“Vós
sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de
sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos
uns aos outros e perdoando-vos mutuamente se um tiver queixa contra o outro” (Cl
3, 12 – 13).
A família é chamada a ser um dos lugares de encontro com
Deus. Para que haja esse encontro, é necessário que haja abertura ao outro. No seio
de nossas famílias há esta abertura? Somos, de fato, capazes de compreender os
limites de nossos parentes? Acolhemo-nos, mutuamente, ou vivemos,
continuamente, condenando-nos uns aos outros? Quando escreve aos Colossenses, o
apóstolo Paulo nos fala do amor de Deus: Somos amados por Deus. Abrindo-nos a
este amor, nos unimos a Deus e agimos como Ele: Somos revestidos pela santidade
de Deus.
Segundo o evangelho, Jesus pertencia a uma família. Deus não
quis enviar seu Filho a este mundo, descendo através das nuvens. Em outras
palavras, Jesus não apareceu do nada, mas assumiu a condição humana, nascendo
do ventre materno, como os demais homens. Jesus é filho de família humana e
viveu no contexto familiar marcado pelos valores da tradição judaica. O evangelho
fala que Jesus foi um filho obediente, porém não preso à família (cf. Lc 2, 41 –
52). O vínculo familiar não tirou a sua liberdade. Na verdade, Jesus fez parte
da grande família humana, cujo Pai é Deus.
Eis outro ensinamento que se apresenta às nossas
famílias: Abertura não somente para os de casa, mas, inclusive, para o mundo,
para a sociedade. A família não deve se transformar em um gueto, num grupo
isolado, pois assim não sobrevive. Quando bem estruturada porque alicerçada em
valores fundamentais, a família torna-se, de fato, a base da sociedade. É comum
escutarmos a famosa sentença de que quando a família vai mal, a sociedade também
sofre. Realmente, se olharmos bem para a sociedade brasileira, não teremos
nenhuma dificuldade para constatarmos que vivemos mergulhados numa crise de
valores.
Em parceria com o Estado, com as Igrejas e com a Escola,
a família não pode se omitir diante da situação na qual está profundamente
atingida. Novas formas de entidade familiar estão surgindo, assim como novas
formas de conflitos e modismos. O que fazer diante desta realidade complexa e
desafiadora? A realidade tem mostrado, claramente, que a criminalização e a
condenação das pessoas não constituem solução.
Infelizmente,
a discriminação, a criminalização e a condenação das pessoas tem,
vergonhosamente, ocorrido com frequência. É de causar indignação os atos de
intolerância e tantas outras formas de violência contra casais homoafetivos,
noticiados diariamente nos jornais. Somos um povo marcado pela intolerância,
preconceito e homofobia. E o mais absurdo é que, em muitos casos, os
intolerantes, os preconceituosos e os homofóbicos agem em nome de Deus, como se
fossem soldados de Cristo que combatem o mal, sendo que, na verdade, são
agentes de Satanás, que visam, em nome de um discurso religioso tradicional,
destruir as pessoas.
Todas
as famílias são abençoadas por Deus. Nenhuma delas está excluída do projeto
salvador de Deus. Em Deus não há exclusão de pessoas porque estas são
suas filhas. Na religião existe condenação, mas não em Deus. Os homens criam
leis e sentenças, julgam, absolvem e condenam, mas Deus, que é puro amor, não
age nos moldes humanos. E, além disso, Deus não deu a homem nenhum o poder e a
autoridade para julgar e condenar pessoas em seu nome. Por isso, os pais e mães
devem ensinar aos filhos a verdadeira imagem de Deus: A imagem de um Deus
misericordioso. Se a crença em Deus não passar pelo cultivo da misericórdia,
facilmente os crentes caem na tentação de viver julgando e condenando as
pessoas.
Hoje,
a família precisa urgentemente resgatar o valor que as edifica e sustenta, sem
o qual não sobrevive: O amor. Quando
não há amor, a família vive de aparência. A falta de amor deixa a família
totalmente vulnerável e sem vida. Quando o amor está presente, a alegria também
se faz presente. A tristeza, as intrigas, o julgamento e a condenação do outro,
os olhares sombrios, a falta de sentido; enfim, tantos outros males estão nas
famílias que desprezam o verdadeiro amor.
Na
verdade, aí já não há mais família, mas uma justaposição de pessoas, que
sobrevivem em um ambiente hostil e, portanto, insuportável. Não há pureza, mas
puritanismo; não há moral, mas moralismo; não há fé, mas descrença; não há reta
intenção, mas malícia; não há paz, mas desordem e toda espécie de energia
negativa. Somente o amor é capaz de libertar os núcleos familiares que se
encontram nesta triste situação. E não adianta somente rezar pelas famílias, mas
é preciso tomar atitudes libertadoras, impulsionadas pelo amor e para o amor.
Tiago
de França
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