sábado, 14 de março de 2015

As manifestações de 15 de março

           
           Grupos e pessoas isoladas, por meio das redes sociais, fazem uma convocação: Ir às ruas no dia 15 de março, mas para quê? Antes, precisamos identificar quem são essas pessoas. Em primeiro lugar, são pessoas da alta classe média. Em seguida, as que estão ligadas aos partidos de oposição ao atual governo (PSDB e DEM, principalmente.). Entre elas, podemos ainda encontrar aquelas que se identificam com os anseios destas e, por fim, há outras que vão somente porque não programaram nada para o domingo. Vão para ver gente.

         O que querem? As primeiras, querem reivindicar a conquista e a manutenção de seus privilégios, pois não desejam perder seu status. As segundas, querem a cassação do mandato presidencial de Dilma Rousseff. As últimas se dividem em três categorias: umas querem reforma política entre outras reformas, outras querem a ditadura militar para “botar ordem” no país e, outras, ainda, não reivindicam nada. São figurantes. Claro que, devido a pluralidade de anseios e ideologias, a ordem destes fatores podem se subverter, mas, a grosso modo, cremos que assim será.

            A cassação do mandato presidencial é um dos temas mais mencionados. Se assim ocorresse, como ficaria? Michel Temer, do PMDB, seria o presidente da República. Mudaria, de fato, alguma coisa para melhor? Tenho minhas dúvidas. O que está por trás desse suposto pedido de cassação de mandato da Presidenta? Quando o pedido vem da oposição e de seus simpatizantes, percebe-se claramente um ódio que leva a querer tirá-la a todo custo do poder. Muitos preferem um Adolf Hitler que a Dilma Rousseff na Presidência! Sabemos bem que todo ódio é irracional, ou, melhor dito, leva as pessoas à irracionalidade. A oposição, seus simpatizantes e inúmeros eleitores do Aécio Neves não aceitam a verdade de que ele somente poderá tentar novamente chegar à Presidência em 2018.

            A falta de aceitação da realidade costuma gerar revolta. Por isso, nas redes sociais, o tom das palavras de muitos organizadores das manifestações se parece mais com o de adolescentes revoltados do que com pessoas adultas equilibradas. Os gestos e palavras são de imposição, ordem, militarismo, guerra, ódio. Uma parcela significativa deles, desconhecendo a história, não está preocupada com a necessidade de reformas democráticas, mas querem derrubar a Presidenta como se ela fosse a responsável absoluta pelas crises política, econômica, hídrica etc. Acreditam também, ilusoriamente, que sua possível queda resolveria tais crises. Ninguém precisa ser cientista político ou economista para reconhecer a irracionalidade de tais ideias.

            Pouco mais de 50 milhões de pessoas votaram no candidato tucano nas eleições presidenciais de 2014. Neste dia 15 de março, estes eleitores não vão às ruas, mas somente uma pequena parcela deles. As manifestações geralmente não vingam porque faltam bandeiras democráticas e necessárias. Manifestações que possuem como combustíveis o espírito de golpe e de ódio não dão em nada porque na democracia estas coisas não vingam. Apesar da violência que insiste em massacrar nosso povo, a grande maioria dos brasileiros abomina o ódio. Não somos um povo de guerras, como ocorre no Oriente Médio. Temos nossos conflitos, mas não chegamos a tanto. Os conflitos históricos que já tivemos foram em prol da justiça social em vista da redemocratização do país. O povo não dá golpe, mas é vítima dele. Golpe é sempre ato antidemocrático de uma classe privilegiada de pessoas, que são inimigas da democracia.

            O governo certamente está atento às vozes oriundas das ruas. De uns tempos para cá, particularmente a partir dos governos do ex-presidente Lula, passou-se a ter certa abertura ao diálogo. Claro que há um longo caminho a percorrer no diálogo entre o povo e o governo. Somos uma jovem democracia pouco habituada ao diálogo. Muita coisa ainda se resolve na força bruta e segundo a “lei do mais forte”. Por isso, as manifestações são bem-vindas e necessárias. Nossa Constituição republicana assegura o direito à liberdade de expressão. Este direito precisa ser exercido dentro dos limites legais. A democracia exige e convida à discussão e à participação. Isto desautoriza todo e qualquer cidadão a ir às ruas para fazer o oposto: depredar o patrimônio público e privado, fazer apologia ao crime, reivindicar uma época contrária ao atual regime democrático de direito; enfim, o país precisa de cidadãos livres e conscientes de seus direitos e deveres, e não de arruaceiros sem causa.

            Arruaceiros sem causa somente causam desordem social, portanto, devem ser tratados no rigor da lei. Quem não deseja o bem do país e age em prol do seu retrocesso deve ser contido no seu ódio. Na verdade, o que estamos precisando neste momento político de nosso país é a instauração imediata de uma nova Constituinte Exclusiva para a efetivação da reforma política porque, infelizmente, a maioria dos nossos deputados e senadores não está interessada em reforma política. Enquanto aguardamos reformas, nossos deputados inventam de criar novos privilégios, como, por exemplo, passagens aéreas para seus cônjuges. O Parlamento brasileiro, na sua atual configuração, é formado por um número assustador de políticos corruptos e corruptores, conservadores e autoritários, destituídos de senso de justiça e equidade.

            Os pobres do povo brasileiro não estarão nas ruas neste dia 15 de março, salvo alguns poucos. A verdade é clara e evidente: agitadores políticos convocam, pelas redes sociais, os que se identificam, a rede Globo mostra, grita-se em vão por impeachment, e, posteriormente, todos voltam para suas casas, frustrados. Pelo que se vê, isto é pouco democrático e nada resolve. Não há ideias claras e democraticamente propostas aos governantes. Critica-se sem propostas coerentes, claras e democráticas. Para dar um basta nos desmandos políticos só um caminho é possível: Que passe a existir mecanismos de fiscalização e participação popular em todas as instâncias de governo, e que o povo se interesse em utilizá-los. Falta educação política nas escolas, nas famílias e nos demais segmentos sociais. Meros protestos, desprovidos de interesse em participar efetivamente das decisões governamentais, nada resolvem. O povo brasileiro precisa tomar consciência do valor da participação, pois enquanto permanecer longe dos políticos e estes longe daquele, há pouca esperança de transformação.


Tiago de França

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