“Esses
são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no
sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7, 14).
Os santos são seres humanos, discípulos e discípulas,
missionários e missionárias de Jesus de Nazaré, que experimentando o amor,
edificam o reino de Deus. À luz dos documentos do Concílio Vaticano II e das
conferências episcopais latino-americanas, este parece ser o significado dos
santos na Igreja e no mundo.
São seres humanos. Isto significa que não vivem em outro
mundo senão este: o mundo marcado pelo pecado, mas também pelos sinais de
ressurreição. Ao longo da história, a imagem dos santos era a de pessoas
estranhas, refugiadas nos conventos e nos mosteiros, isoladas do mundo. Era uma
época.
Agora
vivemos em outra época, na qual compreendemos que não é mais possível vivermos
encerrados nos conventos e mosteiros, gozando de um “estado de perfeição” que
nunca existiu. Hoje, até os monges não vivem mais isolados nos mosteiros, mas
estão repensando a vida monástica na perspectiva da abertura e diálogo
permanentes com o mundo, com a vida comum e ordinária do mundo.
Os santos cometem pecados, são pecadores. São pessoas
comuns, como as demais. Diante de Deus não gozam de nenhum privilégio. Não são
superiores a ninguém. Estão conscientes de que a santidade acontece na vida
comum e ordinária dos pecadores. Sabem que o extraordinário se encontra no
ordinário.
Estão
convictos de que somente Deus é Santo, bom e perfeito, fonte de todo bem e de
toda santidade. Deus chama os pecadores para participarem de sua vida, de sua
intimidade. Os santos são estes pecadores ousados, que respondem,
generosamente, a este chamado de amor.
São discípulos e discípulas de Jesus, o Cristo. Colocam-se
no caminho de Jesus e nele perseveram até as últimas consequências. Alguns, de
fato, “lavam e a alvejam suas vestes no sangue do Cordeiro”, como diz o
apóstolo João. Estes gozam da graça de participarem, efetivamente, da cruz de
Cristo, experimentando na carne as dores da paixão do Senhor.
Trata-se
de um mistério sublime, que se manifesta no mundo, diante de todos, para a
glória de Deus e a edificação do Reino. Os santos mártires gozam da alegria da
entrega sem reservas, da doação da própria vida pelas grandes causas do Reino divino
e definitivo.
São missionários e missionárias de Jesus, o Nazareno. Por
serem discípulos são, consequentemente, missionários. Abraçam com amor,
generosidade e liberdade o anúncio da Boa Notícia do Reino, através dos gestos
e palavras, do testemunho da própria vida. Possuem tamanha intimidade com as
Escrituras que brotam neles o fogo divino, que os empurra para cima dos
telhados, para gritarem a Palavra da Vida.
Não
se cansam de exercer este ofício divino porque sabem que precisam ser fieis
Àquele que os chamou. Esta fidelidade à missão não é oriunda de nenhuma espécie
de esforço pessoal, mas é puro dom de Deus, fruto de sua graça que opera,
abundantemente, em suas vidas.
Por fim, precisamos afirmar, sem sombra de dúvidas, o
seguinte: Somente os que se entregam ao amor é que são capazes de serem santos.
Não existe santidade fora do amor de Deus. Há muitos e bons religiosos, pessoas
que seguem com fidelidade os preceitos de sua religião, mas se o cumprimento de
tais preceitos for destituído do amor, então de nada vale.
O
amor é a virtude por excelência dos santos. Por isso, são pessoas cheias de
ternura e mansidão, pacíficas e amorosas, generosas e disponíveis, abertas e
transparentes, humildes e simples, que experimentam a amizade com Deus na
amizade com o próximo.
Os
santos não guardam rancor, mas amor; são inabaláveis porque a sua força e
segurança estão Naquele que os chamou. Expressam com o testemunho da própria
vida o amor e a misericórdia de Deus. Assim, são, de fato, sal da terra e luz
do mundo. Que eles e elas intercedam ao bom Deus por nós, a fim de que sejamos
santos e santas no amor!
Tiago de França
Obs.: Acompanha este artigo a foto do padre José Comblin (1923 - 2011), profeta da liberdade.
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