quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ser professor: Um sacerdócio imprescindível

         
          A figura do professor sempre fez parte da minha vida. Até hoje convivo com professores. Minha mãe foi minha primeira professora, e quando criança a observava com o devido respeito e atenção. Para mim, ela é o maior exemplo de professor: Atenta, dedicada e fiel ao magistério. Fui aluno da minha mãe durante quatro anos, nas séries iniciais. Admirava a facilidade com que ela transmitia o conhecimento: Com alegria, leveza, tratando a todos com a merecida e necessária atenção, zelo e respeito. Como filho, em sala de aula, não gozava de nenhum privilégio. Ninguém nunca me acusou de ser “o filhinho da professora, por isso que passa de ano!” Graças a ela, aprendi a ler, escrever, contar e rezar. Ela também foi minha primeira catequista. Eternamente, será a minha mater et magistral! (mãe e mestra). Com ela aprendi a ser professor e trilho as mesmas pegadas, procurando ser um mestre atento, alegre, leve, respeitoso, zeloso e firme.

            Depois dela, tive outros tantos excelentes professores. Não irei nomeá-los para não cometer a injustiça de esquecer os nomes de todos. Tive professores que me despertaram para a paixão pela língua portuguesa, história, biologia, matemática, química, física, estudos sociais (sociologia), filosofia. Em todas as disciplinas tive excelentes professores. Também tive alguns que não eram tão bons de serviço! Apesar disso, procurava sanar as dificuldades com outros professores, com bons livros e enciclopédias. Tanto na educação básica quanto na superior, tive grandes mestres, que os guardo no coração.

No seminário, quando estudava para ser padre católico, iniciando a Filosofia em Fortaleza, no Ceará, e concluindo-a, aqui, em Belo Horizonte, Minas Gerais, tive a graça de ser aluno de grandes mestres, mulheres e homens de grande erudição. Recordo-me bem dos meus professores de latim e francês, gramática e redação. Quanto conhecimento e simpatia! Na Filosofia, marcou-me os professores de Teoria do Conhecimento, História da Filosofia, Ética e Metafísica. No Ceará, no famoso Seminário da Prainha, estudei Sócrates, Platão e Aristóteles com um padre casado holandês, profundo conhecimento do grego, tradutor das obras de Platão. Não tinha visto um homem conhecer tão profundamente um filósofo. Dava gosto escutá-lo falar. Eu rezava para que a aula não terminasse!

Também fora da academia tive grandes mestres, que lecionavam e lecionam com o testemunho da própria vida, desafiando-me à aprendizagem do bem-viver. Um deles, um dia me disse: “Deus não nos chama para sermos padres, mas para sermos bons!” Ele era e continua sendo um homem santo: Homem de profunda humildade e sabedoria, além de ser versado nas línguas neolatinas. Hoje, no Direito, também tenho excelentes mestres: Mulheres e homens comprometidos com o saber jurídico e com as grandes causas da justiça. Uns mais rígidos e, portanto, exigentes; e outros, menos. Sempre vão existir aqueles que, visivelmente, a gente percebe que não há vocação para o magistério. Apesar disso, o número dos excelentes mestres é significativo e faz a gente superar as lacunas existentes.

Meus professores me ensinaram que o professor deve ter, necessariamente, algumas características, sem as quais não se consegue ser um bom profissional da educação. Posso elencar algumas: É necessário ser um leitor assíduo, para se manter atualizado; ser paciente, para saber lidar com aqueles alunos que não conseguem acompanhar o ritmo da turma; ser criativo, para não cair no tédio; ser educado e atencioso, afinal de contas o professor é um educador; ser ético, para não ser inconveniente; ser alegre, para não se tornar insuportável; ser pontual nas obrigações inerentes ao ofício (provas, trabalhos, notas, correções, reuniões, aulas etc.), pois ninguém merece um professor desorganizado; ser tolerante, quando a situação parece absurda; ser justo e honesto, porque o mundo já está cheio de gente injusta e desonesta; ser objetivo, claro e conciso. Estas e outras qualidades fazem o professor e torna-o agradável e cordial. Somente alunos preguiçosos, alienados e sem perspectiva de vida conseguem odiar um professor com essas qualidades.

