A figura do professor
sempre fez parte da minha vida. Até hoje convivo com professores. Minha mãe foi
minha primeira professora, e quando criança a observava com o devido respeito e
atenção. Para mim, ela é o maior exemplo de professor: Atenta, dedicada e fiel
ao magistério. Fui aluno da minha mãe durante quatro anos, nas séries iniciais.
Admirava a facilidade com que ela transmitia o conhecimento: Com alegria, leveza,
tratando a todos com a merecida e necessária atenção, zelo e respeito. Como filho,
em sala de aula, não gozava de nenhum privilégio. Ninguém nunca me acusou de
ser “o filhinho da professora, por isso que passa de ano!” Graças a ela,
aprendi a ler, escrever, contar e rezar. Ela também foi minha primeira
catequista. Eternamente, será a minha mater
et magistral! (mãe e mestra). Com ela aprendi a ser professor e trilho as
mesmas pegadas, procurando ser um mestre atento, alegre, leve, respeitoso, zeloso
e firme.
Depois dela, tive outros tantos excelentes professores. Não
irei nomeá-los para não cometer a injustiça de esquecer os nomes de todos. Tive
professores que me despertaram para a paixão pela língua portuguesa, história,
biologia, matemática, química, física, estudos sociais (sociologia), filosofia.
Em todas as disciplinas tive excelentes professores. Também tive alguns que não
eram tão bons de serviço! Apesar disso, procurava sanar as dificuldades com
outros professores, com bons livros e enciclopédias. Tanto na educação básica
quanto na superior, tive grandes mestres, que os guardo no coração.
No
seminário, quando estudava para ser padre católico, iniciando a Filosofia em
Fortaleza, no Ceará, e concluindo-a, aqui, em Belo Horizonte, Minas Gerais,
tive a graça de ser aluno de grandes mestres, mulheres e homens de grande
erudição. Recordo-me bem dos meus professores de latim e francês, gramática e
redação. Quanto conhecimento e simpatia! Na Filosofia, marcou-me os professores
de Teoria do Conhecimento, História da Filosofia, Ética e Metafísica. No Ceará,
no famoso Seminário da Prainha, estudei Sócrates, Platão e Aristóteles com um
padre casado holandês, profundo conhecimento do grego, tradutor das obras de
Platão. Não tinha visto um homem conhecer tão profundamente um filósofo. Dava gosto
escutá-lo falar. Eu rezava para que a aula não terminasse!
Também
fora da academia tive grandes mestres, que lecionavam e lecionam com o
testemunho da própria vida, desafiando-me à aprendizagem do bem-viver. Um deles,
um dia me disse: “Deus não nos chama para
sermos padres, mas para sermos bons!” Ele era e continua sendo um homem
santo: Homem de profunda humildade e sabedoria, além de ser versado nas línguas
neolatinas. Hoje, no Direito, também tenho excelentes mestres: Mulheres e
homens comprometidos com o saber jurídico e com as grandes causas da justiça. Uns
mais rígidos e, portanto, exigentes; e outros, menos. Sempre vão existir
aqueles que, visivelmente, a gente percebe que não há vocação para o magistério.
Apesar disso, o número dos excelentes mestres é significativo e faz a gente
superar as lacunas existentes.
Meus
professores me ensinaram que o professor deve ter, necessariamente, algumas
características, sem as quais não se consegue ser um bom profissional da
educação. Posso elencar algumas: É necessário ser um leitor assíduo, para se manter
atualizado; ser paciente, para saber lidar com aqueles alunos que não conseguem
acompanhar o ritmo da turma; ser criativo, para não cair no tédio; ser educado
e atencioso, afinal de contas o professor é um educador; ser ético, para não
ser inconveniente; ser alegre, para não se tornar insuportável; ser pontual nas
obrigações inerentes ao ofício (provas, trabalhos, notas, correções, reuniões,
aulas etc.), pois ninguém merece um professor desorganizado; ser tolerante,
quando a situação parece absurda; ser justo e honesto, porque o mundo já está
cheio de gente injusta e desonesta; ser objetivo, claro e conciso. Estas e outras
qualidades fazem o professor e torna-o agradável e cordial. Somente alunos
preguiçosos, alienados e sem perspectiva de vida conseguem odiar um professor
com essas qualidades.
O
bom professor não é aquele que conhece todas as coisas e as impõe à
inteligência de seus alunos. Não há quem saiba todas as coisas. Este professor
não existe. Por isso, em nome da humildade e da honestidade, quando diante de
uma boa pergunta não há uma resposta cabível, o professor é enaltecido quando
se dispõe a pesquisar e aprender. Geralmente, os alunos confiam no professor. Por
isso, é necessário que se tenha segurança daquilo que se fala em sala de aula,
para que o aluno não permaneça nas trevas da ignorância. É necessário saber,
com clareza e convicção. Assim sendo, o bom professor é aquele que desperta no
aluno a sede de conhecer.
O
professor é um despertador e facilitador do conhecimento. Filosoficamente, o
mestre ideal é aquele que oportuniza o pensar. O aluno precisa, seguindo as
orientações de seu mestre, procurar o conhecimento por meio do estudo, pois não
há professor que dê conta de um aluno que não gosta de estudar. Despertar o
gosto pelos estudos parece ser o desafio. Se o aluno toma gosto e caminha, o
problema estará resolvido. E por mais que o sistema de avaliação seja
equivocado (avaliações escritas não medem o conhecimento!), o aluno estudioso
conseguirá superar esta dificuldade que ainda continua sendo-lhe imposta pelo
sistema.
Por
fim, precisamos considerar três dificuldades a serem superadas hoje, no que se
refere à realidade dos professores no Brasil: Não é nenhuma novidade que o
professor é um profissional desvalorizado. O problema não se reduz somente à
questão salarial, que envergonha o país. A desvalorização leva à escassez de
professores. Somente com o salário de professor praticamente não se consegue
viver dignamente no Brasil. Para adquirir a casa própria, um carro simples para
se locomover, um bom plano de saúde para quando precisar, entre outras
necessidades, o professor precisa trabalhar bastante. Muitos possuem uma renda
complementar, devido aos baixos salários. Nunca é tarde para repetirmos a
verdade conhecida por todos: Enquanto o professor e a educação não forem
devidamente valorizados, não teremos um país verdadeiramente independente. Então,
eis duas dificuldades, uma atrelada à outra: Desvalorização do professor e
escassez dos mesmos.
A
terceira também é grave: A mediocridade de muitos professores. O que seria essa
mediocridade? A resposta é simples e, portanto, objetiva: Professores que não tem
o hábito da leitura e do estudo caem facilmente na mediocridade. Em todas as
escolas e universidades encontramos professores medíocres, que não tendo como
se destacar pela inteligência e erudição, na sua respectiva área, procuram se
impor pelo autoritarismo: Visivelmente, se percebe a falta de conteúdo e de
disposição para adquiri-lo, assim como a falta de uma visão crítica e,
portanto, reciclada da realidade.
Neste
caso, o processo de ensino-aprendizagem fica gravemente comprometido, pois os
alunos terão que, se quiserem ser aprovados, estudar por conta própria, sem as
necessárias orientações e esclarecimentos básicos. Infelizmente, a incompetência
reina no exercício de todas as profissões, e no magistério não é diferente. Em muitos
casos, o professor poderia fazer uma autocrítica: Será que tenho mesmo vocação
para ser professor? Há sentido em fazer meus alunos sofrerem?... Em outros
casos, existe vocação, mas a preguiça mental não permite avançar. Não há
momento mais desgastante na vida de um aluno do que ter que suportar um
professor que não tem o domínio dos conhecimentos básicos de sua área.
Por
isso, não resta, na maioria das vezes, outra solução senão permanecer sentado,
ocupando-se com alguma outra coisa, esperando a hora da chamada, para não ser
reprovado por falta. Tudo seria diferente se, tanto aluno quanto professor,
pudessem se esforçar para que o ensino e a aprendizagem transcorressem com
tranquilidade e leveza. É tudo uma questão de consciência, maturidade, convicção
e vontade de ensinar e aprender.
Pelo
dia dos professores, meus cumprimentos a todos! Apesar dos pesares deste
sublime ofício, sou feliz por ser professor! E como cristão, peço a Jesus, o
Mestre por excelência, que me ensine sempre mais a ser humilde e sábio, dons
necessários para o feliz cumprimento da vocação magisterial.
FELIZ DIA DO PROFESSOR!
Prof.
Tiago de França
Foto: Com minha mater et magistra
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