“Onde está o amor?” Esta foi
a pergunta que, por e-mail, me chegou logo após a publicação do fragmento “Busque...
Pensamentos (VI)”, em meu blogue. Uma jovem atenta, que acompanha minhas
publicações, ficou intrigada com o convite: Buscar o amor. Após relatar, brevemente, as suas buscas,
perguntou-me sobre onde encontrar o amor. Vou tentar ser breve, argumentando o
essencial.
Vamos pensar na parte
negativa da realidade, ou seja, onde não encontramos o amor, pois parece ser
mais evidente.
O amor não está no dinheiro,
poder e prestígio. Estas coisas não são amor nem despertam o amor, mas o
destroem. O dinheiro compra muitas coisas, exceto o amor. Há muita gente rica
que desconhece o amor e, por isso, é infeliz. Leva uma vida vazia, sem sentido.
O mesmo se pode dizer do poder e do prestígio. O amor não suporta o poder e o
prestígio, pois é frágil e discreto.
O amor é, humanamente
falando, impotente. O poder humano não o procura. Ocorre sempre o oposto: Uma
pessoa poderosa costuma ser desprovida de amor. Quem tem poder sobre os outros
procura aumentar o seu poder. O amor não está sobre os outros. Não se ama
exercendo poder sobre o outro.
Com o prestígio acontece o
mesmo: O prestígio faz nascer a vaidade, tornando a pessoa uma criatura que
quer sempre aparecer, ofuscando o outro. O prestígio leva à doença do
estrelismo. O amor não sobrevive ao estrelismo. Quem muito se dedica a
aparecer, não tem tempo para amar.
O amor também não está na
dependência do outro. O amor não depende de nada nem de ninguém. Não gera
dependência nem vício. Toda espécie de dependência afasta o amor, pois este é
sinônimo de liberdade. Liberdade para amar, não liberdade para fazer o que
quiser. Ninguém nesse mundo faz o que quer. A vida impõe condições e limites. O
amor nos ensina a encontrarmos as brechas entre as condicionantes impostas pela
vida.
Há quem esteja esperando o
amor no outro. A fila dos que esperam por alguém que lhes faça feliz é enorme. É
a fila dos equivocados. É verdade que o outro pode despertar em nós o amor,
como também pode despertar outros sentimentos pouco nobres. Isso prova que o amor está em nós. O outro somente
desperta-o. Procurá-lo fora de nós mesmos é um equívoco gravíssimo. A maioria
das pessoas que habitam esse homem procura o amor fora de si mesmas, e não o
encontram.
Algumas encontraram as
riquezas e pensam que encontraram o amor porque vivem confortavelmente. O amor
não é sinônimo de conforto. Outras adquiriram poder e prestígio e pensam que
são amorosas porque podem tudo e são reconhecidas. Isso se chama
autossuficiência e egocentrismo. O amor não tem nada a ver com isso.
Portanto, estas pessoas vivem
uma vida ilusória. Somente o amor liberta da ilusão. Quanto mais famosa e
poderosa for uma pessoa, mais iludida ela é. Isto ocorre porque a pessoa passa
a se confundir com o poder, com o prestígio e com a riqueza que possui. Em pouco
tempo, ela já não sabe mais quem ela é.
Esperar que o outro me dê
amor: Eis um erro que milhões de pessoas cometem na vida. Às vezes, o outro não
aparece. Quando isto ocorre, a pessoa morre sem ter descoberto e experimentado
o amor. Às vezes, o outro aparece. Quando aparece, ocorre de duas, uma: Ou
assume o fardo de ter que fazer o outro feliz, o que é impossível, pois nenhum
ser humano deve assumir tal responsabilidade; ou tenta, numa relação a dois
satisfazer o próprio egoísmo.
Quando uma pessoa promete
fazer a outra feliz, ocorrem algumas coisas. O outro, destinatário da promessa,
encontra uma falsa segurança nesta promessa e confia que ela poderá se cumprir.
Quando o relacionamento termina, e agora, José? O resultado é a frustração
recíproca, sofrimento. Como estamos na “pós-modernidade líquida” (expressão de
Z. Bauman), então o número dos frustrados só aumenta.
Isso decorre de um cansaço
estarrecedor por parte dos envolvidos na relação. Quem prometeu felicidade
começa a perceber que não consegue cumprir com o que foi prometido. Muitas vezes,
descobre a verdadeira face do outro, e desiste. Pode também descobrir-se
limitado em seu propósito. Descobre que a felicidade plena neste mundo não
existe.
