Suas propostas eram radicais. Eram, praticamente, as mesmas defendidas,
atualmente, pela candidata Luciana Genro do PSOL. A simplicidade do presidente
Lula encantava multidões. A classe média alta, a mídia neoliberal capitalista,
encabeçada pela Rede Globo e os partidos PSDB e PFL (atual DEM) investiram
pesado contra a candidatura do nordestino Luís Inácio Lula da Silva. Preconceitos,
chavões e muitas piadas tentaram impor a cultura do medo. Afirmavam que, se
eleito, o nordestino não chegaria a terminar, sequer, o primeiro mandato. E o
que aconteceu? Aconteceu que o presidente Lula governou durante oito anos e ainda
conseguiu eleger para mais quatro anos uma mulher como presidenta da República.
Isto mudou a vida do povo brasileiro? Isto resolveu
nossos gravíssimos problemas? Transformamo-nos em um país de primeiro mundo?
Claro que não! Então, o que realmente representou a passagem de um
ex-metalúrgico e de uma mulher na presidência da República Federativa do
Brasil? Antes, é necessário refazermos as perguntas feitas. O que significa
mudar a vida do povo brasileiro? De quem é a responsabilidade desta mudança? De
que tipo de mudanças estamos falando? Quais os gravíssimos problemas do país e
de quem é a responsabilidade para solucioná-los? Precisamos nos transformar em
um país de primeiro mundo? O que é um país de primeiro mundo? Como vivem,
atualmente, os povos dos países de primeiro mundo? Poucas pessoas fazem este
tipo de pergunta. Pensá-las faz doer a cabeça!
Os mandatos do presidente Lula e de Dilma foram marcados
pelas denúncias de corrupção. Inúmeros políticos e pessoas da administração
pública foram desmascarados, processados e muitos foram parar na cadeia. Como
em outros casos, alguns processos e prisões precisariam ser revistos, pois
também o poder judiciário no Brasil desrespeita o princípio da isonomia, mas
nosso artigo não tem o objetivo de analisar esta questão. A corrupção nos
governos de Lula e Dilma nos faz indagar: No Brasil, a corrupção na política se
iniciou no governo Lula? Por que antes do governo Lula praticamente nenhum
político era preso? Não havia corrupção? Tente o leitor responder, olhando a
história republicana do país, com sinceridade, honestidade e verdade responder
a estas perguntas.
O leitor pode está pensando: “O autor deste artigo é
petista e está querendo inocentar Lula e Dilma da responsabilidade pelos crimes
praticados por petistas e pessoas da administração pública...” A procura pelo
inocente e pelo culpado tem gerado grandes mazelas na política brasileira; mas,
então, ninguém é responsável por nada? Boa pergunta. Considerando a veracidade
dos fatos, pautada nas provas autênticas, quem foi condenado está respondendo
pela sua conduta. Quem não foi condenado está livre e não pode responder por
quem quer que seja. Ninguém pode ser responsabilizado pelo que não fez.
Em
todas as relações interpessoais, assim como nas relações políticas, a confiança
é quebrada. Há infidelidade em todo lugar. Os acontecimentos mostram, apesar da
deturpação que a mídia faz dos fatos, que muitas pessoas sedentas de poder,
prestígio e dinheiro, deixam de lado o bem comum e se aproveitam da coisa
pública em benefício próprio. Em todo lugar é assim: na política, na religião,
no mercado, na família, na educação etc. O que aconteceu nos governos Lula e
Dilma? Pessoas receberam cargos de confiança por serem consideradas competentes
para o ofício. Envolveram-se com atos ilícitos, foram descobertas e a justiça
brasileira teve a liberdade para punir.
O
poder judiciário agiu a seu modo, dentro dos seus limites constitucionais.
Também nele houve quem se aproveitasse para fazer, a partir do seu ofício, o
que é notoriamente um crime: a criminalização de pessoas e a midiatização dessa
criminalização. Se houve condenação e punição aos verdadeiramente culpados,
ótimo! É um dever do Estado, numa relação equilibrada entre os poderes, zelar
pela manutenção e promoção dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. As
denúncias e a apuração dos fatos foram passos significativos na democratização
do país.
As reformas política, agrária e tributária, assim como
outras reformas necessárias ao autêntico progresso do país não foram feitas nos
governos Lula e Dilma. É óbvio e nem precisaria mencionar, que também não foram
feitas antes deles. Em relação a isto, para não cairmos na ilusão comum a tanta
gente ingênua e ignorante em matéria política, precisamos fazer quatro
perguntas fundamentais: Por que estas reformas não foram feitas antes da
chegada do PT à presidência da República? Por que Lula e Dilma não as fizeram? A
quem interessam estas reformas? Como e quem é responsável por realizá-las?
Geralmente,
os candidatos afirmam: “Nós vamos fazer a reforma política!” Boa proposta! Mas,
quem é este “nós”? Como fazer reformas? Quem não compreende o funcionamento do
sistema político alicerçado nos princípios democráticos, pensa que é o
presidente da República que, sozinho, tem a responsabilidade de fazer todas as
reformas necessárias ao país, assim como a de efetivar todo o plano de governo
proposto na campanha eleitoral. A realidade mostra que não é assim. Quando
qualquer candidato afirma que vai colocar a saúde, a educação, a segurança,
enfim, o país nos trilhos, se expressa demagogicamente.
