terça-feira, 19 de maio de 2015

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2015

“Dá-me um pouco da tua água” (Jo 4, 7).

            O testemunho dos cristãos é substancialmente necessário para que a Boa Notícia do Reino de Deus possa irradiar no mundo. Esse testemunho passa, necessariamente, não somente pelo conhecimento de Jesus Cristo, mas, sobretudo, pela unidade cristã. Cristãos unidos constituem um sinal vivo de que compreenderam a mensagem de Jesus, mensagem que proclama a unidade e a paz.

            Cada denominação religiosa, na diversidade de suas manifestações, professa sua fé em Jesus. Não há manifestações certas nem erradas, mas manifestações de fé sob o impulso do Espírito do Senhor. Este Espírito faz multiplicar a pluralidade de modos de ser e de se adorar a Deus. Não existe uniformidade e quando há quem queira impô-la, as necessárias resistências aparecem. O Cristianismo é uma pluralidade de maneiras de se viver o amor ensinado por Jesus, e todas as maneiras precisam ser reconhecidas e respeitadas.

            Com a samaritana junto ao poço de Jacó, o judeu Jesus nos dá algumas indicações para sermos verdadeiras testemunhas da unidade em meio à diversidade:

            1 – Colocar-se numa atitude de humildade: Ninguém é dono da verdade, nenhuma denominação religiosa é dona da verdade. Jesus é a Verdade e está presente em toda a terra. Jesus não possui nem é possuído por ninguém. Ele não é propriedade particular de nenhuma Igreja cristã, mas permanece no seio de todas. Em nenhum momento Jesus se colocou como superior em relação à samaritana e seu povo, mas quis dialogar, interessando-se pela vida dela, pedindo-lhe água para matar a sede.

            2 – Dialogar sem discurso pronto nem verdades acabadas: No diálogo ecumênico não pode existir imposição de doutrinas nem de verdades preconcebidas. Jesus é a Verdade para todos. No particular de cada denominação religiosa, há modos diferentes de ver e compreender a realidade, Jesus e seu evangelho. Essa diversidade de visões e concepções constitui uma riqueza que precisa ser incrementada e mantida, pois o mundo atual padece pela falta de convicções profundas de fé. É preciso ir ao encontro do outro com um forte desejo de aprender com ele, expressando também, com humildade e profundidade nossas próprias convicções religiosas.

            3 – Acolher o que o outro tem de bom e evitar toda forma de juízo e condenação: A ninguém Jesus deu autoridade para julgar e condenar. Nenhum cristão recebeu de Deus a faculdade de condenar seu próximo, inclusive os que pertencem à mesma religião. Todos cremos em Jesus e no mesmo evangelho. O espírito de competição e a tendência de olhar o negativo no outro e na sua respectiva denominação religiosa devem ser erradicadas, pois causam separação e intolerância religiosa. O outro sempre tem algo a nos ensinar. Mesmo que aparentemente não pareça ter, mas somente o fato de ser um outro diferente, aí há aprendizado. Enxergar a bondade de Deus que está no outro é uma virtude necessária para o ecumenismo.

            4 – Aproximar-se para ver, compreender e se envolver: Não há ecumenismo na cultura do “cada um no seu quadrado”! Comunhão é proximidade e envolvimento com o outro, sem medo de ser feliz. Não se aprende sem este necessário envolvimento. Sem participação na vida do outro, corre-se o risco de tudo não passar de mera diplomacia, mero discurso que somente aparenta unidade. Como compreender o outro sem conhecer a sua realidade, o seu contexto vivencial? Como fez Jesus, é necessário partilhar a água, a conversa, a alegria, o pão e a esperança. Jesus foi acolhido porque foi ao encontro para anunciar a Boa Notícia da libertação, da inclusão dos excluídos, da ressurreição dos perseguidos e mortos.

            5 – Viver a cultura do encontro para o reconhecimento e promoção das diferenças: O encontro das diferenças é coisa bela de ver e viver! É pura graça de Deus, dom do seu Espírito. O cristão feliz e comprometido com o anúncio do evangelho de Jesus compreende o valor da unidade nas diferenças e com o testemunho da própria vida torna possível esta feliz utopia do Reino: A unidade dos cristãos. A edificação do Reino de Deus neste mundo está intimamente ligada à unidade cristã na diversidade das expressões religiosas. Unidos no amor de Jesus, os cristãos conseguem dar um testemunho eloquente de unidade e paz para o mundo atual, marcado pela intolerância religiosa e pelas diversas formas de violência.

            Por fim, é preciso repetir sem cessar o ensinamento fundamental de Jesus sobre a unidade cristã: Reconhecer as diferenças, unir-se nas lutas pela promoção da dignidade humana, rumo ao Reino definitivo. Não podemos perder tempo com brigas motivadas pelas diferenças de doutrinas e formas de culto. É preciso ir além, na direção do Reino, sendo presença do Ressuscitado no mundo. Não precisamos de inimizades entre os cristãos, mas unidos somos chamados a enfrentar, com coragem e ousadia, os grandes inimigos do Reino de Deus. É preciso unirmo-nos para a oração, a partilha do pão, o cultivo da esperança e para a colaboração nas grandes causas do Reino de Deus, Pai e Mãe de todos.


Tiago de França

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