“O sacramento do matrimônio é um grande ato de fé e de amor:
testemunha a coragem de acreditar na beleza do ato criador de Deus e de viver
aquele amor que leva a ir sempre além, além de si mesmo e também além da
própria família” (Papa Francisco).
Pediram-nos uma palavra sobre as crises
que muitos casais enfrentam em seus casamentos. Ao receber o pedido para a
elaboração destas reflexões, buscamos pensar na realidade da vida conjugal de
muitos, e procuramos enumerar algumas das principais causas que ocasionam tais
crises. A observação da realidade e a partilha sincera de muitos casais
constituem o lugar de onde partimos para nossas reflexões.
Nosso objetivo é ajudar a quem precisa de uma palavra e despertar
nos futuros casais a necessidade de pensar sobre o que desejam e buscam no
casamento. Talvez alguns possam se escandalizar com algumas afirmações um tanto
radicais, mas que são necessárias para despertar aqueles que possuem uma visão
excessivamente romantizada do casamento.
Namoro, noivado e discernimento
Casamento que não é precedido de namoro e noivado tem grandes
chances de não dar certo. Casamento exige prévio planejamento e discernimento. De
modo geral, as pessoas não planejam a vida, mas contentam-se em viver desorganizadamente.
O povo brasileiro não tem a cultura do planejamento da vida. Vive o presente
sem pensar no amanhã. Somos um povo indisciplinado. Poucos pensam nas
consequências daquilo que fazem da vida. Quem pensa em casar e não se planeja,
não conseguirá levar uma vida a dois.
Toda forma de vida exige um mínimo de planejamento. Durante o
namoro e o noivado o casal é chamado a planejar o casamento que deseja viver;
do contrário, o casamento não passará de uma aventura. Não estamos falando de
planejamento matemático, que detalha rigorosamente as coisas, mas pensar nas
exigências da vida conjugal para saber se é isso mesmo que desejam para a vida.
Esta ideia inicial oriunda de uma séria reflexão é de extrema importância para
o casal.
Discernir é outra necessidade essencial. Durante o namoro e o
noivado o casal é chamado a se conhecer. É verdade que nenhuma pessoa conhece
outra plenamente. O ser humano é um mistério para si mesmo. Mesmo assim, é
possível, antes do casamento, ter uma ideia geral da personalidade do outro: de
seus gostos, preferências, temperamento, tendências, sonhos, formas de pensar e
de ser. O jeito do outro fala de sua maneira de enxergar a vida. É nesta fase
que já se pode ter uma ideia de como a pessoa se comportará no casamento, pois
ninguém muda da noite para o dia. Geralmente, as mudanças repentinas costumam
ser superficiais.
É muito perigoso uma pessoa casar com outra sem ter as mínimas
informações sobre sua personalidade. Os que assim procedem se metem numa vida
arriscada. Por mais gentil e tranquila que uma pessoa pareça ser, há sempre
algo a ser observado com olhar crítico e perspicaz. Muitas mulheres e homens
ficam horrorizados nos primeiros dias, meses ou anos de casamento, pois
descobriram que casaram com pessoas excessivamente tendenciosas e
problemáticas. Em sã consciência ninguém deseja casar com alguém de
personalidade doentia ou desajustada. Discernir é conhecer o mínimo da índole
do outro, suas virtudes e seus defeitos.
Atualmente, assistimos a muitos casamentos marcados mais pelo
sofrimento do que pela alegria. O cotidiano destes casamentos é marcado pelas
reclamações intermináveis. Geralmente, acentuados pela falta de discernimento e
planejamento prévios. É assustador o número de pessoas que resolvem casar da
noite para o dia, pensando que casamento se resume a um “mar de rosas”, um
paraíso.
