Após alguns dias de pausa
para recolhimento, resolvemos retomar com nossas reflexões, antecipando-nos. O motivo
é simples: a data de hoje, 14 de outubro. Algumas datas marcam a vida da gente.
Algumas datas devem
permanecer na memória para que não se repitam; outras devem permanecer porque,
de algum modo, motivam na caminhada rumo ao futuro.
Não queremos falar do fato
em si, ocorrido nesta data, que nos motivam a compartilhar alguns pensamentos
de ordem existencial. A descrição de fatos da vida pessoal não cabe no espaço
deste blogue. Isso a gente deixa para um pequeno número de amigos íntimos.
Nossa intenção é situar o
olhar sobre o passado, com o objetivo de responder à pergunta: Como podemos olhar para o nosso passado sem
nos deixarmos afetar, negativamente, por ele? Esta parece ser uma questão
que merece a nossa atenção, considerando o número assustador de pessoas que
sofrem por causa do seu passado.
Há muito tempo, desde quando
descobrimos a espiritualidade do desapego como prática cotidiana, temos
insistido, sem cessar, na necessidade de termos paz interior a partir da reconciliação
com o nosso passado. Se este nos causa tristeza, ressentimento, mágoa, rancor,
ódio e outros sentimentos congêneres, então não temos paz.
Se olharmos para o nosso
redor, não teremos dificuldade para perceber o sofrimento estampado na face das
pessoas, por causa de passados mal resolvidos. Como lidar com passados mal
resolvidos? Como lidar com situações que não completaram o seu ciclo de existência,
situações que ficaram pela metade? Este é um desafio.
Sozinhas, muitas pessoas não
dão conta de se reconciliar com suas histórias passadas de perdas e
frustrações. Uma boa parcela delas tenta levar a vida como se não tivesse
passado, tentando evitá-lo a todo custo, fugindo dele como o diabo foge da
cruz. Essa fuga provoca angústia e tédio, deixando a pessoa triste e deprimida.
Cremos que o primeiro passo
em relação ao passado é aceitar a seguinte verdade: o que passou não existe
mais. Isso significa que não podemos trazer para o presente nada daquilo que
passou: pessoas, circunstâncias, sentimentos e tantas outras coisas ruins. Até as
coisas boas passam e deixam de existir.
Não adianta querer fazer com
que o passado se torne presente. Não funciona. O presente é outra situação. No presente
somos outras pessoas. O presente exige a nossa presença, a nossa ação, a nossa
consciência. Nele está a nossa vida. A vida está acontecendo no presente, que,
em breve, transformar-se-á em passado.
Muitas pessoas, quando olham
para o seu passado, perguntam-se, revoltadas: Meu Deus, onde eu estava com a cabeça para ter agido daquela forma,
falado aquelas palavras, pensado daquele jeito? O lamento faz parte da
vida, mas não há necessidade de viver lamentando.
Neste sentido, é bom olhar
para o passado, porque este olhar oportuniza aprendizagem. Naquilo que não
fomos suficientemente bons, precisamos analisar para que tais situações não se
repitam. Aí estão o crescimento e a maturidade humana. Aprender com o próprio
passado é atitude de mulheres e homens sábios.
Na vida, nada acontece por
ocaso. Tudo tem uma razão de ser, e com tudo podemos aprender. Na linguagem dos
místicos, se diz que tudo é graça.
Mesmo as situações que nos
provocam dor e sofrimento, com elas podemos tirar lições preciosas. Não podemos
deixar tais situações passarem despercebidas. É preciso refletir sobre as
causas que as provocaram. É dessa reflexão que surge o que denominamos
maturidade.
Para o autor desta reflexão,
14 de outubro é uma data a ser sempre recordada. Trata-se de uma data que
recorda um acontecimento que poderia ter sido evitado, pois repercutiu durante
anos. Desde há algum tempo já não mais repercute negativamente. A palavra que
marca esta data se chama ilusão.
Ilusão que já não ilude mais
porque a luz da verdade, da serenidade e da razão, despertada pelo tempo fez
com que a mesma se evaporasse. O tempo, e somente o tempo, revela a verdade de
todas as coisas. Basta esperar e observar.
E quando a fumaça evapora,
passamos a enxergar o caminho com clareza, sem embaraço. Quando o passado não é
mais embaraço, então experimentamos a paz. E quando estamos em paz, tudo está
bem, não sentimos mais falta de nada.
Tiago de França
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