Pediram-me uma palavra
sobre o momento político atual. Não sou economista nem cientista político, mas
cristão, cidadão, estudante e professor. Tenho o compromisso e o direito de
pensar, escolher e opinar. Não somos governados por reis nem imperadores. Estamos
no regime democrático de direito, e como tal, há espaço para a análise e para a
discussão. Irei ser breve, mas incisivo em algumas questões que a mídia
neoliberal hegemônica tende a deturpar e esconder.
Quem foi que disse que a corrupção se iniciou, no Brasil,
com os governos do PT? Quem disse mente porque não prova absolutamente nada. E não
prova porque é esclerosado e não estudou a longa e sofrida história do Brasil. Basta
ler qualquer livro didático, daqueles que podem ser encontrados nas escolas
públicas. Qualquer um deles não esconderá que passamos praticamente 400 anos em
regime de escravidão, sob as ordens do desequilibrado império português. Posteriormente,
de forma esquisita inauguraram a República e, pouco tempos depois, passamos
vinte anos sendo governados pelos militares. Colonização não é corrupção? Ditadura
militar não é corrupção? A política neoliberal que assolou a tentativa de nova
redemocratização não é corrupção? Quem defende que não é, procure estudar o
real significado do termo corrupção à luz da historicidade dos fatos.
As investigações sobre a corrupção em uma determinada
estatal pode ser a causa da cassação do mandato do Presidente da República? Pode!
Como é possível? Se ficar comprovado o crime de responsabilidade. Quem comprova?
As páginas dos jornais? O Jornal Nacional da senhora Rede Globo? Não. Esse povo
aí atende a seus interesses. O leitor pensa que a Globo está preocupada com a
corrupção? Ou pensa que a notícia é destituída de interesses? Se pensa, cuide
em aprender a pensar sobre aquilo que escuta. Quem não pensa e analisa, vai
considerar que a história do Brasil começou a desandar a partir do governo
Lula. Se chegou a essa conclusão, é bom cuidar em estudar história, filosofia,
sociologia e algumas noções de ciências políticas. Tem preguiça? Então não
opine sobre o que não conhece. Acredita no “tudo mastigadinho”? Seja mais
inteligente!
É de fazer vergonha a corrupção? Sim. Envergonha um
possível racionamento de energia e água? Sim. Envergonha a falta de controle da
inflação? Claro que sim. Isso não alegra ninguém. Mas de onde vem isso? Falta
água, é culpa do governo. Falta luz, é culpa do governo. Falta poder de compra
do salário mínimo, é culpa do governo. E nós, temos alguma culpa? E o sistema
capitalista, selvagem e assassino, que mata centenas de pessoas em todo o
mundo, através da exclusão de milhões e do enriquecimento de um punhado de
gente desocupada, que enrica do dia para a noite sem muito esforço? Este sistema
tem alguma culpa? Quem o mantém? Quem está a seu serviço? Se não parou para
pensar possíveis respostas para estas indagações, ainda é tempo.
É vergonhosa a preguiça mental de milhões de brasileiros
que perdem seu precioso tempo nas redes sociais, “curtindo” e “compartilhando”
recortes de jornais e revistas, que mais mentem do que falam a verdade dos
fatos. Facilmente, cria-se um clima apocalíptico. A sensação é que chegamos ao
fim dos tempos. Calunia-se, difama-se, deturpa-se, engana-se, ilude-se; cultiva-se
ideologias que somente reforçam ódio, rancor, ressentimento contra pessoas,
governos e instituições. “A Dilma vai tirar o direito à carteira assinada!”,
inventa um; “A Dilma vai cortar o auxílio-doença”, acrescenta outro; “A Dilma
recebeu dinheiro de propina na Petrobrás”, ridiculariza outro, e por aí vai. E nada
disso está acontecendo. E por que tais boatos tornam-se dignos de crédito? Porque
as pessoas não foram educadas para analisar e pensar sobre o que
verdadeiramente acontece.