Certamente, a vida conjugal é muito bela e fecunda, quando vivida
no amor; mas as pessoas esquecem que a vida conjugal requer certa estrutura
material, psicológica e espiritual, sustentada e orientada pelo amor. Como
dizem os mais velhos: “Amor não enche barriga!” Há inúmeros casais de namorados
e noivos que levam uma vida totalmente sem limites e sem responsabilidades. Pessoas
assim não deveriam casar sem antes aprender a ser organizados e responsáveis. Não
há casamento possível sem responsabilidade. Muitos casamentos conhecem o seu
fim por causa da falta de responsabilidade de mulheres e homens que querem
viver no casamento como solteiros irresponsáveis.
Casamento e vocação
Há pessoas que resolvem casar sem ter vocação, e isto é muito
grave, pois nem todas as pessoas que nascem neste mundo tem vocação para o
casamento. Pessoas egoístas não podem casar, pois só pensam em si mesmas.
Egoístas não suportam a vida conjugal porque não pensam no outro. Uma pessoa
egoísta só permanece casada quando seu cônjuge se torna seu escravo, alguém que
somente serve para satisfazer seus desejos e necessidades. O egoísta não
consegue amar o outro porque não ama a si mesmo. Egoísmo e amor são realidades incompatíveis.
Pessoas que gostam de viver sozinhas e
independentes, que não gostam de dar satisfação de sua vida para ninguém,
também não podem casar. Quando casam, comportam-se como se o outro cônjuge não
existisse. Não se importam com a vida do outro e não aceitam que se intrometam
em sua vida. São aqueles cônjuges que mal sabem como estão e o que realmente
sentem um pelo outro. Olham-se e falam um para o outro: “Vivemos na mesma casa,
mas você cuida da sua vida e eu cuido da minha!” Isto não é casamento, mas
justaposição de pessoas. Há famílias que se parecem com repúblicas de
estudantes: Cada um cuida da própria vida e, assim, todos acham que são livres.
Há, ainda, aquelas pessoas frias,
insensíveis e indiferentes. São idênticas aos egoístas, mas conseguem ser bem
piores. Também não podem casar, pois a realidade da vida conjugal não combina
com frieza, falta de sensibilidade e indiferença. Vida conjugal rima com
comunhão, companheirismo, cumplicidade, cooperação, reciprocidade,
sensibilidade e alteridade. Todos os valores que formam o alicerce que
sustentam o casamento visam acabar com a falta de sensibilidade e com a
indiferença. Cônjuges que não se entregam ao cuidado de um para com o outro
vivem um falso casamento. Sem o cuidado, a relação matrimonial não prospera;
seu fim se torna necessário e inevitável.
Vocação para casar não se adquire do dia
para a noite. Não é como ganhar um presente. Trata-se de uma questão pessoal,
íntima e existencial. É mais do que ter aptidão e jeito. Para casar, a pessoa
precisa se perguntar: Eu me enxergo como uma pessoa casada? Quero mesmo con-viver
com outra pessoa? E se vierem filhos, me vejo como pai ou mãe? A estrutura
familiar me faria bem? O que procuro quando penso em casar? Estas e outras
perguntas apontam para uma reflexão imprescindível para aqueles que desejam
casar. É verdade que não há respostas prontas para estas questões, mas é
verdade também que elas ajudam na descoberta da vocação matrimonial, se esta
existe ou não.
Uma pessoa que não tem vocação para o exercício da medicina não
deveria ser médica. O mesmo ocorre com o casamento. As pessoas não deveriam se
aventurar em casar, mas devem fazer uma reflexão sincera sobre o verdadeiro
sentido do casamento na vida humana. Aos que se aventuram sem nenhuma reflexão,
na verdade, não estão preocupados com o sentimento do outro. Agem como se
casamento fosse uma brincadeira. Quem assim procede somente encontra
sofrimento. Procura “sarna para se coçar” e encontra!
Mulheres e homens perfeitos existem?
