“Quem
se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo,
conservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12, 25).
Estas palavras de Jesus constituem um apelo ao amor. O apego
à própria vida é um mal que precisa ser vencido. Toda pessoa é chamada a viver
sua vida na liberdade. Apego é escravidão e gera sofrimento. Facilmente, nos
apegamos às pessoas e às coisas, às lembranças e aos acontecimentos; enfim, aos
nossos esquemas mentais. Em si mesma, a vida é livre e leve, mas as pessoas
tendem a transformá-la em um fardo insuportável. A qualidade da nossa vida não
depende da quantidade de bens, mas do nível de liberdade que cada um tem. Quanto
mais livre, mais feliz; quanto mais apegado, mais infeliz. Tudo é simples. Não há
segredo. É o caminho para ser feliz neste mundo.
Este é o caminho inaugurado por Jesus: a proclamação da
liberdade para que surja uma humanidade nova. Abrindo-se às pessoas e
amando-as, Jesus realizou esta proclamação. Ele se dirigiu, especialmente, às
pessoas que mais precisavam do seu amor: doentes, órfãos, viúvas, os cegos,
mulheres, crianças, pecadores públicos, revelando-lhes a misericórdia e a
ternura de Deus. Ele permaneceu com estas pessoas. Elas eram, são e sempre
serão suas irmãs prediletas. Jesus se compadece dos sofredores. No Reino de
Deus, os pobres sofredores estão no centro. Assim, ele revela o seu caminho de liberdade,
ensinando que a liberdade acontece no amor ao próximo. Somente é livre os que
amam como ele amou: na generosidade, na alegria e na gratuidade.
Quando se ama como Jesus amou, passa-se a ver o poder, o
prestígio e a riqueza como coisas supérfluas, prisões para a alma e para o
corpo. O mundo está dominado por relações conflituosas de poder, e os conflitos
ocorrem porque as pessoas não se contentam com pouco poder. Apegando-se a este,
querem sempre mais, desejam dominar, querem permanecer no poder. A identificação
é tão violenta que desejam ser confundidas com o poder. Na vida dessas pessoas
não há lugar para o amor. Elas podem até fazer pequenos gestos de amor, podem
até falar sobre o amor, mas seus corações estão dominados pela sede de poder. O
mesmo se pode falar do prestígio e da riqueza.
Um exemplo claro para ilustrar é o que está acontecendo
atualmente no Brasil: políticos e empresários que não fazem outra coisa na vida
senão procurar o poder e o dinheiro. Para isso, deturpam a democracia e
assaltam os bens públicos. São pessoas ricas que não se satisfazem com o que já
possuem. Não precisam, mas querem sempre mais. A sede de poder e dinheiro é tão
grande que não medem as consequências dos desvios: não pensam nas pessoas que
dependem do dinheiro público a ser transformado em serviços públicos ao povo
brasileiro, nem se preocupam com a possibilidade de serem surpreendidas, pegas
e punidas pela justiça. A corrupção, para estas pessoas, é algo normal, pois
faz parte de suas vidas. Elas não se veem longe da corrupção. O mesmo ocorre no
cotidiano de milhões de brasileiros que não perdem a oportunidade para também
agir de forma ilícita e, portanto, desonesta.
A Quaresma é tempo propício para pensar e repensar a
vida. Os que professam a fé em Jesus precisam fazer a experiência do desapego. É
impossível seguir a Jesus estando apegado à própria vida. O apego é impedimento
ao amor, mas este é o único capaz de vencê-lo. As práticas religiosas são
importantes, mas por si mesmas não conseguem libertar as pessoas do apego. Só o
amor liberta. Por isso, de nada adiantam as práticas quaresmais (jejum, oração,
esmola, via sacra, celebrações penitenciais, confissões etc.) se as pessoas
continuam isoladas nos seus mundos, na satisfação egoísta de seus próprios
interesses. O que Deus quer não é a repetição tradicional de atos religiosos,
mas a conversão do coração. Esta conversão exige renúncia, que passa pela
mortificação. Trata-se de uma penitência que não possui lugar somente no tempo
quaresmal, mas deve perdurar por toda a vida. Não há conversão sem renúncia.
Colocar-se no caminho de liberdade, que é o caminho de
Jesus, não é algo tão difícil porque o próprio Jesus permanece conosco. Sua presença
é força na caminhada. Ele é a segurança, o guia e a razão de ser do caminho. Comprometer-se
com Jesus é atender ao apelo ao amor. É algo antigo e sempre novo. Cremos ser o
único caminho capaz de salvar a humanidade do caos no qual se encontra. Do contrário,
estamos, desde logo, sentenciados à ruína, num caminho sem volta, enforcados
pela frieza e indiferença. Façamos, pois, a experiência de caminhar com Jesus,
permanecendo com ele até as últimas consequências. Fora deste caminho não há
seguimento nem salvação. Este é o núcleo da fé cristã.
Tiago de França