sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Como olhar para o passado sem se deixar afetar por ele? Pensamentos (XXIII)

Após alguns dias de pausa para recolhimento, resolvemos retomar com nossas reflexões, antecipando-nos. O motivo é simples: a data de hoje, 14 de outubro. Algumas datas marcam a vida da gente.

Algumas datas devem permanecer na memória para que não se repitam; outras devem permanecer porque, de algum modo, motivam na caminhada rumo ao futuro.

Não queremos falar do fato em si, ocorrido nesta data, que nos motivam a compartilhar alguns pensamentos de ordem existencial. A descrição de fatos da vida pessoal não cabe no espaço deste blogue. Isso a gente deixa para um pequeno número de amigos íntimos.

Nossa intenção é situar o olhar sobre o passado, com o objetivo de responder à pergunta: Como podemos olhar para o nosso passado sem nos deixarmos afetar, negativamente, por ele? Esta parece ser uma questão que merece a nossa atenção, considerando o número assustador de pessoas que sofrem por causa do seu passado.

Há muito tempo, desde quando descobrimos a espiritualidade do desapego como prática cotidiana, temos insistido, sem cessar, na necessidade de termos paz interior a partir da reconciliação com o nosso passado. Se este nos causa tristeza, ressentimento, mágoa, rancor, ódio e outros sentimentos congêneres, então não temos paz.

Se olharmos para o nosso redor, não teremos dificuldade para perceber o sofrimento estampado na face das pessoas, por causa de passados mal resolvidos. Como lidar com passados mal resolvidos? Como lidar com situações que não completaram o seu ciclo de existência, situações que ficaram pela metade? Este é um desafio.

Sozinhas, muitas pessoas não dão conta de se reconciliar com suas histórias passadas de perdas e frustrações. Uma boa parcela delas tenta levar a vida como se não tivesse passado, tentando evitá-lo a todo custo, fugindo dele como o diabo foge da cruz. Essa fuga provoca angústia e tédio, deixando a pessoa triste e deprimida.

Cremos que o primeiro passo em relação ao passado é aceitar a seguinte verdade: o que passou não existe mais. Isso significa que não podemos trazer para o presente nada daquilo que passou: pessoas, circunstâncias, sentimentos e tantas outras coisas ruins. Até as coisas boas passam e deixam de existir.

Não adianta querer fazer com que o passado se torne presente. Não funciona. O presente é outra situação. No presente somos outras pessoas. O presente exige a nossa presença, a nossa ação, a nossa consciência. Nele está a nossa vida. A vida está acontecendo no presente, que, em breve, transformar-se-á em passado.

Muitas pessoas, quando olham para o seu passado, perguntam-se, revoltadas: Meu Deus, onde eu estava com a cabeça para ter agido daquela forma, falado aquelas palavras, pensado daquele jeito? O lamento faz parte da vida, mas não há necessidade de viver lamentando.

Neste sentido, é bom olhar para o passado, porque este olhar oportuniza aprendizagem. Naquilo que não fomos suficientemente bons, precisamos analisar para que tais situações não se repitam. Aí estão o crescimento e a maturidade humana. Aprender com o próprio passado é atitude de mulheres e homens sábios.

Na vida, nada acontece por ocaso. Tudo tem uma razão de ser, e com tudo podemos aprender. Na linguagem dos místicos, se diz que tudo é graça.

Mesmo as situações que nos provocam dor e sofrimento, com elas podemos tirar lições preciosas. Não podemos deixar tais situações passarem despercebidas. É preciso refletir sobre as causas que as provocaram. É dessa reflexão que surge o que denominamos maturidade.

Para o autor desta reflexão, 14 de outubro é uma data a ser sempre recordada. Trata-se de uma data que recorda um acontecimento que poderia ter sido evitado, pois repercutiu durante anos. Desde há algum tempo já não mais repercute negativamente. A palavra que marca esta data se chama ilusão.

Ilusão que já não ilude mais porque a luz da verdade, da serenidade e da razão, despertada pelo tempo fez com que a mesma se evaporasse. O tempo, e somente o tempo, revela a verdade de todas as coisas. Basta esperar e observar.

E quando a fumaça evapora, passamos a enxergar o caminho com clareza, sem embaraço. Quando o passado não é mais embaraço, então experimentamos a paz. E quando estamos em paz, tudo está bem, não sentimos mais falta de nada.

Tiago de França

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