domingo, 5 de junho de 2016

Onde está o amor?... Pensamentos (VII)

“Onde está o amor?” Esta foi a pergunta que, por e-mail, me chegou logo após a publicação do fragmento “Busque... Pensamentos (VI)”, em meu blogue. Uma jovem atenta, que acompanha minhas publicações, ficou intrigada com o convite: Buscar o amor. Após relatar, brevemente, as suas buscas, perguntou-me sobre onde encontrar o amor. Vou tentar ser breve, argumentando o essencial.

Vamos pensar na parte negativa da realidade, ou seja, onde não encontramos o amor, pois parece ser mais evidente.

O amor não está no dinheiro, poder e prestígio. Estas coisas não são amor nem despertam o amor, mas o destroem. O dinheiro compra muitas coisas, exceto o amor. Há muita gente rica que desconhece o amor e, por isso, é infeliz. Leva uma vida vazia, sem sentido. O mesmo se pode dizer do poder e do prestígio. O amor não suporta o poder e o prestígio, pois é frágil e discreto.

O amor é, humanamente falando, impotente. O poder humano não o procura. Ocorre sempre o oposto: Uma pessoa poderosa costuma ser desprovida de amor. Quem tem poder sobre os outros procura aumentar o seu poder. O amor não está sobre os outros. Não se ama exercendo poder sobre o outro.

Com o prestígio acontece o mesmo: O prestígio faz nascer a vaidade, tornando a pessoa uma criatura que quer sempre aparecer, ofuscando o outro. O prestígio leva à doença do estrelismo. O amor não sobrevive ao estrelismo. Quem muito se dedica a aparecer, não tem tempo para amar.

O amor também não está na dependência do outro. O amor não depende de nada nem de ninguém. Não gera dependência nem vício. Toda espécie de dependência afasta o amor, pois este é sinônimo de liberdade. Liberdade para amar, não liberdade para fazer o que quiser. Ninguém nesse mundo faz o que quer. A vida impõe condições e limites. O amor nos ensina a encontrarmos as brechas entre as condicionantes impostas pela vida.

Há quem esteja esperando o amor no outro. A fila dos que esperam por alguém que lhes faça feliz é enorme. É a fila dos equivocados. É verdade que o outro pode despertar em nós o amor, como também pode despertar outros sentimentos pouco nobres. Isso prova que o amor está em nós. O outro somente desperta-o. Procurá-lo fora de nós mesmos é um equívoco gravíssimo. A maioria das pessoas que habitam esse homem procura o amor fora de si mesmas, e não o encontram.

Algumas encontraram as riquezas e pensam que encontraram o amor porque vivem confortavelmente. O amor não é sinônimo de conforto. Outras adquiriram poder e prestígio e pensam que são amorosas porque podem tudo e são reconhecidas. Isso se chama autossuficiência e egocentrismo. O amor não tem nada a ver com isso.

Portanto, estas pessoas vivem uma vida ilusória. Somente o amor liberta da ilusão. Quanto mais famosa e poderosa for uma pessoa, mais iludida ela é. Isto ocorre porque a pessoa passa a se confundir com o poder, com o prestígio e com a riqueza que possui. Em pouco tempo, ela já não sabe mais quem ela é.

Esperar que o outro me dê amor: Eis um erro que milhões de pessoas cometem na vida. Às vezes, o outro não aparece. Quando isto ocorre, a pessoa morre sem ter descoberto e experimentado o amor. Às vezes, o outro aparece. Quando aparece, ocorre de duas, uma: Ou assume o fardo de ter que fazer o outro feliz, o que é impossível, pois nenhum ser humano deve assumir tal responsabilidade; ou tenta, numa relação a dois satisfazer o próprio egoísmo.

Quando uma pessoa promete fazer a outra feliz, ocorrem algumas coisas. O outro, destinatário da promessa, encontra uma falsa segurança nesta promessa e confia que ela poderá se cumprir. Quando o relacionamento termina, e agora, José? O resultado é a frustração recíproca, sofrimento. Como estamos na “pós-modernidade líquida” (expressão de Z. Bauman), então o número dos frustrados só aumenta.