Boatos em redes sociais podem decidir o destino de um
país? Bandeiras sem causa decidem alguma coisa? Agitadores políticos
desinformados e sem crítica fundamentada na verdade dos fatos possuem a razão? A
mídia especulativa e movida por interesses pode, indiscriminada e
irresponsavelmente, decidir quem governa e quem não governa? Claro que não, mas
dependendo da intensidade do sono que domina a consciência de muitos, o pior
pode acontecer. Administra-se um país do tamanho do Brasil com a força do grito
e da ignorância, sem vontade política e sem ética? Muitos acham que sim. Infelizmente,
a maioria dos nossos congressistas, oriundos das classes abastardas e sem
compromisso com os pobres do povo, constitui uma famigerada raça de criminosos
institucionalizados, que somente pensam em si mesmos, agem conforme seus
interesses e ainda gozam do respaldo da lei, criada por eles e em função deles.
Quem estiver pensando que uma possível cassação da
Presidenta da República dará um basta na crise política e econômica do Brasil
está redondamente equivocado. Crise política se resolve com reforma política
que modifica, efetivamente, a estrutura ultrapassada que já não responde aos
anseios da verdadeira democracia. Quem fará essa reforma? Collor de Melo, Renan
Calheiros, Tasso Jereissati, José Serra, Jair Bolsonaro, Tiririca e
companheiros congêneres? Jamais! Estes e outros tem medo de reforma política. A
reforma política deve passar, necessariamente, por uma nova Constituinte
Exclusiva. Quando o governo fala em plebiscito e conselhos de participação
popular nas instâncias de decisões, o que diz a oposição? O povo quer nos
substituir, e nós somos representantes legítimos do povo! Ora, de qual povo? Do
povo de seus grupos e familiares? Não vejo outro.
Por trás da cobertura exaustiva da mídia oficial
brasileira, encabeçada e representada pela Rede Globo, que até se parece com
urubus à procura de carniça, está o sonho de entregar novamente o país nas mãos
do partido que é inimigo até do cheiro do povo: O PSDB. Estão procurando chegar
ao poder por meios ilegítimos e ilícitos, via golpe. Aprenderam com os
militares de 1964 e querem repetir a dose. Só que estão se esquecendo de que
estamos em 2015, mas, infelizmente, com um povo constituído por uma parcela que
alimenta um saudosismo doentio em relação a um passado sombrio, tudo é
possível. Os simpatizantes do PSDB e do DEM, que encabeçam a vergonhosa
oposição ao governo, vez e outra, vão às ruas para pedir a volta da ditadura
militar. Qualquer pessoa bem informada e de bom senso logo percebe que se trata
de uma classe de gente rica e sem princípios democráticos norteadores. Esta turminha
de gente desocupada pode, de fato, derrubar um governo legitimamente eleito nas
urnas e jogar o país no precipício? Não podemos permitir uma lástima dessas.
O país precisa de água para gerar
energia e desenvolvimento. Quem fabrica água, o governo? Escutando determinadas
opiniões, às vezes, tenho a impressão que o governo possui uma indústria de
água potável e está exportando água para o deserto do Saara! São ridículas
certas análises e certas expressões oriundas de pessoas sem o mínimo de juízo
político. Como é que um povo que desperdiça 37% da água tratada pode culpar o
governo pela falta de água? Como pode um povo que desmata e polui rios e
nascentes pode culpar governo pela falta d’água? Vamos ser realistas! Vamos criar
juízo e vergonha na cara para aprendermos a lidar com nossa riqueza hídrica, a
fim de que não acabe de vez! A honestidade, o bom senso, a consciência crítica
e a boa vontade são remédios eficazes contra a ignorância política e o mal da
escassez de água. Se assim procedermos, a natureza, sábia e estressada de tanta
exploração, certamente continuará fazendo a sua parte.
Que os investigados e verdadeiramente
responsáveis pelos desvios na Petrobrás respondam, judicialmente, pelos seus
crimes. Que o Poder Judiciário saiba aplicar a lei em função do bem comum. Quem
saibamos discernir os sinais dos tempos, libertando-nos das mentiras e das
ideologias legitimadoras da exploração. Que aprendamos a crescer com a crise
financeira, situação comum em um sistema que não respeita a dignidade da pessoa
humana. Que saiamos fortalecidos e cada vez mais conscientes de nosso papel de cidadãos,
despojados do infantilismo e de posturas pouco coerentes. É o que desejamos
para este momento ímpar em que estamos inseridos na história da jovem e sofrida
democracia brasileira. Se a justiça e o bem comum prevalecerem, de fato, algo
novo surgirá; do contrário, se nos precipitarmos, agindo sob a manipulação da
mentira e da cultura do ódio, infelizmente, a situação poderá piorar,
irreversivelmente.
Tiago
de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário