quarta-feira, 1 de abril de 2015

Até quando?

“O Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Isaías 50, 7).

            Até quando assistiremos ao clamor inconsolável das mães, que choram dolorosamente a morte de seus filhos, brutalmente assassinados nas ruas, praças, avenidas e vielas do mundo. Mortos pela polícia, pelos grupos de extermínio, pelo Estado Islâmico, pela bala perdida.

            Até quando escutaremos o clamor da Mãe Terra, cansada e abatida, vítima da exploração irracional do ser humano. Perturbada, já não sabe o que fazer e responde com chuvas demasiadas, secas, tsunamis, temporais etc. Ela deseja ardentemente retomar sua harmonia porque quer cumprir sua missão: continuar dando e mantendo a vida.

            Até quando estaremos expostos ao capitalismo selvagem, que dita a lei do “salve-se quem puder!” Lei que gera exclusão, marginalização e morte; que tem transformado o mundo em palco de batalhas no qual os mais ricos sempre vencem em detrimento dos mais pobres dos povos.

            Até quando iremos aceitar a intolerância e a exploração religiosas, que discriminam, excluem e matam em nome da idolatria, que deturpa a imagem do verdadeiro Deus de todas as raças, povos, línguas e culturas. Pessoas são vítimas de um número cada vez mais crescente dos que se apegam às suas tradições e doutrinas, desprezando o amor, a justiça e a misericórdia.

            Até quando vamos suportar os constantes assaltos aos cofres públicos, efetivados por quem foi eleito nas urnas com a missão de promover o bem comum, assim como pelos empresários sedentos de dinheiro e poder. Milhões de brasileiros padecem pela falta de serviços públicos eficientes, falta gerada pelos inúmeros desvios de dinheiro público em todas as esferas da administração pública.

            Até quando ficaremos de braços cruzados diante do grito dos sofredores, caídos em nossas famílias, Igrejas, bairros e locais de trabalho. Omissos, fazemos de conta que nada sabemos nem vemos. Assumimos, na maioria dos casos, o papel daqueles que empurram a lança para ver o sangue jorrar. Alienados, pedimos pena de morte, redução da maioridade penal, mais prisões, mais extermínio da juventude, mais violência.

            Até quando nos recusaremos a prestar culto ao verdadeiro Deus de Israel, Pai amoroso e Libertador, que enviou seu Filho amado para nos mostrar o único caminho que conduz à salvação: o amor. Por que cedemos mais à indiferença que ao amor? Por que cedemos mais ao rancor, ressentimento e mágoa que ao perdão? Por que caímos na tentação de brigarmos por motivos banais? Por que entregamos nossos corações tão facilmente a toda espécie de sentimento ruim e gerador de morte?...

            A celebração da paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré é um convite à conversão do coração e à mudança de mentalidade. Quem nele acredita e põe sua esperança jamais se decepciona. Estamos acostumados a celebrar a Páscoa de Jesus todos os anos, mas parece que não passa de mera repetição litúrgica de rituais. Celebra-se a Páscoa e, muitas vezes, tudo continua do mesmo jeito: as pessoas não ressuscitam. Só o amor é capaz de nos ressuscitar. Este amor nos faz peregrinos no caminho de Jesus: estreito, longo e pedregoso. Unidos à cruz de Cristo Jesus com ele ressuscitamos para uma vida nova e, assim, nele renovaremos a face da terra. Isto é Páscoa. De nada adianta prestarmos culto nos templos se nosso coração está longe de Deus. O mundo e nossas Igrejas precisam de pessoas renovadas no amor, livres para construir o Reino de Deus.

            No Espírito de Jesus, presente e atuante no meio de nós, desejo a todos uma FELIZ PÁSCOA!

            Fraternalmente,

Tiago de França 

2 comentários:

socorro barros disse...

Muito bom o seu texto, Tiago. Estamos vivenciando situações de extrema violência ao ser humano e ao nosso ambiente. Para onde estamos caminhando? Que sociedade é essa?

Tiago de França disse...

Obrigado, Socorro! Estamos, realmente, em tempos difíceis.