quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Aécio Neves, o candidato da libertação do Brasil?

       
        Insistentemente, o candidato Aécio Neves tem dito em sua campanha eleitoral, que é o candidato da libertação do Brasil. Nossa reflexão quer desmentir essa pretensiosa afirmação, respondendo a três perguntas fundamentais: 1) O que é a liberdade política? 2) Qual a efetiva capacidade libertadora do candidato Aécio Neves? 3) De que e/ou de quem os brasileiros precisam se libertar? O tema da liberdade e da libertação requer uma visão histórica da realidade sem a qual não é possível enxergar absolutamente nada.

  1. O que é a liberdade política?
Politicamente, um povo é livre quando é capaz de tomar nas mãos as rédeas da própria vida. Isto parece irrealizável, mas, apesar das resistências, é possível sonhar com e construir um país politicamente livre. Essa construção passa, necessariamente, por uma política alicerçada na ética e no compromisso com os mais fragilizados da sociedade. Ser ético é, imprescindivelmente, ser comprometido.

Na vida política, assistimos, horrorizados, à ausência de compromisso com o bem comum. Esta realidade não tem mudado porque aqueles que se escandalizam com a falta de compromisso são, muitas vezes, os mesmos que contribuem para que a situação se perpetue. Aqui está o entrave político que domina o país.

A liberdade política passa, também, pela maturidade política. O cidadão maduro é alguém consciente da realidade na qual vive, assim como das consequências de suas escolhas para a própria vida e para a vida social. A maturidade política faz parte da vida do cidadão que procura se informar, que analisa as informações que lhes são oferecidas, que aprende a desconfiar do discurso politicamente correto, que se interessa pelos destinos do seu país e que, por fim, participa, ativamente, da construção da sua própria maturidade. Neste sentido, a cidadania é exercida quando há interesse pelo engajamento em vista do bem comum. É preciso saber que os políticos eleitos são cópias fieis de seus eleitores.

A história do Brasil, desde o seu “descobrimento”, no séc. XV, até os dias de hoje, sempre foi marcada pela dominação política. Reis, príncipes, barões, senhores de engenho, latifundiários, empresários, religiosos e políticos profissionais, enfim, os poderosos sempre visaram seus próprios interesses, em detrimento do bem comum. A república brasileira foi construída tendo como base a desigualdade entre ricos e pobres.

O povo brasileiro foi educado na chibata, tendo que se submeter à escravidão e à alienação. Após a proclamação da república, a intensidade escravocrata diminuiu, relativamente, e o povo passou a conhecer certa liberdade para clamar por justiça. Desse modo, nossa democracia é frágil e jovem, e nosso povo ainda não sabe ao certo para onde ir. Assiste-se a uma desorientação sem precedentes. As pessoas vão às urnas, geralmente, sem convicções políticas. São trágicas as consequências que decorrem deste cenário.

Não nos assusta a preferência de milhões de brasileiros por políticos conservadores e corruptos. A formação política do povo é deficitária, quase que inexistente. Um povo que não tem acesso a uma educação criticamente qualidade acredita, facilmente, no discurso falacioso de políticos que não tem a mínima vergonha de distorcer publicamente os fatos. Assim, o que é verdadeiro se torna mentiroso e o que é mentiroso se torna verdadeiro.  

Se não há convicções políticas arraigadas, também não se pode cogitar a existência de memória política da história. Ora o povo acorda e caminha uma braça, ora dorme e regride dez braças. Quando os meios oficiais de comunicação resolvem oferecer migalhas da veracidade dos fatos, a situação melhora um pouco; mas como, na maioria das vezes, oculta-se a verdade e legitima-se a mentira, então a situação permanece estagnada. Surpreendentemente, o povo tem lapsos de memória e reprova nas urnas algumas figuras desagradáveis ao bem-estar da nação. Isto é exceção, coisa rara. Protesta-se nas ruas contra os absurdos cometidos por algumas figuras políticas, mas nas eleições seguintes eles são reeleitos!

O povo brasileiro caminha, lentamente, rumo à liberdade. O processo de libertação dos pobres é lento porque suas forças e seus aliados são escassos. A maioria quer a sua desgraça e a sua morte. Ainda, infelizmente, na cabeça de muitos dos pobres existe a falsa ideia, imposta pelas classes dominantes, de que “pobre nasceu pra sofrer e pra trabalhar para o enriquecimento do patrão”. Durante séculos, os pobres escutaram isso da boca dos poderosos. Até a religião serviu para encucar esta mentira na cabeça dos pobres.

É por este e tantos outros motivos que os ricos falam abertamente que os pobres são uns bobos e ignorantes, que precisam ser mantidos na pobreza e na miséria. O infeliz discurso recente do ex-presidente FHC está em plena consonância com o massacre dos pobres. Para o ex-presidente, no alto de seu doutoramento, pobre só é ignorante quando não vota nos políticos da velha e tradicional direita brasileira.

