“Como
o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (Jo
15, 9).
O amor caiu na banalização. Muito se fala sobre o amor e
há quem o confunda com o egoísmo. O amor continua sendo uma experiência exigente,
fonte de alegria e salvação para todos aqueles que o acolhem. A espiritualidade
cristã nos desafia, propondo-nos o seguinte: Amar como Jesus amou. Precisamos
amar como Jesus, ou seja, na liberdade e para a liberdade.
O
verdadeiro amor liberta, o falso amor prende e aliena. Aliás, onde há prisão e
alienação não há amor, mas egoísmo. Se com nosso amor prendemos e alienamos as
pessoas e dizemos que as amamos, na verdade, estamos enganados. O verdadeiro
amor não prende nem é interesseiro. Em outras palavras, o amor não serve para
ser o meio pelo qual podemos nos aproveitar das pessoas. Onde há a busca pela
satisfação dos interesses não há amor, mas egoísmo.
Quem verdadeiramente ama sempre almeja libertar-se e
ajudar na libertação do outro. É o que Jesus nos ensina: O amor para termos
vida plena. As pessoas podem possuir todos os bens, mas a vida e a liberdade não
dependem desses bens. Elas podem também adquirir toda a ciência, mas a vida
também não depende do conteúdo de seus conhecimentos. Elas ainda podem ter boas
intenções e desejos, mas a vida requer atitudes de amor.
No
evangelho encontramos o missionário Jesus, o enviado do Pai, amando gratuita e
generosamente as pessoas, libertando-as de todo mal. Ele nos ensina que para
nos libertarmos do mal só temos um caminho: O caminho do amor. O amor é o
caminho. Fora do amor não há saída, não há salvação. Para seguir Jesus é
preciso amar como ele amou. Esta é a exigência do caminho. Sem amor não há
seguimento, não há fé, não há verdadeira amizade, não há felicidade, não há religião
autêntica.
Jesus não nos ensinou uma religião, mas nos abriu o
caminho do amor. O amor liberta do egoísmo, da mentira, da ilusão, do espírito
de superioridade, da mera satisfação de nossos interesses mesquinhos, de nossa
frieza e indiferença, da cegueira e da covardia, da falta de perdão, das nossas
ambições desmedidas, de nossos apegos doentios, da falsa aparência de
santidade, da hipocrisia; enfim, o amor nos liberta de nós mesmos, deixando-nos
livres, abertos, disponíveis e sempre atentos à vontade de Deus.
Sem
amar como Jesus amou é impossível encontrar a saída para nos libertarmos desses
males que nos transformam em pessoas prejudiciais e perigosas. Fora do amor
estamos entregues às forças do mal e ao poder da morte. Somente o amor nos faz
encontrar repouso e paz.
Como Jesus amou? Jesus amou os pecadores, acolhendo-os. Ele
não os julgou nem os condenou. Esta é nossa grande tentação: Queremos amar as
pessoas transformando-as naquilo que a gente deseja. A gente sempre quer que o
outro seja de acordo com a nossa vontade. Há um desejo violento de controlar o
outro, submetendo-o aos nossos caprichos. Toda pessoa é tentada a fazer isso. Ninguém
escapa dessa tentação. Poucos conseguem resistir.
Quando
queremos mudar o outro em nome do amor, terminamos sufocando o amor. Quando este
é sufocado, as várias formas de apego tomam o seu lugar. E onde há apego há
violência contra o outro e onde há violência não há paz. Muito facilmente,
rejeitamos a maneira como Jesus amou para amarmos a partir dos nossos desejos,
geradores de apegos. Enquanto não nos convertermos ao estilo de Jesus não
aprenderemos a amar a nós mesmos nem ao próximo. Trata-se de um chamado universal,
aberto e dirigido a todas as mulheres e homens de boa vontade.
Eis,
portanto, as características do amor de Jesus: abertura, gratuidade, generosidade,
mansidão, reciprocidade, fidelidade, ausência de julgamento e condenação,
aproximação, ausência de medo, paciência, perseverança, serviço ao outro,
alegria e liberdade. Estas virtudes fazem parte do estilo de Jesus, é a sua
maneira de amar. Se quisermos segui-lo de verdade não há outro caminho senão
este: “Isto é o que vos ordeno: amai-vos
uns aos outros” (Jo 15, 17).
Em
um mundo marcado pela indiferença, que se manifesta pelas inúmeras formas de violência
contra a dignidade da pessoa humana, os seguidores de Jesus precisam,
urgentemente, fazer a diferença, amando como Jesus amou: na liberdade e para a
liberdade. Com nossas próprias forças jamais conseguiremos amar como Jesus porque
somos limitados e fracos, mas se nos unirmos a Ele, com certeza, podemos todas
as coisas no amor. Fora do amor de Jesus não adianta ser religioso, pois
religião sem amor não tem nenhum valor diante de Deus.
Tiago
de França
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