“O
que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova
terra, onde habitará a justiça” (2 Pd 3, 13).
Apareceu no deserto aquele que foi enviado por Deus para
preparar o caminho de Jesus, o Messias. Seu nome é João Batista. O deserto é o
lugar da escuta e da revelação, da intimidade e da contemplação, da provação e
da conversão. O precursor do Messias Jesus é um homem do deserto: ungido pelo
Espírito e experimentado, livre porque viveu na humildade e na simplicidade. Seu
estilo de vida revela a maneira como o cristão deve preparar o coração para
acolher Jesus.
O deserto também é o lugar da tentação. Jesus viveu a
experiência do deserto, e nela aprendeu que o ser humano é fraco. A condição
humana é frágil. Toda pessoa está exposta à fraqueza. Conscientes de nossa
fragilidade não ousamos apontar o dedo contra ninguém. Nossa acusação é
inválida e pecaminosa. Todos, sem exceção, estamos encerrados na finitude.
Somos irmãos na fragilidade para sermos resgatados por Aquele que não nos
abandona jamais.
A experiência do deserto é uma experiência de secura e de
aridez. Nela experimentamos crises, ao mesmo tempo em que temos a feliz
oportunidade para a mudança de vida. Os que permanecem acordados e atentos,
portanto, vigilantes, de fato, conseguem passar pela provação para ser aquilo
que Deus quer: pessoas livres e vigilantes, experimentadas no caminho de Jesus.
É isto que Deus quer: nossa liberdade.
A humildade do profeta João nos convida ao reconhecimento
de nossos limites, fraquezas e pecados. Reconhecer-se pecador: eis o início do
caminho da mudança de vida, da conversão. Quem não dar uma pausa para mergulhar
no mais profundo de si mesmo é incapaz de reconhecer-se pecador.
Isto
significa que precisamos conhecer nosso interior, nossos abismos. Como São João
da Cruz ensinava, é preciso passar pela “noite escura” para nela encontrar-se
com Jesus. Ele vem a nós caminhando sobre as águas, na escuridão da madrugada,
quando estamos perturbados no frágil barco agitado pelas ondas do mar da vida,
que tendem a nos afogar.
Para ser irmão do outro é imprescindível passar por este
movimento humano e espiritual de autoconhecimento e de reconhecimento das
próprias fraquezas. É aí que tomamos consciência de que, realmente, não somos melhores
nem piores, mas somos igualmente pessoas e irmãos no Cristo Jesus.
A
partir daí o pecado do outro deixa de nos interessar. Além disso, tal
consciência nos enche de compaixão e nos move na direção do outro, para
ajudá-lo em suas lutas por libertação. Desse modo, perdemos aquela infeliz
disposição para a acusação do outro. Por que acusar e condenar meu irmão, se
sou pecador como ele? É a pergunta que surge em quem tem consciência das
próprias fraquezas. A ausência desta consciência nos faz cair, constantemente,
na tentação de vivermos condenando o outro.
Conta-nos o evangelista Marcos (1, 1 – 8), que as pessoas
procuravam o profeta João para confessarem seus pecados e serem batizadas por
ele. O profeta as preparava para a chegada de Jesus, o Messias, que batiza com
o Espírito Santo. Hoje, o discípulo missionário de Jesus é chamado a fazer o
mesmo: confessar seus pecados e ser batizado com o Espírito.
Confessar
os pecados é mais do que receber o sacramento da reconciliação (para os
católicos), mas é, sobretudo, aderir a uma atitude permanente, sendo humilde
diante do outro e diante da vida, despojando-se do espírito de superioridade,
prepotência e arrogância. Não adianta confessar o pecado sem um arrependimento
sincero e humilde.
Nossas Igrejas cristãs precisam continuar a missão do
profeta João por meio do anúncio da Boa Notícia do Reino e da denúncia das
injustiças que assolam a humanidade. Cada batizado em nome da Trindade é
chamado a ser como João: ser mensageiro de Deus, na humildade e na simplicidade,
em um mundo marcado pela discórdia e pelas injustiças.
Esta
missão se inicia com a confissão humilde de nossas faltas, passando pela adesão
à mensagem de Jesus e terminando na missão no meio do mundo. Não são etapas
separadas, mas um movimento único que acontece no cotidiano da vida sob a
direção e na força do Espírito.
Tiago de França
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