  1. Qual a efetiva capacidade libertadora do candidato Aécio Neves?
Intitular-se a si mesmo como salvador da pátria é algo extremamente perigoso e falacioso. Nem Jesus de Nazaré, o grande Libertador da humanidade, segundo a concepção cristã do termo, intitulou-se a si mesmo como o Libertador. Na verdade, o mínimo de bom senso nos revela que o falso messianismo se encontra justamente naqueles que se declaram e se promovem como libertadores.

O autêntico libertador de um povo surge e permanece na história como aquele que foi gerado e educado na escola dos pequenos e oprimidos. Jamais haverá um libertador dos pobres oriundo do berço dos poderosos. Dizia-me uma pobre senhora do Vale do Jequitinhonha, região mais pobre de Minas Gerais, que o rico não gosta de pobre, pois quando a esmola é grande, o cego desconfia. A sabedoria popular não engana.

O que engana é querer se passar por libertador quando, na verdade, se trata de um opressor, educado na escola dos opressores. Libertador com passado gravemente comprometido não é libertador. Convido o leitor a colocar o nome do pseudolibertador em análise no site de pesquisa Gooble. Seus opositores podem reagir dizendo que o que a Internet fala é mentira. Será mesmo que todas as informações disponíveis na rede mundial de computadores são falsas? Claro que não.

A Internet, apesar da fragmentação das informações, continua sendo um importante e necessário instrumento de aperfeiçoamento da democracia. O direito à informação, constitucionalmente assegurado, nos garante isto. Quando orientado pelo interesse pela verdade, o cidadão brasileiro não terá nenhuma dificuldade para enxergar, nos discursos e gestos do pseudolibertador, graves e profundas contradições e mentiras.

O pseudolibertador em análise, considerando a veracidade dos dados, não conseguiu sequer ser o libertador de Minas Gerais. A realidade mostra que a maioria do povo é refém de uma política discriminadora e opressora, ceifadora da liberdade de expressão e da vida dos mais pobres. O autêntico libertador do povo se identifica com os pobres do povo porque foi gerado no meio dos pobres. Este não é o caso do candidato Aécio Neves.

Então, o que está por trás de seu “projeto libertador” para o Brasil? A resposta é tão evidente quanto à falácia de seu discurso: o que está por trás é a libertação dos ricos em relação aos pobres. Em outras palavras, as pessoas ricas e aquelas que possuem mentalidade de gente rica estão ansiosas pela vitória de seu libertador porque estão cansadas da intromissão dos pobres em seus espaços e nas coisas que, antigamente, eram somente ligadas à sua condição de ricos.

Vamos a um exemplo para ilustrar: Certa vez, no aeroporto de Uberlândia – MG, um deputado tucano daquela rica região (triângulo mineiro), sentado na sala de espera, disse em voz baixa: “Nossa senhora, depois desse Lula essa pobretada só vive andando de avião! Nunca vi uma raça tão mal educada e nojenta!” Neste e em tantos outros casos, os ricos não tem a mínima vergonha de explicitar seu preconceito, sua hipocrisia e seu incômodo ao ver que os pobres, de uns tempos pra cá, melhoraram de vida.

Cremos que o pseudolibertador precisa de uma séria libertação pessoal. Precisa se libertar da arrogância e da prepotência, para abraçar a humildade; precisa aderir a uma política norteada pela ética, pelos bons costumes e pelo efetivo compromisso com a erradicação das desigualdades sociais; precisa aprender a respeitar a liberdade de expressão do pensamento, pois isto é parte integrante do verdadeiro espírito democrático; precisa, enfim, ser verdadeiro consigo mesmo, cultivando a honestidade de consciência perante um povo que não é bobo, mas que tem, progressivamente, buscado acordar diante das injustiças.

Esta necessidade de conversão é a prova maior de que a política do “salvador da pátria” é arma velha de políticos tradicionalmente aliados aos poderosos e que, nos últimos anos, não tem dado certo. Os brasileiros precisam se libertar, urgentemente, deste modelo de político porque são extremamente nocivos à consolidação democrática do país.

  1. De que e/ou de quem os brasileiros precisam se libertar?
Para concluir nossa reflexão, torna-se urgentemente necessário respondermos com clareza esta indagação. Os brasileiros precisam se libertar, em primeiro lugar, da ignorância política. Esta só reforça as candidaturas de políticos corruptos e descomprometidos, que, escandalosamente, chegam ao poder e de lá não querem sair, mesmo não contribuindo com o autêntico progresso da nação. A liberdade e seu processo de libertação dependem desta libertação da consciência falsa, para que surja a consciência crítica, capaz de analisar e discernir prudentemente, em vista de escolhas maduras e acertadas.

Consequentemente, também ocorre algo extraordinariamente positivo: o fim de uma visão estreita, míope, preconceituosa e distorcida da história e dos acontecimentos. Somente assim, é que o povo brasileiro enxergará o melhor para o Brasil, reprovando nas urnas aquele que, com máscara de libertador, esconde um potencial projeto que visa somente o fortalecimento da vida dos privilegiados, em detrimento da verdadeira libertação dos mais pobres do nosso povo.

Tiago de França 

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