terça-feira, 7 de outubro de 2014

A politicagem no Brasil

       
        Estamos em pleno séc. XXI e a maioria do povo brasileiro ainda não aprendeu a lição da necessidade da boa política. O saldo das eleições deste domingo, 5 de outubro, em muitos casos é vergonhoso e assustador. Quem tem o mínimo de bom senso fica escandalizado com a ousadia de milhões de eleitores.  

A situação é, de fato, preocupante. Realmente, os brasileiros vivem uma desorientação maciça e perigosa. A falta de reflexão e de análise abrem brechas para a infiltração de figuras descomprometidas com a ética na política. De quem estamos falando? Vamos citar alguns nomes que chamaram a atenção após a divulgação do resultado pela justiça eleitoral.

            Em Alagoas, com 52,16% dos votos, foi eleito para o cargo de governador do estado, Renan Filho. Isto mesmo: o filho do senador e atual presidente do Senado Federal, Renan Calheiros. Além dele, outro absurdo se repete: foi reeleito senador pelo PTB, com 55,69% dos votos, Fernando Collor de Melo. A maioria dos alagoanos entendeu que este é melhor que Heloísa Helena do PSOL. É difícil compreender, mas foi isto que ocorreu. Talvez nas eleições de 2022, Fernando Collor deixe o Senado. Talvez.

            Em Pernambuco, foi eleito um jovem político inexperiente para o cargo de governador. O falecido Eduardo Campos foi seu cabo eleitoral! No Brasil, até os mortos conseguem eleger seus candidatos! Paulo Câmara é o nome dele, eleito com 68,08% dos votos. No Ceará, depois de alguns anos descansando, os cearenses reconduziram ao Senado, um dos grandes nomes do PSDB, Tasso Jereissati, eleito com 57,91% dos votos. O que este homem fez de tão extraordinário pelo Ceará? Talvez seus eleitores consigam explicar.

            Nas redes sociais, o preconceito contra o nordeste é visivelmente vergonhoso. Afirma-se que os nordestinos só sabem votar em Lula e Dilma por causa dos programas sociais, especialmente o Bolsa Família. Possuídos pelo ódio, muitos são a favor de que o nordeste deve ser varrido do mapa! O curto espaço deste artigo não nos permite uma análise mais criteriosa desse preconceito, portanto, não discorreremos sobre o mesmo. Considerando alguns políticos eleitos no sudeste, percebe-se, claramente, que a ignorância política nesta região também é escandalosa. Citemos alguns nomes que nos causam vergonha nacional.

            Em Minas Gerais, 56,73% dos eleitores escolheram Antônio Anastasia do PSDB para o Senado Federal. Esta foi a única vitória expressiva do PSDB em Minas. Não existe uma explicação plausível para esta vitória, dada a inexpressividade deste político falacioso. Outros quatro casos vergonhosos são os de São Paulo. Ninguém sabe o que se passa na cabeça do povo daquele grande estado, pois lá foram eleitos Celso Russomanno e Tiririca como os deputados mais votados. Estes dois cidadãos, segundo o resultado das urnas, são dignos da confiança da maioria do eleitorado! Trata-se de uma confiança questionável e estranha.

Em terceiro lugar, aparece o deputado pastor Marco Feliciano, conhecido por suas posições homofóbicas e ultraconservadoras. Quase 400 mil pessoas entenderam que este pastor é uma figura política ideal para representá-las na Câmara Federal. Eduardo Suplicy do PT, famoso pela sua valiosa contribuição com os movimentos sociais, homem de cabeça aberta e crítico do neoconservadorismo político em São Paulo, perdeu para José Serra do PSDB, eleito com 58,49%.

E para completar a lista, Geraldo Alckmin do PSDB foi reeleito governador, com 57,31% dos votos. Sinceramente, pior do que em Alagoas, encontra-se o povo de São Paulo. Só Deus sabe quando vão se libertar do PSDB! Em Minas, com a vitória de Fernando Pimentel do PT, os mineiros deram um basta na ditadura psdbista, que durou 12 anos!

No Rio de Janeiro, a maioria do povo também demonstrou que gosta de políticos ultraconservadores e moralistas, com a vitória expressiva do militar da reserva e deputado, Jair Bolsonaro do PP. Foi o deputado mais votado daquele estado! A sua fama se espalhou em todo o país com seu notório discurso homofóbico, mas, apesar disso, contou com a estranha confiança de 464.572 eleitores. Para não deixá-lo tão à vontade no Parlamento, o povo também elegeu o deputado Jean Wyllys do PSOL, homossexual assumido, sétimo colocado, eleito com 144.770 votos. A coragem deste último no exercício de seu mandato é, realmente, admirável.

Há, certamente, outras figuras que não deveriam ser eleitas e/ou reeleitas para as assembleias legislativas nos estados e/ou para a Câmara Federal e para o Senado da República, mas os mencionados acima foram os que mais se destacaram, exceto, é claro, o deputado Jean Wyllys do PSOL, mencionado somente como exemplo oposto ao Jair Bolsonaro.

Estes políticos nos fazem pensar em algumas questões políticas importantes, a saber: Nosso país está preparado para realizar a tão sonhada reforma política? Como fazer uma reforma política votando em políticos dessa qualidade? Onde está o “gigante” que “acordou” em junho do ano passado? Naquelas manifestações, que tipo de protesto foi feito? Por que, apesar do livre acesso à informação, os eleitores destes e de outros políticos não conseguem fazer uma análise apurada dos fatos em vista de um voto consciente? Como construir um país mais justo e verdadeiramente democrático com políticos dessa espécie?...

Estas são questões que, infelizmente, não passam pela cabeça de milhões de brasileiros. Muita gente sequer vai lembrar em quem votou. A maioria nem procura saber a lista dos eleitos. A falta de compromisso com o destino do país é vergonhosa e assustadora. Estes mesmos descompromissados só sabem reclamar e atirar no escuro. Não se informam, não participam das autênticas discussões e se deixam levar pelas distorções provocadas e oferecidas pela grande mídia; e o resultado é este que acabamos de descrever, sucintamente.  

Diante do exposto, resta-nos alimentar a esperança e continuarmos acreditando, a partir de nossa ação consciente, em um país melhor. Nem tudo está perdido porque ainda há políticos comprometidos com as grandes causas do Brasil. Esse triste e vergonhoso “saldo eleitoral” deve ser motivo de reflexão; do contrário, essas figuras retornarão, daqui a quatro anos, com o mesmo querer que sempre os motivou: a utilização da política para fazer politicagem, ou seja, renunciam à promoção do bem comum em vista da satisfação dos próprios interesses.

No dia 26 de outubro, os brasileiros eleitores voltarão às urnas para o segundo turno das eleições, para escolherem os governadores, em treze estados da federação. Também escolherão quem vai ocupar o cargo de Presidente da República a partir de 1º de janeiro de 2015. Sobre esta última escolha, iremos discorrer no próximo artigo de nossa série sobre as eleições deste ano.


Tiago de França 

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