Após um dia cansativo de
trabalho e estudos, regressando para casa, veio-me a frase que intitula essa
breve reflexão. Estar consigo mesmo é uma experiência reveladora. A sós, sem
cair na tentação das fugas, a gente está como que diante de um espelho: diante
da verdade de si mesmo.
O movimento atual da vida
pós-moderna tende a nos tirar esta experiência. O barulho dos motores e das
sirenes, o alarido de pessoas que falam pelos cotovelos, a divagação dos
pensamentos, o vício pelas redes sociais, e tantas outros apelos sensoriais
oferecidos por este mundo barulhento, nos afastam de nós mesmos.
Somente aqueles que não se
deixam facilmente se “desviar” de todas estas coisas são capazes de contemplar,
de sentir a vida, de permanecer, de fato, no tempo presente, devidamente
acordados, livres da cegueira e das ilusões.
Facilmente, podemos perceber
que, de modo geral, as pessoas não estão nelas mesmas, mas sobrevivem sendo
absorvidas por sentimentos e pensamentos que as anestesiam, paralisando-as.
Elas pensam que estão
vivendo, mas, na verdade, desconhecem o real significado da vida, que consiste
na simplicidade, transparência, verdade, harmonia, ternura, ataraxia
(palavra grega, que significa tranquilidade da alma). Há uma inquietação que não
corresponde à busca de sentido para a vida, mas que fala da falta de
autenticidade.
Ser autêntico é ser
verdadeiro, começando pela aceitação da própria
verdade. Quando estamos diante daquilo que realmente somos, então descobrimos
que não há sentido na busca desesperada que marca o nosso tempo, a saber: ser o
que não se é.
Toda pessoa é chamada a ser
feliz assumindo a própria verdade daquilo que se é. Mas o que ocorre,
infelizmente, é o contrário: as pessoas fogem de si mesmas, procurando
ser outra coisa. Essa procura revela uma profunda e grave insatisfação
consigo mesmo. As pessoas procuram paz, mas não a encontram.
E não encontram porque, na
verdade, não estão a procura da paz. O que a maioria busca são coisas que tiram
a paz: dinheiro, sucesso, poder, posse, vaidades, grandezas. O desejo por estas
coisas tira a paz do espírito das pessoas, deixando-as perturbadas.
Algumas, cansadas de
esperar, procuram a religião. Muitas vezes, também esta tende a reforçar o
desejo doentio das pessoas. Mas a tentativa se mostra frustrante porque a
religião não nasceu com essa função.
E acontece o que a gente não
se cansa de ver: templos religiosos lotados de pessoas desesperadas, implorando que Deus as
ajude a encontrar satisfação para seus desejos. E Deus não escuta este
tipo de clamor.
Por fim, finalizo esta
reflexão com uma afirmação que me parece verdadeira: a alegria de estar consigo mesmo
consiste em aprender a escutar a voz do coração. Quantas vezes paramos
para escutar a voz de nosso coração? Por que temos medo de escutar e aceitar o
que ele diz? Por que optamos pela indiferença? O que nos ensurdece,
tornando-nos insensíveis? Por que optamos pelo sofrimento, oriundo da falta de
escuta do nosso coração?...
No silêncio de alguns
minutos de um dia qualquer, convido você, que finaliza a leitura desta
reflexão, a pensar estas questões. Nossa felicidade não depende dos outros.
Ela
está em nós. Para encontrá-la é preciso criar coragem para uma atitude
fundamental: mergulhar no mais profundo do nosso ser. Estas perguntas são
oportunidades para a realização deste ato corajoso e revelador. Ousemos, e sejamos felizes.
Tiago de França
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