Grupos e pessoas
isoladas, por meio das redes sociais, fazem uma convocação: Ir às ruas no dia
15 de março, mas para quê? Antes, precisamos identificar quem são essas
pessoas. Em primeiro lugar, são pessoas da alta classe média. Em seguida, as
que estão ligadas aos partidos de oposição ao atual governo (PSDB e DEM,
principalmente.). Entre elas, podemos ainda encontrar aquelas que se
identificam com os anseios destas e, por fim, há outras que vão somente porque
não programaram nada para o domingo. Vão para ver gente.
O que querem? As primeiras, querem reivindicar a conquista
e a manutenção de seus privilégios, pois não desejam perder seu status. As segundas, querem a cassação
do mandato presidencial de Dilma Rousseff. As últimas se dividem em três
categorias: umas querem reforma política entre outras reformas, outras querem a
ditadura militar para “botar ordem” no país e, outras, ainda, não reivindicam
nada. São figurantes. Claro que, devido a pluralidade de anseios e ideologias,
a ordem destes fatores podem se subverter, mas, a grosso modo, cremos que assim
será.
A cassação do mandato presidencial é um dos temas mais
mencionados. Se assim ocorresse, como ficaria? Michel Temer, do PMDB, seria o
presidente da República. Mudaria, de fato, alguma coisa para melhor? Tenho minhas
dúvidas. O que está por trás desse suposto pedido de cassação de mandato da
Presidenta? Quando o pedido vem da oposição e de seus simpatizantes, percebe-se
claramente um ódio que leva a querer tirá-la a todo custo do poder. Muitos preferem
um Adolf Hitler que a Dilma Rousseff na Presidência! Sabemos bem que todo ódio
é irracional, ou, melhor dito, leva as pessoas à irracionalidade. A oposição,
seus simpatizantes e inúmeros eleitores do Aécio Neves não aceitam a verdade de
que ele somente poderá tentar novamente chegar à Presidência em 2018.
A falta de aceitação da realidade costuma gerar revolta. Por
isso, nas redes sociais, o tom das palavras de muitos organizadores das
manifestações se parece mais com o de adolescentes revoltados do que com
pessoas adultas equilibradas. Os gestos e palavras são de imposição, ordem,
militarismo, guerra, ódio. Uma parcela significativa deles, desconhecendo a
história, não está preocupada com a necessidade de reformas democráticas, mas
querem derrubar a Presidenta como se ela fosse a responsável absoluta pelas
crises política, econômica, hídrica etc. Acreditam também, ilusoriamente, que sua
possível queda resolveria tais crises. Ninguém precisa ser cientista político
ou economista para reconhecer a irracionalidade de tais ideias.
Pouco mais de 50 milhões de pessoas votaram no candidato
tucano nas eleições presidenciais de 2014. Neste dia 15 de março, estes
eleitores não vão às ruas, mas somente uma pequena parcela deles. As manifestações
geralmente não vingam porque faltam bandeiras democráticas e necessárias. Manifestações
que possuem como combustíveis o espírito de golpe e de ódio não dão em nada
porque na democracia estas coisas não vingam. Apesar da violência que insiste
em massacrar nosso povo, a grande maioria dos brasileiros abomina o ódio. Não somos
um povo de guerras, como ocorre no Oriente Médio. Temos nossos conflitos, mas
não chegamos a tanto. Os conflitos históricos que já tivemos foram em prol da
justiça social em vista da redemocratização do país. O povo não dá golpe, mas é
vítima dele. Golpe é sempre ato antidemocrático de uma classe privilegiada de
pessoas, que são inimigas da democracia.
O governo certamente está atento às vozes oriundas das
ruas. De uns tempos para cá, particularmente a partir dos governos do
ex-presidente Lula, passou-se a ter certa abertura ao diálogo. Claro que há um
longo caminho a percorrer no diálogo entre o povo e o governo. Somos uma jovem
democracia pouco habituada ao diálogo. Muita coisa ainda se resolve na força
bruta e segundo a “lei do mais forte”. Por isso, as manifestações são
bem-vindas e necessárias. Nossa Constituição republicana assegura o direito à
liberdade de expressão. Este direito precisa ser exercido dentro dos limites
legais. A democracia exige e convida à discussão e à participação. Isto desautoriza
todo e qualquer cidadão a ir às ruas para fazer o oposto: depredar o patrimônio
público e privado, fazer apologia ao crime, reivindicar uma época contrária ao
atual regime democrático de direito; enfim, o país precisa de cidadãos livres e
conscientes de seus direitos e deveres, e não de arruaceiros sem causa.
Arruaceiros sem causa somente causam desordem social, portanto,
devem ser tratados no rigor da lei. Quem não deseja o bem do país e age em prol
do seu retrocesso deve ser contido no seu ódio. Na verdade, o que estamos
precisando neste momento político de nosso país é a instauração imediata de uma
nova Constituinte Exclusiva para a efetivação da reforma política porque,
infelizmente, a maioria dos nossos deputados e senadores não está interessada
em reforma política. Enquanto aguardamos reformas, nossos deputados inventam de
criar novos privilégios, como, por exemplo, passagens aéreas para seus
cônjuges. O Parlamento brasileiro, na sua atual configuração, é formado por um
número assustador de políticos corruptos e corruptores, conservadores e
autoritários, destituídos de senso de justiça e equidade.
Os pobres do povo brasileiro não estarão nas ruas neste
dia 15 de março, salvo alguns poucos. A verdade é clara e evidente: agitadores
políticos convocam, pelas redes sociais, os que se identificam, a rede Globo
mostra, grita-se em vão por impeachment, e, posteriormente, todos voltam para
suas casas, frustrados. Pelo que se vê, isto é pouco democrático e nada
resolve. Não há ideias claras e democraticamente propostas aos governantes. Critica-se
sem propostas coerentes, claras e democráticas. Para dar um basta nos desmandos
políticos só um caminho é possível: Que passe a existir mecanismos de
fiscalização e participação popular em todas as instâncias de governo, e que o
povo se interesse em utilizá-los. Falta educação política nas escolas, nas
famílias e nos demais segmentos sociais. Meros protestos, desprovidos de
interesse em participar efetivamente das decisões governamentais, nada
resolvem. O povo brasileiro precisa tomar consciência do valor da participação,
pois enquanto permanecer longe dos políticos e estes longe daquele, há pouca
esperança de transformação.
Tiago de França
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