“Não
façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo
2, 16).
O templo é símbolo da religião. Para o povo judeu é o
lugar da morada de Deus. Portanto, lugar sagrado, digno de veneração e
respeito. Deve-se ter zelo pela Casa do Senhor, pois nela os crentes o adoram. Esta
era a mentalidade e a regra. Todo crente tinha que ir ao templo porque assim
Deus o quis. Jesus, na passagem do evangelista João (cf. 2, 13 – 25),
surpreende a todos: aparece com um chicote de cordas, expulsando os
comerciantes do templo. Para quem está acostumado com a imagem de um Cristo
manso e cheio de ternura, Jesus com chicote nas mãos parece ser um pouco
assustador; mas foi isto que aconteceu, segundo o relato unânime dos
evangelistas.
Os comerciantes do templo representam, hoje, todos
aqueles que se utilizam do nome de Deus e da religião para explorar as pessoas.
Infelizmente, precisamos ter a humildade para admitir que em todas as Igrejas
cristãs podemos encontrá-las. Isto não constitui nenhuma novidade. Facilmente,
ganha-se muito dinheiro, prestígio e poder em nome de Deus. Esta vergonhosa
exploração religiosa é, sem dúvida alguma, uma das formas de violência que
atingem o ser humano e, pelo que se vê, é das mais perigosas. A atitude
enérgica de Jesus mostra que não se trata de um problema novo. Ele teve que
lidar com a exploração religiosa que ocorria no Judaísmo de sua época.
Transformar os templos religiosos em centros de comércio
é um pecado gravíssimo. Hoje, assistimos a negócios em nome da fé, no interior
de nossas Igrejas. Prega-se um Deus fonte de bens, que exige dinheiro para
operar milagres e bênçãos. As pessoas são chamadas a investirem na fé. Quanto maior
o investimento, maior é o resultado. Deus está ligado à prosperidade. Crer nele
é crer na prosperidade da própria vida. Toda sorte de bens e milagres vem da
bondade de Deus, mas para ele agir é necessário dar-lhe o que lhe pertence, ou
seja, dízimos e ofertas generosas. Como o dinheiro que circula nas Igrejas não
é passível de fiscalização por parte do governo, então o enriquecimento ilícito
se torna cada vez mais uma prática comum.
Para isto, busca-se construir templos cada vez mais
luxuosos, que custam dezenas e centenas de milhões de reais. Enquanto muita
gente morre de fome no mundo, muitas de nossas Igrejas estão preocupadas com a
construção e manutenção de templos luxuosos. A justificativa é conhecida por
todos: Dar a Deus o melhor. Ele é o Senhor. O objetivo é acolher o maior número
de pessoas para “evangelizá-las”.
Na
verdade, o que está por trás da citação insistente e fervorosa de textos
bíblicos rigorosamente escolhidos para tal fim é a sede de poder, de prestígio
e de dinheiro. Para onde vai este dinheiro? Certamente não vai para os pobres,
pois são estes que, na maioria das vezes, levam seu suado dinheiro para
depositarem nos cofres destes templos. A maioria do dinheiro arrecadado vai
parar nas contas bancárias de muitos líderes religiosos. A outra parte serve
para investir na construção e manutenção dos templos, assim como no marketing religioso.
Este comércio da fé merece o chicote da denúncia porque é
o oposto daquilo que Jesus pediu. Não encontramos nos relatos evangélicos
nenhuma recomendação de Jesus para a edificação de templos religiosos. É verdade
que ele frequentou o templo de Jerusalém e as sinagogas de algumas cidades, mas
é verdade também que reprovou, com chicote nas mãos, a exploração religiosa que
acontecia nestes lugares. Hoje, assistimos a uma preocupação exagerada, por
parte de muitos líderes religiosos, no que se refere à construção e manutenção
de templos. Investe-se muito dinheiro em ouro, prata, mármores etc. e, muitas
vezes, se esquece da caridade evangélica para com os pobres. Geralmente, os
pobres não frequentam templos luxuosos. Podem até contribuir para a construção
e manutenção, mas lá não aparecem.
Por fim, é preciso considerar, a partir deste relato
joanino, um ensinamento fundamental para o Cristianismo: Os templos religiosos
não podem ocupar o centro da vida das comunidades cristãs. Segundo os
evangelistas, na maioria dos casos, Jesus se encontrava com as pessoas nas
casas, ruas, praças, beira de caminho, praias e campos. Nestes lugares se
encontrava com os pecadores públicos, excluídos e condenados pela sociedade e
pela religião da época.
Aqui
faço memória de um testemunho evangélico que entrou para a história da Igreja
no Brasil: Alfredinho, padre missionário suíço que morou na periferia de
Crateús – CE e, posteriormente, na favela Lamartine, em Santo André – SP. Viveu
e morreu com o povo de rua. Encontrou-se com Jesus na pessoa dos pobres
sofredores. Testemunha da ressurreição de Jesus, mostrou com a própria vida que
a pregação do evangelho acontece mais no meio do povo, na simplicidade da vida
cotidiana.
Por
isso, as grandes e solenes liturgias de muitos templos religiosos, desligadas
do cotidiano da vida do povo de Deus, são vazias e sem nenhum significado. Certamente,
causam bem-estar e alegria passageira, mas permanecem longe daquilo que Jesus
pediu. Oremos em nossos templos sem nos esquecermos de que a missão do cristão
acontece fora dele, no encontro com Jesus na pessoa do outro. Este costuma ser
sempre o desconhecido, o homem caído no caminho de Jerusalém, vítima dos
assaltos da vida, à espera de socorro, com suas feridas abertas. O que estamos
fazendo quando nos deparamos com as feridas abertas do outro?... Não adianta ir
orar por ele no templo, pois suas feridas continuarão abertas.
Tiago
de França
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