Seguir Jesus é caminhar
com ele. Não é tarefa fácil porque se trata de uma caminhada exigente. A regra
do caminho é o amor e este tem suas exigências. O caminho de Jesus não oferece
nenhuma segurança e, além de inseguro, é estreito e pedregoso. Caminho aberto a
todos, poucos são os que ousam se colocar nele. Os que aceitam o chamado e
iniciam a caminhada, inevitavelmente, participam da mesma sorte de Jesus: são
incompreendidos, perseguidos, colocados de lado, e, muitas vezes, mortos.
Os que caminham com Jesus são promotores da verdade e da
liberdade. No caminho fazem a experiência da intimidade com Deus. Nesta
intimidade acontece a revelação da vontade de Deus, revelação que precisa ser
anunciada a todos, indistintamente. É caminhando com Jesus que o peregrino
conhece a sua verdade e liberdade. Não se trata da mera verdade elaborada pela
inteligência humana, constantemente reelaborada de acordo com as conveniências
do momento, mas é o próprio Jesus a verdade que ilumina e guia o caminhar do
peregrino. O mesmo se pode falar da liberdade de Jesus, consequência de sua
verdade libertadora.
Esta realidade transforma interiormente o peregrino,
tornando-o discípulo e missionário de Jesus. Ele sabe muito bem que a mensagem
de Jesus incomoda e desinstala. Sabe não porque se convenceu pela retórica dos
argumentos, mas porque faz a experiência da intimidade com a palavra de Jesus. O
contato com esta palavra é revelador e transformador. Ao anunciá-la às pessoas,
estas tendem a desprezar tanto a palavra anunciada quanto quem está
anunciando-a. Por isso, o peregrino não se escandaliza diante do desprezo e do
ostracismo por causa do anúncio da palavra de Jesus.
Aqui se encontra o porquê do caminho ser estreito e
pedregoso. Olhando para Jesus não é difícil de visualizar seus conflitos com as
autoridades religiosas e civis do seu tempo. Os religiosos não se deram bem com
ele. O conflito era permanente. Jesus não tinha amizade com os religiosos do
seu tempo. Eles não o aceitavam, mas somente o toleravam quando era possível. Geralmente,
o acusavam e perseguiam e, mentindo, buscavam entregá-lo ao poder imperial
romano. Não deu para escapar: foi preso, torturado e morto na cruz. Os que se
colocam no caminho de Jesus correm o mesmo risco.
Assim, seguir Jesus é algo perigoso. Proclamar
abertamente a verdade da sua mensagem incomoda muita gente. Tanto dentro quanto
fora dos ambientes religiosos, a mensagem evangélica encontra grandes
resistências. A tendência de todos os tempos, que constitui uma enorme
tentação, é tentar amenizar as palavras de Jesus, tirando-lhe o real sentido e
alcance.
Há
uma modificação constante da mensagem de Jesus, a fim de que se torne menos
pesada e perigosa. Exemplo disso é a tradicional pregação dirigida aos
opressores do povo de Deus. Dizem os pregadores, para manter a amizade e os
privilégios junto a eles: “Jesus não
manda renunciar à riqueza. Ele simplesmente pede que vocês ajudem os pobres. Se
vocês doam um pouco daquilo que vocês tem, tudo está resolvido diante de Deus.
O que Deus olha é a caridade. Façam a caridade e serão salvos!”
Desse
modo, os opressores continuam oprimindo, pensando que estão em paz com Deus
somente porque doam recursos para serem dados aos pobres. E para manterem a
aparência de bons cristãos, somam às esmolas a participação no culto, a amizade
com os padres e pastores (evangélicos), a recepção dos sacramentos, o dízimo e
outras contribuições para a manutenção dos templos e promoção de festas
religiosas. Quando morrem, recebem as devidas preces dos ministros do Senhor e
chegam diante de Deus devidamente recomendados. O peregrino de Jesus desmascara
esse cristianismo superficial e mentiroso, conferindo-lhe o verdadeiro nome:
hipocrisia religiosa.
“Devemos
pregar a reconciliação entre ricos e pobres. Desde o início foi sempre assim:
há pessoas que nascem para ser ricas, e outras para servi-las. Pregar contra
esta realidade é causar divisão nas Igrejas. Não se deve questionar os
poderosos, mas é necessário ajudá-los a serem boas pessoas, a se salvarem. Deus
ama a todos e não olha a condição social. A riqueza de alguns é sinal da bênção
de Deus. O que Deus quer é que as pessoas se voltem para Ele e procurem prestar
um culto digno de ser recebido. As Igrejas são os lugares onde resplandecem a
salvação, são as portas da eternidade no mundo; por isso, todos devem praticar
o culto religioso e se adequar às leis religiosas, que foram reveladas por Deus
e não podem ser questionadas. Só é fiel a Deus quem aceita o que Ele revelou no
seio da religião. Quem se opõe à religião com seu aparato institucional está se
opondo a Jesus”: estas e outras ideias, que constituem a pregação e a ideologia
religiosa de nossas Igrejas cristãs oprimem o povo de Deus e são contrárias aos
ensinamentos de Jesus.
Caminhar
com Jesus na contramão significa isto: conhecer e viver conforme a verdade e a
liberdade da sua mensagem libertadora. Como dissemos acima, não é tarefa fácil.
As tentações são inúmeras, fortes e insistentes. Somente caminhando com o
próprio Jesus é possível ser fiel até o fim. O desânimo, o medo, o desespero,
as ameaças, as incompreensões, as perseguições e todas as forças opostas à
mensagem de Jesus não conseguem intimidar o peregrino que caminha com Jesus. O Espírito de Jesus é a força que encoraja, ilumina,
guia, capacita e mantém o peregrino na caminhada. Consciente de seus limites e
fraquezas, o peregrino permanece unido a Jesus e com Jesus vence o mundo.
Tiago de França
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