Isso decorre de um cansaço estarrecedor por parte dos envolvidos na relação. Quem prometeu felicidade começa a perceber que não consegue cumprir com o que foi prometido. Muitas vezes, descobre a verdadeira face do outro, e desiste. Pode também descobrir-se limitado em seu propósito. Descobre que a felicidade plena neste mundo não existe.

Há, ainda, aqueles que descobrem que não descobriram em si mesmos o amor. Como dar ao outro aquilo que ainda não descobriu em si mesmo?... A maioria recorre para os bens materiais: Não ama o outro, mas lhe oferece coisas, numa tentativa desesperada de levá-lo a enxergar o amor no oferecimento destas coisas: joias, carros, casas, viagens, roupas, calçados, bolsas, enfim, uma vida razoavelmente confortável. Se o outro for materialista, certamente vai se sentir “amado” (a); do contrário, logo vai perceber que está sendo enganado (a).

Poderíamos elencar tantas outras situações para provar aquilo que nos parece óbvio: O amor está em nós, no mais profundo do nosso ser. Portanto, é preciso procurá-lo, com humildade, mansidão, disposição e verdade.

No silêncio, mergulhando no mais profundo do nosso ser, encontramos o amor. Ele está lá, desde sempre, pois constitui a nossa essência. Não há ser humano desprovido de amor. Por pior que seja, toda pessoa tem em si este dom precioso. Os que se enveredam pelo caminho do mal o fazem porque ainda não descobriram o amor em si mesmos.

Quando descobrimos o amor não conseguimos resistir: Ele passa a ser a palavra de ordem da nossa vida, nossa bússola. Somente o amor nos liberta do egoísmo, do isolamento, da indiferença, da indisposição, do fechamento, da rispidez, do comodismo, da inveja, do ódio, da mágoa e do ressentimento, do desassossego, do tédio, da malícia, da covardia, do desespero, da angústia, do medo, da preguiça, enfim, de todas as nossas tendências à prática do mal. Não há outro caminho para a felicidade fora do amor.

Por fim, vale a pena salientar o maior mandamento ensinado por Jesus, que confirma nossas reflexões: Amar o próximo como a si mesmo. Como amar o outro sem amar a si mesmo? Eis o problema de muitas pessoas. Quem não consegue amar o outro é porque não ama a si mesmo. Esta é a verdade que muita gente procura esconder. Ninguém consegue esconder isso.

Claramente se vê que o problema está na pessoa, e não no outro. Infelizmente, o que ocorre é que sempre procuramos culpar o outro pela nossa falta de amor, mas a falta de amor está em nós. Se falta o amor no outro, este é um problema que ele também deve procurar resolver. Para amar a si mesmo é necessário aceitar-se do que jeito que se é. Sem autoaceitação não é possível amar a si mesmo.

O mundo atual clama por pessoas amorosas: Pessoas que encontraram o amor em si mesmas e se amam. E porque se amam estão abertas para amar o outro. Esta abertura para amar o outro é um dos sinais de que a pessoa se encontrou no amor.

Outro sinal é a serenidade e a paz. Uma pessoa amorosa é sempre serena e pacífica. Ela não se importa com a opinião negativa do outro. À opinião negativa do outro sempre responde com um sorriso.

A alegria é outra qualidade das pessoas amorosas, mas não qualquer alegria, mas a alegria que vem de dentro, que brota da alma e do coração. Esta, sim, é verdadeira. A falsa alegria serve somente para dissimular. O mundo está cheio de pessoas com falsos sorriso; sorrisos que servem para esconder a infelicidade da vida que levam.

Somos amor, somos felicidade. Descobrir-se enquanto amor e felicidade é um longo caminho; caminho de autoconhecimento, que exige muita humildade de coração. A arrogância impede as pessoas de trilhar o caminho do autoconhecimento porque a pessoa arrogante não enxerga o caminho. Ela pensa que já sabe tudo, que se conhece, que é perfeita.

O arrogante sempre acha que o outro precisa melhorar para satisfazer aos seus caprichos. Inarredável, o arrogante costuma ser egoísta. O seu ‘eu’ substitui o amor, tornando-o cego, ignorante e insuportável, um cadáver ambulante, que não atrai a simpatia de praticamente ninguém, exceto os que lhe são semelhantes.

Sejamos, pois, amor, e que a ternura do amor nos liberte para a vida que é, em nós, essencialmente, eterna e feliz.


Tiago de França

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