Há pessoas que vivem procurando a sua “alma gêmea”. Na verdade,
não existe alma gêmea, assim como não existe a “outra metade”. Ninguém nasce
incompleto ou pela metade. Nascemos inteiros. O romantismo inventa tais termos,
fazendo com que as pessoas pensem que somente serão felizes se encontrarem a
“pessoa certa”. Não há pessoa certa, mas somente pessoas. Neste sentido, o
romantismo semeia uma ilusão que é desfeita quando a tal pessoa certa se torna
a pessoa errada; e, de repente, esta pessoa errada se transforma em um monstro,
que pode causar grandes estragos.
Pessoas perfeitas não existem nem existirão. Por isso, quem não aprendeu
a tolerar as falhas do outro não pode casar. Toda pessoa comete erros, de
diferentes tipos, quantidade e graus. Não há exceção. Considerando essa
realidade, que é inerente a todo ser humano, a compreensão e a tolerância são
essenciais para o casamento. Aliás, todo tipo de relacionamento necessita
destes dois valores para existir.
Ser compreensivo e tolerante não quer dizer que se deve concordar
com os erros do outro, mas fazer um esforço para acolhê-lo em seus erros,
ajudando-o a superá-los. Geralmente, a postura é de julgamento, condenação e
rejeição. Esta é a tendência natural do ser humano. Sem a superação dessa
tendência à rejeição do outro não é possível viver um casamento feliz. Ajudar o
outro em suas imperfeições é um dos maiores gestos de amor que uma pessoa pode
ter. Vale também contar com o auxílio de um outro valor muito importante: A
paciência.
Neste sentido, surge uma pergunta: E quando o outro se recusa a se
corrigir e melhorar? Aí fica a critério do cônjuge que está suportando as
desvantagens dos erros cometidos. Levando em consideração a dignidade da pessoa
humana, ninguém está obrigado a passar toda a sua vida suportando os erros de
quem se recusa a se corrigir e melhorar.
Um cônjuge que insiste em seu erro, fazendo o outro sofrer, não
pode continuar casado, pois fez a opção pelo sofrimento e deve arcar com as
consequências de sua atitude. Nestas situações, a humildade que conduz ao
reconhecimento dos próprios erros, tendo em vista a necessária mudança de
atitude é de suma importância. Se o outro insiste na arrogância e no orgulho,
então melhor que leve uma vida de solteiro. Casamento não combina com
arrogância nem com orgulho.
Há um erro que não pode ser tolerado no casamento: O adultério. O
cônjuge pode perdoar o adúltero, mas não está obrigado a continuar casado com
ele. A traição é uma falta gravíssima. Na tradição cristã, a traição é um
pecado muito grave. O próprio Jesus condenou-a com veemência. Mulheres e homens
adúlteros quebram a confiança depositada no juramento que fizeram ao contrair o
matrimônio.
Geralmente, após a traição a relação nunca se restabelece.
Permanece o sentimento de desconfiança. Uma vez quebrada, a confiança
dificilmente se restabelece. Somente o amor preserva os cônjuges do mal da
traição. Quem trai seu cônjuge e, simultaneamente, afirma que o ama, está
faltando com a verdade. Mais adiante, faremos uma breve reflexão sobre as
causas do adultério. No namoro, noivado e casamento, a traição é inadmissível. Trair
a confiança do outro é um grave problema que tem destruído inúmeros
relacionamentos.
Causas que provocam as crises no casamento
São inúmeras as causas que provocam crises no casamento. Iremos elencar
as que julgamos ser as mais recorrentes.
1 – A falta de diálogo
Geralmente, os casais não dialogam, mas entregam-se a longas
discussões. Um não escuta o outro. Em muitos lares, as discussões já se
tornaram algo natural. Não se consegue mais viver sem brigas. Não se chega a
compreender o outro porque não há escuta. O diálogo é atitude de iguais, ou
seja, não existe diálogo onde um dos cônjuges procura sempre impor suas ideias
e sua vontade. Não pode existir entendimento sem o mínimo de esforço para compreender
os sentimentos do outro. Nenhum relacionamento pode perdurar sem esta abertura
ao outro, com o objetivo de escutá-lo com atenção e respeito.
É no diálogo que os cônjuges devem falar
de seus sentimentos, alegrias, tristezas, incômodos, impressões, preocupações. Quando
não há tempo para o diálogo, o casamento vai, progressivamente, se desgastando
e caindo na superficialidade. Mesmo vivendo juntos, os cônjuges vão se
distanciando. Aos poucos, um já não sabe o que se passa com o outro. Sem a
expressão livre do que se pensa e do que se sente não há união que sobreviva.
Perde-se a sintonia. Não há amor que suporte a falta de diálogo.
O mesmo se pode falar em relação aos filhos, principalmente quando
estes são crianças e adolescentes: Sem diálogo não há educação possível. Pais
que não dialogam com seus filhos, facilmente se transformam em estranhos em
relação a eles. Desse modo, os filhos passam a tratar seus pais como meros
mantenedores de suas despesas (no caso dos filhos menores). Sem o diálogo aberto,
sincero e constante, os pais perdem o respeito por parte dos filhos. Quando
isso ocorre, somente são escutados na força do grito. Muitos pais exercem a sua
autoridade na força do grito e da ameaça. Assim, não são amados nem
respeitados, mas temidos.
2 – A falta de respeito à liberdade do outro
Muitos casamentos acabam por causa do sufocamento. Toda pessoa
precisa do mínimo de liberdade para viver. No casamento, ser livre quer dizer
não ser sufocado nem sufocar o outro. Não estamos falando que os cônjuges devem
viver cada um por si. Aí já não seria casamento. Deixar o outro livre é
permitir que ele seja o que realmente é, sem pressões, sem julgamentos e sem
condenações. Em alguns momentos, o outro precisa de um tempo de silêncio para
dialogar com os próprios pensamentos. Toda pessoa necessita de algumas pausas
silenciosas para estar diante de si mesma. Nestas pausas, o colo aconchegante do
outro cônjuge é insubstituível.
Sobrecarregar o outro sem compartilhar as exigências da vida
conjugal e familiar é sufocá-lo. Não tomar iniciativas quando estas se mostram
necessárias. Esperar sempre que somente um dos cônjuges tome a iniciativa
diante dos problemas familiares é sufocante.
Inúmeros casamentos se desfazem com o desgaste de um dos cônjuges,
que não mais suporta o comodismo do outro. A falta de respeito à liberdade
também se faz presente na relação entre pais e filhos: Estes, muitas vezes, não
respeitam a liberdade e privacidade daqueles, assim como há muitos pais que não
respeitam a liberdade de seus filhos, tratando-os como escravos. Fora da
liberdade não há educação dos filhos. Somente na liberdade as pessoas se
desenvolvem e se revelam como verdadeiramente são.
3 – O ciúme
Este é um dos piores males que afetam praticamente todos os
casais, em menor ou maior grau. Geralmente, o ciúme é sinal de insegurança.
Pessoas excessivamente ciumentas também podem estar escondendo a traição. Os
excessos sempre escondem problemas. Pessoas que se apegam demasiadamente a
outras costumam sentir ciúme. Tornam-se possessivas. Querem o outro para si,
tratando-o como propriedade exclusiva. O ciúme também revela desajuste na
personalidade. Pessoas ciumentas precisam de tratamento psicológico para
descobrirem a origem de seu ciúme.
O ciúme impede que o casal tenha paz. Revela,
ainda, uma enorme falta de confiança no outro. O outro cônjuge é visto como
objeto de desejo, que uma vez ameaçado, precisa ser protegido pelo cônjuge
ciumento. Em alguns casos, a situação torna-se doentia. Possuída e sem
controle, a pessoa ciumenta é capaz de tudo para não perder seu objeto de
satisfação de desejo.
Alguns chegam a matar o outro por causa do ciúme. Este tira o
discernimento e a noção da realidade. Faz surgir na mente pensamentos
destrutivos e obsessivos. A pessoa ciumenta passa a conceber situações que não
existem no mundo real (espécie de alucinação). Quando chega a esse ponto, deve-se
procurar urgentemente um eficiente tratamento psicológico. Não há quem aguente
manter uma relação conjugal com uma pessoa excessivamente ciumenta. O casamento
se transforma em uma experiência de tormento.
4 – A mentira
A falta de transparência é um mal que tem prejudicado muitos
casamentos. A mentira mais perigosa é aquela que se refere aos sentimentos: O
cônjuge, para manter uma falsa paz na relação, não fala a verdade daquilo que
realmente sente. E a pior mentira é a que expressa um amor que não existe,
sustentando um falso amor. Os que vivem traindo seus/suas companheiros/as
costumam se utilizar, permanentemente, da mentira. Esta costuma esconder algo
sempre pior. É a ferramenta usual do casamento que vive de aparência.
A mentira é perigosa porque tende a se multiplicar. Uma mentira
sempre pede outras para tentar se manter como se verdade fosse. Quem realmente
ama e quer o bem do outro não é capaz de negar-lhe a verdade. Por mais
dolorosas que sejam certas verdades, é necessário que sejam ditas nas ocasiões
certas e da forma mais amorosa possível. Para ajudar o outro a crescer como
pessoa, o cônjuge sempre deve ser verdadeiro. Não prospera o casamento
alicerçado na mentira. Casais autênticos constroem famílias sólidas. Onde reina
a mentira, também reina a confusão.
A verdade gera confiança e a mentira
somente resulta em desconfiança. O cônjuge que sempre mente para o outro corre
o risco de cair no descrédito permanente. O outro vive num permanente estado de
desconfiança porque já não sabe mais quando está escutando a verdade e quando
está sendo enganado. Quem, com certa frequência, engana descaradamente o outro,
mostra que não tem bom caráter.
Trata-se de um grave defeito na personalidade. A mentira faz o
mentiroso usar uma máscara numa tentativa desesperada de esconder a sua
verdadeira personalidade. Mas o mentiroso sempre encontra aquele obstáculo
comum a todos os mentirosos: A mentira tem pernas curtas e a verdade sempre
aparece, cedo ou tarde. E quando a verdade aparece, a confusão se inicia e o
casamento começa a se diluir. Na relação com os filhos, a mentira também se
mostra perigosa: Pais mentirosos, geralmente, criam filhos dados à mentira. A
mentira dos pais deseduca os filhos.
5 – A falta de amor
Este é o pior de todos os males que afetam o casamento. Na
verdade, quando o amor não mais existe, o casamento chegou ao seu fim. Sem amor
é impossível recuperá-lo. O amor é a base fundamental de todo casamento sem a
qual tudo não passa de mentira e aparência. A falta de amor gera todos os
outros males que destroem a relação matrimonial e familiar.
Segundo a espiritualidade cristã, o amor de Deus pela pessoa
humana nunca se acaba, pois é infinito; mas o amor que uma pessoa tem para com
outra pode acabar. Os seres humanos são limitados, assim como seus sentimentos.
Estranhamente, uma relação considerada feliz pode, de repente, se transformar
numa relação marcada pela vingança e pelo ódio. Os humanos são imperfeitos nas
suas formas de amar.
O amor é um tesouro que o casal carrega em vasos de barro. Quanto
mais se ama, mais o amor se multiplica e tende a tornar-se forte e inabalável.
É uma riqueza inesgotável. Como saber se o amor é verdadeiro? É tudo muito
simples. O amor verdadeiro não é o amor dos discursos e das declarações
românticas. Estas coisas podem ser até agradáveis, mas o verdadeiro amor é
sinônimo de doação, de entrega gratuita e incondicional.
Quem não se doa ao outro não o ama de verdade. Nenhuma declaração
de amor, por mais romântica que seja, substitui o doar-se ao outro. As
declarações podem ser manipuláveis e mentirosas, mas a doação ao outro, jamais.
É no doar-se ao outro que o amor se revela. Doar-se é cuidar do outro. Quem
ama, cuida; quem não ama, não se importa com o outro. Portanto, no casamento,
quando um cônjuge já não cuida mais do outro, é sinal de que o amor não existe
mais. O casamento não passa de aparência, uma mentira escandalosa. O cuidado
permanente, fiel até às últimas consequências, é a declaração de amor por
excelência.
Enquanto existir o amor na relação, o casamento existe, e todas as
limitações podem ser superadas. O amor continua sendo o remédio para resolver
todo e qualquer problema. Aqueles que acreditam em Jesus também podem contar
com o auxílio da fé. Não há força maior que a do amor e da fé. Quando acreditam
na força do amor, os cônjuges conseguem superar todas as dificuldades inerentes
à vida conjugal e familiar. Quando ocorre o contrário, ou seja, quando não há
mais amor, então já não temos casamento. Neste caso, o caminho mais correto é o
da separação conjugal, sem violência e com convicção.
Quando insistem em viver juntos, mas sem amor, os cônjuges
transformam suas vidas em um inferno. A vida se torna insuportável.
Infelizmente, o número dos que assim procedem não é pequeno e tende a aumentar.
O casal já não vive em função do casamento, que não existe, de fato, mas em
função da sociedade, para que todos possam pensar que ali existe um casamento
feliz. Casamentos falsos tem se multiplicado numa sociedade demasiadamente
marcada pela cultura da aparência.
Só o amor constrói
Eis a conclusão a que podemos chegar com estas nossas breves
reflexões: A falta de amor acaba com o namoro, com o noivado e com o casamento.
No caso deste último, de nada vale o casal ter uma casa bonita e bem mobiliada;
um carro do ano; uma conta recheada de dinheiro; ser mestre ou doutor; ser
querido na sociedade; filhos diplomados e encaminhados; e tantos outras coisas
e vantagens sem o amor. Há casais que possuem todas estas coisas, mas
desconhecem o amor. Logo, não conhecem a felicidade. Vivem de aparência.
E por terem conseguido uma condição financeira que assegura um
padrão elevado de vida, muitos casais preferem manter um casamento de
aparência, sem o amor. Alguns tentam enganar a sociedade, confundindo padrão de
vida com amor. Este não tem nada quer ver com aquele. Na verdade, quanto mais
simples e humilde for o casal, mais o amor tem mais chances de permanecer. Os
bens materiais tem expulsado o amor da vida de muitos casais. Muitos preferem
multiplicar os bens em detrimento do amor. Onde há excesso de bens e de apego a
estes, o amor morre sufocado. O amor não aguenta os excessos da vaidade humana,
pois combina mais com humildade e simplicidade.
Só o amor constrói um casamento feliz e duradouro. Amor que se
traduz na entrega total ao outro por meio do cuidado. Atualmente, os jovens
precisam pensar seriamente sobre o valor e o sentido deste amor. A realidade
mostra que, de modo geral, a juventude não conhece o verdadeiro amor. Perdem
muito tempo com relacionamentos superficiais, caracterizados por carícias e
muito sexo. Confundem sexo com amor. Pronunciam muito a palavra amor, mas
desconhecem seu conteúdo. Experimentam relacionamentos que não duram porque são
descartáveis.
Muitos jovens chegam a casar, mas não sabem o significado do
casamento. Outros tem verdadeiro pavor da palavra casamento porque pensam que
casamento é sinônimo de prisão. Preferem viver a vida sem grandes responsabilidades
no campo afetivo. Esperamos que esse quadro seja revertido para o bem da
sociedade. Esta nossa esperança nos motivou a compartilhar estas reflexões.
Esperamos que os casais e os que desejam casar possam refletir melhor sobre o
verdadeiro sentido do casamento na vida humana: Ser feliz no amor. O mundo padece pela falta de pessoas felizes no
amor. Se quisermos construir outro mundo possível, justo e fraterno para todos,
o caminho para que isso aconteça é o amor. Fora
do amor não há ser humano digno, não há felicidade e não há salvação.
Tiago de França