Cada época possui seus
próprios santos e nenhum é igual ao outro. Os santos da Igreja primitiva são
diferentes dos santos medievais. Os santos modernos são mais diferentes ainda. Isto
significa que não há um único modelo de santidade. O que há em comum é que
todos são seguidores de Jesus, praticantes de seu mandamento: o amor. É o amor
que santifica as pessoas.
Houve uma época em que se pensava que a santidade era um
dom reservado aos clérigos e às religiosas dos conventos e mosteiros. Até o
Concílio Vaticano II se pensava dessa forma. A santidade estava intimamente
ligada à virgindade do corpo, ao sacramento da Ordem e à consagração religiosa.
Ensinava-se que a santidade era para as mulheres e homens puros e, portanto,
imaculados.
Pregava-se
a existência de uma classe de gente considerada eleita em detrimento dos demais
pecadores. Era a classe dos santos e santas de Deus. Estes eram e continuam
sendo canonizados pela Igreja, tendo reconhecidas suas virtudes. Curiosamente,
mesmo após o mencionado Concílio, a Igreja continua a exigir que exista milagre
para que haja a canonização. Isto explica o fato de o povo católico querer
milagres dos santos, não se interessando em “imitá-los” em suas virtudes.
Os
santos eram considerados entes superiores, pois viviam enclausurados na vida
monacal e conventual, rezando, diuturnamente o ofício divino (antigo breviário)
e buscando a perfeição pessoal através de práticas ascéticas. Eram mulheres e
homens experimentados na vida espiritual, entranhados nos mistérios da vida
silenciosa e orante. De fato, não podemos duvidar da santidade de uma multidão de
pessoas que assim viveram, sendo, portanto, fieis aos apelos do Espírito, de
acordo com suas épocas. Cada santo é fiel ao Espírito e vive esse apelo de
acordo com a sua época.
Hoje,
os santos são diferentes. A maioria não usa mais os hábitos e batinas pretas
medievais. Não possuem um semblante triste e penitencial. Permanecem unidos à
cruz de Cristo na alegria, na constância do amor, da esperança e da fé. A maioria
já não é reconhecida oficialmente pela Igreja. Muitos se encontram no
anonimato, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos. Despojadamente,
são promotores da justiça e da paz. Vivendo de acordo com o que pede o
Espírito, estão em todas as religiosas. São sinais da presença amorosa de Deus
no meio do mundo.
Na
Igreja Católica, a maioria dos santos é leiga, ou seja, não são ordenados. Entre
estes últimos podemos encontrar alguns santos: homens dedicados às grandes
causas do Reino de Deus. Outros vivem à procura da santidade, mas não a
encontram porque estão como que cegos, atingidos pelo mal do poder. Na vida eclesiástica,
o poder impede muitos clérigos de serem santos. Isto ocorre porque os santos
padres são aqueles que se colocam na fileira dos excluídos, servindo-os com
humildade, simplicidade, amor e zelo. Agora, durante o pontificado do papa
Francisco, os clérigos apegados ao poder, longe de serem santos conforme o
evangelho, estão cada vez mais agressivos, semeando a discórdia na Igreja, exercendo
com eloquência o papel de traidores do povo santo de Deus.
Como
identificar e diferenciar, hoje, o verdadeiro do falso santo em nossas Igrejas?
Os verdadeiros santos são aqueles que pautam a sua vida no amor. Vivem amando,
incondicionalmente. Vivem fazendo a opção de Jesus, o Santo de Deus, fonte de
toda santidade. Não se mede a santidade de uma pessoa pela sua fidelidade aos
preceitos religiosos, pois podemos ter bons religiosos, mas que podem ser
inimigos de Deus. Ninguém se torna santo diante de Deus porque é fiel aos
preceitos religiosos. Estes tem a sua importância, mas por si mesmos não
santificam ninguém. Somos justificados no amor. Somos salvos no amor. Somos santos
e santas no amor. Fora do amor somente pode existir aparência de santidade.
Então,
o que fazer para ser santo? Não há nenhum manual que traz regras a serem
cumpridas. O manual dos santos é o evangelho. Este é a regra de vida dos
santos. Quem ouvir os apelos do Espírito e se deixar interpelar, passará por
uma transformação interior e será, neste mundo, um outro Cristo. Santos são
mulheres e homens convertidos a Jesus, pessoas pecadoras que vivem sob a ação
do Espírito, totalmente voltadas para o outro, na esperança da manifestação
gloriosa dos filhos de Deus em Cristo Jesus. Esta é a vocação dos santos. É o
chamado que Deus faz a todos, sem distinção. É uma obra de amor, repleta de
alegria e de ternura, de graça e redenção. É o Tudo presente em todos, agora e
para sempre.
Tiago
de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário