Insistentemente, o
candidato Aécio Neves tem dito em sua campanha eleitoral, que é o candidato da
libertação do Brasil. Nossa reflexão quer desmentir essa pretensiosa afirmação,
respondendo a três perguntas fundamentais: 1) O que é a liberdade política? 2)
Qual a efetiva capacidade libertadora do candidato Aécio Neves? 3) De que e/ou
de quem os brasileiros precisam se libertar? O tema da liberdade e da
libertação requer uma visão histórica da realidade sem a qual não é possível
enxergar absolutamente nada.
- O que é a
liberdade política?
Politicamente,
um povo é livre quando é capaz de tomar nas mãos as rédeas da própria vida. Isto
parece irrealizável, mas, apesar das resistências, é possível sonhar com e construir
um país politicamente livre. Essa construção passa, necessariamente, por uma
política alicerçada na ética e no compromisso com os mais fragilizados da
sociedade. Ser ético é, imprescindivelmente, ser comprometido.
Na
vida política, assistimos, horrorizados, à ausência de compromisso com o bem
comum. Esta realidade não tem mudado porque aqueles que se escandalizam com a
falta de compromisso são, muitas vezes, os mesmos que contribuem para que a
situação se perpetue. Aqui está o entrave político que domina o país.
A
liberdade política passa, também, pela maturidade política. O cidadão maduro é alguém
consciente da realidade na qual vive, assim como das consequências de suas
escolhas para a própria vida e para a vida social. A maturidade política faz parte
da vida do cidadão que procura se informar, que analisa as informações que lhes
são oferecidas, que aprende a desconfiar do discurso politicamente correto, que
se interessa pelos destinos do seu país e que, por fim, participa, ativamente,
da construção da sua própria maturidade. Neste sentido, a cidadania é exercida
quando há interesse pelo engajamento em vista do bem comum. É preciso saber que
os políticos eleitos são cópias fieis de seus eleitores.
A
história do Brasil, desde o seu “descobrimento”, no séc. XV, até os dias de
hoje, sempre foi marcada pela dominação política. Reis, príncipes, barões,
senhores de engenho, latifundiários, empresários, religiosos e políticos
profissionais, enfim, os poderosos sempre visaram seus próprios interesses, em
detrimento do bem comum. A república brasileira foi construída tendo como base
a desigualdade entre ricos e pobres.
O
povo brasileiro foi educado na chibata, tendo que se submeter à escravidão e à
alienação. Após a proclamação da república, a intensidade escravocrata
diminuiu, relativamente, e o povo passou a conhecer certa liberdade para clamar
por justiça. Desse modo, nossa democracia é frágil e jovem, e nosso povo ainda
não sabe ao certo para onde ir. Assiste-se a uma desorientação sem precedentes.
As pessoas vão às urnas, geralmente, sem convicções políticas. São trágicas as
consequências que decorrem deste cenário.
Não
nos assusta a preferência de milhões de brasileiros por políticos conservadores
e corruptos. A formação política do povo é deficitária, quase que inexistente.
Um povo que não tem acesso a uma educação criticamente qualidade acredita,
facilmente, no discurso falacioso de políticos que não tem a mínima vergonha de
distorcer publicamente os fatos. Assim, o que é verdadeiro se torna mentiroso e
o que é mentiroso se torna verdadeiro.
Se
não há convicções políticas arraigadas, também não se pode cogitar a existência
de memória política da história. Ora o povo acorda e caminha uma braça, ora
dorme e regride dez braças. Quando os meios oficiais de comunicação resolvem
oferecer migalhas da veracidade dos fatos, a situação melhora um pouco; mas
como, na maioria das vezes, oculta-se a verdade e legitima-se a mentira, então
a situação permanece estagnada. Surpreendentemente, o povo tem lapsos de memória
e reprova nas urnas algumas figuras desagradáveis ao bem-estar da nação. Isto é
exceção, coisa rara. Protesta-se nas ruas contra os absurdos cometidos por
algumas figuras políticas, mas nas eleições seguintes eles são reeleitos!
O
povo brasileiro caminha, lentamente, rumo à liberdade. O processo de libertação
dos pobres é lento porque suas forças e seus aliados são escassos. A maioria
quer a sua desgraça e a sua morte. Ainda, infelizmente, na cabeça de muitos dos
pobres existe a falsa ideia, imposta pelas classes dominantes, de que “pobre nasceu pra sofrer e pra trabalhar
para o enriquecimento do patrão”. Durante séculos, os pobres escutaram isso
da boca dos poderosos. Até a religião serviu para encucar esta mentira na
cabeça dos pobres.
É
por este e tantos outros motivos que os ricos falam abertamente que os pobres
são uns bobos e ignorantes, que precisam ser mantidos na pobreza e na miséria. O
infeliz discurso recente do ex-presidente FHC está em plena consonância com o
massacre dos pobres. Para o ex-presidente, no alto de seu doutoramento, pobre
só é ignorante quando não vota nos políticos da velha e tradicional direita
brasileira.
- Qual a efetiva
capacidade libertadora do candidato Aécio Neves?
Intitular-se
a si mesmo como salvador da pátria é algo extremamente perigoso e falacioso. Nem
Jesus de Nazaré, o grande Libertador da humanidade, segundo a concepção cristã
do termo, intitulou-se a si mesmo como o Libertador. Na verdade, o mínimo de
bom senso nos revela que o falso messianismo se encontra justamente naqueles
que se declaram e se promovem como libertadores.
O
autêntico libertador de um povo surge e permanece na história como aquele que
foi gerado e educado na escola dos pequenos e oprimidos. Jamais haverá um
libertador dos pobres oriundo do berço dos poderosos. Dizia-me uma pobre
senhora do Vale do Jequitinhonha, região mais pobre de Minas Gerais, que o rico
não gosta de pobre, pois quando a esmola é grande, o cego desconfia. A
sabedoria popular não engana.
O
que engana é querer se passar por libertador quando, na verdade, se trata de um
opressor, educado na escola dos opressores. Libertador com passado gravemente
comprometido não é libertador. Convido o leitor a colocar o nome do
pseudolibertador em análise no site de pesquisa Gooble. Seus opositores podem
reagir dizendo que o que a Internet fala é mentira. Será mesmo que todas as
informações disponíveis na rede mundial de computadores são falsas? Claro que
não.
A
Internet, apesar da fragmentação das informações, continua sendo um importante
e necessário instrumento de aperfeiçoamento da democracia. O direito à
informação, constitucionalmente assegurado, nos garante isto. Quando orientado
pelo interesse pela verdade, o cidadão brasileiro não terá nenhuma dificuldade
para enxergar, nos discursos e gestos do pseudolibertador, graves e profundas
contradições e mentiras.
O
pseudolibertador em análise, considerando a veracidade dos dados, não conseguiu
sequer ser o libertador de Minas Gerais. A realidade mostra que a maioria do
povo é refém de uma política discriminadora e opressora, ceifadora da liberdade
de expressão e da vida dos mais pobres. O autêntico libertador do povo se
identifica com os pobres do povo porque foi gerado no meio dos pobres. Este não
é o caso do candidato Aécio Neves.
Então,
o que está por trás de seu “projeto libertador” para o Brasil? A resposta é tão
evidente quanto à falácia de seu discurso: o que está por trás é a libertação
dos ricos em relação aos pobres. Em outras palavras, as pessoas ricas e aquelas
que possuem mentalidade de gente rica estão ansiosas pela vitória de seu
libertador porque estão cansadas da intromissão dos pobres em seus espaços e
nas coisas que, antigamente, eram somente ligadas à sua condição de ricos.
Vamos
a um exemplo para ilustrar: Certa vez, no aeroporto de Uberlândia – MG, um
deputado tucano daquela rica região (triângulo mineiro), sentado na sala de
espera, disse em voz baixa: “Nossa
senhora, depois desse Lula essa pobretada só vive andando de avião! Nunca vi
uma raça tão mal educada e nojenta!” Neste e em tantos outros casos, os
ricos não tem a mínima vergonha de explicitar seu preconceito, sua hipocrisia e
seu incômodo ao ver que os pobres, de uns tempos pra cá, melhoraram de vida.
Cremos
que o pseudolibertador precisa de uma séria libertação pessoal. Precisa se
libertar da arrogância e da prepotência, para abraçar a humildade; precisa
aderir a uma política norteada pela ética, pelos bons costumes e pelo efetivo
compromisso com a erradicação das desigualdades sociais; precisa aprender a
respeitar a liberdade de expressão do pensamento, pois isto é parte integrante
do verdadeiro espírito democrático; precisa, enfim, ser verdadeiro consigo
mesmo, cultivando a honestidade de consciência perante um povo que não é bobo,
mas que tem, progressivamente, buscado acordar diante das injustiças.
Esta
necessidade de conversão é a prova maior de que a política do “salvador da
pátria” é arma velha de políticos tradicionalmente aliados aos poderosos e que,
nos últimos anos, não tem dado certo. Os brasileiros precisam se libertar,
urgentemente, deste modelo de político porque são extremamente nocivos à
consolidação democrática do país.
- De que e/ou de
quem os brasileiros precisam se libertar?
Para
concluir nossa reflexão, torna-se urgentemente necessário respondermos com
clareza esta indagação. Os brasileiros precisam se libertar, em primeiro lugar,
da ignorância política. Esta só reforça as candidaturas de políticos corruptos
e descomprometidos, que, escandalosamente, chegam ao poder e de lá não querem
sair, mesmo não contribuindo com o autêntico progresso da nação. A liberdade e
seu processo de libertação dependem desta libertação da consciência falsa, para
que surja a consciência crítica, capaz de analisar e discernir prudentemente,
em vista de escolhas maduras e acertadas.
Consequentemente,
também ocorre algo extraordinariamente positivo: o fim de uma visão estreita,
míope, preconceituosa e distorcida da história e dos acontecimentos. Somente
assim, é que o povo brasileiro enxergará o melhor para o Brasil, reprovando nas
urnas aquele que, com máscara de libertador, esconde um potencial projeto que
visa somente o fortalecimento da vida dos privilegiados, em detrimento da
verdadeira libertação dos mais pobres do nosso povo.
Tiago de França
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