sábado, 28 de maio de 2016

Cristianismo e política no Brasil

         Os cristãos devem participar da vida política do País. Como deve ser esta participação? Aqui se encontra o problema atual da relação entre o Cristianismo e a política no Brasil. Infelizmente, os que tem se destacado na mídia constituem o que denominam de “bancada evangélica”: líderes “evangélicos” na Câmara dos deputados e no Senado Federal. A análise de seus discursos é de causar vergonha, pois em nome de Deus defendem ideias absurdas. Na política, a mencionada bancada parlamentar é o que há de pior na representatividade cristã na política. O Cristianismo está pessimamente representado. Por que afirmamos isso? Vamos às razões.

      Primeira: Os membros da bancada evangélica desconhecem o evangelho de Jesus de Nazaré. Deputados como Marco Feliciano, Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro e tantos outros do mundo neopentecostal que formam a mencionada bancada, nunca conheceram Jesus. Não são seguidores de Jesus. Para eles, Jesus não passa de um ídolo a ser adorado. Pronunciam e invocam o nome de Jesus, mas não praticam o mandamento da Lei de Deus, que consiste no amor ao próximo. Utilizam a Bíblia, mas desconhecem o seu conteúdo. São como os fariseus e mestres da lei: Mentirosos e cheios de podridão.

Segunda: Os membros da bancada evangélica não são religiosos, mas manipuladores da religião cristã. A manipulação religiosa tem uma única finalidade: Usar o nome de Deus para adquirir e manter privilégios. Nas campanhas eleitorais, os líderes evangélicos prometem favorecer aos mais pobres; prometem lutar pela implementação e manutenção dos valores morais, éticos e cristãos; prometem combater as forças diabólicas que dominam a política etc. Estas são as suas promessas. Fazem uso de um discurso religioso para enganar as pessoas. Na verdade, o que procuram são os salários, as regalias, as propinas e todas as vantagens lícitas e ilícitas em vista de uma vida luxuosa. E para esconder toda essa podridão, durante o exercício do mandato, dirigem e participam de cultos religiosos com o único objetivo de manter a aparência de “bons” religiosos.

        Terceira: Os membros da bancada evangélica defendem uma religião contrária ao evangelho de Jesus. No evangelho, encontramos a Lei Maior da religião cristã: O amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Este amor é incondicional: Não exige nada em troca nem impõe fardo algum às pessoas. Somente exige entrega gratuita, alegre e generosa. Não julga, não condena, não exclui, não trata com indiferença, mas vence todas estas coisas. A análise dos discursos dos parlamentares da mencionada bancada demonstra, claramente, o oposto do evangelho: Seus discursos são condenatórios e exclusivistas, discursos que estão em plena sintonia com a mentalidade dos fariseus e dos mestres da lei, inimigos de Jesus de Nazaré.

        Quarta: Os membros da bancada evangélica resgatam e reforçam o que há de pior na política: O distanciamento da população e a ausência do bem comum. Neste sentido, em nada se diferenciam dos demais políticos corruptos de ambas as Casas legislativas. O mesmo ocorre nas demais assembleias legislativas do País. Salvo raras exceções, os evangélicos que assumem postos na política são ultraconservadores e procuram, em primeiro lugar, beneficiar as suas denominações religiosas e o enriquecimento ilícito. Mesmo antes do ingresso na política profissional, muitos já praticam o enriquecimento ilícito em suas denominações religiosas, desviando o dinheiro dos dízimos e das ofertas dadas pelos fiéis. Isto não constitui novidade para ninguém.

        Quinta: Os membros da bancada evangélica são um retrato de um Cristianismo que precisa ser revisto à luz da verdadeira fé em Jesus. Nenhum político aparece do nada. Não existe político no vácuo. Todos foram eleitos, lítica ou ilicitamente. Isto significa que os eleitores de figuras como Eduardo Cunha, Marco Feliciano e tantos outros precisam, urgentemente, aprender o verdadeiro significado da política. Precisam também aprender a ler e compreender o evangelho. Somente assim, conseguirão se libertar das mentiras e das distorções dos discursos destes políticos. No interior das Igrejas cristãs há inúmeros líderes mercenários, aproveitadores da fé ingênua das pessoas. Por isso, uma fé esclarecida se faz necessário. As pessoas precisam aprender a ler as Escrituras Sagradas, compreendendo-a integralmente, sem se deixar alienar pelo discurso falacioso de líderes religiosos que selecionam capítulos e versículos bíblicos para acobertar abusos e adquirir privilégios.

Por fim, as pessoas precisam aprender a verdadeira dimensão política da fé cristã. Nada impede que um cristão assuma postos políticos. A atuação partidária é necessária, e os cristãos precisam levar para a política os autênticos princípios cristãos que não são contrários aos princípios democráticos. O amor vivido e ensinado por Jesus está em plena sintonia com a os princípios políticos e democráticos do bem comum, da igualdade, da justiça social etc. Na política, os políticos que assumem verdadeiramente a sua fé devem ser os melhores políticos: Aqueles que se colocam a serviço do bem comum, da defesa e promoção da dignidade humana.

O que denunciamos neste breve artigo é justamente o contrário: Denunciamos políticos que se afirmam cristãos, mas, na verdade, não passam de hipócritas, antirreligiosos, antievangélicos, antiéticos, inimigos do bem comum, mercenários, usurpadores, falaciosos, violentos, homofóbicos, misóginos, inimigos dos pobres, desonestos, portanto, corruptos.

 Teologicamente falando, estes políticos são inimigos do Reino de Deus, pois estão a serviço das forças do anti-Reino; são opressores dos pobres e, consequentemente, são inimigos de Deus. São merecedores de nosso repúdio; precisam ser denunciados, punidos e expulsos dos postos políticos, definitivamente. O parlamento brasileiro não pode se transformar em um balcão de negócios de líderes religiosos, que assaltam os cofres públicos em nome de Deus; que em nome deste mesmo Deus julgam e condenam as pessoas, impondo uma religião falsa em detrimento do verdadeiro Cristianismo. O verdadeiro Cristianismo tem suas raízes na experiência missionária de Jesus de Nazaré, que é, essencialmente, libertadora. Os falsos políticos apontados neste artigo são inimigos da liberdade.

Tiago de França

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