quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Caminhar com Jesus na contramão

         
           Seguir Jesus é caminhar com ele. Não é tarefa fácil porque se trata de uma caminhada exigente. A regra do caminho é o amor e este tem suas exigências. O caminho de Jesus não oferece nenhuma segurança e, além de inseguro, é estreito e pedregoso. Caminho aberto a todos, poucos são os que ousam se colocar nele. Os que aceitam o chamado e iniciam a caminhada, inevitavelmente, participam da mesma sorte de Jesus: são incompreendidos, perseguidos, colocados de lado, e, muitas vezes, mortos.

            Os que caminham com Jesus são promotores da verdade e da liberdade. No caminho fazem a experiência da intimidade com Deus. Nesta intimidade acontece a revelação da vontade de Deus, revelação que precisa ser anunciada a todos, indistintamente. É caminhando com Jesus que o peregrino conhece a sua verdade e liberdade. Não se trata da mera verdade elaborada pela inteligência humana, constantemente reelaborada de acordo com as conveniências do momento, mas é o próprio Jesus a verdade que ilumina e guia o caminhar do peregrino. O mesmo se pode falar da liberdade de Jesus, consequência de sua verdade libertadora.

            Esta realidade transforma interiormente o peregrino, tornando-o discípulo e missionário de Jesus. Ele sabe muito bem que a mensagem de Jesus incomoda e desinstala. Sabe não porque se convenceu pela retórica dos argumentos, mas porque faz a experiência da intimidade com a palavra de Jesus. O contato com esta palavra é revelador e transformador. Ao anunciá-la às pessoas, estas tendem a desprezar tanto a palavra anunciada quanto quem está anunciando-a. Por isso, o peregrino não se escandaliza diante do desprezo e do ostracismo por causa do anúncio da palavra de Jesus.

            Aqui se encontra o porquê do caminho ser estreito e pedregoso. Olhando para Jesus não é difícil de visualizar seus conflitos com as autoridades religiosas e civis do seu tempo. Os religiosos não se deram bem com ele. O conflito era permanente. Jesus não tinha amizade com os religiosos do seu tempo. Eles não o aceitavam, mas somente o toleravam quando era possível. Geralmente, o acusavam e perseguiam e, mentindo, buscavam entregá-lo ao poder imperial romano. Não deu para escapar: foi preso, torturado e morto na cruz. Os que se colocam no caminho de Jesus correm o mesmo risco.

            Assim, seguir Jesus é algo perigoso. Proclamar abertamente a verdade da sua mensagem incomoda muita gente. Tanto dentro quanto fora dos ambientes religiosos, a mensagem evangélica encontra grandes resistências. A tendência de todos os tempos, que constitui uma enorme tentação, é tentar amenizar as palavras de Jesus, tirando-lhe o real sentido e alcance.

Há uma modificação constante da mensagem de Jesus, a fim de que se torne menos pesada e perigosa. Exemplo disso é a tradicional pregação dirigida aos opressores do povo de Deus. Dizem os pregadores, para manter a amizade e os privilégios junto a eles: “Jesus não manda renunciar à riqueza. Ele simplesmente pede que vocês ajudem os pobres. Se vocês doam um pouco daquilo que vocês tem, tudo está resolvido diante de Deus. O que Deus olha é a caridade. Façam a caridade e serão salvos!”

Desse modo, os opressores continuam oprimindo, pensando que estão em paz com Deus somente porque doam recursos para serem dados aos pobres. E para manterem a aparência de bons cristãos, somam às esmolas a participação no culto, a amizade com os padres e pastores (evangélicos), a recepção dos sacramentos, o dízimo e outras contribuições para a manutenção dos templos e promoção de festas religiosas. Quando morrem, recebem as devidas preces dos ministros do Senhor e chegam diante de Deus devidamente recomendados. O peregrino de Jesus desmascara esse cristianismo superficial e mentiroso, conferindo-lhe o verdadeiro nome: hipocrisia religiosa.

“Devemos pregar a reconciliação entre ricos e pobres. Desde o início foi sempre assim: há pessoas que nascem para ser ricas, e outras para servi-las. Pregar contra esta realidade é causar divisão nas Igrejas. Não se deve questionar os poderosos, mas é necessário ajudá-los a serem boas pessoas, a se salvarem. Deus ama a todos e não olha a condição social. A riqueza de alguns é sinal da bênção de Deus. O que Deus quer é que as pessoas se voltem para Ele e procurem prestar um culto digno de ser recebido. As Igrejas são os lugares onde resplandecem a salvação, são as portas da eternidade no mundo; por isso, todos devem praticar o culto religioso e se adequar às leis religiosas, que foram reveladas por Deus e não podem ser questionadas. Só é fiel a Deus quem aceita o que Ele revelou no seio da religião. Quem se opõe à religião com seu aparato institucional está se opondo a Jesus”: estas e outras ideias, que constituem a pregação e a ideologia religiosa de nossas Igrejas cristãs oprimem o povo de Deus e são contrárias aos ensinamentos de Jesus. 

Caminhar com Jesus na contramão significa isto: conhecer e viver conforme a verdade e a liberdade da sua mensagem libertadora. Como dissemos acima, não é tarefa fácil. As tentações são inúmeras, fortes e insistentes. Somente caminhando com o próprio Jesus é possível ser fiel até o fim. O desânimo, o medo, o desespero, as ameaças, as incompreensões, as perseguições e todas as forças opostas à mensagem de Jesus não conseguem intimidar o peregrino que caminha com Jesus. O Espírito de Jesus é a força que encoraja, ilumina, guia, capacita e mantém o peregrino na caminhada. Consciente de seus limites e fraquezas, o peregrino permanece unido a Jesus e com Jesus vence o mundo.

Tiago de França 

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