Há pouco mais de um ano,
o povo brasileiro assiste, estarrecido, aos escândalos de corrupção. Parece
novidade, mas não o é. Fala-se que o povo está cansado de corrupção, mas de que
povo estamos falando? Qual o nível de integridade do povo brasileiro? Por que
políticos corruptos chegam tão facilmente ao poder? Onde está a corrupção? O
que o evangelho de Jesus pode nos ensinar a respeito da missão do cristão
diante desta vergonhosa situação? Sobre estas indagações, queremos oferecer
algumas provocações, que julgamos oportunas para o momento atual.
Geralmente, imputa-se a uma pessoa, grupo ou partido o
mal da corrupção. A mídia dar esta ênfase. Atualmente, a culpa da crise que
assola o país é do PT, partido do governo. A oposição, aproveitando-se da
situação que lhe parece favorável, fala de ética e de combate à corrupção.
Alguns políticos falam como se não devessem boas explicações à Justiça por
causa de seus crimes não apurados. Pessoas da situação e da oposição estão
metidas na corrupção, e esta não faz parte somente da história recente do
Brasil, mas é inerente às relações humanas e institucionais desde que o homem
inventou de viver em sociedade.
Por isso, a corrupção não é problema de uma pessoa, grupo
ou partido, mas de um sistema político falido, ultrapassado e,
consequentemente, arcaico. Sistema que já nasceu viciado. No fundo, os que mais
lucram com ele, na verdade, não querem reformá-lo, reinventá-lo ou pensar
outras formas mais eficientes de fazer política. Neste sentido, o que podemos
chamar de conversão política deve
surgir das bases, do povo. Considerando que o povo está mal representado, não
podemos esperar que os maus representantes façam uma reforma política que vise
o bem comum. Este bem comum não é considerado.
Isto parece ser o âmago da questão: A necessidade de uma
reforma política promovida a partir do povo, democraticamente. Fora disso, não
há mecanismos de controle e de anticorrupção que deem conta de erradicar os
desvios de conduta na política. Tudo continuará do mesmo jeito. Novos desvios
surgirão e os mais pobres do povo continuarão sendo aqueles que mais sofrem,
que mais sentem as consequências de tais desvios. Não basta que o Judiciário
julgue, contemplando o devido processo legal e suas garantias legais e, portanto,
constitucionais. Algo mais é preciso fazer: Reformar o sistema, tendo em vista
o bem comum, a vida do povo brasileiro. Um sistema viciado, inevitavelmente, é
caminho aberto para a corrupção e são poucos os humanos que resistem às
tentações do poder, do prestígio e da riqueza.
Trazendo a questão para o âmbito pessoal e interpessoal,
cremos que toda pessoa poderia se perguntar: Eu sou contra a corrupção e a
condeno, mas eu sou honesto e transparente comigo mesmo e com os outros?...
Não é difícil encontrarmos pessoas incoerentes, ou seja, acusam os corruptos e
corruptores, sendo que elas mesmas estão atoladas até o pescoço na corrupção. Na
sala de aula, o aluno acusa o deputado fulano, mas na hora da prova não perde a
ocasião para “colar”; no supermercado, o dono acusa o senador beltrano, mas os
preços de suas mercadorias são exorbitantes; na Igreja, o pastor afirma que a
culpa da crise é exclusivamente do governo, mas se utiliza da palavra de Deus
para arrancar dinheiro do bolso de seus fiéis; e, assim, tantos outros exemplos
poderiam ser mencionados.
Todo ato isolado de corrupção repercute, inevitavelmente,
no todo da coletividade. Toda pessoa corrupta prejudica a si própria e à
sociedade na qual está inserida. A tendência à corrupção parece generalizada.
Por isso, é preciso ser vigilante. Os apelos oriundos das propostas são fortes
porque oferecem vantagens que asseguram uma vida fácil e cômoda. Numa sociedade
em que se busca cada vez mais o conforto, tirar vantagem em tudo parece ser
coisa normal. Fala-se que o mundo é dos mais espertos. Por trás dessa esperteza
está a astúcia daqueles que não tem consciência política do bem comum: egoístas
e materialistas, que não se satisfazem com pouca coisa. Querem sempre mais, são
insaciáveis em seus desejos e ambições.
Quem professa a fé cristã sabe que o Evangelho é a lei
que rege a comunidade dos seguidores de Jesus de Nazaré. Diante do sistema
opressor que ceifava a vida dos pobres de seu tempo, Jesus ensinou o remédio
da fraternidade. Trata-se de um remédio que cura e liberta da
corrupção. Nesta, vigoram os interesses pessoais e corporativistas; na
fraternidade, vigora o amor que gera comunhão, igualdade, liberdade e
participação. Na corrupção, as pessoas são escravas do dinheiro, do prestígio e
do poder. Elas tendem a dominar e, assim, subjugar umas às outras. Na
fraternidade, há o interesse pela preservação e promoção da justiça, que tem
como frutos, entre outros, a dignidade da pessoa humana e a paz.
Na fraternidade, as pessoas aprendem o valor e o lugar do
outro. Este não é um inimigo a ser vencido e/ou eliminado, mas um irmão e
companheiro de caminhada. A participação na vida do outro acontece por meio da
amizade e da cultura do encontro. Encontrar-se com o outro é colocar-se à sua
disposição, numa atitude de serviço. A fraternidade é alicerçada na cultura da
solidariedade, que vence a cultura da indiferença e da eliminação do outro.
Eis,
portanto, a saída para as inúmeras crises que assolam a humanidade neste início
de século XXI: A instauração de relações verdadeiramente fraternas e, por isso
mesmo, promotoras da justiça e da paz. Todos anseiam por justiça e paz. Estas
só são possíveis quando nos convencermos da necessidade de sermos fraternos.
Ser fraterno é ser com o outro e para o outro. A paz é fruto da justiça e esta
é fruto da fraternidade. Sejamos, pois, fraternos e, certamente, uma nova
humanidade surgirá!
Tiago de França
2 comentários:
parabéns Tiago, compartilho de suas ideias e essa gostaria de compartilhar no meu face
Obrigado, caro leitor!
Fique à vontade para compartilhar.
Grande abraço!
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