Há, ainda, aqueles que
descobrem que não descobriram em si mesmos o amor. Como dar ao outro aquilo que
ainda não descobriu em si mesmo?... A maioria recorre para os bens materiais:
Não ama o outro, mas lhe oferece coisas, numa tentativa desesperada de levá-lo
a enxergar o amor no oferecimento destas coisas: joias, carros, casas, viagens,
roupas, calçados, bolsas, enfim, uma vida razoavelmente confortável. Se o outro
for materialista, certamente vai se sentir “amado” (a); do contrário, logo vai
perceber que está sendo enganado (a).
Poderíamos elencar tantas
outras situações para provar aquilo que nos parece óbvio: O amor está em nós, no mais profundo do nosso ser. Portanto, é
preciso procurá-lo, com humildade, mansidão, disposição e verdade.
No silêncio, mergulhando no
mais profundo do nosso ser, encontramos o amor. Ele está lá, desde sempre, pois
constitui a nossa essência. Não há ser humano desprovido de amor. Por pior que
seja, toda pessoa tem em si este dom precioso. Os que se enveredam pelo caminho
do mal o fazem porque ainda não descobriram o amor em si mesmos.
Quando descobrimos o amor não
conseguimos resistir: Ele passa a ser a palavra de ordem da nossa vida, nossa
bússola. Somente o amor nos liberta do egoísmo, do isolamento, da indiferença,
da indisposição, do fechamento, da rispidez, do comodismo, da inveja, do ódio,
da mágoa e do ressentimento, do desassossego, do tédio, da malícia, da
covardia, do desespero, da angústia, do medo, da preguiça, enfim, de todas as
nossas tendências à prática do mal. Não há
outro caminho para a felicidade fora do amor.
Por fim, vale a pena
salientar o maior mandamento ensinado por Jesus, que confirma nossas reflexões:
Amar o próximo como a si mesmo. Como
amar o outro sem amar a si mesmo? Eis o problema de muitas pessoas. Quem não consegue amar o outro é porque não
ama a si mesmo. Esta é a verdade que muita gente procura esconder. Ninguém consegue
esconder isso.
Claramente se vê que o
problema está na pessoa, e não no outro. Infelizmente, o que ocorre é que
sempre procuramos culpar o outro pela nossa falta de amor, mas a falta de amor
está em nós. Se falta o amor no outro, este é um problema que ele também deve procurar
resolver. Para amar a si mesmo é
necessário aceitar-se do que jeito que se é. Sem autoaceitação não é
possível amar a si mesmo.
O mundo atual clama por
pessoas amorosas: Pessoas que
encontraram o amor em si mesmas e se amam. E porque se amam estão abertas
para amar o outro. Esta abertura
para amar o outro é um dos sinais de que a pessoa se encontrou no amor.
Outro sinal é a serenidade e a paz. Uma pessoa amorosa é sempre serena e pacífica. Ela não se
importa com a opinião negativa do outro. À opinião negativa do outro sempre
responde com um sorriso.
A alegria é outra qualidade das pessoas amorosas, mas não qualquer
alegria, mas a alegria que vem de dentro, que brota da alma e do coração. Esta,
sim, é verdadeira. A falsa alegria serve somente para dissimular. O mundo está
cheio de pessoas com falsos sorriso; sorrisos que servem para esconder a
infelicidade da vida que levam.
Somos
amor, somos felicidade. Descobrir-se enquanto amor e
felicidade é um longo caminho;
caminho de autoconhecimento, que
exige muita humildade de coração. A arrogância
impede as pessoas de trilhar o caminho do autoconhecimento porque a pessoa
arrogante não enxerga o caminho. Ela pensa que já sabe tudo, que se conhece,
que é perfeita.
O arrogante sempre acha que
o outro precisa melhorar para satisfazer aos seus caprichos. Inarredável, o
arrogante costuma ser egoísta. O seu ‘eu’ substitui o amor, tornando-o cego, ignorante
e insuportável, um cadáver ambulante, que não atrai a simpatia de praticamente
ninguém, exceto os que lhe são semelhantes.
Sejamos, pois, amor, e que a
ternura do amor nos liberte para a vida que é, em nós, essencialmente, eterna e
feliz.
Tiago de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário