quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Feliz 2017!

Amigos e amigas,

Por causa da falta de acesso à internet nos próximos dias, este blogue será atualizado a partir do dia dez de Janeiro.
A todos os leitores, desejamos, antecipadamente, um Feliz Ano Novo, repleto de saúde e paz!

Com meu abraço fraterno,

Tiago de França

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Perder para encontrar

       
        Muita gente aproveita o fim do ano para fazer uma revisão de vida. Refletir sobre a própria vida, infelizmente, é uma atitude de poucos. A maioria das pessoas vive a vida no ritmo da música do Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar! (vida leva eu!)”. Viver de qualquer jeito não parece ser algo bom, pois quem assim procede não chega a lugar nenhum. É verdade que não precisamos calcular milimetricamente a vida. A vida requer espontaneidade, o mínimo de planejamento e coragem, muita coragem!

        Enquanto seres racionais, faz bem refletir sobre a própria vida. Nossa maneira de pensar, falar e agir fala de nossa personalidade. Há uma íntima sintonia entre aquilo que pensamos, falamos, nossa ação e nosso caráter. No gozo da saúde mental, toda pessoa sabe de si, conhece um pouco de suas virtudes e de seus limites.

Enquanto pessoas, nascemos para evoluir, para nos desenvolver. Não há pessoa estática. O movimento faz parte da vida, e toda pessoa vive em movimento. Algumas, regridem; outras, progridem. Parece existir um infinito caminhar para frente e para trás: ora caminhamos para trás, ora para frente. Assim é a vida.

        O movimento da vida é progressivo e lento. Nenhuma transformação acontece num passe de mágica. Tudo depende das oportunidades e das circunstâncias, bem como da nossa maneira de lidar com elas. A vida sempre nos oferece oportunidades para nos desenvolvermos e, assim, crescermos. Muitas vezes, as circunstâncias são desfavoráveis e tendem a nos moldar, desfavoravelmente. É aí que a maturidade ajuda.

Quem não tem maturidade para saber lidar com determinadas circunstâncias ou situações, acaba perdendo a oportunidade de crescer. Uma pessoa imatura não sabe extrair o positivo do negativo. Mais que maturidade, é necessário sensibilidade para perceber, para fazer uma leitura da realidade, para filtrá-la.

        2016 foi um ano de muitas perdas. Além das crises política e econômica que afetam o mundo e, principalmente, o Brasil, aconteceram muitas tragédias. O capitalismo vai tirando a visão e a sensibilidade das pessoas, deixando-as frias e indiferentes. Cresce cada vez mais a falta de ética e de responsabilidade. Como dizia a filósofa Hannah Arendt: o mal está banalizado.

Pessoas de todas os povos, línguas e culturas são agredidas, torturadas e assassinadas. Se somarmos as mortes de pessoas no planeta terra, que ocorrem anualmente, chegaremos à conclusão de que existe no mundo um genocídio permanente. A espécie humana está cada vez mais perigosa, é a mais nociva entre todas as espécies do reino animal.

        Para mudar o mundo, cada pessoa precisa mudar a si mesma. Mudar a si mesmo é um desafio possível. Ninguém muda ninguém, nem nenhuma pessoa muda a si mesma sozinha. Precisamos uns dos outros. Não somos autossuficientes.

Não existe pessoa autossuficiente. Só Deus basta-se a si mesmo! Mesmo assim, com o Filho e o Espírito Santo forma uma Comunidade, a Comunidade de Amor. Ninguém nasceu para a solidão, e na solidão não há mudança possível. A gente muda com a ajuda do outro. Este outro é o nosso termômetro, que reconhece as nossas virtudes e aponta, fraternalmente, nossos limites.

        Para que a mudança aconteça, quatro elementos são indispensáveis: o querer, o amor, a confiança e a liberdade. Sem o querer, nenhuma pessoa consegue sair do lugar. Portanto, a pessoa precisa tomar a decisão se quer, ou não mudar. Se não quer, então deve arcar com as consequências do seu não querer. E tais consequências podem ser expressas numa palavra: sofrimento. Quem se recusa à mudança passa toda a vida no sofrimento, desenvolvendo vários tipos de doenças, sendo a maioria delas psicossomáticas.

        Só o amor é capaz de transformar uma pessoa. A religião, as leis, a moral, os costumes, as tradições, os anseios e tantos outros meios podem até ajudar, mas somente o amor transforma. Não há outra força mais poderosa. Assim como um carro não sai do lugar sem combustível, nenhuma mudança acontece sem amor.

Este concede à pessoa o dom da perseverança em meio aos desafios inerentes à mudança. Por falta de amor, muitas pessoas desistem no meio do caminho e se entregam à mesmice, levando uma vida insossa; uma vida sem vida! Há pessoas que não vivem, apenas ocupam lugar no espaço, são cadáveres ambulantes. Quem não tem amor próprio, nem amor ao próximo é cadáver ambulante!

        Outro elemento fundamental é a confiança. Confiar em si mesmo, nas próprias capacidades é um passo importante. Não podemos subestimar ninguém, pois toda pessoa é capaz. No mais profundo de cada pessoa há um poço de energia, uma fonte transbordante, que precisa ser descoberta. 

Para descobrir esta fonte é preciso confiar, trilhar o caminho que leva ao interior de si mesmo. Para contar com a ajuda do outro, a confiança também é necessária. Para os que creem, confiar em Deus é imprescindível. Para a pessoa crente, não há progresso humano e espiritual sem a fé. Esta aparece como ponto de partida, luz e força na caminhada.

        Por fim, consideremos a liberdade como um pilar fundamental sobre o qual se alicerça a mudança de si mesmo. Sem liberdade não há mudança, pois esta não pode acontecer forçadamente. Toda mudança precisa ser espontânea, ou seja, tem que partir da livre iniciativa da pessoa.  

