domingo, 1 de novembro de 2015

Ser santo hoje

         
          Cada época possui seus próprios santos e nenhum é igual ao outro. Os santos da Igreja primitiva são diferentes dos santos medievais. Os santos modernos são mais diferentes ainda. Isto significa que não há um único modelo de santidade. O que há em comum é que todos são seguidores de Jesus, praticantes de seu mandamento: o amor. É o amor que santifica as pessoas.

            Houve uma época em que se pensava que a santidade era um dom reservado aos clérigos e às religiosas dos conventos e mosteiros. Até o Concílio Vaticano II se pensava dessa forma. A santidade estava intimamente ligada à virgindade do corpo, ao sacramento da Ordem e à consagração religiosa. Ensinava-se que a santidade era para as mulheres e homens puros e, portanto, imaculados.  

Pregava-se a existência de uma classe de gente considerada eleita em detrimento dos demais pecadores. Era a classe dos santos e santas de Deus. Estes eram e continuam sendo canonizados pela Igreja, tendo reconhecidas suas virtudes. Curiosamente, mesmo após o mencionado Concílio, a Igreja continua a exigir que exista milagre para que haja a canonização. Isto explica o fato de o povo católico querer milagres dos santos, não se interessando em “imitá-los” em suas virtudes.

Os santos eram considerados entes superiores, pois viviam enclausurados na vida monacal e conventual, rezando, diuturnamente o ofício divino (antigo breviário) e buscando a perfeição pessoal através de práticas ascéticas. Eram mulheres e homens experimentados na vida espiritual, entranhados nos mistérios da vida silenciosa e orante. De fato, não podemos duvidar da santidade de uma multidão de pessoas que assim viveram, sendo, portanto, fieis aos apelos do Espírito, de acordo com suas épocas. Cada santo é fiel ao Espírito e vive esse apelo de acordo com a sua época.

Hoje, os santos são diferentes. A maioria não usa mais os hábitos e batinas pretas medievais. Não possuem um semblante triste e penitencial. Permanecem unidos à cruz de Cristo na alegria, na constância do amor, da esperança e da fé. A maioria já não é reconhecida oficialmente pela Igreja. Muitos se encontram no anonimato, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos. Despojadamente, são promotores da justiça e da paz. Vivendo de acordo com o que pede o Espírito, estão em todas as religiosas. São sinais da presença amorosa de Deus no meio do mundo.

Na Igreja Católica, a maioria dos santos é leiga, ou seja, não são ordenados. Entre estes últimos podemos encontrar alguns santos: homens dedicados às grandes causas do Reino de Deus. Outros vivem à procura da santidade, mas não a encontram porque estão como que cegos, atingidos pelo mal do poder. Na vida eclesiástica, o poder impede muitos clérigos de serem santos. Isto ocorre porque os santos padres são aqueles que se colocam na fileira dos excluídos, servindo-os com humildade, simplicidade, amor e zelo. Agora, durante o pontificado do papa Francisco, os clérigos apegados ao poder, longe de serem santos conforme o evangelho, estão cada vez mais agressivos, semeando a discórdia na Igreja, exercendo com eloquência o papel de traidores do povo santo de Deus.

Como identificar e diferenciar, hoje, o verdadeiro do falso santo em nossas Igrejas? Os verdadeiros santos são aqueles que pautam a sua vida no amor. Vivem amando, incondicionalmente. Vivem fazendo a opção de Jesus, o Santo de Deus, fonte de toda santidade. Não se mede a santidade de uma pessoa pela sua fidelidade aos preceitos religiosos, pois podemos ter bons religiosos, mas que podem ser inimigos de Deus. Ninguém se torna santo diante de Deus porque é fiel aos preceitos religiosos. Estes tem a sua importância, mas por si mesmos não santificam ninguém. Somos justificados no amor. Somos salvos no amor. Somos santos e santas no amor. Fora do amor somente pode existir aparência de santidade.

Então, o que fazer para ser santo? Não há nenhum manual que traz regras a serem cumpridas. O manual dos santos é o evangelho. Este é a regra de vida dos santos. Quem ouvir os apelos do Espírito e se deixar interpelar, passará por uma transformação interior e será, neste mundo, um outro Cristo. Santos são mulheres e homens convertidos a Jesus, pessoas pecadoras que vivem sob a ação do Espírito, totalmente voltadas para o outro, na esperança da manifestação gloriosa dos filhos de Deus em Cristo Jesus. Esta é a vocação dos santos. É o chamado que Deus faz a todos, sem distinção. É uma obra de amor, repleta de alegria e de ternura, de graça e redenção. É o Tudo presente em todos, agora e para sempre.

Tiago de França

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