segunda-feira, 27 de outubro de 2014

CARTA ABERTA À PRESIDENTA REELEITA, DILMA VANA ROUSSEFF

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré).

Prezada Presidenta Dilma,

            Com esta Carta Aberta quero cumprimentá-la por sua feliz reeleição para a presidência de nosso país. Fiquei muito feliz com sua vitória sobre o candidato Aécio Neves, do PSDB. Quero que saiba que, particularmente, além de torcer pela sua reeleição, desde o primeiro turno estive empenhado na militância, mesmo não sendo filiado ao Partido dos Trabalhadores.  

Como professor e estudante, sem me deixar levar pela mídia golpista de nosso país (Globo, Veja, Istoé, Folha de São Paulo etc.) ousei remar contra a maré e fui muito incompreendido por isso. Juntamente com meus conterrâneos nordestinos, fui taxado como ignorante, mal informado e alienado. Tais acusações não me atingem porque vieram de pessoas mal intencionadas, desprovidas de argumentos plausíveis e preconceituosas.

            Gostei muito de seu primeiro discurso como Presidenta reeleita. Quero aqui externar três pontos fundamentais que, a meu ver, precisam ser considerados em seu novo governo. Antes disso, faço questão de dizer que a grande maioria dos meus conterrâneos continua acreditando que seu governo é o melhor para o nosso país, não porque os mais pobres dos nordestinos recebem o Bolsa Família, mas porque não aceitamos mais sermos governados por quem ignora a realidade sofredora dos pobres.  

Pelos números do resultado das eleições, a senhora deve ter percebido que a sua vitória se deve, principalmente, à expressiva votação dos nordestinos, e é com grande alegria que nós assumimos nossa responsabilidade neste resultado, assim como nas demais vezes que elegemos e reelegemos o ex-presidente Lula.

            Querida Presidenta, peço-lhe que considere estes três pontos fundamentais que são como que três grandes emergências para que nosso país continue caminhando na direção do autêntico desenvolvimento.

1 – Priorize a educação, transformando-a na mola propulsora do desenvolvimento do Brasil. Sabemos de seu empenho, desde o governo do ex-presidente Lula, ao viabilizar, por meio do PROUNI e outros mecanismos, o acesso à educação de nível superior. Pois bem, efetive, o mais breve possível, a reforma do ensino básico (fundamental e médio) através de uma política educacional inclusiva que contemple a valorização dos professores (salário, capacitação etc.), a construção de novas escolas e universidades, os investimentos no transporte escolar, nas pesquisas e na extensão, o aumento das oportunidades de estudos no estrangeiro etc. Convide os órgãos de representação dos corpos docente e discente para discutir e repensar a educação em nosso país e reserve bons investimentos para esta área. O nosso povo carece disso.

2 – Realize, o mais breve possível, a Reforma Política de que o país precisa. Esta Reforma, senhora Presidenta, não pode ignorar a participação do povo. Convoque o plebiscito, assim como todas as organizações populares para que esta Reforma dê um basta nos desmandos políticos da classe política descomprometida com as reais e necessárias mudanças. O povo quer participar e deseja uma Constituinte exclusiva para a realização desta importante Reforma, pois sabemos que a maioria de nossos congressistas, interessada somente na promoção de seus interesses, não pode fazer uma Reforma que atenda ao clamor por justiça que emerge das classes desfavorecidas.

3 – Promova uma política efetiva de respeito, diálogo e preservação das terras dos povos indígenas, assim como reveja os megaprojetos que afetam, negativamente, nossas riquezas naturais. Senhora Presidenta, os nossos irmãos e irmãs indígenas estão sendo brutalmente expulsos de suas terras e assassinados. O Estado brasileiro precisa, urgentemente, defendê-los de seus predadores. A senhora sabe que eles são os primeiros habitantes e os donos legítimos de suas terras. Assim como todos os demais brasileiros, nossos povos indígenas precisam ser respeitados, e o Estado não pode ser mais um na lista daqueles que os perseguem e matam.

A situação deles é gravíssima, senhora Presidenta. Por isso, reveja o mais breve possível a forma como seu governo os trata. Procure escutá-los e faça um ajuste em sua política de desenvolvimento, no que se refere à construção das usinas hidroelétricas (a de Tucuruí, principalmente). Concordo que nossa matriz energética precisa ser reforçada, pois precisamos de energia para nossas cidades e indústrias, mas para manter-se, o desenvolvimento precisa respeitar nossa Mãe Terra e os que nela vivem.

A preservação de nossas riquezas naturais nos garante um futuro promissor e a exploração da terra deve ser a mais respeitosa possível. Não podemos explorar sem limites, nem permitir que empresas brasileiras e estrangeiras invadam nossas riquezas, explorando-as, impunemente. Neste sentido, senhora Presidenta, procure escutar os especialistas de nossas universidades e ONGs, assim como os ambientalistas e, no caso das comunidades indígenas, os índios e seus legítimos representantes (Fundação Nacional do Índio, Conselho Indigenista Missionário etc.).

            Por fim, senhora Presidenta, quero, ainda, pedir uma última coisa. Trata-se de uma questão política importante. A senhora sabe que o PT nasceu nas bases de nossas comunidades. O PT nasceu nas periferias do Brasil. Foi o resultado da união de inúmeras pessoas e organizações populares que desejavam e continuam desejando um país mais justo e fraterno. A senhora sabe também que, desde a chegada do ex-presidente Lula ao poder, os dirigentes do PT se distanciaram dos movimentos sociais. 

Isto é muito perigoso porque o poder, senhora Presidenta, corrompe as pessoas. O resultado desse afastamento do povo e de suas organizações é conhecido por todos: a corrupção envolvendo pessoas que participaram da origem histórica do PT. Para que isto não se repita, procure fazer com que o PT e seu governo se mantenham abertos ao diálogo com o MST, com a Via Campesina, com os sindicatos, com o movimento de mulheres, enfim, com todos os movimentos sociais que contam com pessoas que realmente desejam a construção de um país melhor.

Sem escutar a voz dos pobres e dos que os representam não é possível um governo que atenda, efetivamente, seus anseios; do contrário, seu governo continuará com os vergonhosos traços dos governos tucanos, que sempre se recusaram a dialogar com os movimentos sociais, tratando-os com desprezo, discriminação e com a força policial. Senhora presidenta, o nosso povo não aceita mais governantes distantes, que somente aparecem em tempos de eleições. Por isso, se a senhora quiser ter bom êxito nos próximos quatro anos, mantenha-se aberta e disponível para escutar os mais pobres do povo brasileiro.

No que se refere às alianças políticas e o diálogo com a oposição, a senhora já sabe o que fazer. Seja mais prudente nas nomeações de importantes cargos no seu governo. A experiência mostra que muitos se aproveitaram de sua confiança e quase tornaram impossível a sua reeleição. Procure estar atenta não somente à capacidade técnica de seus colaboradores, mas, sobretudo, ao histórico de cada um. Investigue a conduta e evite a mera negociação política dos cargos públicos. Nós estamos cansados com a mídia golpista jogando na nossa cara, repetidamente, escândalos como o da Petrobrás, entre outros.

            Por fim, desejo um excelente segundo mandato. Antes de toda e qualquer decisão, lembre-se: a senhora representa todos os brasileiros e a maioria destes acredita na sua capacidade para continuar governando este imenso país, marcado por contrastes históricos. Como cristão de confissão católica, peço ao bom Deus que derrame suas bênçãos sobre sua pessoa, a fim de que seu governo permaneça atento às necessidades e urgências de nosso povo.

            Com estima e votos de saúde e paz,
Tiago de França da Silva
Professor, estudante e nordestino com muito orgulho! 

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