O bom professor não é aquele que conhece todas as coisas e as impõe à inteligência de seus alunos. Não há quem saiba todas as coisas. Este professor não existe. Por isso, em nome da humildade e da honestidade, quando diante de uma boa pergunta não há uma resposta cabível, o professor é enaltecido quando se dispõe a pesquisar e aprender. Geralmente, os alunos confiam no professor. Por isso, é necessário que se tenha segurança daquilo que se fala em sala de aula, para que o aluno não permaneça nas trevas da ignorância. É necessário saber, com clareza e convicção. Assim sendo, o bom professor é aquele que desperta no aluno a sede de conhecer.

O professor é um despertador e facilitador do conhecimento. Filosoficamente, o mestre ideal é aquele que oportuniza o pensar. O aluno precisa, seguindo as orientações de seu mestre, procurar o conhecimento por meio do estudo, pois não há professor que dê conta de um aluno que não gosta de estudar. Despertar o gosto pelos estudos parece ser o desafio. Se o aluno toma gosto e caminha, o problema estará resolvido. E por mais que o sistema de avaliação seja equivocado (avaliações escritas não medem o conhecimento!), o aluno estudioso conseguirá superar esta dificuldade que ainda continua sendo-lhe imposta pelo sistema.

Por fim, precisamos considerar três dificuldades a serem superadas hoje, no que se refere à realidade dos professores no Brasil: Não é nenhuma novidade que o professor é um profissional desvalorizado. O problema não se reduz somente à questão salarial, que envergonha o país. A desvalorização leva à escassez de professores. Somente com o salário de professor praticamente não se consegue viver dignamente no Brasil. Para adquirir a casa própria, um carro simples para se locomover, um bom plano de saúde para quando precisar, entre outras necessidades, o professor precisa trabalhar bastante. Muitos possuem uma renda complementar, devido aos baixos salários. Nunca é tarde para repetirmos a verdade conhecida por todos: Enquanto o professor e a educação não forem devidamente valorizados, não teremos um país verdadeiramente independente. Então, eis duas dificuldades, uma atrelada à outra: Desvalorização do professor e escassez dos mesmos.

A terceira também é grave: A mediocridade de muitos professores. O que seria essa mediocridade? A resposta é simples e, portanto, objetiva: Professores que não tem o hábito da leitura e do estudo caem facilmente na mediocridade. Em todas as escolas e universidades encontramos professores medíocres, que não tendo como se destacar pela inteligência e erudição, na sua respectiva área, procuram se impor pelo autoritarismo: Visivelmente, se percebe a falta de conteúdo e de disposição para adquiri-lo, assim como a falta de uma visão crítica e, portanto, reciclada da realidade.

Neste caso, o processo de ensino-aprendizagem fica gravemente comprometido, pois os alunos terão que, se quiserem ser aprovados, estudar por conta própria, sem as necessárias orientações e esclarecimentos básicos. Infelizmente, a incompetência reina no exercício de todas as profissões, e no magistério não é diferente. Em muitos casos, o professor poderia fazer uma autocrítica: Será que tenho mesmo vocação para ser professor? Há sentido em fazer meus alunos sofrerem?... Em outros casos, existe vocação, mas a preguiça mental não permite avançar. Não há momento mais desgastante na vida de um aluno do que ter que suportar um professor que não tem o domínio dos conhecimentos básicos de sua área.

Por isso, não resta, na maioria das vezes, outra solução senão permanecer sentado, ocupando-se com alguma outra coisa, esperando a hora da chamada, para não ser reprovado por falta. Tudo seria diferente se, tanto aluno quanto professor, pudessem se esforçar para que o ensino e a aprendizagem transcorressem com tranquilidade e leveza. É tudo uma questão de consciência, maturidade, convicção e vontade de ensinar e aprender.

Pelo dia dos professores, meus cumprimentos a todos! Apesar dos pesares deste sublime ofício, sou feliz por ser professor! E como cristão, peço a Jesus, o Mestre por excelência, que me ensine sempre mais a ser humilde e sábio, dons necessários para o feliz cumprimento da vocação magisterial.
FELIZ DIA DO PROFESSOR!


Prof. Tiago de França

Foto: Com minha mater et magistra 

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