“Despertar
é a única experiência que vale a pena. Abrir bem os olhos, para ver que a
infelicidade não vem da realidade, mas dos desejos e das ideias equivocadas.
Para ser feliz não é preciso fazer coisa alguma, além de desfazer-se de falsas
ideias, das ilusões e fantasias que não nos permitem ver a realidade” (Anthony
de Mello, SJ).
Amigos
e amigas,
Paz e bem!
Todo início de ano é tempo oportuno para renovar a
esperança e fazer bons propósitos. Geralmente, as pessoas sempre fazem isso,
mas imediatamente após as comemorações da passagem de ano, elas se esquecem de
tudo e a vida continua do mesmo jeito. O que está por trás disso? O pensamento
acima descrito, do jesuíta Anthony de Mello, SJ, que foi um dos grandes mestres
espirituais do século passado, revela com profundidade aquilo que desde sempre
tem provocado a infelicidade nas pessoas. Há alguns anos tenho tido acesso às
obras deste grande jesuíta, falecido em junho de 1987, que tem contribuído
significativamente para a ampliação da minha visão de mundo e de Igreja, assim
como muito tem me auxiliado em meu processo pessoal de libertação.
Há nas pessoas uma tendência à acomodação. Acomodam-se à
cegueira, à satisfação dos desejos, às ideias equivocadas, às ilusões e
fantasias. Todas estas coisas tem produzido no ser humano um longo e doloroso
processo de escravidão. O pior de tudo é que todos pensam que assim são
felizes. Sentem-se felizes com muito dinheiro no bolso, com o uso da moda, com
o brilhantismo e com o sucesso. A ideia corrente é: Se você pode satisfazer os
seus desejos, obtendo aquilo que deseja possuir, então você é feliz. Esta é a
lei da felicidade que rege a vida da mulher e do homem pós-moderno. Assim
sendo, a felicidade está fora da pessoa e esta deve procurá-la. Como está
atrelada ao ter, nem todos a alcançam porque no mundo capitalista não há acesso
integral e igualitário aos bens que provocam a felicidade que almejam.
É visível que esta ideia de felicidade, apesar de
perseguida por milhões de pessoas em todo o mundo, é falsa e sem futuro. As
pessoas morrem sem encontrar a verdadeira felicidade. Na verdade, se encontram
com a frustração. Aqui surge uma pergunta interessante: Por que, mesmo sabendo
que esta ideia de felicidade é falsa, as pessoas não conseguem se libertar
dela? Baseando-se no evangelho de Jesus de Nazaré, o jesuíta Anthony de Mello,
propõe o despertar para a realidade. Segundo
ele, “despertar é a única experiência que vale a pena”. Isto é verdade porque
somente quando desperta é que a pessoa consegue enxergar a realidade. Enxergar é abrir bem os olhos, libertando-se
da cegueira. Quem se recusa a ver a realidade, infelizmente jamais conseguirá
ser feliz.
Geralmente, as pessoas pensam que a infelicidade vem da
realidade. Afirmam que a vida que levam a tornam infelizes. Isto é mentira. Eis
o que provoca a infelicidade: desejos, falsas ideias, ilusões e fantasias. Estas
coisas tiram a visão das pessoas e as transformam em objetos submissos às
programações estabelecidas pela sociedade. As pessoas passam a fazer parte de
uma imensa massa de manobra, escravas de si mesmas e dos outros, deixando de
ser pessoas, tornando-se coisas. Assim, são incapazes de pensar por si mesmas e
não possuem vontade própria. Fazem aquilo que as programações mandam fazer. Como
não tem consciência disso, então não encontram problema nenhum na manipulação
operada pelas programações. Para elas, o problema está em não seguir tais
programações. Parece algo abstrato, mas não o é. Vamos a um exemplo para vermos
como isto está no cotidiano da vida humana.
Um casal jovem resolve se casar e o casamento dura dez
anos. Após muito desgaste, por causa de desentendimentos e discussões, não
conseguindo superar a situação, a mulher resolve pedir a separação. Inicialmente,
o homem teve que acatar o pedido; mas, posteriormente, deixando-se dominar pelo
ciúme e pelo espírito de posse, inferniza a vida de sua ex-mulher, fazendo-a
sofrer. Fazendo uso de sua liberdade, a ex-mulher arruma outro companheiro,
contraindo com este uma nova união. Insatisfeito com a situação, seu ex-marido
a procura, tirando-lhe a vida, gritando: “Já que você não quis ficar comigo,
então não vai ficar com nenhum outro homem”. Casos como este se repetem no
mundo todo. Onde foi parar o amor que, inicialmente, este homem e esta mulher
tinham um pelo outro? Existiu, de fato, amor? O que o levou a agir dessa forma?
A análise do caso conduz à seguinte sentença: Nenhum ser humano é
essencialmente mal, mas uma vez escravo de seus desejos, falsas ideias, ilusões
e fantasias, torna-se capaz de materializar o mal no mundo.
Não adiantam as prisões, a prisão perpétua, a pena de
morte, o aperfeiçoamento das leis e medidas repressivas. Estas coisas não põem
um fim na violência que assola a humanidade. Não se pode negar a importância
das iniciativas do Estado, das religiões e das demais instituições para a
humanização das pessoas, mas para que tais iniciativas tenham êxito é
necessário que as pessoas tomem consciência de sua vocação para a liberdade. Esta
vocação se realiza quando cada pessoa se torna protagonista da própria
história, trilhando o caminho do amor, da liberdade e da justiça. Não há
sistema repressivo que dê conta de educar e enquadrar o ser humano porque este
é, por natureza, chamado à liberdade. Por mais escrava que seja uma pessoa, há
sempre um espaço de conquista da liberdade. Nenhuma forma de opressão é capaz
de tirar completamente do ser humano esta aspiração à liberdade.
Para concluir esta reflexão, convido o/a amigo/a para
pensar, com sinceridade e verdade, a seguinte questão: Quais os desejos, as falsas ideias, ilusões e fantasias que afetam
minha mente? O honesto enfrentamento desta questão conduzirá à visão da
realidade pessoal e social. Quem deseja trilhar o caminho da mudança de vida
(conversão) não pode fugir desta questão fundamental. Aquelas pessoas que
desejam continuar na mesmice e no tédio, preferem viver imitando os animais,
entregando-se aos instintos egoístas, numa vida sem sentido e marcada pela
banalização. Os que ousam se desfazer dos desejos, das falsas ideias, ilusões e
fantasias ingressam na desafiadora escola da liberdade. Quem assim procede verá
que o passado não existe mais, que o futuro também não existe e que a vida
acontece no presente. Permanecer acordado significa enxergar a realidade e esta
não está no ontem nem no amanhã, mas no aqui e agora.
Prezado/a, amigo/a, se você ousar atender ao convite que
fiz no parágrafo anterior, verá que este ano que se inicia será,
incomparavelmente, melhor do que o ano que passou. Sua vida se tornará mais
leve e você encontrará a felicidade. Esta está dentro de você, mas apegado às
falsas ideias, ilusões e fantasias é incapaz de conhecê-la e senti-la. Se você
é cristão, esta felicidade que se encontra dentro de você se chama Deus, que é
único capaz de nos tornar capazes de sermos aquilo a que somos chamados: Nele e
com Ele somos amor, salvos e felizes eternamente. Atenda ao convite, mergulhe
em si mesmo e descubra a felicidade que está em você. Este é o melhor desafio
para este ano que se inicia. Tudo o mais virá sem que seja necessário nenhum
esforço. Seja feliz!
FELIZ ANO NOVO!
Tiago de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário