domingo, 28 de junho de 2015

Para reconhecer Jesus

“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).

        Hoje, a Igreja Católica no Brasil celebra o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo. Nas celebrações, padres e bispos, de modo geral, estão dando ênfase à missão de Pedro, pois, segundo a tradição, este foi o primeiro papa. Nossa meditação não quer discorrer a respeito desta questão: Se Pedro foi ou não o primeiro papa. Para a fé cristã nos dias atuais, esta questão parece não ocupar o centro de nossas preocupações. Ninguém crescerá na fé se acreditar ou não no fato de Pedro ter sido ou não o primeiro papa. Jesus não pensou na instituição do papado e nem o instituiu. Portanto, o texto evangélico que está sendo proclamado e meditado nas celebrações deste domingo (cf. Mt 16, 13 – 19) não foi escrito em função do papado, mas em função de Jesus e de sua identidade messiânica. É importante diferenciarmos tais coisas para evitarmos confusão em detrimento da fé cristã.  

            Quando Jesus pergunta aos seus discípulos, estando com eles na região de Cesareia de Filipe, sobre o que o povo estava falando sobre ele, eis a resposta: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Pela resposta, se vê claramente que as pessoas reconheciam Jesus como profeta. De fato, Jesus tinha todas as características dos profetas bíblicos, e foi o profeta por excelência. Tendo escutado a resposta, Jesus pergunta aos mesmos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Ele estava querendo saber o que se passava na cabeça de seus seguidores. Por revelação divina, Pedro responde, representando a comunidade dos seguidores de Jesus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Jesus logo reconhece que foi uma resposta revelada pelo Pai, não mera lógica oriunda da inteligência humana.

            Desse modo, Jesus confirma ser o Messias enviado pelo Pai, conforme a promessa revelada aos antigos profetas; mas não é o Messias pensado pelos seus discípulos: Poderoso, triunfante, dominador, exterminador de seus inimigos. Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo; ou seja, veio a este mundo fazer a vontade do Pai, não para satisfazer desejos de glória, prestígio e poder. A missão de Jesus passa pela via da fraqueza humana. Com suas palavras e gestos revelou que o poder divino não se manifesta na fortaleza, mas na fraqueza, no escândalo da cruz. O Messias foi crucificado: Este foi o escândalo que os judeus não conseguiram compreender. O Messias ocupou o lugar dos malditos, deixando-se pregar numa cruz, sem fugas, com coragem e convicção, sob a ação do Espírito de Deus. Além dos judeus, também inúmeros cristãos até hoje não aceitam o Messias Jesus na cruz, pois querem-no glorioso e triunfante, andando sobre as águas e voando entre as nuvens do céu.

            Hoje, Jesus continua querendo saber de cada cristão: Quem sou eu para você? Esta pergunta é essencial para a verdadeira fé cristã. Não basta dizer que Jesus é o Filho de Deus, o Salvador, o Redentor, o Libertador, e tantos outros adjetivos que aprendemos desde cedo na catequese. É preciso saber o que realmente significa acreditar em Jesus. Quais as consequências oriundas da fé no Filho de Deus? Estou disposto a arcar com estas consequências? Quero me colocar no caminho de Jesus e nele perseverar? Como cristão, batizado em nome dele, tenho me comprometido com a edificação do Reino de Deus, ou estou a serviço das forças contrárias a este Reino? Meu testemunho de vida é sinal de edificação, ou tenho levado uma vida descontrolada, longe do amor? Qual minha resposta à pergunta feita por Jesus? Cada um, em particular, na oração e na meditação, escutando a voz de Deus e da consciência, precisa responder, com sinceridade e verdade, a estas e outras perguntas que nos ajudam em nosso processo de conversão.

            Por fim, o dia da celebração do martírio de Pedro e Paulo, também é dia de rezarmos pelo Bispo de Roma, o papa Francisco. Apesar dos limites impostos pelo papado, Francisco tem sido um sinal de esperança para o mundo. É verdade que a Igreja não tem seu fundamento no papado nem na pessoa do papa. Em outras palavras, Jesus é a Pedra angular, é o alicerce sob o qual está construída a Igreja. Francisco é o responsável pela promoção da unidade cristã, aquele que foi chamado para trabalhar pela edificação do Reino. Não é um homem perfeito porque a perfeição pertence a Deus. Como tem afirmado em suas falas, também ele é um pobre pecador. Nesta afirmação está uma de suas virtudes: a humildade. A Igreja é esta grande embarcação, que ao longo de milênios vai navegando nas agitadas águas do mar da vida, sendo guiada pelo Espírito, que se manifesta na vida das mulheres e homens fracos, trabalhadores na vinha do Senhor. Vida longa ao papa Francisco, e que Jesus continue sendo a nossa vida e nosso tudo, o nosso amor, a rocha que nos mantém de pé e nossa salvação.

Tiago de França

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