sábado, 1 de novembro de 2014

Santos e santas no amor

“Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7, 14).

            Os santos são seres humanos, discípulos e discípulas, missionários e missionárias de Jesus de Nazaré, que experimentando o amor, edificam o reino de Deus. À luz dos documentos do Concílio Vaticano II e das conferências episcopais latino-americanas, este parece ser o significado dos santos na Igreja e no mundo.

            São seres humanos. Isto significa que não vivem em outro mundo senão este: o mundo marcado pelo pecado, mas também pelos sinais de ressurreição. Ao longo da história, a imagem dos santos era a de pessoas estranhas, refugiadas nos conventos e nos mosteiros, isoladas do mundo. Era uma época.

Agora vivemos em outra época, na qual compreendemos que não é mais possível vivermos encerrados nos conventos e mosteiros, gozando de um “estado de perfeição” que nunca existiu. Hoje, até os monges não vivem mais isolados nos mosteiros, mas estão repensando a vida monástica na perspectiva da abertura e diálogo permanentes com o mundo, com a vida comum e ordinária do mundo.

            Os santos cometem pecados, são pecadores. São pessoas comuns, como as demais. Diante de Deus não gozam de nenhum privilégio. Não são superiores a ninguém. Estão conscientes de que a santidade acontece na vida comum e ordinária dos pecadores. Sabem que o extraordinário se encontra no ordinário.  

Estão convictos de que somente Deus é Santo, bom e perfeito, fonte de todo bem e de toda santidade. Deus chama os pecadores para participarem de sua vida, de sua intimidade. Os santos são estes pecadores ousados, que respondem, generosamente, a este chamado de amor.

            São discípulos e discípulas de Jesus, o Cristo. Colocam-se no caminho de Jesus e nele perseveram até as últimas consequências. Alguns, de fato, “lavam e a alvejam suas vestes no sangue do Cordeiro”, como diz o apóstolo João. Estes gozam da graça de participarem, efetivamente, da cruz de Cristo, experimentando na carne as dores da paixão do Senhor.  

Trata-se de um mistério sublime, que se manifesta no mundo, diante de todos, para a glória de Deus e a edificação do Reino. Os santos mártires gozam da alegria da entrega sem reservas, da doação da própria vida pelas grandes causas do Reino divino e definitivo.

São missionários e missionárias de Jesus, o Nazareno. Por serem discípulos são, consequentemente, missionários. Abraçam com amor, generosidade e liberdade o anúncio da Boa Notícia do Reino, através dos gestos e palavras, do testemunho da própria vida. Possuem tamanha intimidade com as Escrituras que brotam neles o fogo divino, que os empurra para cima dos telhados, para gritarem a Palavra da Vida.

Não se cansam de exercer este ofício divino porque sabem que precisam ser fieis Àquele que os chamou. Esta fidelidade à missão não é oriunda de nenhuma espécie de esforço pessoal, mas é puro dom de Deus, fruto de sua graça que opera, abundantemente, em suas vidas.

            Por fim, precisamos afirmar, sem sombra de dúvidas, o seguinte: Somente os que se entregam ao amor é que são capazes de serem santos. Não existe santidade fora do amor de Deus. Há muitos e bons religiosos, pessoas que seguem com fidelidade os preceitos de sua religião, mas se o cumprimento de tais preceitos for destituído do amor, então de nada vale.  

O amor é a virtude por excelência dos santos. Por isso, são pessoas cheias de ternura e mansidão, pacíficas e amorosas, generosas e disponíveis, abertas e transparentes, humildes e simples, que experimentam a amizade com Deus na amizade com o próximo.

Os santos não guardam rancor, mas amor; são inabaláveis porque a sua força e segurança estão Naquele que os chamou. Expressam com o testemunho da própria vida o amor e a misericórdia de Deus. Assim, são, de fato, sal da terra e luz do mundo. Que eles e elas intercedam ao bom Deus por nós, a fim de que sejamos santos e santas no amor!


Tiago de França

Obs.: Acompanha este artigo a foto do padre José Comblin (1923 - 2011), profeta da liberdade.

Nenhum comentário: