sábado, 20 de dezembro de 2014

O anúncio da encarnação de Deus na humanidade

“Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1, 38).

            Nestes dias que antecedem a celebração do Natal do Senhor, os cristãos são chamados a compreender a beleza e a profundidade do mistério da encarnação de Deus na humanidade. É verdade que uma compreensão plena é impossível, considerando que a realidade divina é misteriosamente indizível. O que conseguimos compreender é aquilo que o próprio Deus quis revelar: o fato de ter vindo a este mundo, tomando forma humana, sendo igual a nós em tudo, exceto no pecado.

            Para confundir os poderosos deste mundo, Deus escolheu a pequena e humilde Maria, de uma cidade desconhecida e mal afamada chamada Nazaré. “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus”: são as palavras do anjo após a saudação dirigida à virgem prometida em casamento a José, da descendência de Davi. Maria, de fato, não teve medo, e mesmo não compreendendo plenamente o que estava acontecendo, porque era uma judia temente a Deus, aceitou ser a mãe do Verbo de Deus, Jesus, o Messias.

            O lugar e a pessoa escolhida mostram a predileção divina por aquilo que é pequeno, frágil e insignificante aos olhos do mundo. Esta pedagogia divina permanece vigorando no modo como o Espírito do Senhor age no mundo. Este Espírito, que fecundou o ventre de Maria de Nazaré, continua fecundando a vida dos pequenos, frágeis e insignificantes deste nosso mundo, marcado pela opressão dos grandes em relação aos pequenos. É este Espírito que mantém viva a esperança do povo de Deus. Durante toda a história da salvação é desse modo que Deus tem atuado junto ao povo que escolheu para si.

            O sim de Maria é providencial. Deus a escolheu e elegeu, e ela respondeu prontamente ao chamado divino. Viveu plenamente a sua vocação: a de ser mãe e discípula de Jesus, o Messias prometido, inaugurador do Reino de Deus neste mundo. Com seu sim, Maria participa do processo de libertação do seu povo porque sabia que Deus jamais o abandonaria. Com o desenvolvimento da missão de Jesus, ela foi cada vez mais, assim como ele, tomando conhecimento da grandeza da presença amorosa de Deus em Jesus de Nazaré. Maria viveu sua vocação e já foi recompensada com sua participação na glória divina, juntamente com tantos outros que responderam, generosamente, ao chamado divino.

            Hoje, os discípulos de Jesus precisam fazer como a mãe de Jesus, com amor e liberdade, no cotidiano da vida, vencendo as tentações e superando os desafios, dizer um sim generoso, maduro e consciente ao chamado permanente de Deus. Dizer sim não para ser senhor, mas para ser servidor do projeto divino de salvação da humanidade. Somente assim, a palavra de Deus permanece em nós e nos tornamos sal da terra e luz do mundo. É assim que o gosto amargo da vida se transforma em doçura e as trevas deste mundo se dissipam, e o povo de Deus permanece firme e forte na sua peregrinação rumo à casa do Pai.

            Superando toda mania de grandeza e apego ao poder, pessoas e instituições podem se tornar servas do projeto salvador de Deus. Quando dizemos sim a Deus, simultaneamente, estamos dizendo não à satisfação egoísta de nossos interesses. Desse modo, tornamo-nos abertos e disponíveis aos outros, a vida ganha beleza e leveza, as relações interpessoais se fortalecem e o outro é devidamente acolhido e reconhecido, a fraternidade acontece e o Reino se manifesta no mundo.  

É isto que Deus deseja para cada pessoa e para toda a humanidade: que em Cristo nos reconheçamos como irmãos, no respeito às diferenças culturais e religiosas, na construção do novo céu e da nova terra, onde reinarão a justiça e a paz. É com este sentimento e propósito que caminhamos alegres e esperançosos para a festa solene do nascimento do Senhor Jesus.

Tiago de França

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