“Todos
vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto,
não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios” (1Ts
5, 5).
Um homem tinha três empregados e, antes de viajar,
chamou-os e lhes entregou talentos para que pudessem administrar: ao primeiro,
deu cinco; ao segundo, dois e ao terceiro, um. Deu de acordo com a capacidade
de cada um. Depois de muito tempo, retornou da viagem e pediu contas daquilo
que entregou aos empregados.
O
primeiro entregou dez talentos. Obteve o dobro de lucro! O mesmo aconteceu com
o segundo. O terceiro, por sua vez, não fez nada, mas enterrou o único talento
que tinha recebido, causando a ira do seu patrão. Por causa do medo que teve do
patrão, este último empregado, considerado “servo mau e preguiçoso!”, foi
jogado na escuridão. Não foi útil ao seu patrão. Esta parábola foi contada por
Jesus a seus discípulos (cf. Mt 25, 14 – 30).
Caso nos utilizemos da chamada teologia da prosperidade
para interpretar esse texto, o desastre será grande! Assim como no sistema
capitalista, na mencionada teologia a ideia do lucro também aparece. Muitos católicos
e evangélicos pensam, equivocadamente, o seguinte: “Entrega a tua vida ao
Senhor Jesus e ele tudo fará por ti!” Somente lucra quem entrega a vida ao
Senhor Jesus! Em que consiste esta entrega? Consiste na entrega de dinheiro ao
padre ou ao pastor. Quanto maior a quantia, maior será a bênção que o Senhor
Jesus oferecerá ao crente.
Acredita-se
no investimento financeiro da fé. Sem investimento, o Senhor Jesus não opera o
milagre! Este é o lucro. Partindo da autêntica mensagem de Jesus, não
precisamos de nenhum esforço mental para enxergarmos a tamanha mentira desta
teologia da prosperidade. O curioso é que esta mentira tem funcionado em muitas
Igrejas. O motivo é único e simples: as pessoas desconhecem o evangelho, e uma
vez desconhecendo a mensagem de Jesus terminam acreditando nessa falácia que
tem enriquecido muitos “pastores” de nossas Igrejas. Um povo que desconhece a
palavra de Deus é facilmente enganado por falsos pastores e falsos profetas.
O maior talento que temos é nossa vida. O que estamos
fazendo com ela? No mundo aprendemos a realizar inúmeras atividades, cada um
vai descobrindo suas aptidões. O que estamos fazendo com elas? A Igreja recebeu
a missão de evangelizar. Tem cumprido sua missão de acordo com o evangelho de
Jesus? Diante das inúmeras injustiças, qual tem sido a nossa posição? Somos indiferentes,
ou nos causam preocupação? Qual tem sido a nossa contribuição na construção de
outro mundo possível? Ou será que estamos concentrados na satisfação dos nossos
interesses? Precisamos responder a estas perguntas com sinceridade e verdade.
Na parábola contada por Jesus, “o servo mau e preguiçoso”
não multiplicou o talento porque sentiu medo do patrão. Esta foi a
justificativa dele. E nós, qual nossa justificativa quando nos omitimos diante
das necessidades de nossos irmãos e irmãs? Qual nossa justificativa quando nos
recusamos a promover o bem comum, quando não agimos com caridade com o próximo?
O medo é extremamente perigoso e tem atrapalhado muita gente no caminho da
vida. É preciso, ainda, que se indague a respeito das origens deste medo. Quais
nossos medos? Por que nos entregamos a ele? Até quando ele nos controlará?...
Assusta-nos a falta de responsabilidade dos seres humanos
no desempenho de suas obrigações ordinárias. A ausência do cuidado com o
próximo e com a natureza, a coisificação das pessoas, a indiferença nas
relações interpessoais, a manipulação do outro em vista da satisfação dos
interesses pessoais e corporativistas, a exploração descontrolada dos recursos
naturais, a banalização do mal em todo o mundo, a corrupção institucional, a
exclusão e a rejeição das diferenças e tantos outros mecanismos que explicitam
a maldade e a covardia se proliferam no mundo, promovendo um processo violento
de desumanização. Por que insistimos em todas estas coisas, apesar de sabermos
que tendem a nos destruir?...
Egoísmo e cristianismo não são compatíveis. Pessoas egoístas
não entrarão no Reino de Deus. Fora da fraternidade não existe salvação. Não adianta
procurar a religião e praticar os atos religiosos com o objetivo de tentar
manipular a Deus. Não adianta. O evangelho exige mudança de vida. Esta passa
pela mudança de mentalidade e pela conversão do coração. Estamos precisando de seres
verdadeiramente humanos, de coração de carne e não de pedra. Precisamos de
pessoas, de mulheres e homens sensíveis à dor do outro. Enquanto estamos vivos
há esperança de nos colocarmos nas fileiras dos que amam o próximo,
incondicionalmente.
A
vida não vale a pena ser vivida fora do amor. Este amor clama por praticidade,
por humanidade, por solidariedade, por alteridade. Fora da relação sincera e
honesta com o outro não há como o amor sobreviver. Vigiar é preciso, mas tal
vigilância, na vida cristã, acontece no caminho de Jesus. E quem permanece
neste caminho permanece de pé, de braços abertos, na alegria e na generosidade,
no amor e na liberdade, acordados e disponíveis, esperançosos, caminhando com
Jesus na contramão deste mundo. Sejamos, pois, vigilantes porque não sabemos o
dia nem a hora em que seremos chamados para prestarmos contas dos talentos que
recebemos de Deus. De uma coisa temos certeza: não há ninguém que escapará
deste dia e desta hora. Portanto, vigiemos no amor!
Tiago de França
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