sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Interrogações sobre o momento político atual

             
               Pediram-me uma palavra sobre o momento político atual. Não sou economista nem cientista político, mas cristão, cidadão, estudante e professor. Tenho o compromisso e o direito de pensar, escolher e opinar. Não somos governados por reis nem imperadores. Estamos no regime democrático de direito, e como tal, há espaço para a análise e para a discussão. Irei ser breve, mas incisivo em algumas questões que a mídia neoliberal hegemônica tende a deturpar e esconder.

            Quem foi que disse que a corrupção se iniciou, no Brasil, com os governos do PT? Quem disse mente porque não prova absolutamente nada. E não prova porque é esclerosado e não estudou a longa e sofrida história do Brasil. Basta ler qualquer livro didático, daqueles que podem ser encontrados nas escolas públicas. Qualquer um deles não esconderá que passamos praticamente 400 anos em regime de escravidão, sob as ordens do desequilibrado império português. Posteriormente, de forma esquisita inauguraram a República e, pouco tempos depois, passamos vinte anos sendo governados pelos militares. Colonização não é corrupção? Ditadura militar não é corrupção? A política neoliberal que assolou a tentativa de nova redemocratização não é corrupção? Quem defende que não é, procure estudar o real significado do termo corrupção à luz da historicidade dos fatos.

            As investigações sobre a corrupção em uma determinada estatal pode ser a causa da cassação do mandato do Presidente da República? Pode! Como é possível? Se ficar comprovado o crime de responsabilidade. Quem comprova? As páginas dos jornais? O Jornal Nacional da senhora Rede Globo? Não. Esse povo aí atende a seus interesses. O leitor pensa que a Globo está preocupada com a corrupção? Ou pensa que a notícia é destituída de interesses? Se pensa, cuide em aprender a pensar sobre aquilo que escuta. Quem não pensa e analisa, vai considerar que a história do Brasil começou a desandar a partir do governo Lula. Se chegou a essa conclusão, é bom cuidar em estudar história, filosofia, sociologia e algumas noções de ciências políticas. Tem preguiça? Então não opine sobre o que não conhece. Acredita no “tudo mastigadinho”? Seja mais inteligente!

            É de fazer vergonha a corrupção? Sim. Envergonha um possível racionamento de energia e água? Sim. Envergonha a falta de controle da inflação? Claro que sim. Isso não alegra ninguém. Mas de onde vem isso? Falta água, é culpa do governo. Falta luz, é culpa do governo. Falta poder de compra do salário mínimo, é culpa do governo. E nós, temos alguma culpa? E o sistema capitalista, selvagem e assassino, que mata centenas de pessoas em todo o mundo, através da exclusão de milhões e do enriquecimento de um punhado de gente desocupada, que enrica do dia para a noite sem muito esforço? Este sistema tem alguma culpa? Quem o mantém? Quem está a seu serviço? Se não parou para pensar possíveis respostas para estas indagações, ainda é tempo.

            É vergonhosa a preguiça mental de milhões de brasileiros que perdem seu precioso tempo nas redes sociais, “curtindo” e “compartilhando” recortes de jornais e revistas, que mais mentem do que falam a verdade dos fatos. Facilmente, cria-se um clima apocalíptico. A sensação é que chegamos ao fim dos tempos. Calunia-se, difama-se, deturpa-se, engana-se, ilude-se; cultiva-se ideologias que somente reforçam ódio, rancor, ressentimento contra pessoas, governos e instituições. “A Dilma vai tirar o direito à carteira assinada!”, inventa um; “A Dilma vai cortar o auxílio-doença”, acrescenta outro; “A Dilma recebeu dinheiro de propina na Petrobrás”, ridiculariza outro, e por aí vai. E nada disso está acontecendo. E por que tais boatos tornam-se dignos de crédito? Porque as pessoas não foram educadas para analisar e pensar sobre o que verdadeiramente acontece.

            Boatos em redes sociais podem decidir o destino de um país? Bandeiras sem causa decidem alguma coisa? Agitadores políticos desinformados e sem crítica fundamentada na verdade dos fatos possuem a razão? A mídia especulativa e movida por interesses pode, indiscriminada e irresponsavelmente, decidir quem governa e quem não governa? Claro que não, mas dependendo da intensidade do sono que domina a consciência de muitos, o pior pode acontecer. Administra-se um país do tamanho do Brasil com a força do grito e da ignorância, sem vontade política e sem ética? Muitos acham que sim. Infelizmente, a maioria dos nossos congressistas, oriundos das classes abastardas e sem compromisso com os pobres do povo, constitui uma famigerada raça de criminosos institucionalizados, que somente pensam em si mesmos, agem conforme seus interesses e ainda gozam do respaldo da lei, criada por eles e em função deles.

            Quem estiver pensando que uma possível cassação da Presidenta da República dará um basta na crise política e econômica do Brasil está redondamente equivocado. Crise política se resolve com reforma política que modifica, efetivamente, a estrutura ultrapassada que já não responde aos anseios da verdadeira democracia. Quem fará essa reforma? Collor de Melo, Renan Calheiros, Tasso Jereissati, José Serra, Jair Bolsonaro, Tiririca e companheiros congêneres? Jamais! Estes e outros tem medo de reforma política. A reforma política deve passar, necessariamente, por uma nova Constituinte Exclusiva. Quando o governo fala em plebiscito e conselhos de participação popular nas instâncias de decisões, o que diz a oposição? O povo quer nos substituir, e nós somos representantes legítimos do povo! Ora, de qual povo? Do povo de seus grupos e familiares? Não vejo outro.

            Por trás da cobertura exaustiva da mídia oficial brasileira, encabeçada e representada pela Rede Globo, que até se parece com urubus à procura de carniça, está o sonho de entregar novamente o país nas mãos do partido que é inimigo até do cheiro do povo: O PSDB. Estão procurando chegar ao poder por meios ilegítimos e ilícitos, via golpe. Aprenderam com os militares de 1964 e querem repetir a dose. Só que estão se esquecendo de que estamos em 2015, mas, infelizmente, com um povo constituído por uma parcela que alimenta um saudosismo doentio em relação a um passado sombrio, tudo é possível. Os simpatizantes do PSDB e do DEM, que encabeçam a vergonhosa oposição ao governo, vez e outra, vão às ruas para pedir a volta da ditadura militar. Qualquer pessoa bem informada e de bom senso logo percebe que se trata de uma classe de gente rica e sem princípios democráticos norteadores. Esta turminha de gente desocupada pode, de fato, derrubar um governo legitimamente eleito nas urnas e jogar o país no precipício? Não podemos permitir uma lástima dessas.

            O país precisa de água para gerar energia e desenvolvimento. Quem fabrica água, o governo? Escutando determinadas opiniões, às vezes, tenho a impressão que o governo possui uma indústria de água potável e está exportando água para o deserto do Saara! São ridículas certas análises e certas expressões oriundas de pessoas sem o mínimo de juízo político. Como é que um povo que desperdiça 37% da água tratada pode culpar o governo pela falta de água? Como pode um povo que desmata e polui rios e nascentes pode culpar governo pela falta d’água? Vamos ser realistas! Vamos criar juízo e vergonha na cara para aprendermos a lidar com nossa riqueza hídrica, a fim de que não acabe de vez! A honestidade, o bom senso, a consciência crítica e a boa vontade são remédios eficazes contra a ignorância política e o mal da escassez de água. Se assim procedermos, a natureza, sábia e estressada de tanta exploração, certamente continuará fazendo a sua parte.

            Que os investigados e verdadeiramente responsáveis pelos desvios na Petrobrás respondam, judicialmente, pelos seus crimes. Que o Poder Judiciário saiba aplicar a lei em função do bem comum. Quem saibamos discernir os sinais dos tempos, libertando-nos das mentiras e das ideologias legitimadoras da exploração. Que aprendamos a crescer com a crise financeira, situação comum em um sistema que não respeita a dignidade da pessoa humana. Que saiamos fortalecidos e cada vez mais conscientes de nosso papel de cidadãos, despojados do infantilismo e de posturas pouco coerentes. É o que desejamos para este momento ímpar em que estamos inseridos na história da jovem e sofrida democracia brasileira. Se a justiça e o bem comum prevalecerem, de fato, algo novo surgirá; do contrário, se nos precipitarmos, agindo sob a manipulação da mentira e da cultura do ódio, infelizmente, a situação poderá piorar, irreversivelmente.


Tiago de França

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