Nenhuma mudança deve ser considerada obrigação, um fardo pesado, mas um caminho a percorrer na liberdade e para a liberdade. Uma pessoa coagida, mesmo que realize alguma mudança em si mesma, não terá êxito, pois tal mudança não permanece. O que não é fruto de escolhas livres tende a durar pouco, pois não tem legitimidade.

        É necessário perder para encontrar. O que isto significa? Toda mudança ocasiona algumas perdas. A mudança obriga deixar algumas coisas, circunstâncias, momentos, convicções, ideologias, medos, ressentimentos, mágoas, apegos para trás.

Muitas vezes, também é necessário deixar algumas pessoas para trás. Não estamos falando que se deve excluí-las ou marginalizá-las. De modo algum! Estamos falando daquelas pessoas que nos fazem o mal, que tendem a nos prender e escravizar. É preciso nos libertarmos delas, deixando-as para trás. Se elas estão no passado, é necessário deixá-las lá; se estão no presente, é necessário nos afastarmos delas. Isto deve acontecer sem violência, com discrição e docilidade.

Não podemos conferir ao outro o poder de nos destruir. Conferir ao outro este poder é sinal de falta de amor próprio. É necessário desapegar-se de tudo aquilo que nos puxa para baixo. Se o outro quer o nosso mal, então devemos evitá-lo. A espiritualidade cristã recomenda que se reze por estas pessoas, para que se convertam. Esta mesma corrente espiritual também ensina que amar o inimigo não significa submeter-se a ele, mas não lhe fazer o mal.

Para a nossa reflexão pessoal, finalizamos estas reflexões com algumas perguntas que podemos nos ajudar em nosso processo pessoal de mudança: Em 2016, o que fiz de bom para o próximo? Sou uma pessoa solidária, ou somente penso em mim mesmo e na satisfação de meus interesses? Perdoei aqueles que me ofenderam? Fui capaz de pedir perdão aqueles que ofendi? Em relação a 2015, cresci ou regredi, tornou-me uma pessoa melhor, ou pior? Na relação com o outro, procurei ajudá-lo, ou sempre procurei fazê-lo sofrer? Fui humilde em minhas palavras e ações na relação com o outro, ou agi com arrogância, colocando-me como superior? Quais coisas, situações, lembranças, momentos, apegos e pessoas preciso deixar para trás, tendo em vista a minha libertação integral? Procurei aprender com meus erros, ou sempre os ignoro? Acredito na força do amor, ou acredito na vingança como caminho de superação dos conflitos? Por que resisto às mudanças necessárias em vista de ser uma pessoa melhor?...
Boas festas!
Que em 2017 possamos ser cada vez mais pessoas, repletas de amor, alegria e generosidade!

Tiago de França

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

MENSAGEM DE NATAL 2016

“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).

Amigos e amigas,

Graça e paz!

Introdução

        Certamente, o ano de 2016 entrará para a história como um dos mais difíceis. Muitas coisas aconteceram: guerras, tragédias, crises, desumanidade. Infelizmente, não temos muito o que comemorar. Inúmeros são os sinais do anti-Reino que se manifestam no mundo. O poder da morte impera nos quatro cantos da terra: gritos e gemidos de dor surgem em toda parte.

Vidas inocentes são ceifadas. Há muito sangue sendo derramado. Para o Oriente Médio, as potências mundiais enviam soldados, dinheiro e armas, e muita gente é brutalmente assassinada. Há sede de poder, de controle e de hegemonia. Até quando assistiremos a esta carnificina humana?...

1 – Brasil: Cai Dilma, chega Temer

        No Brasil, após a queda do governo do PT, a situação se agravou. Muitos acreditaram que o impeachment era a solução para as crises política e econômica. Com o auxílio dos partidos de direita – PSDB e DEM, principalmente – , Michel Temer se tornou Presidente. Em seis meses de governo, seis de seus ministros caíram: todos sob suspeita de corrupção. O próprio Presidente está sendo acusado de corrupção.

Um dos delatores da empresa Odebrecht o mencionou quarenta e três vezes no depoimento à Justiça. Isto é extremamente grave: a maior autoridade da República do Brasil não goza de idoneidade moral. Seus projetos de “reforma” são contrários aos interesses do povo brasileiro, portanto, contrários ao bem comum. São projetos que reforçam o poder da elite poderosa em detrimento da vida dos mais pobres do povo.

2 – Um povo em silêncio

        Manipulado pela mídia, o povo permanece em silêncio. Para derrubar o governo Dilma, a mídia se uniu aos partidos de direita e ao empresariado que os financia, e orquestraram uma forte campanha de terror. Milhares de pessoas foram às ruas com o pretexto de que estavam “lutando contra a corrupção”. Agora, estas pessoas estão em silêncio.  

Os partidos, os empresários e a mídia que outrora as convocaram estão se beneficiando do governo Temer, e contam com o silêncio do povo. A maioria dos que formam este povo não pensa, não enxerga, não analisa, pois constitui, politicamente falando, uma massa de gente anencéfala. Quem não pensa por si mesmo não tem cérebro! É massa de manobra.

3 – A Constituição é brutalmente rasgada

        A Constituição Federal, norma suprema da República, assegura os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros. Infelizmente, as “reformas” propostas e aprovadas pelo governo atual afrontam a Constituição Federal. O governo e seus apoiadores estão modificando a Constituição para prejudicar o povo brasileiro. A mídia que apoia os que estão rasgando a Constituição mente para o povo, dizendo que o governo está tomando medidas para melhorar a vida da população.

Na verdade, tais medidas visam manter os privilégios da elite poderosa, que somente deseja aumentar cada vez mais seu poder. Mentem, descaradamente! Insistem na mentira, de forma veemente, para que o povo aceite a mentira como se verdade fosse. A mentira esconde os golpes contra os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros.

4 – Um Judiciário conivente

        O Judiciário é um dos poderes de nossa República. O Supremo Tribunal Federal é o órgão supremo do Judiciário, e a sua principal função é ser guardião da Constituição. Ser guardião significa ser vigilante, assegurando a inviolabilidade da norma suprema. Nenhum cidadão e nenhuma instituição poderiam violá-la. Todos os que a violam deveriam ser punidos na forma da lei.

O Supremo Tribunal possui mecanismos de controle da constitucionalidade, que tem a finalidade de zelar pela integridade e aplicabilidade da Constituição. Ninguém está acima nem à margem da norma suprema. Todos os brasileiros, natos ou naturalizados, bem como todos os que se encontram no território brasileiro devem se submeter ao poder da Constituição. Este é o ideal, mas a realidade tem demonstrado o contrário de tudo isso.

        Neste ano, o parlamento brasileiro orquestrou uma ficção jurídica. O que isso significa? É tudo muito simples, e de resultado desastroso. O impeachment está previsto na Constituição. Para que seja efetivado, o Presidente da República precisa cometer, comprovadamente, o crime de responsabilidade. Configurado o crime, aplica-se a pena de cassação do mandato e dos direitos políticos.

No caso da ex-Presidenta Dilma, visivelmente, não houve crime de responsabilidade e, mesmo assim, teve seu mandato cassado. A injustiça foi tão grande, que o próprio parlamento decidiu não cassar os direitos políticos da ex-Presidenta. Depois da cassação, empossado o Vice no cargo de Presidente, o mesmo parlamento decidiu que as pedaladas fiscais não mais constituem “crime”, ou seja, as tais pedaladas serviram como pretexto para cassar a Presidenta da República.

Este processo injusto, que constitui verdadeira ficção jurídica, foi presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal. Em outras palavras, o Presidente do Supremo Tribunal presidiu a violação da Constituição. Sem arrodeios, foi isto que aconteceu. Portanto, foi rompida a ordem constitucional, e tal rompimento foi considerado legal.

5 – A operação Lava Jato e a seletividade da Justiça

        Desde 2014, está em curso a operação Lava Jato, que surgiu com o objetivo de investigar crimes de lavagem de dinheiro. Inúmeras pessoas foram investigadas, processadas e punidas. É inegável a importância desta e de outras operações para o combate à corrupção no Brasil. Quando a Justiça quer investigar, processar e punir, os resultados são, de modo geral, positivos.

Desde 2003, com a chegada do ex-Presidente Lula até a saída da ex-Presidenta Dilma, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal tiveram ampla liberdade para investigar os crimes praticados. Este é um legado dos governos Lula e Dilma que ficará para a história. Qualquer pessoa de bom senso admite isso. Antes de 2003 não existiam operações como a Lava Jato. Esta é uma verdade incontestável.

Nas pegadas do seu predecessor, a ex-Presidenta Dilma não interferiu nas investigações, permitindo a sua continuidade e ampliação. Até a própria ex-Presidenta foi injustamente escutada, quando teve seu telefone grampeado pela justiça federal sem autorização do Supremo Tribunal Federal.

        Qual o problema da operação Lava Jato? Ela vai libertar o Brasil da corrupção? Conseguirá investigar, processar e punir todos os criminosos do Brasil? De modo algum. Basta-nos uma pergunta para vermos a fragilidade desta famosa operação: Quantos criminosos ligados aos partidos DEM e PSDB foram investigados, processados e julgados na operação Lava Janto? Nenhum!  Até o momento, a operação optou por investigar, processar e punir pessoas e organizações ligadas aos ex-Presidentes Lula e Dilma. Visivelmente, a operação é tendenciosa.  

Nestes dias, 77 ex-executivos da Odebrecht fizeram acordo de delação premiada na operação Lava Jato. Foram 800 depoimentos à Justiça. Neles, vários políticos foram mencionados, inclusive o atual Presidente da República, e pessoas ligadas aos partidos que formam a sua base de governo, incluindo DEM,  PMDB e PSDB. Estes três partidos comandam a República brasileira atualmente, e são os responsáveis por tudo o que está acontecendo. São os promotores das “reformas” do atual governo. Será que os políticos destes partidos, bem como as demais pessoas ligadas a eles serão punidas na operação Lava Jato?...

        Em síntese, o que podemos concluir a respeito da forma como atua a Justiça brasileira? A Justiça comete injustiças! Uma injustiça que provoca tantas outras é a seletividade. Uma das grandes desgraças que afeta o País hoje é a seletividade presente na atuação da Justiça. Esta escolhe quem vai investigar, processar e punir.

Se o leitor discorda, então responda, honestamente: Por que a Justiça não investiga, processa e pune Renan Calheiros, Fernando Collor e Aécio Neves? Por que os processos contra estes políticos não caminham, enquanto que os processos contra o ex-Presidente Lula caminham a passos largos? Por que assistiremos, em breve, a prisão do ex-Presidente Lula, enquanto Renan, Collor e Aécio ficarão rindo da Justiça e do povo brasileiro?...

Se isto não é seletividade, o que é então?... Em nossas publicações não nos cansamos de repetir algo que aparece com clareza no Brasil: Inúmeros criminosos no Brasil tem, no Poder Judiciário, amigos que os protegem e blindam. Basta o leitor lembrar do ocorrido recentemente com o senador Renan Calheiros, que desafiou o Supremo Tribunal e saiu vencedor. E por que venceu? Porque tem grandes amigos no Supremo Tribunal. Não há segredo. Tudo está muito claro. No Brasil, quem tem amigos juízes, desembargadores e ministros no Supremo Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal não precisa ter medo da lei. Quem aplica a lei é o juiz, e se este não quiser aplicar, reina a impunidade.

6 – O que esperar do futuro?...

        Infelizmente, precisamos considerar uma previsão um tanto triste: Até 2018 assistiremos a mais apertos, e a partir desta data, que será marcada pelas eleições, a situação poderá piorar. Atualmente, tendo em vista o terrível cenário no qual estamos inseridos, tudo converge para a chegada de um político do PSDB à Presidência da República. Os nomes já são bastante conhecidos: todos sob suspeita de corrupção.

Contra eles a Justiça não tem força, e os motivos já foram apresentados. Caso o PSDB chegue à Presidência da República, o País cairá numa estagnação sem precedentes. Já conhecemos o estilo psdebista de governar: Totalmente alinhado com os interesses dos mais ricos em detrimentos dos mais pobres. O governo Temer tem a agenda do PSDB e os estragos estão sendo conhecidos.

Com Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos e um político do PSDB na Presidência do Brasil, nosso País se transformará numa grande fazenda formada por milhões de escravos, governada por criminosos sanguinários, que sempre se comportaram de forma criminosa porque desconhecem lei que os detenha e puna.

É para isto que, a nosso ver, estamos caminhando. O terreno fértil para tal desgraça é constituído por um povo totalmente manipulado, que só sabe ir às ruas se for mandado; do contrário, permanece em casa, vendo os retrocessos pela tela da TV Globo, empresa poderosa que controla o cérebro de milhões de brasileiros, entre outras que trabalham no mesmo sentido.

7 – Diante deste cenário, o que o Natal de Jesus tem a nos dizer?

        Por fim, cabe-nos perguntar: O que a mensagem do Natal de Jesus tem a nos dizer, diante desta situação desoladora? Para nós, que professamos a fé em Jesus, o Natal não é sinônimo de mesa farta, muita bebida, troca de presentes, árvore luminosa, Papai Noel e peru da Sadia. Todas estas coisas podem até ser boas, mas geram somente uma alegria passageira. São frutos do apetite mercadológico.  

A alegria oriunda do verdadeiro Natal não é passageira, mas permanece transbordante no coração de todo aquele que crê. A Boa Notícia da encarnação de Deus na humanidade gera uma alegria que dura para a vida eterna. Crer no mistério da encarnação de Deus significa crer em outro mundo possível.

Jesus não nasceu neste mundo para ser transformado em objeto de ritual litúrgico. O mistério da encarnação não pode ser reduzido a um ritual. Neste sentido, o Natal acontece todos os dias na vida daqueles que entram em comunhão com este mistério de amor.

Com isto, não estamos nos opondo à liturgia de nossas Igrejas, à celebração solene do Natal do Senhor. De modo algum! Mas precisamos ter em mente que toda solenidade litúrgica perde o seu verdadeiro sentido quando desconectada da realidade do mundo. Deus se encarnou para a vida do mundo, não para ser somente celebrado na solene liturgia. Esta deve ser a expressão do que se vive no seio do mundo em permanente conflito.

        Neste sentido, não deve existir uma oposição entre vida eclesial e vida secular. Não deveria existir esta dualidade. O mistério da encarnação, quando compreendido naquilo que verdadeiramente significa, não permite a dualidade entre o religioso e o secular. O lugar do religioso é no secular. Deus encarnou na periferia do mundo, lá onde o que consideramos profano se manifesta.  

Tornar-se carne é tornar-se secular. Para nos escandalizar, Jesus viveu toda a sua vida numa perspectiva secular, em plena sintonia com o Pai no Espírito. Já sabemos que ele não viveu na clausura nem na sacristia do Templo, mas era homem, plenamente humano, recapitulando todas as coisas, no cumprimento fiel da sua missão. Este é o mistério que celebramos no Natal.

Conclusão

        Neste espírito de comunhão e participação no mistério da encarnação, desejo a todos um Feliz Natal, e um Ano Novo repleto de saúde e paz! Roguemos ao bom Deus, que cremos ser o Emanuel, Deus conosco, que não nos abandone na caminhada, e que seu Espírito permaneça conosco, socorrendo-nos sempre, recriando-nos para sermos fieis às aspirações do Amor, início e fim de nossa peregrinação terrestre, até o encontro definitivo na Pátria definitiva, porque lá a festa vai ser linda de viver!

        Fraternalmente, no Cristo Jesus,

Tiago de França

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Aceitar-se. Pensamentos (XXIX)

Nenhuma pessoa consegue ser livre recusando-se à verdade de si mesma.


Tiago de França

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Ser pontes. Pensamentos (XXVIII)

Na vida do outro devemos ser pontes, não muros. A vida é feita de travessias.


Tiago de França

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Um profeta chamado Dom Paulo Evaristo Arns

   
    Após alguns dias sem publicar, retornamos com nossas reflexões/provocações. Desta vez, para falar, brevemente, de um dos maiores profetas da Igreja Católica no Brasil que, hoje, celebrou a sua páscoa: Dom Paulo Evaristo Arns, frade franciscano e cardeal da Igreja. Certamente, não cabe no espaço de um breve artigo descrever ou comentar, completamente, a extraordinária história de vida deste grande homem. Há algumas obras biográficas que realizar melhor essa tarefa, que recomendamos a leitura.

        Neste mundo, há homens que estão no nível do ordinário, e outros que estão no nível extraordinário. Pessoas extraordinárias são aquelas que estão muito além do seu tempo. Algumas, ganham notoriedade e são reconhecidas; outras, vivem no silêncio da clandestinidade. Estas pessoas precisam ser lembradas porque constituem referências de vida para inúmeras outras. Vivemos numa época marcada pela falta de referências. Atualmente, no Brasil, há uma carência enorme de pessoas que apontem para o futuro, com os pés firmes no chão do tempo presente: pessoas despojadas e proféticas, que anunciem e denunciem, pessoas íntegras e, portanto, coerentes.

        Dom Paulo é justamente este tipo de pessoa: simples, humilde, coerente e, portanto, evangélico. Viveu em plena sintonia com a centralidade da mensagem de Jesus. E qual é a centralidade da mensagem de Jesus: é o Reino de Deus. Dom Paulo conhecia o mistério do Reino de Deus e sempre viveu unido e guiado por este mistério. Ele sabia que no centro da mensagem de Jesus estava os pobres, prediletos do Reino de Deus. Sabia que no evangelho de Jesus, os pobres ocupam o lugar principal porque são os últimos da sociedade.

        Com Francisco de Assis, Dom Paulo aprendeu a viver na humildade e simplicidade. Como cardeal e arcebispo, nada lhe faltava. Mas não se aproveitava destes postos para se colocar como superior nem para viver uma vida luxuosa. Não sofria do mal da vaidade, que afeta tantos homens da hierarquia eclesiástica. Era um cardeal franciscano, amigo dos pobres desvalidos, coisa rara de se ver. Exerceu o ministério episcopal como pastor de uma Igreja que se reconhecia Povo de Deus, assembleia dos chamados à santidade na opção preferencial pelos pobres.

        Durante a ditadura militar, mesmo tendo irmãos no episcopado que se acovardaram diante da matança de gente inocente, Dom Paulo fez a opção de Jesus: acolher, consolar, denunciar, proteger, levantar o báculo na direção dos opressores. De fato, foi exímio pastor, disposto a dar a sua vida pelas ovelhas do rebanho de Jesus. Ele tinha plena convicção de que foi chamado para dar a vida, até o derramamento de sangue se necessário fosse. Mas os militares não tiveram a ousadia de matá-lo. Assassinar o cardeal arcebispo de São Paulo era demais.

        A Igreja Povo de Deus, promovida pela ação zelosa e profética de Dom Paulo, era marcada pela comunhão e pela participação: duas grandes coordenadas emanadas dos documentos do Concílio Vaticano II. Combatendo o clericalismo reinante no pontificado do papa João Paulo II, Dom Paulo criou e promoveu com toda a força de seu coração aberto à voz do Espírito, as comunidades eclesiais da base. Apoiou, sem medo, a Teologia da Libertação, protegendo teólogos contra os arbítrios do moderno Tribunal do Santo Ofício.

        Escreveu e gritou sobre os telhados um clamor eloquente contra a tortura e os demais crimes da ditadura. Socorreu a todos aqueles que o procuravam. Salvou centenas de vidas ameaçadas de morte. Franciscano contemplativo na ação, sabia enfrentar, com prudência e coragem, os inimigos do povo santo de Deus. Promotor dos direitos humanos, toda a sua vida constitui verdadeira denúncia contra os abusos que se cometem contra os pobres e marginalizados da sociedade.

        Conheci a história deste grande Padre da Igreja da América Latina, quando era seminarista. Li a sua história, e ele passou a fazer parte do número pequeno dos meus santos de devoção. Agora, que está junto a Deus, recebendo a recompensa dos justos na grande festa do Reino sem fim, confio na sua intercessão. Tenho o privilégio de beber da fonte da sua espiritualidade, que é profundamente profética e evangélica. Quando olho para Dom Paulo, vejo a imagem de Jesus, e cada vez mais me sinto chamado por este mesmo Jesus a trilhar, sempre e ousadamente, o árduo e feliz caminho da profecia.

Dom Paulo Evaristo Arns,
profeta do Reino de Deus, rogai por nós!

Tiago de França

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Aos leitores e leitoras

Amigos/as,

Por motivo de força  maior, este blogue não está sendo atualizado. Em breve, retornaremos com nossas publicações.
Pela compreensão,
Obrigado!

Tiago de França 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A vida e a morte. Pensamentos (XXVII)

       
       Geralmente, as pessoas evitam pensar na própria morte. Esta parece assunto proibido, mesmo aparecendo todos os dias, em todas as partes do mundo. A cada segundo morre gente pelo mundo afora. Trata-se de uma realidade que se impõe, sem pedir licença. E é assim desde as origens. Não se sabe como a morte apareceu no mundo. O que se sabe é que ninguém dela pode escapar. É uma certeza inabalável. Cedo ou tarde, todo ser vivo se encontra com a morte.

            Mansos e violentos, ricos e pobres, doutores e iletrados, governante e governado, crentes e ateus, brancos e negros, orientais e ocidentais, humildes e arrogantes, despojados e apegados, saudáveis e doentes, justos e injustos, convictos e incertos, enfim, todos conhecem o seu fim neste mundo. Não há recurso ou meio que possa evitar a morte. Na hora devida ou indevida, ela vem dar um basta em nossa vida. Conformando-se, ou revoltando-se, a morte é certa e se impõe. Não há homem poderoso neste mundo que possa enfrentá-la.

            E é bom que seja assim. O que seria deste mundo se certos tipos de pessoas se eternizassem? Imaginemos todos os ditadores e sanguinários, que ceifam a vida de centenas e milhares de pessoas. O que seria de nós se estes sedentos de sangue não morressem? Quando a justiça dos homens não alcança o opressor, a morte alcança e o coloca no seu devido lugar, silenciando-o na sepultura. Não se trata de desejar a morte destas pessoas, mas a dinâmica da morte cuida de todos; e neste mundo há pessoas que apressam a própria morte e perdem a vida porque se tornaram inimigos dela.

            A espiritualidade cristã oferece um belo ensinamento sobre a morte. Partindo da experiência de Jesus de Nazaré, a morte não é a última palavra da existência humana. Segundo Jesus, o Messias, a Ressurreição é a última palavra. Esta é a esperança cristã. Pela fé no nome de Jesus, todo crente alcança a ressurreição da carne e a vida eterna. O próprio Jesus é o primogênito dentre os mortos, ou seja, o Pai o ressuscitou, libertando-o do poder da morte. Para quem tem fé, Jesus é a ressurreição e a vida. Portanto, o verdadeiro cristão, alicerçado nesta esperança, perde o medo da morte.

            A morte do corpo não amedronta o cristão. Há uma morte eterna que se mostra perigosa, que consiste na separação total em relação a Deus. O perigo está em perder a visão de Deus, perder a união com Ele. Mas a fé e a graça de Deus não permitem que isto aconteça. Por isso, os que seguem Jesus vivem unidos a Ele, numa comunhão plena, que ultrapassa toda compreensão e sabedoria humanas. Unido ao Pai, ao Filho e ao Espírito, o cristão permanece na luz. Diante da morte, acompanha-o a coragem, a serenidade e a segurança. Neste sentido, a morte constitui apenas uma pausa na vida, que é eterna.

            Por fim, vale a pena recordar uma orientação da mensagem de São Francisco de Assis: a morte é nossa irmã, por isso, devemos nos reconciliar com ela. O ideal é que morramos em paz, sem revoltas. Acolher o mistério da morte é reconciliar-se com ela. É reconhecer que através dela entramos em comunhão com o Mistério maior, reconhecendo-nos plenamente nele.

A morte nos faz conhecer o que realmente somos em plenitude. Por meio dela, ingressa-se na alegria sem fim. Somos seres transcendentes, e a morte nos faz experimentar isso. Trata-se da revelação plena daquilo que somos. 

            Enquanto peregrinamos neste mundo, precisamos aprender a valorizar as pessoas e amá-las do jeito que são. Precisamos aprender a arte de conviver. Não podemos deixar passar as oportunidades de encontro e reencontro. Aproveitar a companhia e a amizade das pessoas, enquanto ainda estão conosco. Faz bem evitar o adiamento do perdão e da acolhida, da aproximação e do estar junto. Quem muito dia e evita, pode perder grandes oportunidades. Muitas vezes, deixa-se para depois o encontro, o reencontro e a convivência, de repente, o outro já não pode ser encontrado porque já não existe mais, partiu deste mundo.

Quando se vão, alguns são lembrados, outros são esquecidos; mas, independentemente da lembrança, todos somos importantes aos olhos de Deus. Na verdade, quando as pessoas morrem, tenham elas sido “boas” ou “ruins”, sempre serão lembradas por alguém que foi tocado por um gesto de amor manifestado. O amor é como a morte, dele também ninguém escapa. E é ele quem nos salva da morte sem fim.


Tiago de França

domingo, 30 de outubro de 2016

Uma breve palavra sobre o resultado das eleições municipais em quatro cidades

Os mineiros da capital disseram não ao PSDB para a Prefeitura de BH! Este é, a meu ver, o único ponto positivo da vitória de Alexandre Kalil.

Em Montes Claros - MG, a justiça não deu conta de barrar a candidatura de Ruy Muniz, mas o povo respondeu nas urnas: disse não à corrupção. Meus parabéns à maioria dos eleitores daquela sofrida cidade!

No Rio de Janeiro, os cariocas optaram pelo fundamentalismo religioso do bispo Crivella! Um bispo da Universal do Reino de Deus se tornou prefeito. Agora, não adianta apelar para Jesus. Meus sentimentos aos cariocas, especialmente os mais pobres.

E em Fortaleza, no Ceará, a maioria dos que foram às urnas reprovou o capitão Wagner. De fato, prefeitura não é lugar para capitão de polícia. A experiência mostra que os militares não sabem governar. Lugar de militar é em sua corporação. No exercício do poder executivo ou legislativo só servem se aprenderem o significado da democracia; do contrário devem ser reprovados nas urnas.

Aos eleitos e reeleitos, torço para que sejam, de fato, gestores da coisa pública em vista do bem comum.


Tiago de França

Chamados à conversão

“Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa” (Lc 19, 5).

        À luz da conversão do publicano Zaqueu (cf. Lc 19, 1-10), queremos falar sobre a necessidade da conversão. No texto, aparecem algumas expressões muito significativas, que podem nos ajudar em nosso processo de conversão.

        Zaqueu era chefe de cobradores de impostos e muito rico. Era homem rejeitado pelo povo e encerrado na solidão. O seu deus era o dinheiro. Vivia em função deste. Sua riqueza tinha origem na desonestidade. Como todo homem rico, dedicava a sua vida ao acúmulo e à conservação do dinheiro. Não tinha alegria e desconhecia o amor. Só tinha dinheiro. Este dominava o seu coração.

        Esta condição de Zaqueu nos questiona: temos um coração livre? O que tem dominado nosso coração e nossa vida? O que tem preenchido o nosso viver? Quais os nossos apegos? O que estamos fazendo com o que nos prende? Ódio, ciúme, inveja, ressentimento, pessimismo, frieza, ambição, lembranças, desejos, posses, controle, mentira, falsidade, fantasia, ilusão, sucesso, poder, dinheiro... O que nos prende e nos escraviza?...

        Zaqueu ficou sabendo da existência de Jesus, e queria vê-lo. Queria conhecer Jesus. Este era o seu desejo. Muitas vezes, as pessoas escutam falar de Jesus, mas não desejam conhecê-lo. Em nossas Igrejas cristãs há muitas pessoas que frequentam o culto, mas não desejam conhecer Jesus. Evitam encontrar-se com ele. Muitas destas pessoas têm medo de Jesus, têm medo das consequências do encontro com ele. O medo conduz ao comodismo.

        O texto evangélico fala de uma procura recíproca: Jesus e Zaqueu se procuravam. Como era de estatura baixa, Zaqueu subiu numa árvore para ver Jesus. A multidão acompanhava Jesus e impedia a visão de Zaqueu. Quando Jesus passou pela árvore onde ele estava, fez o convite: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Ele atendeu ao convite e “recebeu Jesus com alegria”.

        Interessante que Jesus pediu para que ele descesse depressa. Zaqueu precisava urgentemente de conversão, e Jesus sabia disso. Isso mostra que Jesus quer se encontrar conosco o mais breve possível. Ele tem pressa em nos despertar para a conversão. Esta não pode ser adiada, postergada no tempo.

Não sabemos do tempo que ainda dispomos para viver; por isso, é necessário atendermos ao convite de Jesus quando ele passa por nós. Não podemos perder a oportunidade. Se perdermos a oportunidade, pode ser que não haja outra. Pode ocorrer também que já não tenhamos mais tempo. Nossa vida pode ser abreviada pela força das circunstâncias... Não podemos ficar adiando a nossa conversão.

O sentimento primeiro que surge no encontro com Jesus é a alegria. Esta alegria é única e permanente. É única porque nada neste mundo oferece uma alegria semelhante. Só o encontro com Ele. Quem nunca se encontrou com Jesus desconhece a verdadeira alegria. Trata-se de uma alegria que permanece porque Jesus não passa pela vida das pessoas, mas vem para ficar. Ele quer permanecer em cada coração que se abre à sua presença amorosa.

Ao verem Jesus na casa de Zaqueu, as pessoas começaram a falar mal tanto de um quanto do outro. A fofoca sempre existiu. Ficaram escandalizados com a atitude de Jesus: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!” Geralmente, as pessoas pensam, dentro e fora de nossas Igrejas, que os pecadores públicos devem ser rejeitados. E as pessoas criam categorias de pecadores: ladrões, adúlteros, prostitutas, homossexuais, usuários de drogas, mendigos, pessoas sem ocupação etc.

Para muitos “cristãos”, estas pessoas devem ser desprezadas. Não se deve ter contato com elas. São consideradas impuras, inúteis e condenadas à perdição eterna. A regra é clara: mantê-las à distância para evitar contaminação, pois são filhas do demônio. Alguns “cristãos” mais radicais propõem até que tais categorias de pessoas sejam extintas da sociedade. Esses “cristãos” vivem orando praticamente todos os dias, participando ativamente do culto religioso de nossas Igrejas. São os falsos cristãos: hipócritas, cheios de veneno!

Jesus não deu atenção às murmurações das pessoas, e foi hospedar-se na casa de Zaqueu, pecador público da época. Estando em sua casa, Jesus nada pediu. Não fez sermão nem o condenou. Simplesmente, se fez presença de Deus em sua vida. Diante da presença de Jesus, Zaqueu não resistiu, ficou de pé (postura de gente decidida), e disse: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Esta foi a sua escolha, a sua decisão, a sua conversão.

Partilhar os bens com os pobres e devolver o dinheiro roubado às vítimas das cobranças injustas: eis o resultado do encontro com Jesus. A partir deste encontro transformador, Zaqueu enxergou a necessidade da conversão. Com Jesus, passou a entender que nenhum ser humano precisa acumular riqueza para ser feliz; que a partilha é uma exigência fundamental do encontro com Jesus; que o dinheiro em excesso tira a verdadeira alegria da vida, encerrando a pessoa no vazio existencial.

Tendo acolhido a decisão de Zaqueu, Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. Jesus foi enviado pelo Pai para procurar e salvar os pecadores. Seu chamado à conversão não exclui ninguém. Podemos agir como Zaqueu: aceitar o convite de Jesus para permanecer em nossa vida.

Converter-se não é mudar de religião; não é praticar todos os preceitos religiosos; não é decorar a Bíblia; não é simplesmente evitar o pecado. Converter-se é acolher Jesus. Não há transformação sem o encontro com Jesus. Ele quer se encontrar conosco, e deseja habitar o nosso coração. Quer transformar a nossa vida. A experiência ensina que quem acolher Jesus é radicalmente transformado por ele, encontra o verdadeiro sentido da vida e conhece a verdadeira felicidade.

Este é o chamado à conversão. A pessoa convertida é alegre, acolhedora, cheia de amor e de ternura, misericordiosa, aberta ao perdão e à partilha, despojada, humilde e voltada para os outros. Converter-se é permanecer com Jesus, e tê-lo como a única riqueza da vida. Assim, nada falta. Quando estamos com Jesus, temos tudo. Tornamo-nos um com Ele. Estamos salvos.


Tiago de França

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Escolas sendo ocupadas. Viva a democracia e a organização estudantil!

Primeiramente, FORA TEMER!

Centenas de escolas e tantos outros espaços públicos estão sendo ocupados. Ocupados, não invadidos.

Há adolescentes e jovens, estudantes e não estudantes, e inúmeras outras representações do povo, gente trabalhadora, ocupando as ruas do País.

Isto é democracia. Contra a tirania dos poderosos, contra os membros de um governo empenhado em golpear, diuturnamente, os pobres do povo, as pessoas estão levantando a sua voz.

E não há força nem ameaça capazes de conter a ação de pessoas conscientes e comprometidas com a verdade e com a justiça.

Com ou sem a cobertura da mídia, há gente gritando nas ruas. E estas pessoas não estão batendo as panelas da hipocrisia, mas estão clamando por justiça.

Cedo ou tarde, esta justiça vai aparecer, e os poderosos cairão de seus tronos, como já está acontecendo. E a festa vai ser linda de viver!

Basta de opressão! A favor da educação para a liberdade, contra a PEC 241 e a "reforma" do Ensino Médio.

Em plena comunhão com todos os que lutam, especialmente os estudantes secundaristas, subscrevo-me.


Prof. Tiago de França

domingo, 23 de outubro de 2016

Reconhecer-se pecador para manifestar a glória de Deus

“Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” (Lc 18, 13).

Quem se reconhece pecador jamais se sente superior aos outros: esta parece ser a recomendação de Jesus quando contou a parábola do publicano, narrada pelo evangelista Lucas (18, 9-14). Trata-se de uma parábola dirigida às pessoas que confiam na própria justiça e desprezam os outros. Portanto, nossa meditação é dirigida a todos, mas especialmente às pessoas que se enquadram nesta tipologia.

Na parábola, conta Jesus que dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, e o outro cobrador de impostos. Naquela época, os fariseus eram figuras religiosas muito importantes: versados na lei de Deus, conhecedores das Escrituras Sagradas, gozavam de prestígio por perante o povo, constituíam a elite religiosa, tinham íntima relação com a autoridades civis da época.

No lado oposto, estava o cobrador de impostos (publicano): os publicanos eram muito odiados pelo povo e considerados pecadores públicos; muito condenados pela religião judaica, não participavam da vida religiosa. Eram pessoas marcadas pela rejeição social. Juntamente com as prostitutas, leprosos, homossexuais, deficientes e tantos outros excluídos, formavam a classe dos marginalizados do tempo de Jesus.

No templo, o fariseu assim rezava: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda”. Esta é uma forma errada de se colocar diante de Deus. Podemos identificar dois problemas. Vamos a eles.

“...porque não sou como os outros homens...” Diante de Deus, o fariseu se sente superior aos demais homens e os julga. Não se reconhece pecador. Sentir-se melhor do que os outros é pecado, e muitas vezes, os cristãos se esquecem disso. Quem possui um conceito exagerado de si mesmo, facilmente cai na tentação de sentir-se melhor que os outros.

Sentir-se melhor que os outros é sinônimo de colocar-se no centro de tudo. É o mal do estrelismo. Neste sentido, falta um dom precioso: a humildade. Uma pessoa humilde não consegue se sentir nem superior nem inferior às demais pessoas. A humildade é a virtudes que nos faz viver de acordo com o que realmente somos. Quem é humilde encontra o seu lugar no mundo e vive de acordo com a verdade de si mesmo.

Todo ser humano é pecador. Ninguém está excluído ou isento dessa condição. Cada um peca a seu modo e de acordo com as circunstâncias. Se todos pecam, então nenhum pecador tem autoridade para apontar o pecado do outro. Todos precisam da misericórdia de Deus, a começar pelos mais religiosos, que costumam ser os maiores pecadores, pois conhecem a lei de Deus e a transgridem, muitas vezes, intencionalmente.

É preciso considerar também, que muitas das pessoas que se sentem melhores que as outras, sofrem do mal da baixa autoestima; e, por causa disso, precisam inferiorizar os outros para se sentir melhores. Inúmeras são as motivações que levam a isso: inveja, ciúme, preguiça mental, falta de perspectivas etc. Neste caso, tais pessoas precisam de tratamento psicológico para se encontrar consigo mesmas e ser, de fato, quem realmente são.

Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda”. Aqui está o segundo problema da oração do fariseu que, curiosamente, provoca o primeiro. O jejum e o dízimo eram e continuam sendo práticas religiosas muito preciosas para o judeu. Também os cristãos aderiram a estas práticas.

Com que intenção estas práticas são feitas? Há duas intenções reprováveis à luz do evangelho: a primeira, consiste em chamar a atenção dos outros para si mesmo para, assim, se sentir melhor que os outros; a segunda, em praticá-las com o intuito de conseguir os favores divinos. Quem age dessa forma, não age bem. Dessa forma, o jejum, o dízimo e as demais práticas religiosas se transformam em práticas pecaminosas.

Quando, ao final da parábola, Jesus afirma que o cobrador de impostos saiu do templo justificado diante de Deus, o que quis dizer é o que, muitas vezes, as pessoas religiosas não aceitam: As práticas religiosas não tornam justas as pessoas diante de Deus.

Em outras palavras, sendo mais enfáticos: Deus não olha as práticas religiosas dos crentes, mas olha seus corações; olha se estes estão abertos ao amor. É o amor, e não as práticas religiosas que vale diante de Deus. Se tais práticas não conduzem ao amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, então devem ser abandonadas.

Em nossas Igrejas, temos muitos cristãos fieis às prescrições religiosas: frequentam assiduamente o culto; são dizimistas; fazem jejum; são dóceis às orientações de seus pastores; dão esmolas; participam da Ceia do Senhor; confessam seus pecados; guardam o Dia do Senhor e os demais dias de preceito; mas, escandalosamente, são desprovidos de amor a Deus e ao próximo.

Obedecem às prescrições religiosas, mas desconhecem a lei de Deus; leem o evangelho, mas desconhecem o seu conteúdo. Por isso, Jesus os chama de hipócritas, pois invocam seu nome, mas se recusam a observar o seu mandamento, que é o mandamento de Deus: o amor enquanto ação poderosa capaz de libertar e salvar integralmente as pessoas.

Muitos cristãos precisam rever a forma como praticam a religião. Quem se sente importante diante de Deus somente porque é fiel às leis religiosas está no caminho errado. Não há meio termo. Deus não está interessado em nossa fidelidade à religião, mas quer que sejamos fieis a Ele.

Devemos ser fieis Àquele que nos salva. A religião é instrumento, e por não passar disso, não salva. O grande problema de muitos cristãos é que absolutizam a religião e relativizam Deus. 

Nossa postura diante de Deus deve ser a do cobrador de impostos, que, batendo no peito, fez a prece que todos devemos fazer, diuturnamente: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” Reconhecer-se pecador e entregar-se ao amor: esta é a vocação cristã que Jesus nos ensina ao contar esta parábola. Somente assim, não cairemos na terrível tentação de nos sentirmos superior aos outros, tratando-os com desprezo.

Toda pessoa que despreza os outros, cedo ou tarde, experimentará o desprezo. Se não experimentá-lo nesta vida, não escapará na outra. Os maus, que nunca se convertem, religiosos ou não, encontram a sua recompensa. Nenhum escapa. Não há exceção.

Não há futuro para quem se entrega ao espírito de superioridade e ao desprezo aos outros. Não há prática religiosa que afaste a recompensa devida no tempo devido. Por outro lado, todos os desprezados e humilhados, confiando na justiça divina, também serão consolados, neste mundo ou no que há de vir. Esta é a esperança cristã.

Tiago de França