“Dá-me
um pouco da tua água” (Jo 4, 7).
O testemunho dos cristãos é substancialmente necessário
para que a Boa Notícia do Reino de Deus possa irradiar no mundo. Esse testemunho
passa, necessariamente, não somente pelo conhecimento de Jesus Cristo, mas, sobretudo,
pela unidade cristã. Cristãos unidos constituem um sinal vivo de que
compreenderam a mensagem de Jesus, mensagem que proclama a unidade e a paz.
Cada denominação religiosa, na diversidade de suas
manifestações, professa sua fé em Jesus. Não há manifestações certas nem
erradas, mas manifestações de fé sob o impulso do Espírito do Senhor. Este Espírito
faz multiplicar a pluralidade de modos de ser e de se adorar a Deus. Não existe
uniformidade e quando há quem queira impô-la, as necessárias resistências
aparecem. O Cristianismo é uma pluralidade de maneiras de se viver o amor
ensinado por Jesus, e todas as maneiras precisam ser reconhecidas e
respeitadas.
Com a samaritana junto ao poço de Jacó, o judeu Jesus nos
dá algumas indicações para sermos verdadeiras testemunhas da unidade em meio à
diversidade:
1 – Colocar-se numa atitude de humildade:
Ninguém é dono da verdade, nenhuma denominação religiosa é dona da verdade. Jesus
é a Verdade e está presente em toda a terra. Jesus não possui nem é possuído
por ninguém. Ele não é propriedade particular de nenhuma Igreja cristã, mas
permanece no seio de todas. Em nenhum momento Jesus se colocou como superior em
relação à samaritana e seu povo, mas quis dialogar, interessando-se pela vida
dela, pedindo-lhe água para matar a sede.
2 – Dialogar sem discurso pronto nem verdades
acabadas: No diálogo ecumênico não pode existir imposição de doutrinas
nem de verdades preconcebidas. Jesus é a Verdade para todos. No particular de
cada denominação religiosa, há modos diferentes de ver e compreender a
realidade, Jesus e seu evangelho. Essa diversidade de visões e concepções
constitui uma riqueza que precisa ser incrementada e mantida, pois o mundo
atual padece pela falta de convicções profundas de fé. É preciso ir ao encontro
do outro com um forte desejo de aprender com ele, expressando também, com humildade
e profundidade nossas próprias convicções religiosas.
3 – Acolher o que o outro tem de bom e evitar
toda forma de juízo e condenação: A ninguém Jesus deu autoridade para
julgar e condenar. Nenhum cristão recebeu de Deus a faculdade de condenar seu
próximo, inclusive os que pertencem à mesma religião. Todos cremos em Jesus e
no mesmo evangelho. O espírito de competição e a tendência de olhar o negativo
no outro e na sua respectiva denominação religiosa devem ser erradicadas, pois
causam separação e intolerância religiosa. O outro sempre tem algo a nos
ensinar. Mesmo que aparentemente não pareça ter, mas somente o fato de ser um
outro diferente, aí há aprendizado. Enxergar a bondade de Deus que está no
outro é uma virtude necessária para o ecumenismo.
4 – Aproximar-se para ver, compreender e se
envolver: Não há ecumenismo na cultura do “cada um no seu quadrado”!
Comunhão é proximidade e envolvimento com o outro, sem medo de ser feliz. Não se
aprende sem este necessário envolvimento. Sem participação na vida do outro,
corre-se o risco de tudo não passar de mera diplomacia, mero discurso que
somente aparenta unidade. Como compreender o outro sem conhecer a sua
realidade, o seu contexto vivencial? Como fez Jesus, é necessário partilhar a
água, a conversa, a alegria, o pão e a esperança. Jesus foi acolhido porque foi
ao encontro para anunciar a Boa Notícia da libertação, da inclusão dos
excluídos, da ressurreição dos perseguidos e mortos.
5 – Viver a cultura do encontro para o
reconhecimento e promoção das diferenças: O encontro das diferenças é
coisa bela de ver e viver! É pura graça de Deus, dom do seu Espírito. O cristão
feliz e comprometido com o anúncio do evangelho de Jesus compreende o valor da
unidade nas diferenças e com o testemunho da própria vida torna possível esta
feliz utopia do Reino: A unidade dos cristãos. A edificação do Reino de Deus
neste mundo está intimamente ligada à unidade cristã na diversidade das
expressões religiosas. Unidos no amor de Jesus, os cristãos conseguem dar um
testemunho eloquente de unidade e paz para o mundo atual, marcado pela intolerância
religiosa e pelas diversas formas de violência.
Por fim, é preciso repetir sem cessar o ensinamento
fundamental de Jesus sobre a unidade cristã: Reconhecer as diferenças, unir-se
nas lutas pela promoção da dignidade humana, rumo ao Reino definitivo. Não podemos
perder tempo com brigas motivadas pelas diferenças de doutrinas e formas de
culto. É preciso ir além, na direção do Reino, sendo presença do Ressuscitado
no mundo. Não precisamos de inimizades entre os cristãos, mas unidos somos
chamados a enfrentar, com coragem e ousadia, os grandes inimigos do Reino de
Deus. É preciso unirmo-nos para a oração, a partilha do pão, o cultivo da
esperança e para a colaboração nas grandes causas do Reino de Deus, Pai e Mãe
de todos.
Tiago de França
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