Quando
olhamos a história do Brasil, logo nos convencemos de que não se resolve em
pouco tempo os gravíssimos problemas do país. É verdade que o tema das grandes
reformas foi praticamente abandonado por Lula e Dilma. Apesar dos esforços, não
há justificativas para tal abandono. Por outro lado, perguntamos: Com um
Congresso Nacional composto por grupos de interesses e sedentos de poder,
diante de um sistema econômico que somente visa o lucro, sem a cultura da
participação popular, e com uma mídia neoliberal profundamente marcada pela
demonização de pessoas e dos movimentos e governos populares, é possível fazer
tais reformas?... Cremos que não!
As
reformas precisam surgir com a participação das bases da sociedade e o povo
precisa aprender a votar, escolhendo políticos que se identifiquem, de fato,
com tais reformas. Aliás, mais do que identificação, precisam ser pessoas que
tenham um histórico que demonstre real interesse pelo bem comum. Quem realmente
se interessa pelo bem comum não se opõe às reformas de que o país precisa.
Dilma é continuidade de Lula. Isto não é novidade. Pelo
que parece, ela foi fiel ao estilo de governar de seu antecessor. Há entre eles
uma sintonia que não se encontra facilmente entre pessoas da vida pública. Caso
seja eleita, ainda será por causa dele. Isto significaria que o povo brasileiro
continuaria acreditando no jeito petista de governar, que em muitos aspectos se
assemelha ao do PSDB. Em quais aspectos? Nos que ocorrem a assimilação da
política neoliberal. Neste sentido, os mais poderosos da nação ainda se
identificam um pouco com Lula e Dilma porque ambos não questionaram nem
ameaçaram com radicalidade os privilégios dos mais ricos dos brasileiros. Sem a
reforma política, não ocorrem o questionamento e a ameaça aos poderosos do
poder econômico.
Assim sendo, se quiserem continuar querendo contribuir
com a democracia e com o progresso do país, o PT precisa rever sua maneira de
fazer política. Precisa voltar às origens, às fontes primitivas que geraram o
partido. O cenário político é outro. Estamos no século XXI. Há outras demandas
e em muitos aspectos a vida humana evoluiu. A política precisa acompanhar tudo
isto para continuar sendo o instrumento necessário à vida humana.
As
políticas sociais são necessárias? Sim, inegavelmente. Elas fizeram o povo
pobre viver melhor. Somente os pobres conhecem o sentido disso. Os de classe
média criticam as cotas raciais, o bolsa família e os demais programas sociais porque
não dependem deles. Há uma hipocrisia de fazer nojo em certas declarações.
Pronunciam-se como se estivessem na Europa, que está praticamente falida em
todos os aspectos da vida social. No fundo, qual a verdade embutida no discurso
anti-política sociais? A verdade é que os mais ricos não gostam de ver os pobres
vivendo melhor. O Brasil é marcado pela escravidão. Foram séculos de
escravidão. No inconsciente coletivo ainda há a ideia de que pobre nasceu para
viver na pobreza, servindo aos ricos.
Postos
como os de juiz de direito, médico, engenheiro e todas as demais profissões
consideradas mais importantes por darem maior visibilidade às pessoas sempre
foram reservados aos ricos. E o caminho para se chegar a estes postos sempre
foi visível: os filhos dos ricos estudavam nas escolas particulares (e ainda
estudam!) e faziam vestibular nas universidades públicas, competindo com os que
vinham de escolas públicas. Qual resultado? Os ricos chegando cada vez mais ao
poder e os pobres continuando na servidão. Exemplo claro disso: no poder
judiciário, a maioria dos juízes nasceu no seio de famílias ricas. Mantidos por
estas, tiveram todo apoio necessário para se dedicarem exclusivamente aos
estudos e serem aprovados nos concursos públicos, que estão cada vez mais
difíceis.
“Meu
filho, estou com 80 anos, e até hoje nunca vi rico ter pena de pobre!”, me
dizia uma senhora do Vale do Jequitinhonha, região mais pobre de Minas Gerais. É
verdade que deve haver algum abastardo compassivo, que, pelo menos, estenda a
mão para ajudar pontualmente algum pobre, mas, de modo geral, os ricos hostilizam,
perseguem e procuram eliminar quem os ameaça em seus privilégios. Até certo
ponto, os governos de Lula e Dilma representam esta ameaça. Poderiam ter sido
mais radicais, mas a realidade exige cautela e prudência. Na política, para o
bem do povo, não se pode fazer tudo o que se quer.
Caso
seja reeleita, Dilma terá a oportunidade de continuar tentando fazer o que vem
fazendo: dando a oportunidade para muitos brasileiros pobres a encontrarem seu
lugar na sociedade, um lugar digno de ser humano, distante da servidão e do
ostracismo social. Caso não seja reeleita, é o que também desejamos a quem vai
se colocar como o legítimo representante do povo brasileiro na qualidade de
presidente da República.
Tiago de França
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