sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A alegria de estar consigo mesmo. Pensamentos (XXVI)

Após um dia cansativo de trabalho e estudos, regressando para casa, veio-me a frase que intitula essa breve reflexão. Estar consigo mesmo é uma experiência reveladora. A sós, sem cair na tentação das fugas, a gente está como que diante de um espelho: diante da verdade de si mesmo.

O movimento atual da vida pós-moderna tende a nos tirar esta experiência. O barulho dos motores e das sirenes, o alarido de pessoas que falam pelos cotovelos, a divagação dos pensamentos, o vício pelas redes sociais, e tantas outros apelos sensoriais oferecidos por este mundo barulhento, nos afastam de nós mesmos.

Somente aqueles que não se deixam facilmente se “desviar” de todas estas coisas são capazes de contemplar, de sentir a vida, de permanecer, de fato, no tempo presente, devidamente acordados, livres da cegueira e das ilusões.

Facilmente, podemos perceber que, de modo geral, as pessoas não estão nelas mesmas, mas sobrevivem sendo absorvidas por sentimentos e pensamentos que as anestesiam, paralisando-as.

Elas pensam que estão vivendo, mas, na verdade, desconhecem o real significado da vida, que consiste na simplicidade, transparência, verdade, harmonia, ternura, ataraxia (palavra grega, que significa tranquilidade da alma). Há uma inquietação que não corresponde à busca de sentido para a vida, mas que fala da falta de autenticidade.

Ser autêntico é ser verdadeiro, começando pela aceitação da própria verdade. Quando estamos diante daquilo que realmente somos, então descobrimos que não há sentido na busca desesperada que marca o nosso tempo, a saber: ser o que não se é.

Toda pessoa é chamada a ser feliz assumindo a própria verdade daquilo que se é. Mas o que ocorre, infelizmente, é o contrário: as pessoas fogem de si mesmas, procurando ser outra coisa. Essa procura revela uma profunda e grave insatisfação consigo mesmo. As pessoas procuram paz, mas não a encontram.

E não encontram porque, na verdade, não estão a procura da paz. O que a maioria busca são coisas que tiram a paz: dinheiro, sucesso, poder, posse, vaidades, grandezas. O desejo por estas coisas tira a paz do espírito das pessoas, deixando-as perturbadas.

Algumas, cansadas de esperar, procuram a religião. Muitas vezes, também esta tende a reforçar o desejo doentio das pessoas. Mas a tentativa se mostra frustrante porque a religião não nasceu com essa função.

E acontece o que a gente não se cansa de ver: templos religiosos lotados de pessoas desesperadas, implorando que Deus as ajude a encontrar satisfação para seus desejos. E Deus não escuta este tipo de clamor.

Por fim, finalizo esta reflexão com uma afirmação que me parece verdadeira: a alegria de estar consigo mesmo consiste em aprender a escutar a voz do coração. Quantas vezes paramos para escutar a voz de nosso coração? Por que temos medo de escutar e aceitar o que ele diz? Por que optamos pela indiferença? O que nos ensurdece, tornando-nos insensíveis? Por que optamos pelo sofrimento, oriundo da falta de escuta do nosso coração?...

No silêncio de alguns minutos de um dia qualquer, convido você, que finaliza a leitura desta reflexão, a pensar estas questões. Nossa felicidade não depende dos outros. Ela está em nós. Para encontrá-la é preciso criar coragem para uma atitude fundamental: mergulhar no mais profundo do nosso ser. Estas perguntas são oportunidades para a realização deste ato corajoso e revelador. Ousemos, e sejamos felizes.

Tiago de França

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