sábado, 24 de janeiro de 2015

Colocar-se no caminho de Jesus

“O tempo já se completou e o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no evangelho!” (Mc 1, 15)

            O tema do seguimento de Jesus é de fundamental importância para compreendermos a realidade do reino de Deus. Este reino não existe sem o necessário seguimento. Aqui já podemos afirmar, categoricamente: Quem quiser participar do reino de Deus precisa, necessariamente, seguir a Jesus de Nazaré. Esta afirmação parece tranquila para todos os cristãos. Nela parece não existir nenhuma novidade, mas se pararmos para observar bem o conjunto de nossas Igrejas cristãs, logo veremos que algo está fora do lugar. Está faltando esta participação no reino de Deus porque este já está acontecendo na humanidade.

            E por que está faltando esta participação? Porque inúmeros cristãos confundem o seguimento de Jesus com suas práticas religiosas. Estas certamente tem o seu lugar na vida dos discípulos de Jesus, mas não consistem, necessariamente, no seguimento a Ele. Basta olharmos para Jesus, que se encontra na Galileia, pregando o evangelho de Deus. O que é este evangelho? É o anúncio do reino de Deus. Então, os discípulos de Jesus precisam fazer como ele: anunciar o reino de Deus. Como isto acontece hoje?  

Em primeiro lugar, é preciso afirmar que este anúncio do reino é a vocação primordial de quem segue Jesus. Ele não pediu para fazermos outras coisas. Nossas práticas religiosas não tem origem em Jesus nem possuem sua justificativa nele, mas podem nos ajudar a segui-lo no anúncio do reino do Pai. Ocorre também que tais práticas religiosas podem contribuir com o comodismo das pessoas. Estas podem abandonar o caminho de Jesus, isolando-se em tais práticas. É uma tentação que sempre perseguiu os cristãos. Não adianta o católico pensar que recebendo a Eucaristia, confessando seus pecados, “pagando” o dízimo, participando do culto e fazendo pequenos gestos de caridade que já esteja justificado diante de Deus. Estas atitudes certamente possuem o seu valor e o seu lugar na vida cristã, mas, por si mesmas, não constituem o discípulo missionário de Jesus.

“Convertei-vos e crede no evangelho!”: este é o convite de Jesus, feito na liberdade e para a liberdade. A realidade da conversão (mudança de vida) ultrapassa, infinitamente, as práticas religiosas. Conversão é adesão a Jesus e a seu projeto, o reino do Pai. É encontrar-se com ele na vida do outro. É amá-lo amando o outro. Sem esta conversão não há como crer no evangelho. Há muitas pessoas que pensam que acreditam no evangelho sem se converterem. Vivem uma ilusão.

Há outros que pensam que a conversão é a adesão à perfeição. Isto é outro equívoco. Perfeito é o Pai, o Filho e o Espírito; os humanos são pecadores chamados a caminhar com Jesus. Aceitar Jesus como Salvador é aproximar-se dele, caminhar com Ele, perseverando em seu caminho. Quando isto ocorre estamos anunciando o reino do Pai e convertendo-nos a Ele. “Aceitei Jesus e agora sou um santo!”, afirmam muitas pessoas que, na verdade, somente conseguiram mudar de religião ou de denominação religiosa. Aceitar Jesus não é mudar de religião ou de crença. Aceitar Jesus é aceitar o desafio de colocar-se em seu caminho e nele perseverar. Sem este seguimento há somente aparência de aceitação. Há, na verdade, negação de Jesus. 
  
Mais do que em outras épocas da história do cristianismo, precisamos recuperar o lugar do evangelho de Jesus. É este evangelho que importa. É ele que nos converte e salva. Toda nossa vida deve está direcionada e alicerçada no evangelho. Somente este é capaz de criar pessoas novas e, consequentemente, uma humanidade nova. Para isso, é preciso renunciar às guerras e aos conflitos por causa de religião. Esta não salva ninguém. Para aquele que crê, somente Jesus salva e esta salvação acontece no seguimento radical a ele. A radicalidade não significa sentir-se superior aos outros, levando uma vida farisaica, separada do mundo. Jesus não pediu isso. Ele já denunciava essa hipocrisia nos mestres e doutores da lei de seu tempo.

Por fim, eis o motivo pelo qual cada cristão precisa voltar-se para Deus e seu evangelho: Somente o evangelho é capaz de renovar a face da terra, e os cristãos, chamados a serem sal e luz do mundo, constituem a presença amorosa de Deus, que, diuturnamente, trabalha pela libertação da humanidade inteira. Ser sal e luz, vencendo as trevas deste mundo: eis nossa vocação. Esta vocação somente se realiza, afetiva e efetivamente, se nos colocarmos no caminho de Jesus e nele perseverarmos, convertendo-nos e crendo no evangelho. O Espírito, fonte de todo bem e de toda graça, está aí, disposto a nos ajudar nesta árdua e aventurosa missão. Quem se deixar interpelar por Ele conhecerá a beleza e a alegria da companhia de Jesus. É um risco que vale a pena experimentar.


Tiago de França

Um comentário:

Tiago de França disse...

Obrigado, caro Josiel Dias, pela apreciação do meu blog. Evangelizar é preciso! Façamos nossa parte.

Grande abraço,

Tiago de França